PERÍODO ENTREGUERRAS - PACIFISMO:
O Período compreendido entre o final da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda Guerra Mundial foi caracterizado, na Grã-Bretanha, por um espírito pacifista.
Com efeito, entre 1933 e 1934, havia na Grã-Bretanha um espírito pacifista maior que em qualquer outra época desde o fim da Primeira Guerra, em 1918. Filmes e livros sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial foram lançados entre os anos de 1920 e 1930, ajudando a criar na opinião pública um sentimento de repulsa sobre qualquer iniciativa que levasse a uma nova guerra. Um dos livros de maior sucesso foi a obra de Erich Maria Remarque, "Nada de novo no front."
A QUIMERA DO DESARMAMENTO E A GUERRA AÉREA:
Havia o desejo pelo desarmamento, pois foi a armamento desenfreado que levou à Primeira Guerra Mundial. Houve uma Conferência de Desarmamento, na Suíça.
A opinião pública, na Grã-Bretanha, era a favor do desarmamento.
Havia ainda o medo das novas armas, notadamente o uso de aviões para bombardear cidades. O surgimento dos bombardeios aéreos tinha esfarelado a noção de fronteiras. Segundo um político britânico, então no cargo de Primeiro Ministro, Baldwin, as fronteiras da Grã-Bretanha não estavam mais estabelecidas pelos "...penhascos de giz de Dover, mas pelo Rio Reno." (página 52)
Havia a noção segundo a qual não havia poder na terra capaz de deter um bombardeamento aéreo.
A guerra aérea na década de 30 era encarada da mesma forma como nós encaramos hoje um conflito nuclear. (página 55)
"A versão cinematográfica de "Daqui a cem anos", de H.G. Wells, lançada em 1936, imaginava a destruição completa de Londres após um ataque aéreo ..." (página 55)
Cidades seriam totalmente destruídas, daí a necessidade de lutar por um consenso em favor do desarmamento.
"....grandes armamentos levam inevitavelmente à guerra." (página 42)
O temos de que a destruição viesse de cima, por meio de ataques aéreos, obrigou a Grã-Bretanha a gastar mais dinheiro com sua Força Aérea do que com seu exército e marinha. E isso se fez necessário, diante do fracasso da Conferência de Desarmamento e diante do rearmamento alemão.
O investimento da Grã-Bretanha em sua Força Aérea atendia ao conceito da Dissuasão Aérea.
Dissuasão Aérea:
A ideia da Dissuasão Aérea nasceu da visão apocalíptica de uma guerra aérea. A única forma então de se defender de um bombardeio inimigo era o ataque, "...o que significa termos que matar mais mulheres e crianças com mais celeridade do que o inimigo se quisermos salvar nossas peles." (página 49)
A ESTRATÉGIA BRITÂNICA NO ENTREGUERRAS:
A estratégia britânica quando da ascensão do nazismo na Alemanha visava a "Limitação de Vulnerabilidades." Tinha por objetivo reforçar a Força Aérea para bombardear os Alemães em sua casa, reduzindo assim a sua força de combate. O britânicos queriam evitar o envio de grandes forças terrestres para o continente, pois ainda estavam vivas na memória as tragédias dos combates da Primeira Guerra Mundial. As lembranças do Somme e de Passchandaele, onde milhares de soldados britânicos morreram em combate, ainda estavam vivas. Na visão dos britânicos, o exército francês teria uma força terrestre capaz de obstar uma avanço alemão. Os franceses ainda contavam defesas terrestres formidáveis, como a Linha Maginot.
Além do uso da Força Aérea, a Grã-Bretanha também se valeria do uso de seus navios para estabelecer um bloqueio naval.
FALTAVA DINHEIRO PARA A GRÃ-BRETANHA FORTALECER SUAS FORÇAS ARMADAS:
Vigorava na Grã-Bretanha, desde o ano de 1919, a "Regra dos Dez Anos", que presumia que o Império Britânico não se engajaria numa grande guerra durante os dez anos seguintes, de forma que o orçamento militar poderia ser diminuído nesse período.
Essa regra foi renovada em 1929. Mas essa política teve que ser abandonada em razão da invasão do Japão à província chinesa da Manchuria, no ano de 1931. Mas mesmo assim, os efeitos da Grande Depressão, somado ao espírito de desarmamento vigente então na Grã-Bretanha, atuaram para manter dilapidado o sistema de defesa britânico entre 1932 e 1935. (página 44)
CHURCHILL, A VOZ PELA GUERRA CONTRA HITLER:
Em novembro de 1934, Winston Churchill discursou no Parlamento Inglês para alertar os ingleses sobre o rearmamento alemão. Mas Churchill, naquela ocasião, não encontrou apoio. A resposta do governo inglês, por meio de seu Primeiro Ministro, Baldwin, foi no sentido de desmerecer o discurso de Churchill, dizendo:
"No que se referia à comparação, a Força Aérea alemã correspondia a apenas 50% da RAF (Força Aérea inglesa)." (página 56)
No geral, naquele final de ano de 1934, a política da Grã-Bretanha era a de tentar apaziguar Hitler, pois a alternativa a isto seria uma corrida armamentista que provavelmente levaria a outra guerra. E o governo inglês, naquela altura, não estava disposto a pagar esse preço. Nem a opinião pública aceitaria o rearmamento, que também era atacado pelo Partido Trabalhista inglês, sob o comando de Clement Attlee. O rearmamento era visto como uma das causas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
OS APAZIGUADORES:
A tentativa de apaziguar Hitler, de tentar achar uma forma de negociar com ele, nasceu de um sentimento de culpa que acometia membros da elite britânica e do governo inglês. Esse sentimento de culpa foi causado pela constatação que o Tratado de Versalhes tinha sido duro demais com a Alemanha, "...fornecendo todas as mágoas que o coração de um nacionalista alemão poderia desejar." (página 64)
A noção de que a culpa pelo nazismo pertencia aos aliados (França e Grã-Bretanha - Tratado de Versalhes) era fundamental à mentalidade a partir da qual se desenvolveu o apaziguamento.
"Se o nacional-socialismo (nazismo) fora 'criado' por Inglaterra e França, seria apenas lógico que coubesse aos dois países apaziguá-lo com a reparação das mágoas, por meio das quais havia prosperado." (página 64)
Os defensores do apaziguamento acreditavam que poderiam alterar o Regime Nazista, até reformá-lo, desde que os aliados se mostrassem dispostos a fazer justiça à Alemanha, leia-se, reformando o Tratado de Versalhes.
David Lloyd George, ex-Primeiro Ministro inglês durante a Primeira Guerra, alertou que o Tratado de Versalhes tinha transformado a Alemanha num pária. Havia chegado a hora de corrigir os erros do passado, isto é, os duros termos do Tratado de Versalhes teriam que ser revistos, de forma a trazer a Alemanha de volta para a comunidade das nações.
O MEDO DO COMUNISMO:
A elite inglesa via o nazismo como algo menos ruim do que o comunismo. Era o mal menor. Se tivessem que escolher entre Hitler e Stalin, escolheriam o primeiro. Nesse sentido, o diretor do Banco da Inglaterra, Montagu Norman, "...descrevia Hitler e o Ministro da Economia da Alemanha, Hjalmar Schacht, como baluartes da civilização engajados em uma guerra em nome do nosso modelo de sociedade." (página 69)
Essas pessoas viam em Hitler uma barreira que iria conter a expansão do comunismo. A lembrança da revolução bolchevique ainda estava bem viva na mente da elite inglesa. Não dava para esquecer o assassinato do Czar Nicolau II e de sua família. Não dava para esquecer que o comunismo pregava o fim da propriedade privada.
ACORDO NAVAL ANGLO-GERMÂNICO DE 18 DE JUNHO DE 1935:
Em março de 1935, John Simon, Secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, e Anthony Eden, Lorde do Selo Privado inglês, tiveram um encontro com Adolf Hitler, em Berlim.
Seria mais uma tentativa para amansar Hitler. Mas Hitler deixou uma péssima impressão. Hitler mantinha-se irredutível em sua ambição de recuperar as colônias que a Alemanha tinha perdido depois do fim da Primeira Guerra. Hitler já havia violado o Tratado de Versalhes, ao criar uma Força Aérea, a Luftwaffe. Hitler ainda pretendia expandir suas forças terrestres para 300 mil homens, outra violação do Tratado de Versalhes. Hitler ainda dava sinais de que pretendia acabar com a desmilitarização da Renânia.
Diante disso, Sir John Simon reconheceu para o seu governo que, mais cedo ou mais tarde, as pretensões alemãs teriam que ser obstadas com o uso da força. (página 87)
Os ingleses finalmente tinham acordado para o perigo representado pelo regime nazista.
Todavia, os alemães voltaram a pôr os ingleses para dormir, por meio de uma jogada de Hitler. A jogada de Hitler consistia num acordo naval com a Grã-Bretanha. A proposta alemã atendia a um desejo antigo da política de defesa da Grã-Bretanha. Ela estabelecia a frota naval alemã com 35% do tamanho da Marinha inglesa.
E essa proposta veio num momento em que a Marinha inglesa via-se ameaçada pela expansão japonesa. O Japão tinham sinalizado, em dezembro de 1934, que não iriam renovar o Tratado Naval de Washington, que concedeu tanto à Grã-Bretanha quando aos Estados Unidos da América superioridade naval sobre os japoneses da ordem de 5 para 3.
"Aquele era um presságio de uma disputa naval com o Japão, e o Reino Unido já havia concluído que não tinha como arcar com ela. Deparar-se com o desafio dos alemães ao mesmo tempo era impensável." (página 88)
E a Grã-Bretanha ainda tinha a lembrança da tentativa alemã de superá-la na produção de navios de guerra, às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
A jogada de Hitler acabou surtindo o efeito esperado. O Almirantado inglês, responsável pela Força Naval da Grã-Bretanha, "...alertara o Gabinete (o governo inglês) para agarrar com as duas mãos a oferta de Hitler." (página 88)
Em 18 de junho de 1935, Alemanha e Grã-Bretanha então assinando o Acordo Naval Anglo-Germânico.
ITÁLIA E FRANÇA SENTEM-SE TRAÍDOS PELA GRÃ-BRETANHA:
Itália a França se sentiram traídos pelo Acordo Naval Anglo-Germânico. Isso porque, em abril de 1935, na cidade italiana de Stresa, os primeiros ministros da Inglaterra e da França se encontraram com o Duce Mussolini. Nesse encontro ficou acertado uma frente comum para deter o rearmamento alemão e a violação alemã dos termos do Tratado de Versalhes. Acertaram ainda que iriam se opor através de todos os meios práticos (sanções, guerra) a qualquer desrespeito unilateral que possa por em perigo a paz na Europa.
Mas com o posterior acordo naval entre Inglaterra e Alemanha, os termos acordados em Stresa não tinham mais eficácia, para jubilo de Hitler. Franceses e italianos ficaram furiosos com o comportamento da Inglaterra.
"A segurança francesa havia sido sacrificada no altar dos interesses britânicos." (página 89)
"Em Roma, Mussolini, igualmente irritado, chegou a duas conclusões importantes: o Reino Unido não era amigo da segurança coletiva e vacilava quando confrontado por meio da força. Estava armado o palco para a aventura do próprio Duce na África oriental." (página 89)
Com efeito, em 3 de outubro de 1935, encorajado demonstração de fraqueza da Grã-Bretanha, a Itália invadiu a Abissínia, atual Etiópia.
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "NEGOCIANDO COM HITLER, A DESASTROSA DIPLOMACIA QUE LEVOU À GUERRA", DE TIM BOUVERIE, EDITORA CRÍTICA.
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