PACTO RIBBENTROP MOLOTOV:
Assinado em 23 de agosto de 1939. Encerrado em 22 de junho de 1941, quando a Alemanha Nazista invadiu a URSS (Operação Barbarossa).
Ribbentrop era então o Ministro das Relações Exteriores de Hitler, enquanto Molotov era o Ministro das Relações Exteriores de Stalin
Adolf Hitler e Stalin, Alemanha Nazista e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) ficaram juntos por 22 meses, quase 1/3 da duração da Segunda Guerra Mundial.
Não foi propriamente uma aliança. Foi um tratado de não agressão. A ele se seguiram mais 4 acordos.
O Acordo Ribbentrop-Molotov trouxe consequências nefastas para Polônia, Letônia, Finlândia, Lituânia, Estônia e Romênia.
Polônia e os países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia) deixaram de existir. A Polônia foi dividida entre a Alemanha e a URSS, enquanto que os estados bálticos foram anexados pela URSS. A Romênia perdeu a sua província da Bessarábia para a URSS. A Finlândia perdeu a carélia e outros territórios para a URSS.
Com base ainda no Pacto Ribbentrop-Molotov, Alemanha e URSS trocavam informações, segredos, tecnologia e matéria-prima.
"Apesar de sua brevidade, durou apenas 22 meses, e seus sete curtos parágrafos, tem menos de 280 palavras, o Pacto Nazi-Soviético foi determinante." (página 25)
TEUTOSLÁVIA:
"Por um tempo, parecia que as duas ditaduras (a Alemanha Nazista e a URSS) - ou a teutoslávia, como um político britânico as chamava - tinham se juntado contra o mundo democrático." (página 22)
AS RAZÕES DE HITLER PARA PACTUAR COM STALIN:
Para Hitler era a adoção da Realpolitik, isto é, fazer aquilo que é de seu interesse e que funcione.
Com o Pacto com Stalin, a Alemanha conseguiria contornar o Bloqueio marítimo inglês, na medida em que aquela teria acesso à matéria-prima e alimentos da URSS.
Hitler ainda se via cercado. Em março de 1939, a Grã-Bretanha fez um tratado com a Polônia. A mesma Polônia que rechaçou qualquer acordo com a Alemanha Nazista. Hitler tentou atrair Polônia (final de 1938, início de 1939) para um acordo com a Alemanha, no qual os dois países entrariam juntos num conflito contra a URSS.
Hitler ainda sabia que não poderia lutar em duas frentes, contra a URSS no leste e contra França e Grã-Bretanha no oeste, como tinha acontecido durante a Primeira Guerra Mundial. Com o Pacto com a URSS, Hitler se viu livre para agir contra a França e a Grã-Bretanha.
Resolvida a guerra no front oeste, com a derrota da França, então Hitler poderia se concentrar na URSS. A URSS sempre foi um alvo, por causa de seu regime comunista e porque Hitler via a URSS como local do Lebensraum alemão, o espaço vital alemão, no qual seriam buscados as matérias-primas e os alimentos para o Reich alemão. A URSS vista como área de expansão da Alemanha remontava à Idade Média, quando já havia um desejo de marchar para o leste - "Drang nach osten".
AS RAZÕES DE STALIN PARA PACTUAR COM HITLER:
Aforismo de Lênin: A história não se desenrola por linha reta, mas em zigue-zagues, sinuosamente.
1) A narrativa cor-de-rosa dos comunistas:
A narrativa cor-de-rosa dos comunistas para o Pacto Ribbentrop-Molotov prendia-se à necessidade da URSS de ganhar tempo, mantendo a Alemanha nazista contida enquanto preparava as suas defesas.
2) Desejo da URSS de expandir para o oeste, para o coração industrial da Europa, acarretando a queda do capitalismo na Alemanha, França e Grã-Bretanha:
"...Stalin foi muito mais proativo e antiocidental ao assinar o pacto do que convencionalmente se julga. Pelo menos num sentido, procurava explorar a agressão nazista em benefício próprio, a fim de acelerar a queda do Ocidente e o tão esperado colapso do mundo capitalista. Um neutro relutante e passivo é o que ele não era." (páginas 22/23)
De fato, Stalin queria ver Alemanha, França e Grã-Bretanha exauridos pela guerra, dando margem assim a uma futura entrada vantajosa da URSS na guerra que viria. E ainda havia a esperança de revoluções comunistas num ocidente capitalista depauperado pela guerra.
Stalin sabia que a revolução comunista de 1917, num país rural como a Rússia, tinha sido algo anômalo. Assim, a fim de assegurar o próprio futuro, a URSS teria que se expandir para o oeste, para o coração industrial da Europa, mais precisamente para a Alemanha, cujo proletariado desenvolvido e ideologicamente sólido iria romper as correntes da democracia burguesa, unindo-se então à URSS. A URSS tentou isso em 1919/1920, na guerra contra a Polônia. Se a Polônia tivesse sido derrotada naquele conflito, provavelmente a URSS teria prosseguido a sua marcha rumo à Alemanha. Stalin via agora, no possível embate entre a Alemanha Nazista contra França e Grã-Bretanha, a oportunidade de que precisava para expandir a URSS para o oeste.
Para tanto, Stalin esperava que acontecesse na França, na Grã-Bretanha e na Alemanha o mesmo que havia ocorrido na Rússia em 1917: a eclosão da Revolução Comunista, na esteira da miséria que a Primeira Guerra Mundial havia produzido no país. Lênin teria dito que a Primeira Guerra Mundial tinha proporcionado a tomada de poder dos bolcheviques na Rússia e a Segunda Guerra Mundial iria acarretar o domínio da França, da Alemanha e da Grã-Bretanha pela URSS. (página 48).
O Pacto Ribbentrop-Molotov poderia então abrir o caminho para que a URSS se expandisse para o oeste. Num primeiro momento a URSS apoiaria a Alemanha Nazista de forma a fomentar a guerra entre esta e a França e a Grã-Bretanha. Quando o proletariado empobrecido pela guerra se levantasse na França, na Alemanha e na Grã-Bretanha, as burguesias desses países tentariam acabar com a guerra, voltando-se então para esmagar a insurreição do proletariado em seus países. Nesse momento, a URSS entraria para proteger os proletários sublevados:
"Mas nesse momento nós (URSS) acudiremos para ajudá-lo (o proletariado) com novas forças bem preparadas, e no território da Europa ocidental, acho eu (Molotov), em algum lugar perto do Reno (rio), a batalha final entre o proletariado e a burguesia degenerada será travada, decidindo para sempre o destino da Europa. Estamos convencidos de que nós, e não a burguesia, venceremos essa batalha." (Molotov, Ministro das Relações Exteriores da URSS, em conversa com o comunista lituano Vincas Kreve Mickevicius, citado em Richard Raak, Stalin's Drive to the West, 1938-1945) (página 49)
3) Outras razões para Stalin fazer um acordo com a Alemanha Nazista:
Num primeiro momento, a política da URSS para conter o fascismo concentrava-se na formação de Frentes Populares e na construção de uma defesa coletiva, envolvendo outros países, por meio da Liga das Nações (a URSS foi aceita na Liga das Nações em 1934)
Todas essas iniciativas fracassaram. Stalin, de Moscou a marcha vitoriosa do Fascismo:
Na Espanha, a República, que chegou ao poder por meio de uma Frente Popular, foi derrotada pelo fascista General Franco, que contou com a ajuda dos fascistas Hitler e Mussolini. A Alemanha violava o Tratado de Versalhes, remilitarizando a Renânia. A Alemanha se expandia. Anexou a Áustria (Auschluss) em 1938, anexou os sudetos em outubro de 1938 e Morávia e Boêmia em março de 1939. A Itália invadiu e anexou a Abissínia.
Stalin vendo a marcha do fascismo sem oposição eficaz se deu conta que não podia contar com a Frentes Populares e com a Liga das Nações para conter o apetite dos fascistas. Stalin se deu conta que não podia contar com a Grã-Bretanha e com a França para conter os fascistas. Stalin começou a ver na passividade da Grã-Bretanha e da França um sinal de que esses dois países poderiam entrar em acordo com a Alemanha Nazista à custa da URSS. (página 46)
Em março de 1939, Stalin discursou acusando as potências ocidentais capitalistas de serem deliberadamente coniventes com as agressões de países como a Itália, que acabara de invadir a Abissínia. Essas mesmas potências ocidentais nada fizeram quando a Alemanha invadiu a Tchecoslováquia. E as potências ocidentais capitalistas agiam assim porque desejavam, no fim, jogar a URSS numa guerra contra a Itália e a Alemanha, para que ambos "...enfraquecessem e exaurissem uns aos outros, até que os debilitados beligerantes estivessem prontos para aceitar as condições ditadas mais uma vez pelo mundo capitalista.' (página 46)
CONSUMAÇÃO DO PACTO GERMANO-SOVIÉTICO:
O Pacto foi assinado no dia 23 de agosto de 1939. Mas a sua consumação veio no dia 22 de setembro de 1939, na cidade de Brest-Litovsk, quando soldados alemães e soviéticos fizeram um desfile militar conjunto, sob os olhares do general alemão Guderian e do general russo Krivoshein.
Naquela oportunidade, os alemães entregavam a cidade de Brest-Litovsk para os russos, tudo de acordo com o acordado no Pacto Ribbentrop-Molotov.
O General soviético, Krivoshein, no dia seguinte ao desfile, teria dito a dois jornalista alemães: "Hitler e Stalin, homens do povo." (página 33)
Os alemães, por sua vez, por meio do jornal nazista Volkischer Beobachter, comemoravam o acordo entre Stalin e Hitler escrevendo: "...o encontro com os soviéticos em Brest tinha afundado de vez os piedosos planos das democracias ocidentais." (página 33)
EU OS PEGUEI!:
Quando Hitler ficou sabendo que Stalin tinha aceitado os termos do acordo Nazi-Soviético, deu um murro na mesa e gritou: "Eu os peguei."
Stalin, por sua vez, deve ter pensado e mesma coisa.
O Pacto de Não Agressão Nazi-Soviético, assinado no dia 23 de agosto de 1939, surpreendeu a todos.
Dois inimigos jurados fazendo juras de amor.
A verdade é que ambos continuavam inimigos.
Os objetivos de Hitler e de Stalin não tinham mudado.
Hitler continua vendo a URSS como o local de seu Lebensraum, o local no qual o Reich Alemão iria buscar o seu espaço vital.
E Stalin continuava a sonhar com a Europa ocidental convertida ao comunismo soviético.
Stalin e Hitler só deviam convergir num ponto: ambos viam no Pacto Nazi-Soviético apenas como uma simples etapa que talvez ajudasse a sua causa, cumprindo seu destino ideológico.
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O PACTO DO DIABO", A ALIANÇA DE HITLER COM STALIN, 1939-1941, ROGER MOORHOUSE, EDITORA OBJETIVA.