segunda-feira, 27 de abril de 2020

Lebensraum Espaço Vital Timothy Snyder Ideia Judaico-Bolchevique



SEGURANÇA ALIMENTAR:

Hitler queria buscar uma reserva regular de alimentos. Essa reserva proporcionaria segurança e controle para o regime. Hitler sabia das consequências da fome causada pelo Bloqueio Marítimo Britânico. A fome causada pelo bloqueio naval britânico "forçara alemães da classe média a desrespeitar a lei para conseguir alimentos de que necessitavam ou que achavam que necessitavam, causando insegurança no âmbito pessoal e desconfiança em relação às autoridades." (página 27)


O IMPÉRIO BRITÂNICO CONTROLAVA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS:

Durante a Primeira Guerra Mundial, a Força Naval Britânica estrangulou o Império Alemão, impedindo o seu acesso a alimentos. Hitler não se esquecia disso. Para Hitler, o Livre Comércio propagandeado pelo Império Britânico era uma falácia, pois ele era usado como um disfarce, atrás do qual se escondia domínio britânico dos mares. Esse controle dos ingleses das rotas marítimas dava a eles o poder de controlar o abastecimento de alimentos no mundo todo. Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos violaram o Livre Comércio tão defendido por eles, estabelecendo um bloqueio que impedia que qualquer país vendesse alimentos para o Império Alemão.

"A capacidade de prover alimentos e de negá-los, enfatizava Hitler, era uma forma de poder. Hitler chamava essa falta de segurança alimentar para todos menos para os britânicos, de "guerra econômica pacífica'." 
(página 28)

Essa hegemonia britânica só seria quebrada se a Alemanha expandisse se território de forma a adquirir áreas que a tornasse autossuficiente na produção de alimentos.

"...na visão de Hitler, pela conquista de um império territorial que equilibrasse a balança entre Londres e Berlim."
(página 28)

Obtido esse equilíbrio, a Alemanha então poderia se igualar à Grã-Bretanha.
Nas décadas de 20 e 30, a Alemanha poderia alimentar sua população com alimentos extraídos de seu território somente , mas isso, na visão de Hitler, seria feito em detrimento de parte de sua indústria, de suas exportações e de suas reservas em moeda estrangeira.

EXPANSÃO TERRITORIAL ALEMÃ, EM BUSCA DE ÁREAS AGRICULTÁVEIS. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS:

A expansão territorial alemã deveria ser feita de modo a não despertar a oposição britânica.

"A ideia era se infiltrar em sua rede de poder sem força-los a reagir. Tomar terras de outros não ameaçaria o grande império marítimo (britânico), ou assim imaginava Hitler. No longo prazo, ele esperava fazer a paz com a Grã-Bretanha na base da divisão do mundo." 
(página 28)

Hitler via nos britânicos 'parentes raciais', que mereciam respeito pelo grande Império que tinham criado.
A expansão territorial sonhada por Hitler encontrava sua fonte inspiradora no exemplo dos Estados Unidos da América (EUA). Durante o século XIX, os EUA se expandiram para o oeste, passando por cima dos povos indígenas que habitavam essa área da América do Norte.

"Para gerações de alemães imperialistas e para o próprio Hitler, o império território exemplar eram os EUA."
(página 29)

"Os americanos ensinaram a Hitler que a necessidade se confunde com o desejo, e que o desejo nasce da comparação." 
(página 29)

O desejo alemão de obter um espaço vital, no qual sua segurança alimentar estaria assegurada, para nunca mais sofrer com as agruras da fome, como experimentado durante o Bloqueio Naval Britânico na Primeira Guerra Mundial, nascia com a comparação com o exemplo dos EUA, que obtiveram um enorme espaço territorial expandindo a Oeste

SONHO AMERICANO DE HITLER:

Num mundo no qual as informações corriam de forma mais rápida, um alemão poderia comparar a sua vida com a de um americano. E dessa comparação, nasceria o desejo de ter um padrão de vida semelhante ao do americano. E se esse desejo não se concretizasse, poderia nascer daí uma frustração e descontentamento com a ordem vigente.
Mas para alcançar um padrão de vida americano, era necessário ter acesso aos mesmos recursos que os americanos tinham. No caso da Alemanha, esses recursos viriam por meio de sua expansão para o Leste, conquistando o seu Lebensraum, o seu espaço vital. Os alemães, portanto, só alcançariam o padrão de vida americano se obtivessem êxito em sua expansão para o leste.

A VARIÁVEL ERA A QUANTIDADE DE TERRA:

"A presença inevitável dos Estados Unidos na mente germânica foi a razão definitiva pela qual para Hitler, a ciência não resolveria o problema do sustento. Mesmo que as inovações melhorassem a produtividade agrícola, a Alemanha não poderia se manter no ritmo dos americanos, valendo-se apenas delas. O progresso tecnológico certamente se daria nos dois lados; a variável era a quantidade de terra agricultável. Portanto, a Alemanha precisaria de tanta terra e de tanta tecnologia quanto os americanos. Hitler proclamava que a luta permanente pela Terra era um desejo natural, mas sabia que o desejo de aumentar o conforto relativo também era capaz de gerar um moto-perpétuo."
(página 30)

VISÃO SOMBRIA DE HITLER QUANTO AO FUTURO DA ALEMANHA:

A visão de Hitler quanto ao futuro da Alemanha era sombria. Para ele, o território alemão, mesmo que acrescido daquilo que tinha perdido com o Tratado de Versalhes, ainda assim seria insuficiente para dar aos alemães uma vida comparável aos dos americanos.

LEBENSRAUM - ESPAÇO VITAL:

Lebensraum, o espaço vital, não foi um termo criado por Hitler. Hitler se apropria dele para seus próprios fins. Para Hitler, o Lebensraum comportava a ideia subjetiva de se obter um alto padrão de vida para os alemães, conjugada com a luta racial incessante pela sobrevivência física. Esse Lebensraum de Hitler era justificado como uma luta natural. Era algo natural, extraído da própria natureza, fazendo parte do processo natural da vida, consubstanciado pelo desejo de uma vida melhor, confortável, ao lado de uma luta racial incessante pela sobrevivência física.

"O termo Lebensraum entrou para a língua alemã como equivalente da palavra francesa 'biotope', ou 'habitat'. Num conceito mais social que biológico, ela pode significar algo além: conforto doméstico, algo próximo a 'sala de estar'. A convergência desses dois significados numa única palavra ampliou a ideia circular de Hitler: a natureza não era nada além de sociedade, a sociedade não era nada além de natureza. Portanto, não havia diferença entre a luta dos animais pela existência física e a preferência das famílias por uma vida melhor. Tudo era sempre lebensraum."
(páginas 30/31)

Outras definições de Lebensraum. Mas todas elas apontam para uma mesma direção: luta racial pela sobrevivência física e busca de conforto material:

Robert Ley, um dos primeiros companheiros nazistas de Hitler:

"...lebensraum é mais cultura, mais beleza - coisas que a raça deve ter, ou perecerá."

Joseph Goebbels, marqueteiro de Hitler, definiu assim o propósito da guerra de extermínio:

"...como um bom desjejum, um bom almoço e um bom jantar"
(páginas 30/31)

"Dezenas de milhões de pessoas passariam fome, mas não para que os alemães pudessem sobreviver no sentido físico da palavra. Dezenas de milhões de pessoas passariam fome para que os alemães pudessem lutar por um padrão de vida sem igual."
(página 31)

ONDE ESTARIA O LEBENSRAUM ALEMÃO? NA ÁFRICA? NA EUROPA?:

Quando a Alemanha finalmente se uniu, em 1871, num Império sob o comando da Prússia, o processo de colonização já estava praticamente finalizados. A Alemanha chegou atrasada à festa. As melhores colônias já tinham sido repartidas entre França, Grã-Bretanha, Bélgica, Holanda, etc. E para piorar, quando perdeu a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha se viu sem suas poucas colônias africanas: o Sudoeste da África, Sudoeste Africano Alemão (Namíbia) e a África Oriental Alemã: Burundi, Ruanda, Tanzânia e parte de Moçambique. Enfim, a Alemanha tinha somente seu território europeu, e ainda sem os territórios que lhe foram tirados pelo Tratado de Versalhes.
Nesse cenário, onde então a Alemanha iria buscar seu espaço vital? O Lebensraum alemão seria buscado no Leste Europeu: Polônia, Países Bálticos, URSS. Mas obviamente havia um problema: esse leste sonhado pela Alemanha era habitado por russos, ucranianos, letões, lituanos, estonianos, judeus, poloneses, bielorrussos, etc. Para driblar esse problema, os nazistas iriam construir uma narrativa para justificar a tomada de terras que já estavam ocupadas por outros povos. E essa narrativa seria o Racismo.

RACISMO - JUSTIFICATIVA PARA COLONIZAR ÁREAS POVOADAS:

O Racismo seria a ideia que iria transformar áreas habitadas como a URSS, a Polônia, os países bálticos em áreas passíveis de serem colonizadas.

"E a ideia que transformava terras habitadas em colônias em potencial era o racismo; e a fonte de mitologias para os racistas nasceu da recente colonização da América do Norte e da África. A conquista desses continentes plasmou a imaginação literária dos europeus da geração de Hitler."
(página 31)

Hitler era um entusiasta das histórias literárias sobre o Velho Oeste americano. A luta do homem branco contra o índio malvado.
Na cabeça de Adolf Hitler, os povos do leste da Europa (poloneses, ucranianos, russos, etc) deveriam ter o mesmo destino que os índios tiveram nos EUA; ou ainda o mesmo destino que os povos asiáticos e africanos tiveram nas mãos dos colonizadores ingleses, holandeses, franceses, belgas, etc.

O RACISMO DE HITLER DIFERIA DO RACISMO DE OUTROS POVOS COLONIZADORES:

O racismo de Hitler era diverso daquele que justificava que ingleses e franceses, por exemplo, colonizassem áreas na África e na Ásia. O racismo de Hitler ia além, pois "Ele via o mundo todo como uma África e todos, inclusive os europeus, em termos raciais. Nisso, como ocorre com frequência, ele era mais coerente que outros. O racismo, afinal, era uma tentativa de julgar quem seria plenamente humano. Dessa forma, as ideias sobre superioridade e inferioridade derivadas da raça podiam ser aplicadas à vontade e segundo as conveniências. Mesmo sociedade vizinhas, que não pareciam muito diferentes da alemã, eram definidas racialmente diversas."
(página 32)

No livro Minha Luta, Hitler deixa claro que era na Europa que a Alemanha deveria procurar áreas para colonizar. A África estava fora de cogitação.

EXPERIÊNCIAS ALEMÃ NA COLONIZAÇÃO:

⏩ No continente africano:

A Alemanha teve colônias africanas:

(a) África Oriental Alemã: atuais Ruanda, Burundi, Tanzânia e parte de Moçambique
(b) Sudoeste Africano Alemão: atual Namíbia

Os alemães procuravam adotar em suas colônias africanas aquilo que eles viam os americanos, nos EUA, fazendo com seus índios. Alemães diziam que os nativos deviam abrir passagem. Miravam-se no exemplo dos EUA, na forma como estes tratavam seus indígenas (extermínio ou confinando-os em reservas).

⏩No continente europeu:

A Alemanha já tinha experiência em lidar com colônias no leste da Europa. Com as partilhas da Comunidade Polônia/Lituânia no século XVIII, uma parte desta coube à Prússia. Em 1871, com a Prússia liderando a unificação alemã sob a dinastia Hohenzollern, essa parte da Polônia foi anexada ao Império alemão. Os alemães já viam esses poloneses como sendo inferiores a eles. Uma parte da literatura alemã os tratava como 'pretos'. Bismarck tentou submetê-los, por meio da Kulturkampf, uma campanha contra a Igreja Católica, cujo principal alvo era pôr fim à identidade polonesa. Houve ainda campanhas de colonização subsidiadas pelo Estado.

OS ALEMÃES JÁ TINHAM SENTIDO O GOSTO DE TER UMA EXPANSÃO PARA O LESTE:

Com o Tratado de Brest-Litovsk, assinado entre a Alemanha e os bolcheviques, a Alemanha teve grandes ganhos territoriais no leste. Com esse tratado, as áreas de influência ou ocupação da Alemanha e das Potências centrais abrangiam os países bálticos, a Ucrânia, a Bielorrússia e a Polônia. Odessa, Kiev, Varsóvia, Riga, Vilnius, Tallinn/Reval, Minsk, Crimeia, etc, estavam ocupadas ou sob influência alemã e das Potências Centrais.
A Ucrânia iria fornecer alimentos para o esforço de guerra alemão (Paz do Pão, de 1918). Pelo menos esse era o desejo alemão, que não final não se concretizou, em razão da oposição exercida pelos camponeses ucranianos e pelos políticos ucranianos, que agora governavam a recém-criada República Nacional da Ucrânia, que ficava na zona de influência alemã.
Com o fim da guerra e a derrota para os Ingleses/Franceses/Americanos, a Alemanha e as Potências Centrais tiveram que devolver todos os territórios que tinham ganhado com o Tratado de Brest-Litovsk. Mas esse ganho territorial no Leste ficaria na memória dos alemães. E mais: os alemães não tinham sido derrotados no leste.

"Assim, os alemães puderam pensar que esse novo reino no leste europeu foi abandonado sem nunca ter sido perdido de fato."
(página 33)

OS PRETOS DE ADOLF HITLER SERIAM OS ESLAVOS:

O Lebensraum de Hitler não estava na África, estava no Leste Europeu: Polônia, Rússia, Ucrânia.

Adolf Hitler disse:
👇
"Nosso Mississippi deve ser o Volga (rio russo), não o Níger (rio africano)"
(página 36)

Traduzindo esse pensamento de Hitler:
A Alemanha deveria buscar seu Espaço Vital na Europa Oriental, não mais na África. 
O Rio Volga, na Rússia, seria o limite da expansão alemã no Leste. A referência ao rio Níger, localizado na África, era para dizer que a colonização realizada na África seria transplantada para o Leste Europeu. A referência ao rio Mississippi explica-se pelo fato dele dividir os EUA pelo meio, de norte a sul. Para Thomas Jefferson, um dos pais fundadores do EUA e ex-presidente, os índios americanos teriam que ser expulsos para além do rio Mississippi. Hitler queria fazer o mesmo, mas com os eslavos (eslavos), que seriam expulsos para além do Rio Volga, abrindo espaço para a colonização alemã.
Hitler ainda dizia, sobre os índios americanos:

" 'Quem', pergunta Hitler, 'se lembra dos peles vermelhas?' "
(página 37)

Se os índios americanos peles vermelhas tinham sido esquecidos, os ucranianos, poloneses, russos também poderiam, no futuro, serem esquecidos. 

ÁFRICA, COMO LUGAR, TERIA QUE SER ESQUECIDA. MAS A ÁFRICA, COMO MODO DE PENSAR, SERIA TRANSPLANTADA PARA O LESTE EUROPEU.
👇
A Alemanha não iria colonizar mais a África, mas iria transplantar o racismo, que fundamentou a colonização africana, para o Leste Europeu. Os eslavos do Leste Europeu seriam os novos 'pretos'. 

"...(Hitler) apresentou como inferiores raciais os integrantes do maior grupo cultural da Europa, seus vizinhos do leste, os eslavos."
(página 34)

UCRANIANOS/RUSSOS/POLONESES/BIELORRUSSOS - OS NOVOS 'PRETOS' DE HITLER:

" 'Preciso da Ucrânia', afirmava Hitler, 'para que ninguém mais seja capaz de nos fazer passar fome como na última guerra' "
(página 34)

Hitler ainda dizia:

"Tratava-se de uma questão de justiça natural: É inconcebível que um povo superior (o alemão) deva existir em penúria num solo estreito demais para ele, enquanto massas amorfas que em nada contribuem para a civilização (ucranianos, russos, poloneses, bielorrussos) ocupam infinitas porções de solo que é dos mais ricos do mundo."
(página 35)

Enfim, os eslavos do leste europeu, russos, ucranianos, poloneses, bielorrussos, eram os novos 'pretos' ou 'índios' de Hitler

AO COLONIZAR O LESTE EUROPEU, HITLER IRIA SE DEPARAR COM UM PROBLEMA QUE OS COLONIZADORES NA ÁFRICA NÃO ENCONTRARAM:
Estados que se equivaliam aos da Alemanha, da Grã-Bretanha
   Mas Hitler tinha uma explicação para isso: Esses Estados eram uma farsa, pois os eslavos, inferiores como eram, não podiam governar a si mesmo, de forma que seus Estados eram uma farsa, cuja governação se dava por elementos de fora, os judeus.

O Colonialismo na Europa oriental iria exigir um esforço redobrado por parte dos alemães, pois ao contrário do que aconteceu na África, os alemães iriam se deparar "com entidades políticos muito semelhantes ao Estado alemão. A preocupação de Hitler com a luta racial pela natureza encobria tanto as nações como seus governos. Sempre era legítimo destruir Estados; se fossem destruídos, é porque tinham de sê-lo."
(página 35)

De toda forma, Hitler se negava a ver nos Estados do Leste Europeu entidades que pudessem ser comparadas com a Alemanha, com a Grã-Bretanha.

Para Hitler:

"As raças inferiores em incapazes de construir um Estado."
(página 35)

Índios (Peles Vermelhas, Sioux, Dakota, etc) nos EUA não criaram Estados; tribos africanos não criaram Estados como o da Alemanha. Os eslavos, que eram igualmente inferiores, também não poderiam criar Estados como os da Alemanha, dos EUA, etc.

Dessa forma, pensava Hitler:

"...o que passava por governo era ilusório - uma fachada para o poderio judaico."
(página 35)

"Hitler afirmava que os eslavos nunca governaram a si mesmos. As terras a leste da Alemanha sempre tinham sido governadas por 'elementos de fora'."
(página 35)

Hitler pensava:

"O Império Russo fora criação de uma 'classe superior de uma intelligentsia essencialmente alemã'. Sem essa tradição alemã, 'os russos ainda estariam vivendo como coelhos'."
(página 35)

Para Hitler, a URSS era uma ficção judaica, uma expressão da visão do mundo judaica, que contrariava a ordem natural das coisas. "A ideia do comunismo era simplesmente um embuste que fazia com que os eslavos aceitassem sua nova liderança judaica." (página 35)

Resumindo a narrativa Nazista: os povos do Leste Europeu eram como os pretos da África ou os Índios dos EUA. Eram racialmente inferiores, de forma que não podiam se organizar, não podiam se governar, não podiam criar um Estado para si. Assim, os Estados que existiam no Leste Europeu, como a URSS, eram ficções (gigantes de pé de barro; castelo de cartas), eram uma farsa, pois quem os governava de verdade eram elementos de fora, os judeus.
Destruídos os judeus, os Estados do Leste, vistos por Hitler como "uma frágil colônia judaica" (página 36), seriam facilmente conquistados, pois sobrariam apenas os 'índios' ou 'pretos' (eslavos), que seriam facilmente subjugados, dando acesso ao seu imenso território. A Alemanha então criaria uma nova América (EUA) no leste europeu.

"Derrubando os judeus, que eram os verdadeiros governantes da URSS, sobrariam apenas os eslavos, que seriam enxotados da mesma forma que os índios da América do Norte foram enxotados. Na ecologia de Hitler, o planeta tinha sido espoliado pela presença dos judeus que desafiavam as leis da natureza introduzindo suas ideias corrompedoras."
(página 43)

COMUNISMO:

"O Comunismo era o exemplo mais imediato da afirmação Hitlerista de que todas as ideias universais eram judaicas e todos os judeus estavam a serviço das ideias universais. A proclamada identidade dos judeus com o comunismo - o Mito Judaico-Bolchevista - era para Hitler a prova definitiva da força e da fraqueza dos judeus."
(página 36)

As ideias universais judaica que contrariavam a natureza, como o comunismo, poderiam se tornar destrutivas, caso as massas as adotassem.

MITO JUDAICO-BOLCHEVISTA:

Segundo esse mito, todo judeu era comunista e todo comunista era judeu. 
O Mito Judaico-Bolchevista não foi criado por Hitler.
"A ideia judaico-bolchevista tem uma origem histórica específica: uma extensão do antissemitismo da Rússia oficial, uma adaptação das visões cristãs apocalípticas aos tempos de crise, uma explicação para o colapso da velha ordem (Império Russo), um grito de guerra durante uma guerra civil (Guerra Civil Russa) e uma forma de consolo depois da derrota (tomada bolchevique do poder na Rússia)"
(página 43/44)

A ideia judaico-bolchevique surgiu no decorrer da Primeira Guerra Mundial. A primeira contribuição - involuntária - veio da Alemanha. Como é sabido, a Alemanha iria lutar em duas frentes: frente oeste contra a França/Grã-Bretanha/EUA e frente leste contra o Império Russo. Para vencer a guerra, a Alemanha teria que romper esse cerco. Para tanto, ela teria que se livrar de um dessas frentes (front) de forma rápida, de forma a poder cuidar na sequência de um só inimigo. A Alemanha tentou fazer isso com a França, achando que iria vencer a guerra no oeste de forma rápida, para depois cuidar do Império Russo. Mas a Alemanha ficou atolada nas trincheiras. A França não foi derrotada. Com seu plano fracassado no oeste, a Alemanha se virou para o leste, trabalhando para levar a Revolução para a Rússia. Alemanha transportou o revolucionário russo Lênin da Suíça para a Rússia. Em novembro de 1917, com a sua promessa de Paz e Pão, Lênin tirou a Russia da Primeira Guerra Mundial. De início, isso pareceu uma grande vitória para a Alemanha. O futuro mostraria que não.
Voltando no tempo, a Rússia, de antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, era habitada por um grande número de judeus. Havia mais judeus vivendo no Império Russo do que em qualquer outra parte do mundo. Mas isso não significava que os russos fossem tolerantes, muito pelo contrário. O antissemitismo era a regra no Império Russo. Os judeus eram vítimas de preconceito oficial e de pogroms. Os judeus viviam ali por falta de opção. O judeu que via uma chance de emigrar, o fazia. Esses judeus russos viviam na parte ocidental do Império, justamente na área na qual seriam travados os combates durante a Primeira Guerra Mundial. E quando as tropas russas entraram no Império Habsburgo, se depararam com judeus proprietários de terras, que foram prontamente expropriadas.
Quando os Russos começaram a perder a guerra, começaram a sofrer reveses no enfrentamento dos Alemães e do Império Habsburgo, culparam os judeus por sabotagem. Em épocas de crise, as minorias sempre sofrem.

"Naquele mês (janeiro de 1915), o exército imperial russo expulsou centenas de milhares de judeus de quarenta cidades próximas de Varsóvia. Poloneses locais tomaram as propriedades dos judeus e ficaram com elas."
(página 40)

Conforme o exército alemão avançava para o leste, mais o Império Russo jogava a culpa nos judeus. Russos culpavam uma certa 'oligarquia judaica internacional' pelas derrotas russas no campo de batalha. 500 mil judeus foram expulsos de suas casas, sendo deportados sob a acusação serem potenciais colaboradores dos invasores alemães.
Quando veio a Revolução de 1917, num primeiro momento, em fevereiro de 1917, os judeus "foram formalmente emancipados e tornaram-se cidadãos." (página 40)

Em novembro de 1917, com a tomada de poder pelos Bolcheviques, grande parte dos judeus se uniu ao movimento liderado por Lênin.

"A partir de novembro de 1917, os judeus de repente passaram a ser membros de pleno direito de um novo Estado revolucionário, e não mais uma minoria religiosa reprimida num império."
(página 40)

Mas nem tudo eram flores para os judeus na Russa revolucionária. O preconceito contra os judeus era muito arraigado entre o povo russo. Judeus que tentavam retomar seus bens expropriados pelo Império Russo não conseguiam fazê-lo, pois os novos ocupantes desses bens não devolviam o que tinham ganho ou tomado. De toda forma, a ideologia internacionalista do movimento revolucionário fazia esforço para deter o antissemitismo russo.
Em meio à guerra civil que se seguiu à tomada de poder pelos Bolcheviques, os contrarrevolucionários (exército branco) passaram a usar o antissemitismo russo como bandeira contra os bolcheviques. Foi aqui que o mito Judaico-Bolchevique foi criado, num processo de amálgama entre o natural antissemitismo do povo russo com a ideia de que os ateus comunistas/bolcheviques eram a representação do Satã Moderno.
A ideia Judaico-Bolchevique chegou à Alemanha, a Hitler, por meio de Erwin Scheubner Richter e Alfred Rosenberg. Scheubner Richter e Alfred Rosenberg tinham morado na região do Báltico, durante o domínio do Império Russo. Com a queda do Império Russo, eles emigraram para a Alemanha.

"O mito judaico-bolchevique era a peça que faltava para completar o esquema de Hitler, unindo o regional ao planetário, aliando a promessa de uma guerra colonial vitoriosa contra os eslavos a uma gloriosa guerra anticolonial contra os judeus."
(página 44)
observação: dizia-se 'guerra anticolonial contra os judeus' porque na cabeça dos nazistas os governos do leste europeu, como por exemplo, a URSS, estariam nas mãos dos judeus. Esse pensamento nascia do preconceito em relação ao povo eslavo que, por ser considerado racialmente inferior, não teria capacidade para governar a si mesmo. Esse pensamento ainda nascia da ideia da existência de um poder judeu, que se fazia presente por meio do poder financeiro espoliador, das ideias universais/corrompedoras (comunismo) criadas por ele.

"Algumas ideias (dos defensores do mito judaico-bolchevique) foram tirados do livro 'Os Protocolos dos Sábios do Sião'. Aparentemente, a suposta existência de uma potência global judaica explicava a dupla catástrofe da revolução (comunista) e da derrota militar (derrota do Império Russo na Primeira Guerra Mundial)
(página 41)

Dessa forma, tentou-se passar a ideia de que a derrota do Império Russo, a queda da Dinastia Romanov, que governava a Rússia desde o início do século XVII, e a subsequente Revolução Comunista eram obras de um grupo identificável que deveria ser punido. Esse grupo eram os judeus.

Resumo do Capítulo:

Busca da Segurança Alimentar, de um maior conforto para as famílias alemãs e da luta racial incessante pela sobrevivência física ⏩ Lebensraum Espaço Vital Busca por Extensas Áreas Agricultáveis no Leste Europeu ⏩Leste Europeu habitado por eslavos, considerados pelos nazistas como racialmente inferiores. Os eslavos, para os nazistas, era como 'pretos' africanos e 'índios' americanos ⏩Estados Eslavos (URSS) eram uma farsa, pois povos inferiores não podiam governar a si mesmos, de forma que eram governados por elementos de fora, os judeus ⏩Ideia Judaico Bolchevique A visão do judaísmo como um poder criador de ideias universais, como o comunismo, e força colonizadora de áreas no leste europeu⏩Para conquistar a URSS, bastaria derrotar os judeus, que o Estado comunista cairia como um castelo de cartas. O Leste europeu seria a construção de um novo 'oeste americano' na Europa


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "TERRA NEGRA, O HOLOCAUSTO COMO HISTÓRIA E ADVERTÊNCIA, TIMOTHY SNYDER, EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS, capítulo 1, Espaço Vital, páginas 27/45

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