quinta-feira, 21 de maio de 2020

Estilicão Visigodos Alarico Roma Saqueada 410 Cidade de Deus Agostinho Deficit nas contas de Roma Ricímero Gália Séculos V e VI Mundo Pós Romano



PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS DIVIDIDAS EM ÉPOCAS:

Até o ano 425:
Estilicão
Godos (Visigodos): mataram um general romano no interior do Império Romano, na batalha de Adrianópolis, no ano de 378
Autor Chris Wickham compara o saque de Alarico a Roma (410) com os ataques do 11 de setembro aos EUA

Estilicão, comandante militar dos exércitos ocidentais e homem forte do início do século V. Estilicão enfrentou Alarico, o chefe guerreiro dos Godos, que procurava um lugar para assentar seu povo no interior do Império Romano. Os Godos entraram pela primeira vez no Império Romano no ano de 376. Venceram um exército romano em Adrianópolis (atual Edirne, na Turquia), em 378. 
Os Godos foram deixados em paz no ano de 380, na Ilíria e na Trácia (Bálcãs). Os Godos chegaram a lutar ao lado dos romanos, em 394 
Mas o acordo entre romanos e godos (visigodos) chegou ao fim, de forma que estes voltaram a atacar, invadindo a Grécia. Em 401, os godos entraram na Itália Setentrional (norte da Itália). Estilicão os derrotou e os empurrou de volta à Ilíria, em 402. 
Mas os Visigodos iriam voltar em 408. Nessa mesma época, outros grupos bárbaros forçavam as fronteiras do Império Romano do Ocidente. Vândalos atravessaram o Rio Reno em 406. Outras crises ainda aconteciam. Estilicão, após um motim, é executado em 408. 
Em 410, Alarico, chefe guerreiro dos Visigodos, saqueou Roma, ..."um evento que chocou o mundo romano da mesma forma que o 11 de setembro de 2001 chocou os EUA..."
(página 136)

Mas esse saque não teve outras repercussões e os visigodos continuaram buscando um assentamento definitivo. No fim, os visigodos estabeleceram-se nas proximidades da cidade de Toulouse (atual França), em 418, criando o Reino de Tolosa. 

QUATRO IMPERADORES EM 411:

A maioria desses imperadores era protegida por grupos bárbaros rivais. Até que finalmente surgiu Constâncio, que pôs fim à balbúrdia, unindo o exército em torno de si e derrotando todos os 4 pretendentes a imperador.

O ORIENTE ROMANO NO SÉCULO V:

O Oriente enfrentou menos traumas durante o século V. Os Bálcãs eram visitados normalmente por invasores 'bárbaros', inclusive pelos hunos, mas Constantinopla, em sua borda, estava muito bem protegida; ademais, a riqueza do Império Romano do Oriente não estava nos Bálcãs, mas no Egito e no Levante, distantes portanto do tumulto causado pelas incursões dos 'bárbaros'.

"Acima de tudo, a Pérsia sassânida, tradicional inimiga dos romanos no oriente, estava em paz com o Império por quase todo o século V..."
(página 137)

Naquele momento, havia uma relação mais estreita entre poder secular e espiritual no Oriente do que no Ocidente. A maioria dos chefes políticos no oriente era composta por civis e não por militares. esses chefes "governavam em nome de Arcádio e de seu igualmente inativo filho Teodósio II (408-450). Em 381 o Patriarcado foi estabelecido no Império Romano do Oriente e desde já buscava protagonismo nas políticas seculares do Império, de uma maneira que o Papa, no Ocidente, ainda não era capaz de fazer.

"A relação Igreja-Estado também permaneceria muito mais íntima no Oriente no futuro exceto, muito tempo depois, durante o período carolíngio."
(página 138)

Em 425 (século V), o Oriente era estável  e experimentava um situação econômica confortável, que iria permanecer até o início do século VII. 

O OCIDENTE ROMANO NO SÉCULO V:

A maioria das fronteiras ainda era guardada por tropas romanas. Havia grupos bárbaros assentados no interior do Império Romano do Ocidente, dissociados da hierarquia militar romana. Esses grupos eram constituídos pelos Visigodos, em Toulouse (atual França), remanescente da horda Vândala, no oeste da Espanha, os suevos no norte, etc. Todos esses grupos tinham sido derrotados pelos romanos e os visigodos estavam numa aliança federativa com os romanos (federação com Roma). A situação era instável nas províncias setentrionais (norte) do oeste, ao norte do Rio Loire. A fronteira mais ao norte da Gália foi cada vez mais povoada por francos, vindos da outra margem do Rio Reno. A Britânia (atual Grã-Bretanha), foi abandonada pelos romanos em 410.

ESPERANÇA ROMANA: BÁRBAROS TROCARIAM AS ESPADAS PELOS ARADOS. A CIDADE DE DEUS DE AGOSTINHO, ESCRITA EM REAÇÃO AO SAQUE DE ALARICO A ROMA, EM 410. 

A esperança expressada por alguns romanos (Orósio, ano 417, página 138) residia na ideia de que os bárbaros, com o tempo, abandonariam a espada e passariam a adotar o arado. Deixariam de lado a guerra e passariam a ser pacíficos agricultores. Os bárbaros ainda passariam a ver os romanos como amigos.

"Nesse mesmo período, entre 413 e 425, para ser exato, Agostinho escreveu sua monumental obra A Cidade de Deus, inicialmente como reação ao saque de Roma. Agostinho foi, de fato, cuidadoso em não atribuir demasiada importância ou longevidade ao grande experimento imperial romano, pois a cidade celestial é separada das formas políticas terrenas."
(página 138/139)

Agostinho acreditava que o mundo acabaria em breve. Mesmo assim, Chris Wickham esclarece que "não há indicações aqui de que qualquer pessoa esperasse ou temesse o fim do Império."
(página 139)

GERAÇÃO SEGUINTE: ANO 455 (SÉCULO V):

No Império Romano do Oriente a política ia bem, sem sobressaltos, exceto pelas incursões do Hunos nos Bálcãs. O Imperador do Oriente, Teodósio, realizou a compilação das leis orientais e ocidentais sob o Código Teodosiano no ano de 438. Sob seu governo, dois grandes concílios eclesiásticos foram realizados, em Éfeso (431) e na Calcedônia (451).
No Ocidente (Império Romano do Ocidente) a situação era diversa.

"O ocidente conheceu mais problemas."
(página 139)

Aécio, então governante do ocidente (magister militum ou magister militium - há duas grafia no livro) - 433/454, tinha seus interesses mais concentrados na Gália.

"A responsabilidade por deixar os Vândalos tomarem Cartago é essencialmente dele."
(página 139)

Aécio, de fato, preocupava-se mais em manter a Gália estável. Aécio tinha pacificado os Visigodos em 439. Ainda na Gália, outros grupos bárbaros também foram cooptados pelos romanos: alanos e os burgúndios, que foram assentados pelo próprio Aécio no vale do Baixo Loire e no Alto Ródano (anos 442/443).
A Itália, naquela altura, estava segura. A África tinha sido perdida para os Vândalos. A Espanha também tinha sido perdida para os Vândalos e depois para os Suevos.

DEFICIT NAS CONTAS DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE:

A tributação então existente já não conseguia arrecadar dinheiro para sustentar o exército romano. A solução seria aumentar os impostos.

"Por volta de 440, Salviano de Marselha escreveu um longo e inflamado sermão chamado "Sobre o Governo de Deus', que atribuía os fracassos do romanos contra os (obviamente inferiores) bárbaros aos seus próprios pecados: notadamente a injusta e excessiva taxação, o entretenimento público e a permissividade sexual."
(página 140)

"Esse é o tipo de coisa que os pregadores cristãos extremistas sempre disseram (e ainda dizem), e seus detalhes não podem ser levados muito a sério. Não podemos concluir, por exemplo, que as províncias ocidentais realmente estavam destruídas pela alta tributação, e seria melhor ver a obra de Salviano como uma prova da contínua eficácia do sistema fiscal. Porém, é sem dúvida verdade que a visão que Salviano tinha do Ocidente agora incluía os bárbaros como agente políticos estáveis, alternativas ao domínio romano... Salviano pensava que os romanos muitas vezes escolhiam ser governados por bárbaros a fim de escapar das injustiças do Estado romano. Isso provavelmente não era comum no anos 440, mas já era possível imaginar uma coisa dessas. No Oriente (Império Romano do Oriente), o historiador Prisco, ao discutir acerca dos hunos, nessa mesma época, escreveu algo parecido."
(página 140)

O Hunos, mencionados pelo historiador Prisco, na década de 420, tinham se assentado fora do Império Romano, no meio do que hoje é a Hungria, numa época na qual Átila ainda não tinha surgido (435-453)

INVASÃO DOS HUNOS:

Em 440, Ostrogodos e Gépidas se uniram aos Hunos. Com isso, os Hunos invadiram a Gália (451) e a Itália (452). Mas Aécio, com a ajuda dos Visigodos, os derrotou na Gália. Átila morreu em 453 e a disputa pelo seu legado  (entre seus filhos e e entre os povos subjugados) destruiu o poder huno (454/455)
Aécio, que tinha derrotado os Hunos no campo de batalha, foi assassinado por aquele que iria se tornar o próximo Imperador, Valentiniano III, que morreu um ano depois.

DÉCADA DE 450 (SÉCULO V):

"...ainda conheceu um certo nível de estabilidade no no Ocidente. Ele agora continha 6 governos bárbaros, com os quais qualquer chefe romano teria de lidar, embora ainda mantendo uma posição de força."
(página 141)

Com a morte de Valentiniano III, Ávito, um ex-general de Aécio e Senador em Auvérnia, no centro de Gália, assume o cargo de Imperador. E quem o persuadiu a tomar o poder foi um bárbaro, Teodorico II, rei dos Visigodos.

DÉCADA DE 460-470:

Ávito é derrotado pelo exército italiano de Majoriano e Ricímero. Com a queda de Ávito, Majoriano torna-se Imperador. Majoriano acaba sendo assassinador pelo seu Magister Militum, Ricímero. Ricímero governará até 472, por meio de Imperadores "praticamente todos fantoches" (página 142)

Em 468, Antêmio, um dos Imperadores Fantoches de Ricímero, ao lado do general oriental Basilisco (cunhado do Imperador Leão I do Império Romano do Oriente), empreendeu um ataque aos Vândalos no norte da África, que resultou em um fracasso total. Essa ação de Ricímero foi uma exceção, pois ele preferia concentrar suas forças na Itália e no sudeste da Gália. Buscava defender essas áreas, contando com a ajuda do Príncipe Burgúndio Gundobaldo (476-493).
O interesse de Ricímero apenas pela Itália e pelo sudeste da Gália "é um sinal claro que os horizontes imperiais estavam encolhendo." (página 142)

ODOACRO. NOS PRIMEIROS ANOS QUE SE SEGUIRAM À RUÍNA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE, A ITÁLIA FOI PRESERVADA DE INVASÕES:

Era o chefe na Itália. Não era mais visto como Imperador do Ocidente. Era um chefe militar. Era o chefe militar supremo da Itália. Odoacro tampouco quis nomear um Imperador para o Ocidente. O Senado disse que um Imperador seria o suficiente para aquele momento, razão pela qual fez chegar ao Imperador do Oriente, Zenão, o desejo para que ele assumisse a governação da parte ocidental.
Odoacro então "governou a Itália em nome de Zenão, como patrício (patricius). Mas mesmo assim, na Itália, Odoacro se autointitulava Rex, rei." (página 143)

"O ano de 476 é a data tradicional para o fim do Império do Ocidente, com a derrubada, na Itália, do último Imperador, Rômulo Augústulo, embora seja possível considerar o ano de 480, pois Julio Nepos, o predecessor de Rômulo, governou a Dalmácia até então. Mas a Itália é, na verdade, a região do Império Ocidental que viveu menos alterações nos anos 470, já que Odoacro governava ao modo de Ricímero à frente de um exército regular. A Itália não experimentou nenhuma invasão ou conquista até 489-493, com a chegada de Teodorico Amalo e seus Ostrogodos, porém Teodorico governou da maneira mais romana possível (489/526). O fim do Império foi experimentada de maneira mais direta na Gália."
(página 143)

FIM DO IMPÉRIO ROMANO NA GÁLIA:

"O fim do Império foi experimentada de maneira mais direta na Gália."
(página 143)

Na Gália houve o avanço dos Visigodos. Eles já ocupavam a região em torno da cidade de Toulouse (Reino de Tolosa). Mas eles queriam mais. Além da Gália, foram ainda para a Espanha. Em seu avanço pela Gália, cercaram a cidade de Clermont, na Auvérnia (471/475). Em Clermont vivia Sidônio Apolinário (bispo e senador romano), que vivenciou e relatou as mudanças políticas de sua época. Sidônio, vendo a Gália sendo abandonada pelo Império Ocidental, lamentava "...agora que os antigos graus de hierarquia oficiais foram varridos...o único símbolo de nobreza passará a ser o conhecimento das letras." (página 144)

"...a hierarquia oficial tinha desaparecido, apenas a cultura tradicional romana sobreviverá."
(página 144)

Ainda na Gália, Burgúndios e Visigodos no Vale do Ródano, na Provença. Ainda surgiriam os Ostrogodos.
No norte da Gália havia ainda exércitos que ainda defendiam a autoridade de Roma, sob a liderança de Egídio, um general bretão.
Ainda no norte da Gália, um novo personagem surgia: Clóvis de Tournai (481-511). Clóvis iria se tornar o líder dos Francos, no início de um processo que resultaria no domínio da Gália pelos Francos.
O norte da Gália, ao norte do rio Loire, era um terreno mais difícil para o enraizamento da cultura romana. Havia, por exemplo, poucas Villae, ricas residências rurais de aristocratas (elites civis) que cultivavam as tradições culturais romanas.
No sul da Gália, reis burgúndios e visigodos governavam suas áreas, valendo-se de civis romanos e até de generais romanos.

"Mas, em todos os lugares da Gália, as últimas duas décadas do século V foram definitivamente pós-imperiais, no sentido de que meia dúzia de governantes se enfrentou sem nenhuma mediação, nenhuma hegemonia distante  baseada em Roma/Ravena na qual se espelhar."
(página 145)

REGIÕES PÓS-ROMANAS ANO 500 d.C.:

- GÁLIA: Burgúndios, Visigodos e Francos
- ÁFRICA: Vândalos
- ITÁLIA
- NORICUM: Atual Áustria. Os bárbaros da área, os rúgios, não atravessaram o rio Danúbio, mas saqueavam e cobravam tributos dos indefesos romanos que viviam na margem oposta do Danúbio (anos 470). A vida em Noricum era miserável. Os bárbaros percorriam livremente os campos enquanto os romanos ficavam nas cidades e em fortificações. Não havia mais uma liderança política vinda de Roma. Essa terra de ninguém também poderia ser encontrada em áreas como a Gália do norte, na Britânia e em partes da Espanha.

"Mas a maior parte do ocidente estava, apesar de tudo, sob o controle de sistema de governo mais estáveis (e mais romanos), sejam eles gótico, burgúndio ou vândalo."
(página 146)

A unidade do Império Romano sobreviveu apenas no Oriente (Constantinopla).

IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE - CONSTANTINOPLA - FINAL DO SÉCULO V:

Godos forçavam as fronteiras do Império Romano do Oriente na região dos Bálcãs. Mas nada que alterasse a estabilidade do Império. Imperador Anastácio (419-518) estabeleceu um governo virtuoso, que tirou as finanças do Império do negativo.

SECULO VI:

No Oriente a estabilidade era mantida. No Ocidente havia mudanças, "mas ainda havia elementos de estabilidade." (página 147)

Na Itália, o 'bárbaro' Teodorico governava a Itália desde a cidade de Ravena, adotando uma tradicional administração romana. O 'bárbaro' Teodorico era respeitoso com o Senado Romano e com a cidade de Roma, visitando-a formalmente. Sob Teodorico, os sistemas fiscal e administrativo pouco tinham mudado.

"Os mesmos proprietários de terra tradicionais dominavam a política, ao lado de uma nova (mas parcialmente romanizada) elite militar goda ou ostrogoda."
(página 147)

Contemporâneos de Teodorico, havia o Reino Visigótico no sul da Gália e na Espanha, com centro em Toulouse, sob o governo de Alarico II (484/507).
Esses Godos (Visigodos) eram cristãos arianos (não católicos) e e figuras militares, "mas em outros aspectos, estavam adquirindo os valores romanos rapidamente." (página 147)

Vândalos, na África, e Burgúndios iam na mesma direção dos Visigodos.

"De certa forma, a Gothia realmente tinha substituído a Romania, mas o fizera, em grande parte, imitando os romanos."
(página 148)

ANO 500 - FRONTEIRAS APROXIMADAS:

REINO VISIGODO: Cidades de Toledo (centro da atual Espanha), Mérida (atual Espanha), Toulouse e Narbonne, Clermont, Arles, Tours - Rio Loire - (atual França).

DOMÍNIO OSTROGODO: Península Itálica : Roma, Ravena, Milão, Dalmácia (atual Croácia).

DOMÍNIO VÂNDALO: Norte da África, Cartago, atual Tunísia.

SUEVOS: Noroeste da Península Ibérica; cidade de Braga; atuais Espanha e Portugal.

BASCOS: norte da atual Espanha e parte sudoeste da atual França

BURGÚNDIOS: Lyon, atual França, Suíça.

REINO FRANCO: Paris, Tournai (atual França); Colônia (atual Alemanha).

BRETONS: Bretanha, atual França

ATUAIS GRÃ-BRETANHA E IRLANDA: Pictos (atual Escócia), Anglo-Saxões no leste British/Welsh no oeste (atual País de Gales). Na irlanda, os Irish.

VALE DO RIO ELBA: Norte - viviam os Saxões.

DANES: atual Dinamarca.

IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE - EAST ROMAN EMPIRE: Ficaria conhecido como Império Bizantino, com capital em Constantinopla. Possuía a Grécia, os Bálcãs, a atual Albânia, Palestina, Ásia Menor (atual Turquia), etc.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000, CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP, IMPRENSA OFICIAL, GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, capítulo 3, Crise e Continuidade, 400-550.


segunda-feira, 11 de maio de 2020

Queda do Império Romano Nada Mudou Mas Tudo Mudou Primeiro autor a datar a ruína do Império Romano em 476 A queda do Império Romano do Ocidente poderia ter sido evitada



BÁRBAROS NO PODER IMITAVAM A GOVERNAÇÃO ROMANA:

No ano de 484, Hunerico, rei dos Vândalos, no Norte da África, onde antes havia uma Província Romana, agia como os romanos.
Ele era ariano e considerava as práticas católicas dos romanos como heresia. Para os arianos como Hunerico, Jesus Cristo foi somente um homem. Era apenas humano, sem dimensão divina, como acreditavam os cristãos católicos.
O que importa aqui é que Hunerico emulava o comportamento dos Imperadores Romanos, que desencadeavam processos de heresia contra qualquer um que viesse a desafiar o entendimento esposado pelo catolicismo.
No passado, sob o Império Romano, os católicos estavam na posição de acusadores, perseguidores. Os romanos católicos queriam impor o cristianismo católico para todosExemplo: disputa entre donatistas e católicos, em 411 (século V). Agora, sob o reinado de Hunerico, eram os católicos que estavam na posição de perseguidos e heréticos. Os vândalos queriam impor o arianismo para todos, perseguindo quem pensasse de forma diversa.

"Assim, é possível ver os vândalos como uma versão dos próprios romanos."
(página 133)

"Hunerico gostava de ser um Imperador romano no modo de perseguir..."
(página 132)

Como dissemos acima, Hunerico era o chefe/rei dos Vândalos. 

"O uso moderno de seu nome mostra a má reputação que eles já tinham..."
(página 132)

Os vândalos eram acusados de crueldade e opressão; chegada violenta à África em 429; estilo de vida luxurioso. Genserico (428/477), pai de Hunerico, levou os Vândalos da Espanha para a Numídia (província romana no norte da África). Conquistaram Cartago. Pilharam a Sicília, conquistaram a Sardenha e saquearam Roma em 455.
Apesar de perseguirem os cristãos católicos, "há evidências que mostram que os vândalos acreditavam ser muito romanos." (página 132)

"A administração vândala parece ter sido quase idêntica à administração romana da província da África e composta por africanos..."
(página 133)

"...a moeda era uma adaptação criativa de moedas romanas."
(página 133)

PERDER A ÁFRICA DO NORTE PARA OS VÂNDALOS OCASIONOU UM GRAVE PREJUÍZO PARA O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE:

Os Vândalos governavam a África como uma aristocracia militar fundiária, etnicamente distinta. As terras que pertenciam os romanos foram expropriadas.
A presença dos Vândalos no norte da África impactaram Roma de forma grave. A principal área exportadora de alimentos para o Império Romano do Ocidente caiu nas mãos dos 'bárbaros'. O corte desse fornecimento de alimentos ocasionou a diminuição da população romana. O comércio que havia entre Cartago e Roma caiu por terra. Roma passou a enfrentar uma crise fiscal, quando mais precisava de dinheiro para manter seu exército. 

"Não ter previsto que Genserico tomaria Cartago, apesar de um tratado afirmado em 435, é indiscutivelmente o principal erro estratégico do governo imperial no século V."
(página 134)

Cartago só voltaria a ser romana (Império Romano do Oriente - Império Bizantino) em 533/534.

SÉCULO V. NAS RUÍNAS DAQUILO QUE TINHA SIDO O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE. MUNDO PÓS-ROMANO:

Frase de Impacto sobre a Queda do Império Romano:
"nada mudou, mas tudo mudou." (páginas 134/135)

A queda do Império Romano do Ocidente foi algo que poderia ter sido evitado: "Os acontecimentos do século V não eram inevitáveis, e não foram percebidos como tal pelas pessoas que os vivenciaram.." (página 134/135)


Com a queda do Império Romano do Ocidente, nada mudou, mas tudo mudou
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"...repetidas vezes os exércitos 'bárbaros' ocuparam províncias romanas, as quais eles administravam de maneiras romanas; nada mudou, mas tudo mudou. No ano 400, os Impérios Romanos Ocidental e Oriental eram gêmeos, governados por irmãos (Honório e Arcádio, os dois filhos de Teodósio I, que governaram entre 395 e 423 e 395 e 408, respectivamente), com pouca diferença estrutural entre eles...Em 500, o Oriente quase não tinha sido afetado (na verdade, ele estava passando por um boom econômico), mas o Ocidente se encontraria dividido em meia dúzia de grandes seções."
(páginas 134/135)

Divisões daquilo que tinha sido o Império Romano do Ocidente:

⏩África Vândala
⏩Espanha Visigótica e Sudoeste da Gália
⏩Burgúndia (Sudeste da Gália)
⏩Norte Franco da Gália
⏩Itália Ostrogótica (incluindo a região dos Alpes)
⏩Outras regiões menores

"Os maiores sistemas políticos ocidentais eram todos regidos por uma tradição romana, embora fossem mais militarizados, suas estruturas fiscais estivessem mais fracas, tivessem menos relações inter-econômicas..."
(páginas 134/135)

"Uma grande mudança havia ocorrido sem que ninguém, em particular, a planejasse."
(páginas 134/135)

O primeiro autor a falar que o Império Romano do Ocidente havia ruído no ano de 476: Marcelino Comes, residente em Constantinopla, escrevendo no ano de 518:
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"Os acontecimentos do século V não eram inevitáveis, e não foram percebidos como tal pelas pessoas que os vivenciaram. Nesse período, ninguém via que o Império do Ocidente estava 'caindo'. O primeiro autor a especificamente datar seu fim (em 476) foi um cronista residente em Constantinopla, Marcelino Comes, que escreveu por volta de 518."
(páginas 134/135)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000, CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP, IMPRENSA OFICIAL, GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, capítulo 3, Crise e Continuidade, 400-550.