INVASÃO ITALIANA À ABISSÍNIA:
Em 3 de outubro de 1935, a Itália, sob a condução de Benito Mussolini, invadiu a Abissínia, atual Etiópia. A Abissínia era um país independente, situado na África Oriental, governado pelo Imperador Hailé Selassié.
LIGA DAS NAÇÕES:
Organismo criado após o fim da Primeira Guerra Mundial. Tinha o objetivo de reunir as nações do mundo para que elas pudessem resolver pacificamente seus conflitos.
"Das cinzas da Primeira Guerra Mundial, contudo, emergiu um novo conjunto de princípios internacionais, cristalizado pela Liga das Nações. A época do imperialismo descarado e da diplomacia na ponta da faca já deveria ter acabado, e a era do direito internacional, tido início." (página 93)
O artigo 16 do instrumento que criou a Liga das Nações dizia que um ataque a qualquer membro constituía um ataque a toda a Liga.
Itália, Grã-Bretanha, Itália e Abissínia faziam parte da Liga das Nações.
MEDO DE JOGAR A ITÁLIA NO COLO DE HITLER:
Com a invasão italiana na Abissínia, surgiu o dilema:
França e Grã-Bretanha deveriam intervir para obstar a agressão italiana na África Oriental?
Pela letra fria da lei, que tinha criado a Liga das Nações, o ataque a qualquer membro constituía um ataque a todos os membros da Liga das Nações. A maioria dos países membros da Liga não tinham condições de acudir a Abissínia, mas França e Grã-Bretanha tinham os meios para fazê-lo. Mas não fizeram nada de relevante, a não ser algumas sanções econômicas, que não afetavam o produto mais necessário para o esforço de guerra italiano, o Petróleo.
A conduta de ingleses e franceses pode ser entendida pelo medo de, ao ajudarem militarmente a Abissínia, ou se pressionassem demais a Itália, impondo-lhe sanções que lhe obstassem o acesso ao Petróleo, acarretariam um acordo dela com a Alemanha de Hitler.
Além disso, havia vozes importantes na Grã-Bretanha que eram contrárias à guerra contra a Itália, por causa da Abíssinia, um país que, segundo um político inglês, era "um país bárbaro, que ainda praticava o comércio de escravos." (página 96)
O rei inglês, Jorge V, disse para Lloyd George, ex-Primeiro-Ministro inglês durante a Primeira Guerra Mundial, "Não vou entrar em outra guerra, Não vou, gritava um rei George V claramente transtornado para Lloyd George." (página 96)
O parlamentar conservador Henry Chips Channon, "que indagava por que deveria o Reino Unido lançar-se à guerra pela Abissínia, 'quando grande parte dos recantos mais remotos do nosso Império (Império Britânico) foi ganha por meio da conquista." (página 96)
Não obstante a Marinha da Grã-Bretanha ser superior numa comparação com a da Itália, havia o receio de que o Japão se aproveitasse de um conflito entre Grã-Bretanha e Itália para iniciar um ataque no Extremo Oriente.
SE A ABISSÍNIA NÃO FOSSE SOCORRIDA, A LIGA DAS NAÇÕES ESTARIA DESTRUÍDA:
Se a Abissínia não fosse socorrida, a autoridade da Liga das Nações iria perecer. Seria o fim de fato dessa instituição criada para fazer valer o Direito Internacional sobre o uso da força.
"...o Reino Unido precisa fazer valer o Pacto da Liga e apoiar sanções contra a Itália. Se não o fizesse, a autoridade da Liga, já abalada pela invasão japonesa da Manchúria, implodiria, e o mundo perderia um instrumento de contenção de agressores, em particular da Alemanha. Era essa a visão de Churchill, apesar de também enxergar com bastante simpatia a noção de que a ação firma contra a Itália só faria destruir a Frente de Stresa e jogar Mussolini nos braços de Hitler." (página 96)
ACORDO PARA ACABAR COM A GUERRA. A AGRESSÃO IMPERIALISTA DE MUSSOLINI FOI PREMIADA:
Grã-Bretanha, França e Itália acertaram-se então para por um fim à guerra. O acordo foi tão vergonhoso, que o Secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Hoare, foi obrigado a renunciar. O Acordo estabelecia que a Abissínia teria que ceder 2/3 de seu território para a Itália, recebendo como compensação uma fina faixa territorial na Eritreia.
Em 5 de maio de 1936, tropas italianas entraram em Adis Adeba. Quatro dias depois, Mussolini decretou a anexação da Abissínia e a criação do Império Fascista. Hailé Selassié, Imperador da Abissínia, fugiu para a Grã-Bretanha.
Hailé Selassié ainda discursou na Suíça, onde pediu que a Liga das Nações impusesse sanções à Itália:
"Trata-se da confiança depositada por cada Estado nos tratados internacionais. Trata-se do valor das promessas feitas às pequenas nações de que lhe serão respeitadas e garantidas a integridade e a independência. Trata-se do princípio da igualdade dos Estados, por um lado, ou então a obrigação depositada sobre os pequenos de aceitarem elos de vassalagem. Numa palavra, é a moralidade internacional que está em jogo." (Hailé Selassié, junho de 1936 - página 101)
O esperneio de Hailé Selassié de nada serviu. A Liga das Nações decidiu suspender as sanções contra a Itália.
CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA ENTRE ITÁLIA E ABISSÍNIA E A DESMORALIZAÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES:
"Mais até do que Mussolini, o vitorioso da guerra entre Itália e Abissínia foi Hitler." (página 101)
Primeiro de tudo, Hitler viu o fim da Frente de Strese, uma união entre Grã-Bretanha, França e Itália, estabelecida em abril de 1935, num encontro na cidade de Strese, na Itália, que tinha como objetivo conter a Alemanha.
Hitler ainda viu ingleses e franceses comportarem-se de forma ignominiosa, abandonada a Abissínia à própria sorte.
A autoridade da Liga das Nações, que poderia ser usada para conter os abusos da Alemanha Nazista, não existia mais. A Liga estava desmoralizada. Se ela não podia proteger a Manchúria, a Abissínia, não poderia proteger ninguém mais.
"Mussolini mostrara tudo o que se podia obter por meio da agressividade pura e simples. e as potências ocidentais haviam se mostrado incapazes de contê-lo. Hitler registrou a mensagem e acelerou seus planos." (página 102)
E Hitler acelerou mesmo. Acelerou na Renânia, acabando com a desmilitarização da região que tinha sido determinada pelo Tratado de Versalhes. E não parou por aí: vieram a anexação da Áustria (Auschluss), da Boêmia, da Morávia (atual República Tcheca)...
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "NEGOCIANDO COM HITLER, A DESASTROSA DIPLOMACIA QUE LEVOU À GUERRA", DE TIM BOUVERIE, EDITORA CRÍTICA.