sábado, 7 de março de 2020

Rota da Seda Eurasia Alexandre o Grande Budismo Zoroastrismo Cristianismo Sogdianos Sassânidas



AS CONQUISTAS DE ALEXANDRE, O GRANDE, AJUDARAM A AUMENTAR O INTERCÂMBIO (TRÂNSITO) DAS IDEIAS PELA EURASIA:

Alexandre, o Grande, na esteira de suas conquistas militares, incrementou a transmissão de ideias pela Eurasia. Alexandre levou consigo o pensamento grego. Ideias fluíam em ambas as direções: leste para oeste e oeste para leste. 
De leste para oeste houve a influência do Budismo no Egito, dando origem à seita Therapeutai. A seita Therapeutai (terapeutas) "floresceu em Alexandria no Egito por vários séculos, tem similaridades inequívocas com o budismo...o desapego da noção do eu, a fim de encontrar a paz interior." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 49)
Com efeito, as ideias se misturavam, ganhavam nova roupagem, uma religião pegava para si ideias extraídas de uma outra religião.
De oeste para leste temos o exemplo da influência da cultura grega sobre o budismo, na região de Gandara (região atualmente localizada entre Afeganistão e Paquistão). O budismo não permitia a representação de Buda. Com a influência da cultura grega, que se fazia presente em Gandara (colonos gregos instalados nessa área na esteira das conquistas de Alexandre), Província pertencente ao Reino de Báctria (Ásia Central/Afeganistão), passou-se a permitir que Buda fosse representado em esculturas. Estamos falando do Século II a.C.
O Reino da Báctria era governado por Menandro, herdeiro da tradição trazida por Alexandre, o Grande.

FÉS EM DISPUTA:

A Eurasia era um campo no qual várias religiões disputavam entre si a preferência dos soberanos locais.

1) Religiões oriundas da Índia: Budismo, Hinduísmo e Jainismo
2) Religiões oriundas da Pérsia: Zoroastrismo e Maniqueísmo
3) Religiões com raízes no Oeste: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo

Para sair vencedora, a religião tinha que vencer no campo de batalha, na negociação política. Tinha que demonstrar ser culturalmente superior e fazer crer que, ao adotá-la, a bênção divina recairia sobre o povo que a adotou, tornando-o poderoso e bem-sucedido.
A religião também era uma forma do Governante para ordenar o funcionamento de sua sociedade, valendo-se da influência dos sacerdotes sobre as pessoas que viviam em seu reino.
Nesse sentido, o Reino Cuchana (Kushan - abrangia o norte da Índia e a maior parte da Ásia Central - primeiros séculos d.C.) fortaleceu-se com a adoção do Budismo. Formado por membros da Tribo Yuezhi, que saíram da China para o leste da Pérsia. Dali foram para o Reino de Báctria, que tinha sido formado na esteira das conquistas de Alexandre. Os gregos foram expulsos. Com o tempo, os Yuezhi, que não eram nativos da região (atuais Tadjiquistão, Afeganistão e Paquistão), precisavam buscar ideias que legitimassem o seu poder (justificar a sua preeminência sobre o resto da população autóctone). A solução foi fazer uma união entre o Budismo e as ideias gregas. A religião era usada por um governante para justificar seu poder sobre seus súditos.
Uma inscrição encontrada em Taxila (Punjab) registra essa necessidade de criar um link entre o poder terreno/temporal e o poder divino: "O governando Cuchana era Grande Rei, Rei dos Reis e FILHO DE DEUS." (página 51)

"Os Cuchana definiram um culto à liderança que invocava uma relação direta com o divino e criava distância entre o governante e o súdito."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 51)

Com a ascensão de seus vizinhos Sassânidas, no atual Irã, os Cuchana tiveram que se submeter, tornando-se vassalos dos iranianos.

SOGDIANOS:

Povo originário da Ásia Central (atual Usbequistão/Tadjiquistão). Não construíram um reino. Viviam em cidades-estados, rivais entre si. Não era um povo guerreiro. Subdividiam-se em agricultores e comerciantes. No exercício do comércio, tiveram uma grande importância, pois transitavam pela Rota da Seda, ligando a China ao vale do Indo. Os Sogdianos dominavam as rotas comerciais de longa distância. 

EXPANSÃO DO BUDISMO PELA ROTA DA SEDA:

O Budismo nasceu na Índia. Seu grande impulso veio do apoio dado por um grande soberano da época, Osaka. No século III a.C., Osaka adotou o budismo. Osaka tinha criado um grande império na Índia, por meio de guerras incessantes contra seus vizinhos. Mas ele causou de derramar sangue em busca de poder. Ao conhecer os ensinamentos do budismo (uma filosofia pragmática mais do que uma religião), Osaka passou a refletir sobre o horror que era a guerra. O budismo se aproveitou do apoio de Osaka e deitou raízes na Índia, antes de sair pelo mundo.
O Budismo expandia-se na esteira das caravanas que transitavam pela Rota da Seda. Ao lado das mercadorias, eram transportadas ideias/fés, dentre elas, o budismo.

ASCENSÃO E QUEDA DAS RELIGIÕES:

"As religiões surgiam e desapareciam em difusão pela Eurasia, disputando entre si as plateias, a lealdade e a autoridade moral."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 54)

"A equação era tão simples quanto poderosa: uma sociedade protegida e favorecida pelo Deus certo ou pelos Deuses certos prosperaria; as que cultuavam falsos ídolos e faziam promessas vãs, sofriam." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 50)

ASCENSÃO DA DINASTIA SASSÂNIDA NA PÉRSIA E A ADOÇÃO DO ZOROASTRISMO (224 d.C.):

Artaxes I, soberano Sassânida, desejava reforçar a identidade persa. Para tanto, ele pretendia expulsar os budistas de seu reino. Queria relacionar a sua dinastia ao glorioso império persa do milênio anterior, representado pela Dinastia Aquemênida de Ciro e Dario. Os Sassânidas expandiram o império Persa, para lugares como Peshawar (atual Paquistão), Balkh (atual Afeganistão) e Merv (atual Turcomenistão).
Como todo governante, os Sassânidas usaram a religião para reforçar o seu poder político. Apostaram no Zoroastrismo, religião/cosmologia difundida por Zoroastro, que se baseava na ideia de que o mundo era um palco no qual forças do Bem e forças do Mal se digladiavam. 

"Zaratustra (Zoroastro), profeta persa que viveu por volta de 1.000 a.C.,  que pregou que o universo estava dividido em dois princípios, Ahura Mazda (sabedoria iluminadora) e sua antítese, Angra Mainyu (espírito hostil), que viviam em constante conflito."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 55)

Os crentes de Zoroastro acreditavam que a purificação era alcançada por meio do fogo. Essa era a Cosmologia adotada sob a dinastia Sassânida, que a usou para fortalecer o seu poder.
Como dito acima, com a expansão do poder Sassânida, deu-se poder ao Zoroastrismo, que era vista como uma religião que poderia aumentar o poder do Estado. Dessa forma, passou-se a perseguir outras religiões presentes no Irã, como os budistas, os judeus, os cristãos, etc.

CRISTIANISMO:


Um religião nascida no oriente que seria adotada pelo Império Romano. Não apenas as mercadorias que transitavam durante no Mundo Antigo. As ideias também transitavam. 

"E entre as (ideias) mais poderosas estavam as que diziam respeito ao divino."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 49)

Apesar de associado à Europa Ocidental, o cristianismo nasceu e se desenvolveu primeiramente na Ásia (atual Palestina).

"Mas, na realidade, o primeiro cristianismo era oriental em todos os sentidos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 57)

"Seu ponto focal geográfico era, obviamente, Jerusalém, ao lado dos demais locais ligados ao nascimento de Jesus, à sua vida e crucifixão; sua língua original era o aramaico, do grupo semítico de línguas nativas do Oriente Próximo; seu fundo teológico e cenário espiritual era o judaísmo, formado em Israel e durante o exílio no Egito e na Babilônia; suas histórias eram moldadas por desertos, inundações, secas e ondas de fome, pouco familiares na Europa." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 57)

No início do Cristianismo, seus seguidores foram tolerados e depois perseguidos pelo Império Romano. A perseguição recrudesceu durante o século II d.C. .
Mas antes de seguir para o Ocidente, o Cristianismo seguiu para o Leste, para a Mesopotâmia (atual Iraque), para Edessa (atual Turquia). Por volta do século III d.C., o cristianismo chegou à costa do atual Bahrein. Cristãos poderiam ser encontrados no atual Afeganistão e no atual Irã.

SÉCULO IV. CONVERSÃO DO IMPERADOR ROMANO CONSTANTINO AO CRISTIANISMO:

Constantino, Imperador Romano, converteu-se ao Cristianismo.

"Se Roma e Constantinopla eram os centros administrativos do Império, Jerusalém seria seu núcleo espiritual."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 63)

A conversão do Império Romano piorou a situação dos cristãos que viviam no Império Persa, pois os Persas passaram a ver os cristãos que vivem em suas terras como uma espécie de quinta-coluna, agentes a serviço de Roma. Dessa forma, a perseguição aos cristãos se acentuou no Império Persa. A ação dos Persas contra os cristãos que viviam em seu território foi estimulada pela retórica de Constantino, o Imperador Romano, que dizia que Roma deveria agir para proteger os cristãos onde quer que eles estivessem. Agindo dessa forma, Constantino teve o mérito de propagar e enraizar o Cristianismo no Ocidente, mas o prejudicou no Oriente.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO: Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição



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