quinta-feira, 26 de março de 2020

Guerra da Crimeia Guerras Religiosas Católicos versus Cristãos Ortodoxos Moscou Terceira Roma Disputa pela Terra Santa


PÁSCOA DO ANO DE 1846 NA PALESTINA:

- CRISTÃOS, MAS RIVAIS:

Páscoa do ano de 1846, a Palestina pertencia ao Império Otomano. Jerusalém era governada por Mehmet Pasha.
Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos disputavam para ver quem teria precedência nos rituais dentro da Igreja do Santo Sepulcro.  
O clima era tenso. Na Sexta-Feira de 1846 houve briga dentro da Igreja do Santo Sepulcro. Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos não se bicavam. Houve mais de 40 mortos. Cristãos católicos (latinos) e Cristãos Ortodoxos brigavam para ver quem iria ter o controle do lugares santos localizados na Terra Santa.
Um exemplo de disputa dizia respeito ao conserto do teto da Igreja do Santo Sepulcro. Católicos e Ortodoxos disputavam entre si para ver quem iria ter a honra de consertar o teto. No Império Otomano, o dono do teto era o dono da casa. Os Otomanos contemporizavam a situação acenando para os dois lados. 

FLUXO DE PEREGRINOS AUMENTA PARA JERUSALÉM;

O fluxo de peregrinos para Jerusalém aumentou por causa das ferrovias e dos navios a vapor. A revolução industriam encurtou os caminhos. Com isso, as Igrejas (Ortodoxa e Católica) e os países de onde vinham esses peregrinos (Rússia, França, etc) passaram a olhar para Jerusalém com mais atenção. Rússia criou um complexo com albergue, hospital, capela e mercado para dar suporte aos peregrinos russos. ATÉ 15 MIL RUSSOS IAM À PALESTINA POR ANO. Era a expressão maior de sua fé. 

SANTA RÚSSIA:

Para os russos a ideia da Santa Rússia englobava o território da Palestina. Os turistas da Europa ocidental sentiam repulsa pelo comportamento dos cristãos ortodoxos (russos), rotulando-os de bárbaros, por causa de suas superstições degradantes. Os cristãos católicos e os protestantes não agiam com a mesma paixão demonstrada pelos cristãos ortodoxos (russos, gregos, búlgaros, sérvios e moldavos).
Os europeus que sentiam repulsa pelos ortodoxos sentiam-se mais próximos dos islâmicos, que eram mais contidos/comedidos na expressão de sua fé. Essa visão preconceituosa iria influenciar a postura europeia quando da disputa travada entre o Império Russo e o Império Otomano pela posse da Terra Santa.
Os russos viam-se no direito de cuidar dos interesses dos cristãos ortodoxos no interior do Império Otomano. Esse direito russo estaria escrito no Tratado de Kuchuk Kainarji, celebrado após a vitória russa sobre os Otomanos (1768-1774).

TRATADO DE KUCHUK KAINARJI:

Guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, vencida pelo Império Russo. O Império Otomano teve que aceitar as condições impostas pelos russos: 
▶independência dos tártaros da Crimeia
▶livre passagem pelo Dardanelos
▶porto de Kherson e Kerch
▶principados da Moldávia e da Valáquia retornariam para os Otomanos, mas os Russos assumiriam o direito de proteger a população ortodoxa
▶pequeno trecho do Mar Negro, entre os rios Dnieper e Bug
▶construir uma Igreja Ortodoxa em Constantinopla

PLANO RUSSO PARA INVADIR ISTAMBUL (antiga Constantinopla):

Os generais russos, quando pensavam em invadir Istambul, imaginavam dois caminhos que correriam em paralelo, um percorrido por terra e outro pelo Mar Negro. No caminho por terra, os russos marchariam até o Delta do Danúbio. Antes de seguir para Istambul, esperariam suprimentos que viriam pelo Mar Negros, de navios saídos da Crimeia. Com a tropa alimentada e suprida, seguiria caminho até Istambul.

O Império Russo foi concebido como uma cruzada ortodoxa. Era uma missão divina da Rússia libertar os cristãos ortodoxos dos Otomanos e fazer de Constantinopla a capital da Igreja Oriental. As guerras entre russos e otomanos eram religiosas (linha de fratura entre os cristãos ortodoxos e o islã).
A religião estava no cerne do sistema russo. A ideia fundadora do Império Czarista dizia que Moscou era a capital remanescente da Ortodoxia. Era a Terceira Roma

PREOCUPAÇÃO FRANCESA: 

Católicos franceses se preocupavam com a presença russa na Terra Santa. A França tinha participado das Cruzadas e por esse motivo via-se como a primeira nação católica da Europa e protetora da fé na Terra Santa. A França, para marcar sua presença na Terra Santa, abriu um consulado em Jerusalém. A Grã-Bretanha,, por sua vez, em 1845, construiu um Igreja Anglicana em Jerusalém.
Os Católicos franceses exigiam que seu governo adotasse medidas fortes para proteger a Terra Santa da influência dos ortodoxos. Em 1851, Luís Bonaparte nomeou de Valette como embaixador em Constantinopla

CHARLES DE LA VALETTE:

Era um membro importante do disfarçado partido clerical, que secretamente puxava as cordas da política externa francesa. Luís Napoleão, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, não ligava para religião mas via na Terra Santa uma forma de tirar a França da situação que o Congresso de Viena (1815) lhe impôs. Um novo sistema de alianças poderia emergir. A Áustria católica poderia ficar contra a Rússia ortodoxa. E a Grã-Bretanha tinha seus próprios interesses imperiais a defender no Oriente Próximo contra os Russos. 
La Valette proclamou que o direito dos católicos estava claramente estabelecido e, se preciso fosse, a França usaria de sua força naval para defendê-lo. A conduta beligerante de La Valette enfureceu o Czar da Rússia, Nico.lau I

CRIMEIA:

Crimeia = Krym - Nome tártaro. / Tauride: nome grego
A Crimeia era governada originalmente pela Dinastia Giray, que remontava a Gengis Khan, sobrevivente da Horda Dourada. Ali viviam tribos tártaras de língua turca. Acabaram virando vassalos dos Otomanos. Viviam principalmente de pilhagens na Polônia e na Rússia. 
A Crimeia era sagrada para os russos. Foi ali, em Quersoneso, que Vladimir de Kiev foi batizado em 988, levando o cristianismo ortodoxo para o Rus (Rússia). Quersoneso fica na periferia da atual Sebastopol. A Crimeia já foi o lar de genoveses, gregos, citas, godos, romanos, judeus, armênios, mongóis e tártaros. Em 1783 a Rússia anexa a Crimeia e ganha 300 mil súditos, a maioria composta por muçulmanos. A partir de 1800 esses muçulmanos começavam a sair, em direção ao Império Otomano. Em seu lugar vieram cristãos russos, gregos, búlgaros e armênios.

EXPANSÃO RUSSA PARA O SUL:

Catarina, a Grande, czarina da Rússia, queria expulsar os Otomanos da Europa. Em 1781, conversava com o Imperador Austríaco, José II, termos de como isso poderia ser feito. Com os Otomanos expulsos da Europa, o que restasse seria dividido entre a Rússia e a Áustria. Haveria ainda um Império Grego com capital em Constantinopla (Istambul), que contaria com a proteção russa. Catarina deu ao seu 2º neto o nome de Constantino, último imperador de Bizâncio. Ele ainda teve que aprender grego. A necessidade de se expandir para o sul fazia com que os russos misturassem religião com política. Num momento, a expansão para o Sul era vendida como uma espécie de Cruzada, purificando o Rio Jordão, devolvendo Constantinopla aos cristãos ortodoxos, libertando a Igreja do Santo Sepulcro. Essa expansão também abriria de vez o Mar Negro para os russos, por onde poderiam exportar seus grãos através do Mediterrâneo. Se a Rússia tivesse acesso total ao Mar Negro, não ficaria mais dependente do Mar Báltico, suscetível de ser bloqueado em caso de alguma guerra.
Uma nova Rússia foi criada no Sul (Novorossiya), sob a supervisão de Potemkin, que também era amante de Catarina. Novas cidades foram criadas, como Odessa. 

CRIMEIA DEPOIS DO TRATADO KUCHUK KAINARJI:

Era governado por um Cã (Khan)Sagin Giray, apoiado pela Rússia. Mas os cristãos que moravam na Crimeia reclamavam de perseguição (comerciantes gregos, armênios, etc). 
Em 1783 a Crimeia foi anexada pela Rússia de forma definitiva. Foi uma grande humilhação para os Otomanos.

NOVA GUERRA ENTRE A RÚSSIA E O IMPÉRIO OTOMANO:

1787: A Guerra Terminou com a Paz de Iasi. Rússia passa a controlar todo o Rio Dniester (era a nova fronteira entre a Rússia e o Império Otomano). O Império Otomano aceita a anexação da Crimeia pela Rússia. O Império Otomano ainda conseguiu manter os Principados da Valáquia e da Moldávia. 

NOVAS TERRAS RUSSAS COM SÚDITOS MUÇULMANOS:

Os russos temiam que seus súditos muçulmanos viesse no futuro a trair a Rússia, para favorecer o Império Otomano. Era preciso substituir esses muçulmanos por colonos cristãos. Não seria a primeira vez que os Russos fariam isso. No início do século XIX, houve uma cruzada no Cáucaso, com a expulsão dos muçulmanos chechenos, inguches, daguestaneses, etc

TRATADO DE BUCARESTE: 1812:

Rússia e Império Otomano concordam no exercício conjunto da soberania sobre a Moldávia e a Valáquia. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CRIMEIA, A HISTÓRIA DA GUERRA QUE REDESENHOU O MAPA DA EUROPA NO SÉCULO XIX", ORLANDO FIGES, EDITORA RECORD, páginas 27/47

Nenhum comentário: