terça-feira, 28 de setembro de 2021

Clientelismo Patronato no Império Romano





CLIENTELISMO NO IMPÉRIO ROMANO

> PATRONATO

Quem tem padrinho não morre pagão. Essa máxima se aplicava ao dia a dia do Império Romano. 

Em Roma, quem tinha poder tinha uma rede de clientes, na qual podia buscar ajuda. Essas redes clientelares significavam que alguém tinha boas conexões eclesiásticas ou governamentais. Em Roma, você não podia ser bem sucedido sem um padrinho, sem um patrono. 

"Sinésio, bispo de Ptolemais, na Cirenaica (atual leste da Líbia), entre 411 e 413, enfrentou um governador brutal, Andronikos, na sua chegada como bispo. Andronikos, como reclama Sinésio em suas cartas, era particularmente violento com os senadores, causando a morte de um deles por supostas infrações fiscais. Sinésio conseguiu que ele fosse demitido, o que mostra que somente um bispo determinado e com boas conexões em Constantinopla poderia confrontar o abuso de poder - ou então que um oficial local, fosse ele bom ou mau, poderia não sobreviver a um ataque frontal de um determinado oponente político com suas próprias redes clientelares, eclesiásticas ou governamentais." (página 62)

Na administração civil era necessário ter dinheiro para buscar nomeações e para manter uma rede de patronato. O suborno era algo comum.

"No exército acontecia a mesma coisa; embora ele fosse mais aberto ao mérito, todos os generais de sucesso tornaram-se ricos." (página 70)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000", CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP

sábado, 25 de setembro de 2021

Os Vizinhos do Mundo Romano



OS OUTROS:

O mundo romano tinha seus vizinhos. Eram então os "outros". Esses outros despertavam nos romanos sentimentos de incompreensão e de desprezo. Esses "outros" podiam receber o nome de 'barbari", os bárbaros. 

VIZINHO DO LESTE:

A leste havia a Pérsia, então governada pela dinastia Sassânida (220/640 d.C). 

"O estado persa era quase tão grande quanto o Império Romano, estendendo-se a leste para a Ásia Central e para o atual Afeganistão; (...) manteve-se unido por um complexo sistema fiscal, apesar de ter tido uma poderosa aristocracia militar também, ao contrário de Roma." (página 86)

"A Pérsia era uma ameaça contínua, porém estável: as guerras aconteciam apenas nas fronteiras, no máximo estendiam-se até a Síria, pelos 250 anos entre a desastrosa invasão de Juliano ao território que hoje é o Iraque (então o coração econômico e político da Pérsia), em 363, e a temporária conquista persa do Oriente romano, em 614-628, que culminou no cerco de Constantinopla, em 626." (página 86)

A maior parte dos persas adotava o zoroastrismo. Havia ainda minorias cristãs e judaicas. 

"O Zoroastrismo certamente contribuiu para a 'estranheza' persa aos olhos romano; por exemplo, seus sacerdotes, chamados 'magoi', em grego, ou 'magi', em latim, deram seu nome à mágica em ambas as línguas, mesmo que a religião zoroastriana favorecesse uma teologia abstrata e rituais públicos, como fazia o cristianismo." (página 87)

VIZINHOS DO SUL:

Na África os romanos tinham que lidar com os Berberes, que constituíam tribos nômades e seminômades do Saara e de suas margens. 

"...por muito tempo essas (tribos berberes) não foram levadas a sério como ameaças militares, porém tais grupos estavam ganhando em coerência social e militar, em grande parte como resultado da influência romana." (página 87)

VIZINHOS NA BRITÂNIA:

A Britânia corresponde hoje à Inglaterra, Escócia, Irlanda e Irlanda do Norte. Nos tempos romanos, os vizinhos da Britânia romana eram os Pictos a norte e os irlandeses a oeste. 

VIZINHOS DAS FRONTEIRAS DOS RIOS DANÚBIO E RENO:

Francos, Frísios, Saxões, Godos, Alamanos, Longobardos, Lombardos, Quados e muitos mais. 

"A longa fronteira do Reno e do Danúbio voltava-se para comunidades tribais, em sua maioria falantes de línguas germânicas, que os historiadores, desde Tácito, no século I, tinham visto como um bloco, os 'germani', apesar de não haver qualquer evidência de que essas pessoas reconhecessem algum vínculo comum. Os principais grupos ao longo da fronteira eram, por volta do século IV, os francos, no Baixo Reno, os alamanos, no centro e no Baixo Reno, e os godos, no Baixo Danúbio e no noroeste das estepes do que é hoje a Ucrânia. Mais para trás estavam os frísios, na moderna Holanda, os saxões, ao norte da moderna Alemanha, os vândalos e longobardos e lombardos , a leste. Esses eram os principais grupos, porém havia dúzias de outros. Os quados, que se localizavam no que são agora a Eslováquia e a Hungria, são dignos de menção, talvez apenas porque, depois de travarem uma pequena guerra contra Valentiniano I, em 374/375, reuniram-se com o imperador e argumentaram (corretamente, de fato) que seus próprios ataques eram uma justificada e, em grande parte, defensiva resposta à agressão romana: isso foi visto por Valentiniano como algo tão insolente que ele teve um ataque apoplético e morreu." (página 88/87)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000", CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP.



terça-feira, 21 de setembro de 2021

Idade Média Séculos XI XII Desagregação do Poder Político



CARACTERÍSTICA GERAL DA IDADE MÉDIA NOS SÉCULOS XI E XII:

"Os poderes políticos tornaram-se mais locais e mais cuidadosamente delimitados." (página 187)

Os poderes políticos (de maior escala) centralizados no Império Romano do Ocidente e do Império Carolíngio deram lugar, nos séculos XI e XII, a uma estrutura celular de poder, representada por senhores locais (entidades políticas baseadas nos senhorios, de escala mais reduzida e personalizada).

Além de ser uma entidade política mais reduzida, ela dependia de relações pessoais. Eras as relações pessoais entre seu senhor e seu vassalo. 

"Estamos, pois, perante uma estrutura política dependente de relações pessoais." (página 160)

Nessa época, só havia dois estados europeus com sistemas políticos de maior escala: O Império Bizantino, no sudeste europeu e, no sudoeste europeu, o estado Al Andalus. 

Havia ainda a Inglaterra e o Reino de Castela, nos quais o rei sempre conseguiu manter em suas mãos uma quantidade considerável de poder. Na Inglaterra, por exemplo, os senhores locais, em seus castelos, não tinham poder suficiente que os habilitasse a prescindir do poder real, pois ele era de tal ordem que, brigar com ele seria uma opção perdedora. Assim, o estado inglês organizava-se em torno de seu rei. 

DESAGREGAÇÃO DOS PODERES POLÍTICOS NOS SÉCULOS XI E XII:

A desagregação do poder político foi um efeito, cuja causa residia nas políticas fundiárias num mundo no qual o Estado não era separadamente sustentado por uma política tributária. 

FRANÇA, EXEMPLO DE DESAGREGAÇÃO DO PODER POLÍTICO:

Na França dos séculos XI e XII o poder era descentralizado. O rei francês dominava um território que abrangia Paris, estendendo-se então 120 km até Orleães, no rio Loire. O resto do território era dividido entre vários senhores (duques, condes).

Nos séculos XI e XII o rei francês não era visto como a figura de mais destaque em seu próprio reino. 

O RETORNO DA CONCENTRAÇÃO DO PODER NAS MÃOS DO MONARCA:

A descentralização do poder visto nos séculos XI e XII seria revertida nos séculos seguintes, com uma reconstrução de reinos poderosos.

"Porém, quando este poder foi reconstruído por esses governantes, e outros, baseou-se nesta estrutura celular de poderes de fato e não - ou em apenas pequena escala - nas práticas e ideologias reais do passado. O mundo público que os Carolíngios e Otonianos herdaram do Império Romano tinha desaparecido por quase toda a Europa e foi necessário reconstruí-lo em outros moldes." (página 183)

Governantes mencionados acima:

Filipe II da França (1200-1210 século XIII)

Rogério II da Sicília ( 1120 1140)

Henrique II da Inglaterra

Frederico Barba Ruiva na Alemanha, com menos sucesso

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "EUROPA MEDIEVAL", DE Chris Wickham, Editora Edições 70

https://www.almedina.com.br/produto/europa-medieval-8094

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Não Chore Agora Você é Minha Esposa Rapto de Esposas Quirguistão



UM HOMEM ABORDA UMA MULHER E LHE DIZ:

Em algum lugar do Quirguistão, uma ex-república soviética, localizada na Ásia Central, um homem aborda uma mulher, com a qual nunca teve nenhum relacionamento, e lhe diz: 

"Não chore, agora você é minha esposa"

São com essas palavras que geralmente começa o sequestro de uma mulher no Quirguistão. 

Feito o sequestro, o sequestrador e provável futuro marido da sequestrada a leva para um local previamente acertado. Ali, geralmente a família de ambos, do sequestrador e da sequestrada, estão esperando por eles. 

Quando a mulher sequestrada chega ao local uma cerimônia é realizada, consistente na colocação de um xale branco em sua cabeça. Se a sequestrada aceitar o xale branco, é o sinal de que ele anuiu ao casamento.

Em alguns casos, o sequestro é tão bem planejado que o sequestrador e a sequestrada são recebidos com uma festa, na qual, por vezes, a própria família da mulher sequestrada se faz presente, anuindo a tudo. 

AGARRE E CORRA:

No Quirguistão o sequestro de esposas é chamado de Ala Kuchuu, que significa "Agarre e Corra". 

Agarre a mulher que lhe interessa para ser sua esposa e corra com ela.

"As pessoas acham que esse costume (sequestro de esposas) é mencionado no Manas (poema épico quirguiz), um mal-entendido que se espalhou porque quase ninguém leu o poema de cabo a rabo. O Ala Kuchuu nem é mencionado no Manas. No passado, as mulheres eram raptadas durante a guerra, ou quando os dois noivos queriam fugir dos pais que se opunham ao casamento, ou quando o noivo não queria pagar o kalym, o dote nupcial." (página 346)

No Quirguistão, 1/3 dos casamentos são originados por meio desses sequestros. 

"Anteriormente, os sequestradores podiam ser multados em cerca de 100 mil somes, algo em torno de 1.300 dólares, e arriscavam pegar 3 anos de reclusão. A pena era mais severa para que roubava uma ovelha." (página 346)

A punição passou a ser de 7 anos de prisão incondicional, mas o risco de algum sequestrador de noivas ser punido é mínimo. Um em cada 1500 homens é condenado pelo sequestro de uma mulher para se casar com ela. 

POR QUE UMA MULHER ACEITA SE CASAR COM O SEU SEQUESTRADOR?

Geralmente, uma mulher sequestrada aceita se casar com o seu sequestrador por pressão da própria família. 

"As mulheres mais velhas fazem pressão psicológica: << Nós também fomos raptadas, choramos mas tivemos filhos e esquecemos de tudo. Olhe para nós agora. Temos filhos e moramos numa bela casa>>"(página 347)

Essas mulheres mais velhas são da família do sequestrador e podem ser até da família da sequestrada.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "SOVIETISTÃO, UMA HISTÓRIA DO CAZAQUISTÃO, DO TADJIQUISTÃO, DO USBEQUISTÃO, DO QUIRGUISTÃO E DO TURCOMENISTÃO", ERICA FATLAND, EDITORA ÂYINÉ

domingo, 5 de setembro de 2021

A desunião da Umma A Comunidade Muçulmana Xiitas Sunitas Abássidas Omíadas


 

ISLÃ:

"Islam" = Islã, o nome da religião.  Ato de Submissão

"Muslim" = Muçulmano = É aquele que se submente à vontade de Deus (Allah)

"Muhammad" (Maomé) = Profeta, legislador, árbitro e líder espiritual e comandante militar. Muhammad foi o mensageiro de Deus, por meio do anjo Gabriel.

Profeta: É o mensageiro de Deus. É o homem ao qual Deus havia falado. Maomé, na visão da religião islâmica, foi o último profeta. Houve outros, como Jesus, Jó, Abraão, Noé, Jonas. 

Alcorão: Registro das mensagens de Deus via anjo Gabriel a Muhammad (Maomé). 

"Umma" = Comunidade Muçulmana.

Califa = Khalifat Rasul Allah = Sucessor do Mensageiro de Deus. 

Caaba: Abraão e seu filho Ismael encontraram a pedra negra e erigiram a Caaba em torno dela.

UMMA:

A Umma é a comunidade muçulmana criada por Muhammad (Maomé), o profeta que viveu no século VII d.C. Por meio de um anjo, o islã foi revelado a Muhammad. 

Sob o lema de que não existe deus algum além de Allah e que Muhammad é o seu mensageiro, o Islã foi criado, reunindo-se em torno dele um grupo de devotos, que formou uma comunidade, a qual foi denominada Umma.

No início, essa comunidade foi coesa. Maomé, na cidade de Meca, no Hijaz, oeste da atual Arábia Saudita, reuniu em torno de si um grupo de seguidores, que vinham de diversas tribos árabes. Maomé e seu grupo sofreram perseguição por parte dos pagãos árabes, que originalmente eram politeístas e tinham na Caaba, um ponto de peregrinação, na qual veneravam seus inúmeros deuses. 

Em 622, o ano inaugural do calendário muçulmano, Maomé e seus seguidores partiram de Meca e foram para a cidade de Medina, localizada no oeste da península arábica. Esse evento passaria para a história com o nome de Hijira (Hijra)

Nos anos que se seguiram, Maomé e o seu islã conquistaram a cidade de Meca e tribos árabes espalhadas pela península arábica. O território dominado pelo Islã abrangia o Hijaz, algumas outras tribos árabes espalhadas pela península arábica. Nessa época, com Maomé no comando da Umma, não havia dissidências. Mas tão logo Maomé morreu, no ano de 632 (século VII), a comunidade muçulmana criada por ele, a Umma, passou a apresentar dissidências. 

O primeiro problema a ser resolvido consistia em achar um substituto para Maomé. A escolha recaiu sobre seu amigo Abu Bakr. Abu Bakr não seria um novo profeta, mas seria um Califa, o sucessor do Profeta. Tão logo assumir a posição de califa, Abu Bakr  precisou agir rapidamente para impedir que a Umma se desintegrasse. De fato, com a morte de Maomé, vários tribos árabes não se viram mais obrigadas a pagar o tributo que viabilizava a existência de uma comunidade muçulmana. Abu Bakr teve que ir à guerra para demovê-las disso. Mas não foi só o medo de uma retaliação que manteve as tribos árabes unidas em torno da Umma. Abu Bakr ofereceu a elas a chance de enriquecimento, por meio de guerras contra os Impérios Sassânida (Pérsia) e Bizantino. Essas guerras resultavam em grandes pilhagens que, depois que 1/5 delas era reservado para a Umma, o restante era distribuído entre os guerreiros das tribos árabes que delas participavam.

Abu Bukr morreu em 634. No lugar dele assumiu Umar (634/644). Após Umar, assumiu o califado um membro do clã Omíada, Uthmann (644/656).

XIITAS VERSUS SUNITAS:

1) ALI, O PRIMEIRO MÁRTIR:

Com a morte de Uthmann, Ali, o primo e genro de Muhammad, assumiu o califado. Ali era filho de Abu Talib, tio e protetor de Muhammad. Ali foi a primeira pessoa que Muhammad conseguiu converter ao islamismo. Muhammad era órfão e foi criado pelo seu tio Abu Talib, que o protegeu dos pagãos de Meca enquanto seu sobrinho defendia o islamismo. Ali casou-se com Fátima, a filha de Muhammad. 

Ali daria início a uma nova divisão na Umma, entre xiitas e sunitas. 

Sunitas basicamente são os muçulmanos que reconhecem como legítimos os califas Abu Bukr, Umar e Uthmann. Também iriam reconhecer como legítimos os califados Omíada e Abássida. 

Os xiitas (O partido de Ali - Shi'at Ali), por sua vez, só reconheciam como um legítimo governante da Umma islâmica a pessoa que fosse descendente de Muhammad (Maomé). E o único descendente de Maomé que havia era Ali, que era seu primo e genro. E havia ainda os filhos de Ali, Hasan e Husayn.

Ali, como dissemos, foi feito califa. Mas seu califado foi tumultuado. Teve que enfrentar a oposição de Aisha, a ex-esposa de Muhammad e de dois aliados deste, naquilo que fico conhecida como a Batalha do Camelo, o primeiro confronto no qual dois exércitos muçulmanos se enfrentaram. Ali saiu vitorioso dessa batalha, mas acabaria enfrentando uma outra rebelião, comandada por Mu'awiya, que era governador da Síria. Em meio à rebelião, Ali acabaria sendo assassinado em 661, daí ter passado para a história como mártir. Mu'awiya então assumiu o califado e, por ser da tribo Omíada, seu período e dos seus sucessores passaria a ser denominado como Califado Omíada, com sua capital na cidade de Damasco.  

2) HUSAYN, O SEGUNDO MÁRTIR:

Os xiitas voltaram à carga com Husayn, o filho de Ali. Em 680, Husayn e seus 72 guerreiros, na cidade de Carbala, atual Iraque, enfrentaram 10 mil soldados do califado Omíada. O resultado foi a morte de Husayn, que passou para a história como o segundo mártir.

Husayn e Ali passariam para a história como os martirizados e seus partidários passariam para a história como xiitas, o Partido de Ali, contrapondo-se aos sunitas.

ABÁSSIDAS VERSUS OMÍADAS:

O califado Omíada levaria o islã para a Península Ibérica (atuais Portugal e Espanha) e para além do rio Oxus (Amu Daria), na Ásia Central. Mas esse sucesso não fez com que o califado Omíada fosse aceito por todos os muçulmanos. O califado Omíada acabaria por ser derrubado e, no seu lugar, surgiria o Califado Abássida. 

O líder dos Abássidas era Abbas, que dizia descender de um tio de Maomé. Com os Abássidas, o centro do poder islâmico passou de Damasco para Bagdá, no Iraque. 

Mas nem o califado Abássida conseguiria fazer da Umma um todo coeso. O império islâmico era extenso e os califas abássidas não davam conta de torná-lo uniforme e unido. Governadores nomeados para áreas distantes descolavam-se de Bagdá e criavam eles próprios estados independentes. Um governador nomeado no ano 800 para Túnis, na atual Tunísia, fundou sua própria dinastia, a Aglábida. 

UMMA DESUNIDA:

A Umma, a Comunidade Muçulmana, começou como algo coeso, formado apenas pelas tribos árabes que habitavam a península arábica. Com a expansão do século VII, a Umma passou a conter diversos membros de diversas etnias, culturas, religiões, etc. Foram incluídos na Umma os persas, os turcos, os habitantes da península ibérica, os berberes do norte da África, etc. Essa miríade de povos e a extensão do império islâmico, que abarcava o norte da África, a península ibérica, o oriente médio e a Ásia Central, tornou impossível manter a Umma unida sob um só poder. Enfim, apesar de todos esses povos testemunharem que não há deus algum além de Allah e que Muhammad (Maomé) é o seu mensageiro, eles nunca conseguiram se unir de forma a criar um todo coeso, que buscasse andar numa só direção, sob um só comando. 

E foi sempre assim. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano levantou a bandeira da Guerra Santa contra ingleses e franceses, obteve pouco ou nenhum sucesso. As tribos árabes acabaram se unindo com os cristãos ingleses na luta contra o sultão muçulmano líder do Império Otomano.

E mais recentemente, quando Saddam Hussein apelou para uma guerra santa contra os ocidentais, nos anos de 1991 e 2003, igualmente não obteve êxito, vendo-se sozinho na luta contra americanos, ingleses, etc. Os muçulmanos da Síria, da Arábia, do Egito, da Jordânia não vieram em seu socorro, pelo contrário, alguns desses países forneceram bases militares para os exércitos dos EUA. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "UMA HISTÓRIA CONCISA DO ORIENTE MÉDIO", DE ARTHUR GOLDSCHMIDT JR, E IBRAHIM AL-MARASHI, EDITORA VOZES