sábado, 30 de janeiro de 2021

A Bomba Atômica como portadora da Paz




 HAVERIA UM SÓ MUNDO, OU NENHUM:

Os físicos nucleares que criaram as bombas atômicas que foram jogadas em Hiroshima e Nagasaki acreditavam, ou queriam acreditar, que sua invenção iria acabar com a inimizade reinante no mundo, "plaga que aflige o mundo desde Caim e Abel" (página 25)

Com o advento da Bomba atômica, a humanidade então organizar-se-ia em um Estado Universal, uma vez que não lhe restaria outro alternativa. A certeza que uma guerra nuclear resultaria num extermínio mútuo, numa guerra na qual não haveria vencedores, fazia com que a busca pela paz fosse a única alternativa viável.

De acordo com esses cientistas, haveria um só mundo, ou nenhum. Haveria um só mundo no sentido de que todos agora estavam irmanados, vivendo em paz.

Agora, se a teoria de "um só mundo" não vingasse, levando à existência de 3 ou mais mundos, a estes estaria reservada a ruína. Três ou mais mundos no sentido de que as inimizades e as disputas persistiriam, criando assim mundos/países que viveriam em conflito. E havendo esses conflitos num mundo onde agora a tecnologia nuclear estaria, mais cedo ou mais tarde, acessível a mais de um país, então a humanidade estaria perto da ruína, na hipótese da eclosão de um conflito nuclear.

Robert Oppenheimer, líder do Projeto Manhattan, responsável pela produção das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, dizia que a invenção da bomba nuclear "tornava insustentável as futuras guerras." (página 23)

DISSUASÃO MÚTUA:

Ao final da Segunda Guerra Mundial, o mundo se viu dividido entre o mundo capitalista, liderado pelos EUA, e o mundo comunista, liderado pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). 

Ao contrário do que tinham sonhado os cientistas que produziram a bomba atômica, o advento desta arma não tinha trazido "um só mundo". Havia na realidade dois mundos, o soviético e o americano. Esses dois mundos se odiavam. Não havia nenhuma chance de EUA e URSS se unirem pela criação de um Estado Universal. 

"Ambos queriam se manter no mercado, evitando serem engolidos pelo oponente; ambos precisavam, portanto, de meios próprios que lhes permitissem devorar o adversário." (página 25)

Na disputa entre EUA e URSS, um teria que ser devorado e destruído pelo outro. Mas com o advento da Bomba Atômica e depois da Bomba Termonuclear, não haveria um devorador e um devorado, pois ambos seriam devorados. Numa guerra nuclear não havia espaço para vencedores. Era como Albert Einstein dizia quando perguntado como seria a Terceira Guerra Mundial. Ele respondia que não sabia quem a venceria, mas podia dizer com segurança que a guerra seguinte seria lutada com pedras e paus. 

"Basicamente, ambos se mantinham na defensiva. Os horrores que prometiam tinham por objetivo a dissuasão recíproca. Nesse contexto, a arma atômica agiria como promotora da paz." (página 25)

Então, se o advento da bomba atômica não teve o condão de criar um Estado Universal ("um só mundo), pelo menos evitou um conflito direto entre as duas potências nucleares, os EUA e a URSS. Conflito este que faria o ser humano voltar à idade da pedra. EUA e URSS temiam uma destruição mútua assegurada caso se enfrentassem diretamente num conflito nuclear.

GUERRA POR PROCURAÇÃO:

Não havendo possibilidade de uma guerra direta entre EUA e URSS, restou então guerrear por meio de representantes. O que sobrou então foram conflitos periféricos (Guerra do Vietnã, Guerra da Coreia, etc), no quais americanos e russos se enfrentavam de forma indireta, por meio de outros países. Na Guerra do Vietnã, por exemplo, os russos patrocinavam os rebeldes vietnamitas que lutavam contra as tropas americanas. Já na Guerra do Afeganistão, os americanos apoiavam os rebeldes afegãos em sua luta contra as tropas russas. 

Este livro irá tratar de outra guerra por procuração, a Guerra da Coreia, na qual os americanos vieram em socorro à Coreia do Sul, capitalista, enquanto que a URSS e a China comunista vieram em socorro à Coreia do Norte, comunista.

DESCOLONIZAÇÃO PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:

A Segunda Guerra Mundial depauperou os Estados colonialistas europeus. Inglaterra, França e Holanda viam seus impérios ultramarinos se revoltando. A URSS se aproveitou disso, apoiando a sublevação, como por exemplo no Vietnã, que lutava para se libertar do domínio francês.

Os EUA, por sua vez, mesmo sendo uma antiga colônia britânica, por ser agora aliado dos países europeus, não podia tomar partido das colônias que buscavam sua independência, deixando então uma brecha pela qual a URSS entrou com a sua influência e com sua propaganda comunista. 

O que havia de errado, por exemplo, quando os vietnamitas passaram lutar contra o domínio colonial francês? Não havia nada de errado. Era a manifestação da autodeterminação de um povo. Mas o problema é que os rebeldes vietnamitas se intitulavam comunistas. E era natural que assim fosse, pois era a URSS que os apoiava, enquanto que os EUA apoiavam a França. 

Todos os movimentos nacionais de independência dependiam de um protetor. Inimiga dos seus inimigos, a URSS lhes proporcionava o poder por meio de ajuda financeira, técnica, etc.  

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "YALU, À BEIRA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL, JORG FRIEDRICH, EDITORA RECORD.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Liberum Veto (Vetum)




LIBERUM VETUM: 
Tratava-se de uma convenção constitucional por meio da qual uma iniciativa legislativa podia ser obstada por um único voto contrário. 

SEJM - PARLAMENTO POLONÊS/LITUANO:

O Liberum Vetum era usado no SEJM, o parlamento da Comunidade que reunia o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia. Essa comunidade era uma entidade política com um potencial territorial e humano enormes, mas que se via tolhida por uma organização constitucional que transformava a administração do país num caos. 
A Comunidade formada pela Polônia e pela Lituânia ia do Mar Báltico ao Mar Negro. Era um dos maiores países europeus da idade média e início da idade moderna.
O Sejm era composto pelos nobres e magnatas poloneses e lituanos. Alguns deles eram tão poderosos que podiam reunir em torno de si um exército particular.
Esses magnatas pensavam somente no próprio interesse, relegando a um segundo plano o interesse da Comunidade Polaca-Lituana. 

COMUNIDADE POLACA/LITUANA. UMA ENTIDADE COM ENORME POTENCIAL QUE NÃO FOI COLOCADO EM PRÁTICA:

Havia potencial humano, territorial e de recursos naturais. Apesar disso tudo, a Comunidade Polaca-Lituana não conseguiu colocar suas potencialidades em prática. Uma das razões de seu fracasso foi justamente a adoção do Liberam Veto, que engessava qualquer iniciativa política da nação. Se o Sejm fosse realmente representativa dos interesses nacionais ou se um rei polonês conseguisse poderes para erigir uma monarquia absoluta nos moldes da existente na Rússia, na Áustria, na Prússia ou na França, então a Comunidade Polaca-Lituana teria se tornado uma potência que teria mudado a história da Europa e do mundo.
Com efeito, seus vizinhos Prússia, Áustria e Rússia teriam que enfrentar um adversário extremamente poderoso. As ascensões da Prússia e da Rússia poderiam ter sido evitadas ou pelo menos mitigadas.

O DESAPARECIMENTO DA POLÔNIA NO FINAL DO SÉCULO XVIII:

A falta de coesão interna da Comunidade formada pelo Reino da Polônia e pelo Grão-Ducado da Lituânia abriu espaço para que seus vizinhos a destruíssem, repartindo seu território entre si. 
A Comunidade deixou de existir no ano de 1795, quando ela foi repartida pela última vez pelos seus vizinhos, a Áustria, a Prússia e a Rússia.

"Era um exemplo brutal do destino reservado aos Estados que não conseguissem encontrar a coesão interna necessária para sobreviverem." (página 186)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "EUROPA, A LUTA PELA SUPREMACIA, DE 1453 AOS NOSSOS DIAS", BRENDAN SIMMS, EDITORA EDIÇÕES 70


Tratado de Augsburgo 1555 A Queda de Carlos V




TRATADO DE AUGSBURGO:

Foi um acordo celebrado no ano de 1555 pelo então Imperador do Sacro Império Romano e com os príncipes alemães cujos estados faziam parte do Sacro Império Romano.

CAMINHO QUE LEVOU AO TRATADO DE AUGSBURGO:

Carlos V era então o homem mais poderoso da Europa. Sua dinastia Habsburgo governava a Áustria, a Espanha, as colônias americanas (México, Peru, etc), os Países Baixos (atuais Holanda e Bélgica e partes do norte da França), Borgonha e partes da Itália. Carlos V ainda era o Imperador do Sacro Império Romano, que englobava a atual Alemanha, Boêmia (atual República Tcheca), etc. 

Mas Carlos V queria mais. Queria criar uma Monarquia Católica Universal. Queria ser o senhor absoluto dos cristãos europeus. No ano de 1521, disse que o Sacro Império Romano deveria ter um só senhor, ele próprio, e não mais inúmeros senhores representados pela miríade de estados alemães que compunham aquele Império caótico. Óbvio que os príncipes alemães, soberanos desses estados, não iriam aceitar que Carlos V os submetesse a um governo absoluto, de um só senhor. 

E esses príncipes alemães não estavam sozinhos. Tinham o apoio, por exemplo, do então rei francês Henrique II. Henrique II apoiava a liberdade desses príncipes alemães contra a tentativa centralizadora de poder representada por Carlos V. Mas o rei francês não agia dessa forma por altruísmo. A preocupação dele com a liberdade dos príncipes alemães estava longe de ser sincera e desinteressada. O fato é que a França se comportava dessa forma porque via na fragmentação política do Sacro Império Romano uma vantagem para si. Quanto mais os alemães estivessem desunidos em pequenos e médios estados, melhor seria para a sua segurança. A França temia que Carlos V conseguisse unir todos os estados alemães numa entidade coesa e viável, usando então todo o potencial humano e de recursos naturais da Alemanha para conquistar o poder hegemônico na Europa. O interesse francês, portanto, ao apoiar os pequenos e médios estados alemães, estava no enfraquecimento de Carlos V e de seu objetivo de dominar a Europa.

Apesar desse apoio francês, os exércitos de Carlos V obtiveram várias vitórias. Na década de 40 do século XVI, por exemplo, o exército de Carlos V impôs uma esmagadora vitória sobre o exército francês, resultando no acordo de Crépy, de 1554, no qual a França teve que renunciar a Milão e aos Países Baixos. Ainda em 1547, Carlos V obteve uma vitória na Alemanha, em Muhlberg. Apesar dessas vitórias militares, Carlos V acabou sendo derrotado politicamente.

"Tudo isto, porém, provocou uma resistência tão grande no Sacro Império Romano e em toda a Europa que Carlos V foi forçado a recuar e dividir sua herança entre um ramo austríaco e um ramo espanhol dos Habsburgos. Carlos V podia ter ganho militarmente a batalha pela Alemanha, mas perdeu-a politicamente." (página 44)

"As liberdades alemãs e a segurança francesa estavam assim inseparavelmente ligadas." (página 46)

CONSEQUÊNCIAS DO TRATADO DE AUGSBURGO:

O gigantesco patrimônio dinástico Habsburgo foi desmembrado, dando origem a dois ramos distintos, um espanhol e o outro austríaco. Carlos V se viu obrigado a abdicar do trono espanhol em favor de seu filho Filipe II, no ano de 1555. Dois anos depois, Carlos V abriu mão da coroa do Sacro Império Romano em favor de seu irmão Fernando, que era do ramo austríaco da dinastia Habsburgo. Assim, os Habsburgos espanhóis tinham sido separados da coroa do Sacro Império Romano. O Tratado de Augsburgo ainda sancionava a secularização das terras tomadas à Igreja Católica pelos príncipes protestantes alemães antes de 1552, e estabelecia ainda a igualdade entre o luteranismo e o catolicismo. 

O Tratado de Augsburgo ainda trazia uma outra novidade. Era a permissão para que cada território adotasse a religião do príncipe reinante: "Cuius Regio, Eius Religio"

Apesar dessa separação, os Habsburgos espanhóis e os Habsburgos austríacos iriam continuar trabalhando em estreita colaboração, como por exemplo durante a Guerra dos Trinta anos (1618/1648).

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "EUROPA, A LUTA PELA SUPREMACIA, DE 1453 AOS NOSSOS DIAS", BRENDAN SIMMS, EDITORA EDIÇÕES 70



quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Catarina a Grande Uma Princesa de um Pequeno Estado Alemão que se Tornou a Governante do Império Russo


                                                               Pedro III e Catarina


UMA PEQUENA PRINCESA DE UM MINÚSCULO PRINCIPADO ALEMÃO QUE SE TORNOU A GOVERNANTE DO IMPÉRIO RUSSO:

Sofia Augusta Frederica de Anhalt Zerbst era a princesa de um pequeno principado alemão, Anhalt-Zerbst, que se resumia a "uma cidadezinha a sudoeste de Berlim, com torres e muralhas medievais..." (página 31)

O principado de Anhalt Zerbst tinha somente 20 mil súditos. Era um entre vários outros estados componentes do Sacro Império Romano Germânico. 

Quem poderia imaginar que a princesa desse minúsculo estado alemão poderia se tornar a governante do Império Russo? E foi justamente isso que aconteceu. Sofia Augusta Frederica de Anhalt Zerbst iria se tornar a Imperatriz russa Catarina, a Grande.

A ESCOLHA:

Sofia foi escolhida para se casar com Pedro, que era o herdeiro do trono russo. Pedro ainda era neto de outro Pedro, o Grande. Pedro ainda era sobrinho de Isabel, que era a atual Imperatriz russa. E foi justamente Isabel (Elizabeth) que escolheu Sofia para se casar com o seu sobrinho. Isabel era uma solteirona, não tinha filhos, de forma que foi obrigada a fazer de seu sobrinho Pedro, filho de sua irmã Ana,  o herdeiro do trono russo. Mas isso não bastava para manter viva a dinastia Romanov de Isabel. Pedro precisar se casar e ter filhos. E a escolhida para se casar com Pedro foi Sofia.

A AMBIÇÃO:

Sofia era desde sempre ambiciosa. Mesmo adolescente, sabia exatamente o que queria. 

"Havia uma promessa à qual Catarina foi fiel durante toda a vida, um compromisso que jamais iria renegar, e que era a sua ambição. Ela não tinha ido casar com um rosto, fosse bonito ou feio, mas se casar com o herdeiro de um império." (página 95)

A INCUBÊNCIA DE SOFIA:

Incumbia à Sofia preservar a Dinastia Romanov, dando à luz um filho de Pedro. 

"...por baixo de títulos e dos diamantes, era apenas uma menina germânica trazida à Rússia com o único propósito de dar ao filho da casa um herdeiro." (página 101)

SOFIA TORNA-SE CATARINA (EKATERINA), A GRANDE:

Sofia se casou com Pedro em 1745. Era mais um arranjo político do que um casamento. E esse arranjo, cabia a Sofia dar um herdeiro para Pedro. Esse herdeiro veio, mas nunca se soube se era filho de Pedro ou de algum amante de Sofia. 

Com a morte da Imperatriz Isabel, Pedro, coroado como Pedro III, assumiu o trono russo. Mas seu reinado durou pouco. Um "coup d' état" o assassinou. Foi uma conspiração da qual Sofia tomou parte. E foi a própria Sofia que assumiu o trono russo. 

Sofia, que tinha adotado o nome de Catarina ao abandonar a religião luterana pela religião Ortodoxa,  passaria para a história como Catarina, a Grande. Uma princesa de uma pequeno estado alemão que se tornou a poderosa governante de um dos maiores impérios do mundo, o Império Russo. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "CATARINA, A GRANDE, RETRATO DE UMA MULHER", DE ROBERT K. MASSIE, EDITORA ROCCO.



terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A História Secreta da Rendição Japonesa de 1945



"DEUS" QUERIA A PAZ:

Na madrugada do dia 10 de agosto de 1945, o Imperador Japonês Hirohito tinha concordado com a Declaração de Potsdam, de 26 de julho de 1945, a qual trazia condições para o encerramento da guerra entre o Japão e os países aliados (China, EUA e Inglaterra).

Hirohito era o 124º Imperador japonês da raça Yamato, descendente de Amaterasu Omikami (Deusa Sol). Hirohito, portanto, era o filho do céu, um ser divino. 

A tradição dizia que o Imperador divino ascendia, remontava até o Imperador Jimmu, que tinha nascido de um crocodilo inseminado pelo neto de Amaterasu, a Deusa do Sol, em 660 a.C.

Apesar disso, não tinha poder para tomar reais decisões, mas era sem dúvida alguma o líder espiritual e moral do Japão, sobre o qual se assentava a legitimidade do governo. Confundia-se com a própria nação. Acreditava-se que todos os japoneses descendiam dele, possuindo laços de sangue com ele. 

"Embora se apresentasse em um corpo comum, para seus compatriotas esse homem era um deus, a forma humana de tudo que era bom." (página 89)

Embora sendo visto como um deus, o desejo manifestado pela paz vocalizado pelo Imperador Hirohito não iria encerrar o assunto. E é essa história que o livro busca contar, a turbulenta história que redundou na rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial.

JAPONESES DIVIDIDOS A RESPEITO DA RENDIÇÃO:

Havia no Japão duas facções: uma apoiava a aceitação da Declaração de Potsdam, que falava na rendição incondicional do Japão, desde que fosse preservada a figura do Imperador, o sistema nacional que tinha na figura do Imperador o fundamento da legitimidade do governo sobre os japoneses. Um segundo grupo exigia que a guerra fosse travada até que se conquistasse condições mais favoráveis ao Japão. Esse grupo, por exemplo, não aceitaria que os japoneses fossem julgados por crimes de guerra pelos vencedores EUA, Grã-Bretanha e China. Tampouco aceitavam que o Japão fosse ocupado pelas tropas desses países. E também exigiam que as forças armadas japonesas fossem desarmadas pelos próprios japoneses. E também exigiam a manutenção do Sistema Imperial de governo.

RENDIÇÃO INCONDICIONAL:

Os aliados, por meio da Declaração de Potsdam, emitida em 26 de julho de 1945, exigiam a rendição incondicional do Japão. Os japoneses viam isso como "passar um cheque em branco" para alguém. O que essa rendição, sendo incondicional, poderia conter? Isso trazia insegurança para os japoneses. Poderia conter a prisão do próprio Imperador Hirohito?

Assim, conclui-se que o comportamento dos aliados, exigindo a uma rendição incondicional, ajudou a prolongar a guerra no Pacífico.

JAPÃO ESTAVA CERCADO E DERROTADO:

Naquela altura, o Japão estava praticamente derrotado. Estava cercado por um bloqueio naval. Aviões aliados bombardeavam o país sem oposição. Duas bombas atômicas já tinham sido lançadas sobre Hiroshima e Nagasaqui. E para piorar ainda mais a situação, a URSS invadiu o Estado vassalo japonês de Manchukuo, na Manchúria (China), em 9 de agosto de 1945. Não tinha como ficar pior. 

Mas mesmo diante desse cenário desesperador, como dito acima, havia aqueles que queriam continuar lutando, travando uma última batalha contra os aliados, de forma a conseguir termos mais favoráveis quando a paz fosse celebrada.

NOVO GABINETE:

Em 9 de agosto um novo governo tomou posse no Japão, sob o comando do ex-almirante Suzuki, um herói da guerra de 1904/05 entre Rússia e Japão. O principal objetivo desse governo era encerrar a guerra. Homens de negócios, o povo e o Imperador queriam encerrá-la. O problema estava nos militares japoneses.

"O exército era outro problema, agia como se a vitória fosse possível e mesmo inevitável, desde que a guerra continuasse por mais uma década." (página 30)

Os militares se incomodavam com vários pontos trazidos pela Declaração de Potsdam, já citados acima, como por exemplo a ocupação do Japão por forças estrangeiras. 

DIFICULDADE EM ACEITAR A REALIDADE:

Mesmo após Nagasaqui e Hiroshima, os militares colocavam em dúvida se aquilo realmente se tratava de uma bomba atômica. Aqueles que a admitiam, colocavam em dúvida a capacidade dos EUA de terem material radioativo suficiente para produzirem mais artefatos nucleares. Alguns japoneses ainda defendiam que os EUA não usariam mais a Bomba Atômica com receio da repercussão negativa da opinião pública internacional. Mesmo a invasão da URSS na Manchúria era objeto de dúvida, alegando-se que não se sabia a verdadeira extensão dos danos causados pela ação soviética. 

REUNIÃO DO SUPREMO CONSELHO DE GUERRA:

Na manhã do dia 9 de agosto de 1945, o Supremo Conselho de Guerra se reuniu para discutir a aceitação ou não da Declaração de Potsdam. O resultado terminou em empate. O Primeiro-Ministro Suzuki votou a favor da aceitação, sendo seguido pelo Ministro da Marinha Yonai e pelo Ministro das Relações Exteriores Togo. Votaram contra a aceitação o Ministro da Guerra, Anami, O Chefe do Estado Maior Naval Toyoda e o Chefe do Estado Maior do Exército Umezu. 

O Supremo Conselho de Guerra não era um órgão executivo, mas de aconselhamento. Mas seus conselhos costumavam ser aceitos pelo Gabinete, que era o órgão que governava de fato o Japão. Ao Imperador cabia o papel de chancelar questões já decididas, dando a elas a força da legitimidade. 

Havia portanto um impasse sobre a aceitação ou não dos termos contidos na Declaração de Potsdam. Resolveu-se buscar alguém que o desempatasse, tirando o Japão do imobilismo. A escolha recaiu sobre a figura do Imperador Hirohito. Foi então convocada uma Conferência Imperial, na qual a situação seria explicada ao Imperador, que teria a incumbência de dar a palavra final sobre a aceitação ou não da Declaração de Potsdam.

CONFERÊNCIA IMPERIAL 9/10 DE AGOSTO:

Durante a conferência a situação foi apresentada ao Imperador. Havia dois caminhos: o primeiro caminho era a aceitação da Declaração de Potsdam, desde que ela mantivesse o sistema imperial japonês, com o Imperador Hirohito mantendo seus poderes. O outro caminho, apresentado pelos militares, defendia a luta sem trégua, até que se conquistasse uma situação que possibilitasse um acordo de paz mais vantajoso para o Japão, evitando assim sua ocupação por forças estrangeiras, seu desarmamento, etc. 

Com a situação apresentada, o Primeiro-Ministro Suzuki se dirigiu ao Imperador e pediu que ele se decidisse sobre qual caminho seguir, qual possibilidade deveria ser adotada pelo governo

"Não havia lembrança da última vez que o Imperador fora solicitado a manifestar sua própria opinião para decidir assunto tão importante. Quase nunca tivera parte ativa - nem sequer falar - nessas reuniões ritualísticas, previamente arranjadas. Fazer tais perguntas ao Imperador era absolutamente inédito." (página 86)

"Os militares esperavam que na Conferência Imperial apenas se discutisse a matéria e em seguida todos se dispersassem pela noite. Agora, o que esperar do deus vivo cujas ordens tinham jurado obedecer?" (página 86/87)

Enfim, Hirohito declarou que queria encerrar a guerra imediatamente, concordando com o primeiro caminho que lhe fora exposto, o da aceitação da Declaração de Potsdam, desde que sistema nacional do Império fosse mantido intacto.

"...precisamos suportar o insuportável." (página 111)

Com a manifestação de Hirohito, Togo, o Ministro das Relações Exteriores, encaminhou a mensagem da aceitação da Declaração de Potsdam para os países aliados.

MESMO COM DEUS SE MANIFESTANDO, AINDA HAVIA SETORES DAS FORÇAS ARMADAS JAPONESAS QUE QUERIAM A CONTINUIDADE DA GUERRA:

Mesmo após a manifestação daquele que era visto como um deus, alguns setores das Forças Armadas japonesas queriam continuar com a guerra. 

Eles pensavam assim:

"Desta forma, as 4 condições defendidas pelo Ministro da Guerra e pelo Chefe do Estado Maior são absolutamente necessárias para preservação do Estado Nacional. Para o povo, será inútil sobreviver à guerra se a estrutura da nação for destruída." (página 185).

Para esses militares, portanto, aceitar a ocupação estrangeira do território nacional, aceitar que japoneses fossem submetidos a Tribunais compostos por juízes americanos, ingleses e o desarmamento iriam destruir a nação japonesa, de forma que ela nunca mais iria se reerguer. 

Mas eles teriam que achar uma forma para contornar a manifestação do Imperador Hirohito a fazer da rendição. Como eles poderiam desobedecer uma ordem vinda de um deus? Mas ele conseguiram achar uma justificativa para desobedecer o Imperador:

"Embora possa significar uma desobediência eventual à decisão do atual Imperador - situação sem dúvida indesejável - em última análise agir em obediência aos desejos ancestrais do Império constituiria uma lealdade mais presciente e verdadeira ao trono." (página 185)

A desculpa dos militares rebeldes, para passar por cima da vontade do Imperador, invocaria a ideia de que a decisão da rendição não era compatível com aquilo que os ancestrais dele teriam feito se estivessem na mesma situação. Era como se o Imperador tivesse sido mal assessorado, como se ele tivesse que ser protegido de si mesmo, sendo apartado de auxiliares próximos que o teriam levado para o caminho errado da rendição. 

"...não havia dúvida de que impedir que o Imperador cometesse a ignominia da rendição significava agir em sua defesa." (página 211)

O primeiro golpe (coup d' état) foi elaborado pelo oficial do exército Takeshita, cunhado do Ministro da Guerra Anami. A ideia era afastar os conselheiros pacifistas do Imperador, que na cabeça dos rebeldes seriam os verdadeiros culpados pela rendição japonesa. Queriam instalar um governo militar com todo o poder político concentrado nas mãos do Ministro da Guerra Anami. 

"...queriam voltar ao passado, para a situação anterior a 1867, quando o chefe militar, o Shogun, controlava o país, e o Imperador era mantido como um acessório, inconveniente, mas necessário, sequestrado com sua corte estéril e asfixiante na velha cidade de Kioto." (página 212)

Os militares rebeldes sonhavam que o novo Shogun seria o Ministro da Guerra Anami. O parentesco entre Anami e Takeshita fez com que os rebeldes achassem que o Ministro da Guerra estaria tacitamente de acordo com o golpe, o que o tempo mostraria que não era verdade. O Ministro da Guerra Anami foi fiel aos desejos de paz do Imperador Hirohito.

RESPOSTA DOS ALIADOS AO DESEJO DE PAZ MANIFESTADO PELO IMPERADOR HIROHITO:

Na resposta dos aliados à aceitação dos termos de Postdam pelos japoneses, feita no dia 12 de agosto, havia dois problemas que deixaram os japoneses em polvorosa:

1) Passava a ideia de que o Imperador japonês teria que se submeter às ordens do Supremo Comandantes das Forças de Ocupação Aliadas.

2) O povo japonês seria chamado para que, por meio de eleições livres, escolhesse a forma pela qual iria querer ser governado.

A resposta dos aliados atiçou ainda mais os militares que queriam continuar lutando. Estaria o Sistema Nacional Imperial japonês preservado sendo que o Imperador teria que se submeter às ordens do Comandante Supremo dos aliados? O imperador tornar-se-ia um simples lacaio. Como o Sistema Nacional Imperial japonês, na cabeça dos mais fanáticos, era uma concessão divina, ele não poderia ser submetido ao povo por meio de uma eleição. 

Os pacifistas, por sua vez, mesmo com essa resposta dos aliados, continuavam defendendo a rendição, pois não viam outra chance de sobrevivência do Japão. Sem rendição, o Japão seria feito tábula rasa pelos aliados, com suas bombas atômicas, com o ataque da URSS na Manchúria, etc. Enfim, para os pacifistas, o Japão não estava em posição para barganhar muita coisa.

Diante da resposta aliada, o Imperador Hirohito disse ao seu Ministro das Relações Exteriores Togo:

"Compreendo o risco que corremos, mas minha prioridade agora é terminar a guerra." (página 227)

Os pacifistas eram otimistas sobre a convocação do povo japonês, por meio de uma eleição, para escolher seu sistema de governo. Acreditavam que os japoneses iriam votar a favor da manutenção do Império. Confiavam na lealdade dos japoneses em relação ao Imperador Hirohito. 

DIA 14 DE AGOSTO DE 1945 - O DEUS FALARIA OUTRA VEZ:

No dia 14 de agostos de 1945, visando romper o impasse de uma vez por todas, uma nova Conferência Imperial foi convocada. Nela mais uma vez aqueles que era a favor da rendição e aqueles que eram contra ela se manifestaram, tendo o Imperador Hirohito como ouvinte. No final, o Imperador, que era visto como um Deus pelos japoneses, mais uma vez se manifestou, reiterando seu desejo que a guerra acabasse. 

O PRIMEIRO PLANO GOLPISTA FRACASSA:

Enquanto o Imperador mais uma vez manifestava seu desejo pela paz, no lado dos militares rebeldes as coisas iam de mal a pior. O primeiro plano golpista teve que ser abandonado, pois os rebeldes não conseguiram angariar para si o apoio do Ministro da Guerra Anami e do Chefe do Estado Maior do Exército, o general Uzema. Diante disso, os rebeldes teriam que preparar um outro plano, mais modesto, mas que no fim conseguissem impedir a rendição japonesa com a continuidade da guerra.

A VOZ DE DEUS GRAVADA:

Na noite de 14 de dezembro o Imperador Hirohito gravou a sua voz para ser veiculada para todos os Japoneses. A voz de Hirohito comunicaria aos japoneses que a guerra tinha terminado, que seria necessário suportar o insuportável e tolerara o intolerável. O termo "rendição" não fora usado, mas era disso que se tratava e os japoneses, chorando, entenderam que o Japão tinha perdido a guerra para os Aliados. 

O SEGUNDO PLANO GOLPISTA:

O primeiro plano golpista para impedir a rendição japonesa tinha dado errado. Um segundo plano, mais esvaziado, foi elaborado. Esse segundo plano tinha como objetivo principal impedir que a gravação do Imperador Hirohito sobre a rendição japonesa fosse transmitida. 

"...planejaram mobilizar a Divisão de Guarda Imperial durante a noite (14/08), apoderar-se do Palácio Imperial e de seu precioso morador (o Imperador), e assumir o comando das transmissões de rádio, ocupando a sede da Companhia Japonesa de Radiodifusão - na Rádio Tóquio." (página 314)

O golpe teve início na madrugada do dia 15 de agosto. O Palácio Imperial foi dominado. Os rebeldes foram atrás das fitas com a gravação do Imperador. Não a encontraram. Rebeldes foram à rádio - NHK - japonesa atrás da gravação e também não a encontraram. Outros rebeldes saíram pela cidade de Tóquio, indo atrás dos conselheiros do Imperador, como o Primeiro Ministro Barão Suzuki. Não o encontraram também. No início da manhã do dia 15 de agosto, a rebelião foi contida pela ação do General Tanaka, comandante do Distrito Oriental do Exército, o Tobugun. O Palácio Imperial se viu livre dos rebeldes. 

A VOZ DE DEUS É TRANSMITIDA A SEUS SÚDITOS:

A gravação do Imperador Hirohito foi transmitida às 11;45 da manhã do dia 15 de agosto de 1945. Era a mensagem de rendição do Império Japonês. O Japão tinha perdido a guerra. Hirohito terminou sua mensagem dizendo que os japoneses teriam que suportar o insuportável e tolerar o intolerável. Enfim, o Japão tinha se rendido. A guerra tinha acabado.

Nos dias seguintes alguns tumultos iriam ocorrer. Um novo governo japonês  seria instalado. E o General Macarthur, o Supremo Comandante das Forças Aliadas, chegaria ao Japão para concretizar os termos de Postdam. 

A rendição japonesas seria formalizada durante uma cerimônia realizada no navio americano USS Missouri, em 2 de setembro de 1945. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA SECRETA DA RENDIÇÃO JAPONESA DE 1945", LESTER BROOKS, EDITORA GLOBO LIVROS.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Otto Von Bismarck alcança o poder Ferro e Sangue Sadowa 1866


MINISTRO-PRESIDENTE DA PRÚSSIA:

Em 26 de setembro de 1862 Otto Von Bismarck finalmente alcança o poder na Prússia, tornando-se Ministro-Presidente. 

PRIMEIRO DISCURSO DE BISMARCK COMO MINISTRO-PRESIDENTE DA PRÚSSIA - FERRO E SANGUE:

Em seu primeiro discurso como Ministro-Presidente da Prússia, Bismarck disse que a Prússia precisava fortalecer seu exército para quanto surgisse o momento de vantagem. Assim, era urgente que o Landtag (parlamento prussiano) liberasse dinheiro para a reforma do exército prussiano. Bismarck asseverou que os problemas da Prússia não seriam resolvidos com discursos e decisões majoritárias tomadas no interior do Landtag, "...mas com ferro e sangue." (página 231)

Anteriormente, em 1859, Bismarck, quando ainda era embaixador da Prússia na Rússia, havia dito que que a Prússia só se tornaria forte com Ferro e Fogo (ferro et igni). Em seu discurso de 1862, ele manteve o tom que havia sido adotado em 1859, trocando apenas o fogo pelo sangue.

LACUNAS NA CONSTITUIÇÃO PRUSSIANA:

Na Constituição Prussiana havia lacunas. Essas lacunas deram ensejo à criação de uma teoria, a Teoria das Lacunas na Constituição  (luckenteorie). Bismarck se valeria dessa teoria para tocar seu governo, mesmo não tendo maioria no Landtag, o parlamento prussiano. 

"...em caso de conflito entre a Coroa e o Parlamento - uma questão na qual a Constituição deixava uma 'lacuna', os poderes residuais continuariam com a Coroa. Assim, a Coroa tinha um direito perfeito de dar continuidade ao governo, coletar impostos e realizar gastos, mesmo se a legislatura se recusasse a aprovar esses atos." (página 44)

BISMARCK FAZ USO DA DEMOCRACIA PARA FAVORECER SEU PLANO DE UNIFICAR A ALEMANHA:

Bismarck era um homem desprovido de princípios. Dessa forma, mesmo sendo no fundo um reacionário, ele manobrou a ideia democrática de um Parlamento escolhido diretamente pelo povo alemão para confrontar os pequenos estados alemães e seus príncipes. Esse mesmo Bismarck que via como favorável ao seu plano o patrocínio de uma Assembleia Nacional Alemã eleita pelo povo germânico, tornava-se simultaneamente aliado do Império Russo no sufocamento de uma revolta polonesa contra o domínio russo, eclodida no ano de 1863. Nesse último caso, a Prússia precisava angariar para si a simpatia ou pelo menos a neutralidade russa quando chegasse a ocasião da Prússia enfrentar a Áustria pelo domínio da Alemanha. Outra prova da falta de princípios de Bismarck foi a sua política de driblar a Constituição para elaborar um decreto que buscava limitar a liberdade de expressão da imprensa prussiana. Enfim, Bismarck era um homem desprovido de princípios, valendo-se de políticas democrática e reacionárias de forma simultânea, desde que elas atendessem ao seu objetivo final, a Unificação da Alemanha sob o comando da Prússia.

Esses pequenos estados alemães e o seu patrono, a Áustria, temiam o sufrágio universal de todos os alemães, pois temiam que essa seria a fórmula para a sua derrocada. A Áustria temia que as várias nacionalidades (húngaros, croatas, eslovacos, tchecos, sérvios, etc) que compunham o seu Império tivesse direito ao sufrágio universal. Já os pequenos estados alemães temiam que os habitantes de seus territórios os derrubassem por meio do voto.

Bismarck então, dessa forma, procurava amedrontar os pequenos estados alemães, cujos príncipes temiam que o sufrágio universal viesse a lhes tirar a legitimidade.

ÁUSTRIA:

Enquanto a Prússia de Bismarck manobrava para obter a unificação alemã sob o seu comando, a Áustria também se movimentava por meio de seu Imperador Francisco José. Francisco José pretendia reformar o Bundestag (Parlamento que reunia representantes de todos os Estados alemães, localizado na cidade de Frankfurt am Main) como um estágio preparatório para a realização da unificação alemã sob o comando austríaco. Para realizar seu plano, Francisco José convocou uma reunião para a qual seriam chamados todos os estados alemães, inclusive a Prússia, cujo rei, Guilherme, nominalmente era vassalo do Imperador Francisco José. 

"O rei (Guilherme da Prússia), um vassalo real, havia recebido chamado de seu suserano, o Imperador Francisco José; todos os demais reis germânicos concordaram em participar." (página 251)

Bismarck não queria que o rei Guilherme participasse dessa reunião patrocinada pelo Imperador Francisco José. Bismarck teve que trabalhar para demover o rei Guilherme de participar da reunião. Conseguiu fazê-lo. Com sua vitória, Bismarck mudou a história do mundo. Se o rei prussiano Guilherme fosse à reunião de Francisco José, Bismarck iria renunciar, deixando de ser o Ministro-Presidente da Prússia, "...a história da Alemanha e do mundo teria seguido por um curso diferente." (página 253)

Para frustrar a iniciativa do Imperador Austríaco Francisco José, além de impedir a ida do Rei Guilherme à reunião, enviou uma mensagem ao Bundestag dizendo que a Prússia só participaria do encontro se houvesse um acordo sobre uma verdadeira Assembleia Nacional constituída pelo sufrágio universal dos alemães. Mais uma vez, Bismarck, de forma cínica, jogava a carta democrática do sufrágio universal para amedrontar a Áustria e os pequenos estados alemães. Bismarck sabia de antemão que a Áustria e os pequenos estados alemães não poderiam aceitar a constituição de uma Assembleia alemã eleita por meio do sufrágio universal.

"A ameaça de sufrágio universal para o povo alemão deu fim ao projeto austríaco. Se a nação alemã falasse colocaria fim ao poder dos pequenos estados alemães no Bundestag e, ademais, o sufrágio universal nas terras habsburgas (Áustria) daria poder às nacionalidades, em suas lutas por representação e autonomia [...]. Aqui vemos, mais uma vez, a habilidade tática de Bismarck. Ao colocar os povos contra os príncipes, as nacionalidades contra a monarquia habsburgo, ele coloca a Prússia, isto é, a si mesmo - no perfeito ponto de alavancagem. Se os príncipes cooperassem, o povo os ameaçaria menos; se não, mais. (página 254)

O BISMARCK ALIADO DOS SOCIALISTAS:

Como dissemos acima, Bismarck era um homem sem princípios. Nesse sentido, mesmo sendo um reacionário, ele buscou se aproximar agora dos socialistas alemães. Valia tudo para conseguir seu objetivo de unificar a Alemanha sob a administração prussiana. Assim, Bismarck buscou a aproximação com Ferdinand Lassalle (1825-1864). Bismarck tinha já jogado o povo contra os príncipes dos pequenos estados alemães por meio da proposta do sufrágio universal. Ele agora iria jogar os trabalhadores alemães contra a burguesia liberal, a detentora do capital, que causara tanta dor de cabeça a Bismarck durante votações de propostas de interesse da Coroa no Landtag. 

O IMPASSE NO LANDTAG (PARLAMENTO PRUSSIANO) PERSISTIA:

Não obstante todos os esforços despendidos por Bismarck, o impasse persistia entre Coroa e deputados persistia no Landtag. Esse impasse só seria superado graças a eventos externos. A melhor forma de se obter a coesão interna é conseguindo sucesso no exterior. Dessa forma, Bismarck, por meio de uma guerra contra a Dinamarca, pela posse dos Ducados de Holstein e Schleswig, iria vencer a oposição liberal ao ser governo. Nesse conflito a Prússia lutaria ao lado da Áustria. 

Em 7 de dezembro de 1863, o Bundestag escolheu agir para forçar a Dinamarca a abandonar a ideia de anexar os ducados de Holstein e Schleswig. 

GUERRA DA SUCESSÃO DINAMARQUESA - 1864:

A Guerra da Sucessão Dinamarquesa foi a chance que Bismarck precisava para unir seu país internamente. 

Em 12 de janeiro de 1864, o rei dissolveu o Landtag porque este havia rejeitado a proposta encaminhada da coroa que previa o financiamento do exército prussiano na guerra contra a Dinamarca. No final, as forças combinadas da Prússia e da Áustria derrotaram a Dinamarca.

Acordo de Paz de Viena - O rei dinamarquês aceitou renunciar a seus direitos sobre os ducados de Holstein e Schleswig, entregando-os aos reis da Prússia e ao Imperador da Áustria. 

"Com efeito, a Prússia havia agora anexado Schleswig e a Áustria tinha um exército de ocupação em Holstein, a centenas de quilômetros de sua fronteira, em um território que lhe era totalmente inútil." (página 288)

Em 1865, Bismarck estabeleceu condições que na prática anexavam os ducados de Schleswig e Holstein à Prússia. O Império Austríaco protestou vigorosamente contra isso, dizendo que a atitude da Prússia era inaceitável. A Prússia tentava transformar Schleswig numa província prussiana. A Áustria, por sua vez, contra-atacava no Bundestag, fazendo passar uma proposta para passar Holstein para o duque de Augustenburg, criando assim um novo estado pequeno alemão, para desgosto de Bismarck. 

A ENCRUZILHADA DE BISMARCK:

No segundo semestre de 1865, Bismarck se via diante de dois caminhos: 

1) seguir um caminho de confronto com a Áustria como único meio de a Prússia finalmente prosperar. Para isso, Bismarck via a França neutralizada, enfrentando problemas em sua aventura no México. A Grã-Bretanha já tinha atuado para ajudar a Dinamarca diplomaticamente na guerra de 1864 e agora provavelmente não faria nada. A Rússia estava lidando com problemas internos causados pela emancipação dos servos. A Rússia também não iria atuar para a ajudar a Áustria, tendo em vista que está a prejudicou durante a Guerra da Crimeia (1854/1855). Enfim, provavelmente, essa três grandes potências não iriam se meter numa guerra civil alemã entre Prússia e Áustria. 

2) outro caminho seria seguir o Sistema de Schonbrum, pelo qual havia um acordo entre Áustria e Prússia para manter o controle solidário e conjunto sobre a Alemanha.

Bismarck escolheu pela guerra, escolheu Ferro e Sangue.

GUERRA ENTRE ÁUSTRIA E PRÚSSIA:

Em abril de 1866 a Prússia levou ao Bundestag a proposta de uma Assembleia alemã eleita pelo voto direto e universal. 

"Bismarck tinha evocado o poder da democracia para flanquear os austríacos e os Estados federais alemães no conhecimento de que os Habsburgos, com seus 11 grupos nacionais e a crescente ameaça do nacionalismo, jamais conseguiriam competir nesse sentido." (página 308)

"Em 1866, ele brandiu a democracia nos Habsburgos como se lea fosse uma cruz diante de um vampiro..." (página 308)

Liberais de verdade e esclarecidos, sabiam que Bismarck usava a carta da Democracia contra a Áustria não por ser um genuíno liberal, mas para emparedar seu inimigo e os pequenos estados alemães, cujos príncipes seriam dizimados pelo sufrágio universal. 

Um jornal liberal alemão chegou a comparar Bismarck com o demônio:

"Se Mefistóles tivesse subido no púlpito e lido o Evangelho, alguém conseguiria se sentir inspirado pela prece?" (página 308)

Os antigos amigos conservadores de Bismarck também o atacavam. Ernst Ludwig Von Gerlach, um dos responsáveis pela ascensão de Bismarck, criticava a política de confronto de Bismarck contra a Áustria, dizendo que a Alemanha sem a Prússia não é a Alemanha e que a Alemanha sem a Áustria igualmente deixava de ser a Alemanha. Gerlach também criticava o sufrágio universal, dizendo que a adoção desse sistema ocasionaria a falência da política.

Naquele primeiro semestre de 1866, Bismarck usava a carta democrática do Sufrágio Universal e simultaneamente já preparava o exército prussiano para atacar a Áustria. 

Em 9 de maio de 1866, por iniciativa da Saxônia, o Bundestag exigia que a Prússia explicasse a razão da mobilização de seu exército, com o aviso que os membros do Bundestag não podiam fazer guerra uns contra os outros, mas deveriam levar seus conflitos à Assembleia Federal em busca de uma solução pacífica. 

No fim, tudo seria definido na ponta da baioneta, no ferro e no sangue, como queria Bismarck. Bismarck insistia que somente um ato de violência resolveria a questão germânica de uma vez por todas. Esse ato de violência tomou forma na batalha de Sadowa, em 3 de julho de 1866.

BATALHA DE SADOWA - 3 DE JULHO DE 1866:

O pretexto da guerra - CASUS BELLI:



Antes da eclosão da guerra, Áustria e Prússia participaram de uma convenção em Bad Gastein. Os soberanos Guilherme e Francisco José participaram na condição de co-regentes dos ducados de Holstein e Schleswig. A ideia seria que Áustria e Prússia administrassem conjuntamente os ducados que tinham sido conquistados na guerra contra a Dinamarca, em 1864. O pretexto para a guerra nasceu quando a Áustria, sem o consentimento da Prússia, acionou o Bundestag para interferir nos termos da Convenção de Bad Gastein. Isso feria os interesses da Prússia. Essa violação então seria o Casus Belli usado pela Prússia para justificar sua guerra contra a Áustria.

O exército prussiano derrotou o exército austríaco de forma definitiva na batalha de Sadowa

A batalha desenrolou-se na Vila de Sadowa, a noroeste da cidade boêmia de de Koniggratz, atual Hradec Králove, na atual República Tcheca.

Além de Sadowa, outras batalhas foram travadas: na frente oeste, os prussianos enfrentaram batalhas em Hanover e em Hesse. Na frente leste os embates se deram na Boêmia e na Saxônia. Os príncipes prussianos Frederico Carlos, sobrinho do rei Guilherme, e o Príncipe herdeiro Frederico participaram brilhantemente das batalhas. Os austríacos tinham dois exércitos. O do norte seria derrotado em Sadowa-Koniggratz, era comandado por Ludwig Von Benedek. No sul, um exército austríaco derrotou um exército italiano, que tinha se aliado à Prússia. 

Os austríacos haviam sido cercados na frente italiana pela aliança de Bismarck com a Itália. Na Alemanha, a Áustria se via cercada por uma ideia, consubstanciada na promessa de Bismarck de criar uma Assembleia Nacional Alemã eleita pelo sufrágio universal. 

A vitória no exterior trouxe consigo a vitória política no interior da Prússia. Agora, o Landtag tinha uma composição mais favorável às políticas de Bismarck. 

Em 27 de julho de 1866 Áustria e Prússia assinaram um tratado de Paz, por meio do qual a Áustria se comprometia a se retirar da Alemanha. A Áustria não faria mais parte da associação dos Estados alemães. Foi formada uma Confederação de Estados no norte da Alemanha, sob a liderança da Prússia. O Reino de Hanover perdeu a independência e o rei Jorge, primo da Rainha Vitória da Grã-Bretanha, perdeu o trono. A Prússia ainda anexou o Ducado de Nassau e parte de Hesse-Kassel a norte de Main. A cidade de Frankfurt am Main foi anexada pela Prússia. A Áustria ainda teria que pagar uma indenização à Prússia.

O plano de Bismarck de unir a Alemanha sob o governo da Prússia ainda não tinha terminado. Um novo capítulo estava por vir. Mas essa é outra história.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "BISRMACK, UMA VIDA", DE JONATHAN STEINBERG, EDITORA AMARILYS.