quinta-feira, 19 de março de 2020

Mundo Pós-Napoleônico Napoleão estava morto mas a Revolução Francesa tinha mudado o mundo para sempre As ideias democráticas da Revolução Francesa sobreviveram a Napoleão Santa Aliança Congresso de Viena



A REVOLUÇÃO FRANCESA TINHA MUDADO O MUNDO:

O domínio dos mares foi a base sobre a qual o poder europeu foi construído. Permitiu a colonização de outras partes do mundo e o domínio do comércio, estrangulando centros de manufaturas fora da Europa. Criou-se a crença de que as ideias europeias eram superiores às ideias da maior parte do resto do mundo.
Mas o mundo mudara. De nada adiantava restaurara Monarquias derrubadas pela Revolução. Não tinha como retroceder o relógio da história para antes de 1789. Impérios caíam (o Império Espanhol nas Américas; a França perdeu o Canadá e a Índia). Portugal perdera o Brasil. A guerra peninsular (1807-1814) tinha exaurido as forças da Espanha. Ela não teve como impedir a queda de seu Império nas Américas. 
Enquanto França, Portugal e Espanha sofriam, a Grã-Bretanha olhava com simpatia a independência de países nas Américas. A Grã-Bretanha queria que o Mercantilismo fosse quebrado e no seu lugar vigorasse o Livre Comércio, que iria favorecê-la, por ela ter vantagem competitiva. Países livres também significavam novos mercados consumidores para os produtos ingleses. Não era por bondade que a Grã-Bretanha aplaudia a independência de países nas Américas. Era por interesse comercial que a Grã-Bretanha atuou para a ajudar a Independência de alguns países nas Américas. Simon Bolívar foi apoiado. A Grã-Bretanha usou sua força naval para ajudar na independência de países nas Américas.

"Resolvi que, se França tinha Espanha, não deveria haver Espanha nas Índias. Fiz nascer o Novo Mundo para restabelecer o equilíbrio do velho" (George Canning, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha)
(página 50)

É inegável que as ideias da Revolução Francesa impactaram as independências dos países das Américas. Uma dessas ideias atacava o princípio da hereditariedade, minando dessa forma a legitimidade de instituições como a monarquia, a aristocracia. Essa ideias chegaram às Américas, colonizadas por essas Monarquias. Esse impacto fez nascer uma ligação entre os liberais europeus e os liberais latino-americanos. Na Europa pós-Napoleão havia uma disputa entre os defensores de regimes monárquicos reacionários (restaurados pelo Congresso de Viena) contra os liberais revolucionários. E esses liberais tinham conexões nas Américas. Um deles, Giuseppe Garibaldi, participou de revoluções no Brasil.

CONGRESSO DE VIENA:

A liderança das conversações coube a Klemens Von Metternich (conde e depois príncipe), um nobre da região do Reno (Alemanha) que cresceu na carreira de Estado. A Áustria, para quem Metternich trabalhava, queria restaurar o estado de coisas anteriores a 1789. O relógio da história teria que retroceder. 
O Congresso de Viena tinha como objetivo restaurar a legitimidade dos reis que tinham sido destronados por Napoleão. Queria evitar novas guerras, criando relações sólidas entre os países, inclusive amarrando a França por meio de tratados e acordos. Era preciso resolver de uma vez por todas os litígios entre os países, colocando-os no interior formada por uma rede de relações internacionais, amarrando-os uns aos outros. 
Durante as conversações em Viena, capital da Áustria, a França, com sua Monarquia restaurada na figura de Luís XVIII, foi representada por Charles Maurice de Talleyrand Périgord. 
A Rússia tinha Alexandre I, um autocrata, confiante que as instituições russas deveriam servir de modelo para outros países, pois elas se demonstraram vencedoras na guerra, marchando pela Europa, derrotando os exércitos de Napoleão e ocupando Paris. A vitória sobre Napoleão, na cabeça de Alexandre I, justificava as instituições russas, como por exemplo a autocracia (administração e legislação nas mãos do Czar), a servidão, etc.
O Congresso de Viena redesenhou o mapa da Europa. A Áustria perdeu a sua parte (atual Bélgica) nos Países Baixos para a Holanda mas recuperaram todos os seus outros territórios, restabelecendo o controle sobre a Lombardia (atual Itália), o Vêneto (atual Itália) e em boa parte da Dalmácia (atual Croácia).
Foi criada ainda uma nova Confederação Germânica, sob a presidência da Áustria. Suas fronteiras eram quase iguais ao do falecido Sacro Império Romano Germânico, mas agora com 39 Estados e não mais com os mais de um milhar do século XVIII.
A Confederação Germânica não era um Estado nacional. Tanto não era nacional que o Estado de Hanôver, pertencente à Confederação, era governado por um rei inglês. Alguns tinham territórios fora da Confederação, como por exemplo os Habsburgos, soberanos da Áustria, que presidia-a.
A Prússia ganhou terras na Renânia, incluindo o Vale do Ruhr. A entrega do Vale do Ruhr para os Prussianos tinha como objetivo criar um Estado-tampão para conter os franceses. Para contrabalançar o controle russo na Polônia, os Prussianos ganharam o norte da Saxônia, a Pomerânia sueca e a Posnânia (Posen/Poznan) e Gdansk.
A Rússia abocanhou territórios na Bessarábia, na Finlândia e na Polônia. 
A França, outrora poderosa, se viu cercada pela Renânia Prussiana, pelo Reino dos Países Baixos (Holanda + Bélgica), pela Suíça reconstituída e pelo Reino do Piemonte Sardenha.
Com o Congresso de Viena, a Grã-Bretanha consolidou seu Império. Ceilão (Sri Lanka), Cabo da Boa Esperança (África do Sul) e Malta ficaram com os ingleses.
O Congresso de Viena ainda ilegalizou, pelo menos sob o ponto de vista formal, o Tráfico de Escravos nos assuntos relacionados com a Europa. 

SANTA ALIANÇA:

Em 1815,mesmo ano em que foi encerrado o Congresso de Viena (20/11/1815)  foi criada a SANTA ALIANÇA, que reunia Rússia, Áustria e Prússia e outros Estados pequenos. Os signatários desse acordo concordavam em administrar seus países segundo os princípios do evangelho cristão, de maneira que a guerra deveria ser banida da Europa. Os ingleses não botavam fé na sinceridade dos signatários da Santa Aliança, mas mesmo assim Jorge IV a assinou, mas sem se comprometer. Os ingleses também temiam o fantasma da democracia criado pela Revolução Francesa, tanto quanto os prussianos, os russos e os austríacos. 

A SANTA ALIANÇA E A RÚSSIA COMO GUARDIÃ DA ORDEM EUROPEIA:

A Santa Aliança criava a perspectiva da intervenção russa noutras partes da Europa, Exemplo: Em 1848, a Rússia, vindo em auxílio à Áustria, interviu na Hungria, mantendo assim o Império Austro-Húngaro íntegro.

COMO AS PESSOAS VIAM A GUERRA DEPOIS DOS CEM DIAS DE NAPOLEÃO:

A guerra era vista como sendo praticada entre regimes ou entre ideologias antagônicas, não entre nações. No entanto, após os 100 dias de Napoleão no poder, os países da Europa começaram a ver a guerra sob outro prisma: eles se voltaram contra a nação francesa, contra os franceses, que agora tinham que suportar, dentre outras coisas, a presença de quase um milhão de soldados aliados em seu território.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDIÇÕES 70.

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