quinta-feira, 8 de agosto de 2019

História da Polônia: Povo Terra Coroa Adam Zamoyski



1) Origens da Polônia:

As origens da Polônia eram um mistério mesmo para seus vizinhos. Tribos eslavas viviam na área que hoje fazem parte da Polônia, da Eslováquia, da República Tcheca e do leste da Alemanha.
Eram povos pacíficos, que praticavam a agricultura (século I d.C.) 
Povos Eslavos:
Norte: Pomeranos. Pomorzanie - Povo do Litoral
Oeste: Lusácios e Slezanos da Silésia (guerreavam e comerciavam com saxões e alemães)
Sul: Vislanie do Alto Vístula (alternadamente, atacados e evangelizados pelos Morávios, praticantes da fé cristã)
Gniezno/Grande Polônia/Wielkopolska: Polanos
Os mais numerosos destes povos derivavam seu nome da atividade que exerciam: Povo do Campo: POLANIE (Polanos).
No Século VI d.C., os Sármatas, um povo oriundo das estepes do Mar Negro, invadiram o que hoje é a Polônia, constituindo uma nova classe governante sobre os Polanie/Povo do Campo.
Esses eslavos acima descritos compartilhavam com outros povos eslavos (tchecos, boêmios e a sudoeste os eslavos orientais da Rus) uma língua ligeiramente diferente.
A religião desses povos era composta por divindades que habitavam rios, árvores, pedras, etc.
O que separava os polanos (polanie) de seus povos irmãos eram os seus governantes da Dinastia Piast, que serão tratados a seguir.

2) Dinastia Piast:

Os Polanos eram governados pela Dinastia Piast, fundada em Gniezno (século IX). Essa dinastia expandiu seu poder durante os séculos IX e X. Em meados do século X, já reinavam por uma área considerável. Seu líder, Príncipe Mieszko, tinha estabelecido uma rede de castelos, um sistema fiscal e um exército de 3 mil cavaleiros.
Enquanto os Polanos se organizavam sob a Dinastia Piast, os alemães, sob a dinastia de Otão I, expandia-se pela sua fronteira oriental, edificando pelo caminho Bastiões/ Províncias, conhecidas como Marcas. Em seguida, atravessou o rio Elba, avançando para o sul, espantando pequenos grupos de eslavos até ser obstado por um exército, justamente o exército dos Polanos, sob o comando do Príncipe polano Mieszko (955).

"Chegara ao fim o período de isolamento dos Polonos; o príncipe Mieszko não podia continuar a ignorar o mundo exterior."
(página 17)

Otão, o adversário de Mieszko, tinha sido coroado Imperador do Sacro Império Romano Germânico no ano de 962 (século X). A conversão ao cristianismo trazia dividendo políticos, e Mieszko, sabedor disso, se converteu ao cristianismo.

"Somente adotando o cristianismo conseguiria evitar uma guerra com o Imperador (Sacro Império Romano Germânico) e, ao mesmo tempo, dotar-se de um instrumento político útil."
(página 17)

3) Cristianismo na Polônia:

Mieszko não poderia ignorar os benefícios de uma conversão ao Cristianismo. Em 962 Otão fora coroado Imperador pelo Papa.
Em 966, Mieszko e sua corte foram batizados, tornando o Ducado da Polônia parte do mundo cristão. Antes disso, em 965, Mieszko tinha se casado com Dobrava, uma princesa cristã da Boêmia. 
Mieszko queria expandir mais seu território. Foi atrás da Pomerânia e, ao fazê-lo, entrou em conflito com o Margrave da Marca Alemã do Norte, que também a desejava. O Margrave  da Marca Alemã do Norte era subordinado ao Sacro Império Romano Germânico. Em 972, Mieszko derrotou os alemães da Marca (em Cedynia). Em 976, Mieszko chegou ao estuário do Rio Oder.

4) Expansão da Polônia:

Ao conquistar a Pomerânia, Mieszko entrou em conflito com o 
Margrave da Marca alemã do Norte, que pediu auxílio ao seu senhor, Otão II, Imperador do Sacro Império Romano Germânico, que veio ajudá-lo. Na guerra que se seguiu entre alemães e poloneses, estes venceram, anexando o resto da Pomerânia, só parando o avanço ao se depararem com o avanço da Dinamarca em sentido contrário. No fim, Poloneses e dinamarqueses estabeleceram um acordo de paz (Mieszko deu a sua filha em casamento para o rei Érico da Suécia e da Dinamarca, para selar a paz). 
Nos anos de 989 e 990, os poloneses avançaram para a Silésia. 

5) Boleslau, o Bravo:

Boleslau, o Bravo,  sucedeu Mieszko no trono polonês. Em 999, o Papa elevou o status da Polônia, tornando-a independente da Diocese alemã de Magdeburgo. O Papa ainda criou o Arcebispado de Gniezno e os bispados de Woclaw (Breslau) e Cracóvia. 

"Para todos os efeitos, esta medida criou uma província eclesiástica polaca independente da sua diocese alemã tutelar, Magdeburgo, e fortaleceu o Estado polaco, dado que as redes eclesiásticas eram instrumentos privilegiados de comunicação e controle."
(página 19)

Enquanto isso, na Alemanha, Otão III era sucedido no trono alemão por Henrique II (ano 1.014). Henrique II não aceitava um Estado Polaco forte na fronteira alemã, de forma que desencadeou uma ofensiva contra os poloneses, contando com a ajuda dos Boêmios pelo sul. 

"Não havia razão de Estado alemã ou boêmia que contemplasse a ideia de um Estado Polaco forte..."
(página 21)

Na guerra que se seguiu, Boleslau, o Bravo, derrotou o Imperador Henrique II e o duque da Boêmia (Batalha de Psie Pole, perto de Woclaw - 1109). Os derrotador tiveram que ceder a Morávia e o território ao longo do Elba (1018 - Tratado de Bautzen)
O território da Polônia, em 1025, contava com áreas de Gdansk (Danzig), Silésia (Legnica, Opole), Cracóvia, toda a extensão do rio Vístula, Lublin, Chelmno, Plock, Poznan, Gniezno, etc). Boleslau ainda conquistaria territórios entre os Rios Bug e San (fronteira polaca com o oriente).

6) Mieszko II:

Com a morte de Boleslau, o Bravo, subiu ao trono polonês seu filho Mieszko II (1025). Mieszko II se deparou com uma Polônia que crescera rapidamente, não dando tempo para se estabelecer uma organização estatal centralizada, de forma que pressões regionalistas se impuseram diante da fraqueza do poder central. De um lado, havia o rei, que se empenhava para manter a coesão de seu reino intacta, trazendo para si a maior parte das atribuições governamentais; enquanto isso, uma outra forma atuava na direção contrária, buscando repartir esse poder entre senhores regionais. 
Ao morrer, em 1034, Mieszko II deixou uma Polônia dividida. 

7) Casimiro I:

Casimiro I sucedeu Mieszko II no Trono Polonês, mas teve que fugir após a eclosão de uma guerra civil, da qual se aproveitou o rei da Boêmia, Bretislau, que invadiu a Polônia e apoderou-se de Gniezno, pondo em risco a independência polaca. Aqui é preciso explicar que no século XI o conceito de nacionalidade encontrava-se em gestação e as fronteiras eram fluídas, mudando conforme a vitória deste ou daquele senhor de guerra (rei - um magnata, um senhor que dispunha de um exército). Assim, alemães brigavam com alemães, eslavos brigavam com eslavos. Quando os alemães avançaram em direção ao Rio Oder (Brandemburgo), houve uma mistura de alemães com poloneses locais. O mesmo aconteceu em Mecklemburgo, onde a elite eslava local tornou-se a nova aristocracia alemã. Enfim, as distinções étnicas e culturais não eram bem definidas. 

"Isto coloca a questão de saber o que queremos dizer com termos como Polônia; neste ponto da história, já para não falar em Polacos;, Alemães; ou Tchecos. As fronteiras, as que existiam, eram fluidas, mudando de cada vez que este ou aquele governante afirmava os seus direitos pela força. As diferenças étnicas não impunham nenhuma lealdade e os alemães combatiam uns contra os outros com mais frequência do que contra os eslavos, os quais, por sua vez, guerreavam constantemente entre si. E as distinções étnicas não eram bem definidas. Quando os alemães ocuparam as terras até ao Oder, absorveram tanto sangue eslavo que a população do futuro Brandemburgo, berço dos mitos raciais alemães, se tornou consideravelmente mista."
(página 22)

8) Cracóvia, a Nova Capital da Polônia:

Ao reconquistar sua posição na Polônia, Casimiro I fez de Cracóvia a nova capital da Polônia. A Polônia tinha duas regiões: Grande Polônia (Wielkopolska, com seu centro em Gniezno) e a Pequena Polônia (Malopolska com centro em Cracóvia). 

9) A Polônia e o Sacro Império Romano:

Nesse cenário fluído, o que importava na briga entre polacos, tchecos (Boêmia) e o Império Sacro Romano Germânico era a posição da Polônia no mundo cristão. De um lado, o Sacro Império Romano queria que a Polônia fosse seu estado Vassalo. A Polônia queria ser independente. 

"A questão subjacente ao confronto entre Polacos e a Boêmia e o Império era a posição da Polônia no mundo cristão. Durante século e meio, desde que Otão III sancionara ambições reais de Boleslau, o Bravo, o estatuto da Polônia permaneceu incerto, com o Império Sacro Romano Germânico a tentar repetidamente colocá-la na posição de Estado Vassalo e a Polônia a lutar para preservar a sua soberania. A fluidez dessa contenda reflete-se no modo como o monarca polaco é diversamente intitulado DUX, PRINCEPS ou REX nas fontes ocidentais contemporâneas. Apesar das suas dissensões e guerras internas, o Império era, em teoria, o árbitro em tais questões. O monarca polaco podia reforçar a sua posição aumentando o seu poder, procurando o apoio de outros países e aliando-se ao Papa contra o Imperador. "
(páginas 23/24)

10) A Polônia volta-se para o Leste

A Polônia voltou-se para o Leste. Sua capital não ficava mais em Gniezno. Agora estava em Cracóvia. Casimiro I, o soberano Polonês, casou-se com a irmã do Soberano de Kiev. Seu filho, Boleslau II, já tinha intervindo em Kiev por duas vezes em socorro ao seu tio. Cracóvia era o novo centro de poder polonês e ficava mais próximo da região que hoje é a Ucrânia e a Hungria. A Hungria, em especial, se tornava um ator importante na luta do Papa contra o Sacro Império Romano. Polônia, Hungria e Espanha se uniram ao Papado na luta deste contra o Sacro Império Romano.

11) 1079:

Boleslau II foi coroado rei em 1076 (foi coroado pelo Papa). No ano de 1079 Boleslau II foi alvo de uma rebelião tramada pelos magnatas, senhores regionais poloneses. Boleslau agiu contra os rebeldes e dentre os mortos encontrava-se o Bispo de Cracóvia, Estanislau. O assassinato do Bispo de Cracóvia gerou uma grande indignação naquele mundo cristão europeu, obrigando Boleslau II a abandonar o trono polonês em favor de seu irmão Ladislau Herman. Essa assassinato do Bispo de Cracóvia minou o prestígio da Dinastia polaca, levando a que Henrique IV (Imperador do Sacro Império Romano Germânico), em 1085, deixasse o duque da Boêmia coroar-se Rei da Boêmia e da Polônia. O título de Rei da Polônia dado ao duque da Boêmia era apenas simbólico, mas era uma uma afronta a Ladislau. E para piorar a vida de Ladislau, ele não conseguia conter as ambições dos poderes polacos regionais.
Em 1102, Ladislau Herman morreu. Em seu lugar, assume seu filho Ladislau Boca Torta. Ladislau obteve vitórias significativas contra a Boêmia e o Sacro Império Romano Germânico. Em 1109, Ladislau invadiu a Pomerânia, indo além do Oder, até a ilha de Rugen. Conquistou territórios onde havia penetração gradual de alemães.
O território de Ladislau Boca Torta abrangia, a oeste, Szczecin (Stettin/Estetino), no rio Oder, a leste, Gdansk. Abrangia ainda cidades como Cracóvia, Lublin, Gniezno, Plock e áreas como a Silésia.

12) Tentativa de conciliar a centralização do poder com a sua descentralização:

A Polônia foi dividida em Ducados (1138). Cada um deles seria governado por um dos filhos de Ladislau (ou Boleslau - o livro traz as duas grafias - páginas 24/25) Boca Torta, soberano polonês falecido em 1138. A Pomerânia virou um Ducado. O filho mais velho de Ladislau Boca Torta exerceria uma espécie de Suserania sobre os demais ducados. Todavia, com o passar do tempo, essa suserania se tornou algo simbólico, nominal, pois cada ducado estabeleceu seu próprio ramo da dinastia Piast. Cada ducado estabelecia uma dinastia própria e, para fragmentar ainda mais o mapa político polonês, os detentores desses ducados, para atender aos seus filhos, dividiam seus ducados entre eles. 
A Polônia era dividida em várias entidades: 
Grande Polônia (Gniezno); 
Mazóvia/Cujávia (Plock, Chelmno); 
Pequena Polônia
Sandomierz (Lublin); 
Silésia (Legnica, Opole, Wroclaw); 
Pomerânia (Szczecin, Gdansk, Kolobrzeg).
Cracóvia.
13) Elementos unificadores da Polônia:

Mesmo com a Polônia repartida em ducados, havia elementos que mantinham um sentimento de uniformidade e de união. Um deles era a Dinastia Piast e o outro era a Igreja. A igreja polonesa disseminou cultura, tecnologia e educação.
A Dinastia Piast fundou mais de 80 cidades com castelos; estimulou o comércio, proporcionando proteção para as rotas comerciais e estimulando o uso de sua moeda.

14) A luta entre os defensores da centralização do poder e os defensores da sua fragmentação não cessava:

Senhores poloneses regionais e cidades maiores sonhavam com a autonomia. De outro lado, Ladislau da Grande Polônia e duque de Cracóvia, conhecido como Pernalta, tentou reafirmar o seu poder. Nessa queda de braço, os defensores da fragmentação do poder levaram a melhor. Em 1228, os senhores regionais poloneses conseguiram fazer Ladislau, o Pernalta,  assinar o PRIVILÉGIO DE CIENIA, uma espécie de Magna Carta, assinada alguns anos antes, em 2015, por um rei inglês.

"Ladislau da Grande Polônia, conhecido por Pernalta, devido às suas pernas ossudas, tentou valentemente reafirmar a sua autoridade como duque da Cracóvia, mas os barões obrigaram-no a conceder-lhes prerrogativas substanciais pelo Privilégio de Cienia, em 1228, treze anos depois de um documento similar, a Magna Carta, ter sido extorquido ao rei inglês."
(página 27)

15) Diferença entre Inglaterra, França e Polônia:

Barões franceses e ingleses eram Vassalos do Rei francês e do Rei Inglês, respectivamente. Esses barões recebiam o poder do Rei. Já na Polônia, esse sistema feudal francês/inglês nunca foi adotado. O rei Polonês não conseguia impor a sua vontade aos senhores locais. Dessa forma, inexistindo canais de Vassalagem, o rei Polonês não tinha como impor o seu poder. Por conseguinte, ao contrário do que acontecia no resto da Europa Ocidental, o controle exercido pelo Rei não dependia de um Vassalo local, mas sim de um funcionário dele. Era o Castelão (Kasztelan) e exercia a sua função a partir de um Castelo. Mas com a descentralização do poder perderam espaço para os ministros dos duques, os Voivodas. 
De qualquer forma, a Polônia, mesmo tendo seu poder fragmentando entre vários senhores, ela era independente, não prestando Suserania a um poder Estrangeiro.

16) Classes na Polônia:

(a) Nobreza (Szlachta): Herdava Estatuto e Terras. Em suas terras eram magistrados independentes e prestavam serviço militar ao rei. "Defendiam leis consuetudinárias do país, o ius polonicum, inteiramente baseado no precedente, e resistiam às tentativas de imposição de práticas jurídicas estrangeiras por parte da Coroa."
(página 27)

(b) Cavaleiros: Sem estatuto de nobreza

(c) Panosze: Eram proprietários rurais

(d) Camponeses: em sua maioria, eram livres e podiam melhorar as terras que cultivavam. Essas terras pertenciam ao Soberano (eram pertença). Os camponeses tinham direitos bem definidos. 

"Um pequeno número de camponeses labutava em servidão, mas durante a primeira metade do século XIII foram adquirindo mais liberdade e nunca estiveram tão presos à terra como na Europa Ocidental."
(página 27)

17) Cidades na Polônia:

As cidades literalmente faziam suas próprias leis. Cercadas por muralhas, administrativamente e legislativamente (comércio, civil e criminal) eram um país diferente em relação à área exterior. 

A Polônia e as Cruzadas:

"A Igreja pouco podia fazer face a uma falta de zelo generalizada e amplamente ilustrada pela resposta polaca ao apelo à Cruzada por parte de Roma....Numa longa carta ao Papa, o duque Leszek, o Branco, explicou que nem ele nem nenhum cavaleiro polaco que se prezasse seria induzido a deslocar-se à Terra Santa, onde, ao que tinham sido informados, não havia nem vinho, nem carne e nem sequer cerveja. Havia outras razões para ficarem em casa, dada a existência de pagãos incômodos nas próprias fronteiras da Polônia, os prussianos e lituanos."
(página 26)

Ademais, o que fazia que regiões da Europa aderissem às Cruzadas era a excesso populacional. Na Polônia esse excesso demográfico não se fazia presente, tanto que acolhiam imigrantes judeus, boêmios, alemães que prestavam serviços úteis.


(Fonte: Anotações retiradas da Leitura do livro "História da Polônia", de Adam Zamoyski, Editora Edições 70, Capítulo 1, Povo, Terra e Coroa, páginas 15/29)

Propagação das ideias Niall Ferguson Guerra Santa Nacionalismo Árabe



Por que algumas ideias (vírus contagioso) se propagam, tornando-se realidade enquanto que outras não se realizam no mundo? A eficácia de uma ideia dependerá da forma pela qual ela foi comunicada, pela eficiência da rede pela qual ela foi transmitida
PRIMEIRA INICIATIVA - No início do Século XX, durante a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha idealizava criar uma Jihad (Guerra Santa) com a ajuda do Império Otomano, para sublevar os súditos muçulmanos dos Impérios Inglês e Francês. Se desse certo, Grã-Bretanha e França teriam que tirar exércitos da Europa para contar sublevações muçulmanas em suas colônias, abrindo assim o caminho para uma vitória alemã na Europa. Para o azar da Alemanha, essa ideia de criar uma Guerra Santa entre os súditos muçulmanos dos Impérios Inglês e Francês não deu certo. Os muçulmanos no norte da África, na Índia, no Egito, no Afeganistão não lutaram contra os ingleses e contra os franceses. 
SEGUNDA INICIATIVA - Uma outra ideia, propagada no mesmo teatro de operações (oriente médio), surtiu efeito. A Grã-Bretanha propagou e estimulou o movimento do NACIONALISMO ÁRABE contra o domínio do Império Otomano. Os mesmos árabes muçulmanos que não compraram a ideia da Guerra Santa estimulada pelos Alemães e pelo Império Otomano, compraram a ideia do Nacionalismo Árabe, a criação de um estado árabe no Oriente Médio, formado pela Península arábica, pela Síria e pelo Iraque. Assim, os árabes se aliaram à Grã-Bretanha na luta contra os alemães e seus aliados otomanos.
TERCEIRA INICIATIVA - Em 1917 a ideia do Marxismo, criada pelos Bolcheviques russos, não ficou apenas na imaginação de seus propagadores. Ela derrubou o Império Czarista, que governava a Rússia há séculos. Derrubou a dinastia Romanov, que governava a Rússia desde o século XVII. Essa propagação do Marxismo bolchevique contou com a ajuda dos alemães, que facilitaram e patrocinaram a ida de Lênin da Suíça para a Rússia. A ajuda alemã não foi de graça. A Alemanha esperava que o líder dos Marxistas bolcheviques, Lênin, sublevasse a Rússia, tirando-a da Guerra. Sem a Rússia na guerra, a Alemanha poderia tirar suas tropas do Leste e enviá-las para o Oeste, para combater os inglese e os franceses. Mas a história foi irônica com a Alemanha, pois o movimento revolucionário que tirou a Rússia da Guerra, se voltou contra ela, Alemanha, sublevando-a internamente, acabando com a união do país em torno do esforço de guerra, derrubando o Kaiser Guilherme II e obrigando a Alemanha a se render aos Ingleses e aos Franceses. O tiro acabou saindo pela culatra. O governo alemão  estimulou uma Revolução na Rússia em 1917 que acabou se voltando contra ele no decorrer do ano de 1918.

(Minhas anotações da leitura do Livro "A Praça e a Torre, de Niall Ferguson)
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"PARA ENTENDER POR QUE ESSA PRIMEIRA INICIATIVA FALHOU ENQUANTO A SEGUNDA OBTEVE ÊXITO E A TERCEIRA DEU CERTO PARA ENTÃO SAIR PELA CULATRA, PRECISAMOS ENTENDER QUE AS ESTRUTURAS DE REDE SÃO TÃO IMPORTANTES QUANTO OS VÍRUS NA DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE E EXTENSÃO DO CONTÁGIO." (página 231)
(A Praça e a Torre, redes, hierarquias e a luta pelo poder global, Niall Ferguson, Editora Crítica) 

domingo, 4 de agosto de 2019

Sacro Império Romano Germânico França Religião e a Reforma de Martinho Lutero Protestantes versus Católicos Revolução Inglesa de 1642



1517: Martinho Lutero e suas 95 Teses na Igreja de Wuttenberg:

A Reforma desencadeada por Martinho Lutero tinha duas faces:
a) Revolta Teológica
b) Revolta contra a desordem interna e contra as intrusões externa do Império

A Reforma trazia oportunidades:
a)Para os Senhores, para os Príncipes: Emancipação em relação ao Imperador e aumento do controle sobre seus súditos.
b)Para os Camponeses: Participação no Reich. Emancipação em relação aos seus senhores.

A Religião e as Fronteiras Geográficas:
A Religião podia servir para acentuar ainda mais as fronteiras geográficas entre países, mas igualmente, em alguns casos, não as transcendia. Exemplo: o ódio francês à Casa Habsburgo era tão grande que os franceses católicos apoiavam os Otomanos muçulmanos e os príncipes alemães protestantes contra os católicos Habsburgos (detentores da Coroa do Sacro Império Romano Germânico). 
A Religião do Imperador e a Guerra Civil inglesa de 1642 
A Religião do Imperador do Sacro Império Romano Germânico era um assunto de extrema importância. Em 1618 (ano de início da Guerra dos 30 anos), a Nobreza Boêmia escolhe o eleitor protestante do Palatinado para ser seu rei. Também sonhavam fazê-lo imperador. 
A Nobreza Boêmia não realizou seu sonho e o Imperador eleito foi Fernando da Estíria, um Habsburgo, que logo derrotou os Boêmios na Batalha da Montanha Branca, em 1620. Na sequência, tropas espanholas ocuparam o Palatinado, que foi absorvido pela católica Baviera. Essas notícias geraram descontentamento na Inglaterra protestante. Mas o Rei Inglês, Carlos I, não agia, não intervinha no conflito europeu, para ajudar os Protestantes holandeses e alemães contra o avanço dos católicos sob o comando do Imperador Habsburgo na Alemanha e na Holanda. A segurança da Inglaterra protestante dependia da Alemanha não cair nas mãos dos Católicos. E se a Alemanha caísse, Holanda, a primeira linha de deseja inglesa, também cairia.

"Em suma, a grande Rebelião contra Carlos I foi na sua essência uma revolta contra a política externa dos Stuart." (página 58)

1642: Guerra Civil Inglesa
1646: O rei inglês Carlos I é derrotado
1649: O rei é executado e a Monarquia cede lugar a um Protetorado sob Oliver Cromwell

"No fim das contas, foi porque nos vinte anos anteriores não tinham entrado em guerra eficazmente em favor da causa protestante na Europa que os ingleses entraram em guerra uns com os outros em 1642." (página 58)

Fonte: 
Anotações extraídas da leitura do Livro: "Europa, a Luta pela Supremacia, de 1453 aos Nossos Dias", Brendan Simms, Editora Edições 70