terça-feira, 30 de abril de 2019

Translatio Imperii Romani Coroação de Carlos Magno Império Carolíngio



"Translatio Imperii Romani" - Mudança do Império Romano para o Império Carolíngio comandado por Carlos Magno - ano 800 d.C.

A coroação de Carlos Magno, no ano 800 d.C., como Imperador do Sacro-Império Romano, foi vista pelos contemporâneos como um ato de Deus. Não foi um mero ato do Papa; não foi um ato do Rei dos Francos; não foi um ato dos habitantes de Roma. Foi um ato de Deus. 

O processo que culminou com a Coroação de Carlos Magno foi lento. Aos poucos, Papado e o Reino dos Francos foram se retirando da influência do Império Romano. 

O Papado tinha muitas razões para se afastar da órbita de influência do Império Romano:

a) Ineficácia do Poder Imperial na Itália. Invasões de Bárbaros. Ex.: Alarico, rei dos Visigodos, em 410 d.C, invade a Itália.
b) Concílio da Calcedônia: Concluiu contra a cristologia monofisista (451 d.C.) Houve uma interrupção da comunhão entre Roma e Constantinopla. Imperador Zenão (474/491 d.C.) tentou apaziguar, procurando um ponto de acordo entre as diferentes doutrinas religiosas. Essa intervenção do Imperador em assuntos religiosos foi contraproducente, pois ao invés de apaziguar os ânimos, enfureceu o Papado, pois aquele estava se imiscuindo sobre assuntos relacionados à jurisdição espiritual. Como reação a essa intervenção de um governante temporal em assuntos espirituais, o Papa Gelásio I escreve aquilo que viria a ser conhecida como a MAGNA CARTA DA LIBERDADE MEDIEVAL DA IGREJA. Com efeito, Gelásio I desenvolveu o princípio da separação entre o Poder Espiritual (Papado) e o Poder Temporal (Reis, Imperadores). 

Em 476 d.C., o Império Romano do Ocidente é derrubado pelo Bárbaro Odroaco.
Em 751 d.C., o poder Bizantino estava praticamente derrotado. Com efeito, os poderes administrativo, político e militar exercidos por Constantinopla na Itália diminuíam. O Papa começava a exercer o papel de Príncipe Temporal no Ocidente, chegando cuidar da administração da cidade de Roma. O Papado se via cercado por inimigos: pelos Lombardos e pelo Imperador Bizantino, com suas interferências nos assuntos da Igreja.

Foi nesse contexto que se deu a aproximação do Papado com o Reino Franco. Antes de seguir, é preciso ter em mente que o ano de 476 d.C., data da deposição de Rômulo Augusto pelo bárbaro Odroaco, não assinalava o fim do Império Ocidental, porque do ponto de vista legal, O IMPÉRIO ROMANO ERA UM SÓ.

Após 476 d.C., as províncias ocidentais estavam sob o comando de Constantinopla. A transição para um novo poder imperial foi lenta, tendo início em 395 d.C., com a infiltração dos Bárbaros. O império fragilizado de então se relacionava com os Bárbaros por meio da concessão de títulos, etc. Em troca, o Império mantinha sua soberania sobre as províncias exteriores.

Em 739 d.C., o Papa Gregório III escreve ao rei dos Francos, Carlos Martel, pedindo Proteção contra os Lombardos.

Em 754 d.C., o Papa Estevão II conferiu o título de PATRICIUS ROMANORUM ao rei Franco Pepino, o breve. O Rei Franco assumiu a condição de defensor do Papado. Era uma nova realidade, pois nem o Papa poderia conferir um título para um rei de uma Tribo Bárbara e nem o rei Franco poderia doar terras (províncias imperiais) ao Papado, como fez. 

O ápice dessa relação entre o Papado e o Reino Franco se deu no Natal do ano 800 d.C., com a Coroação de Carlos Magno como Imperador.

Nascia um novo Império no Ocidente. Essa comunidade cristã tinha duas cabeças: uma Temporal, com Carlos Magno, e outra Espiritual, na figura do Papa. 

A Monarquia Carolíngia evoluiu no sentido teocrático, na medida em que a organização da igreja se integrou à hierarquia administrativa da Monarquia. O rei interferia nos assuntos da Igreja. A organização eclesiástica assumiu a forma de igreja territorial - Landeskirche. A Monarquia Franca se valeu da organização civilizacional superior da Igreja para poder adquirir estatura política e histórica. A administração Carolíngia dependia da ajuda de recursos humanos emprestados pela Igreja.

Bases Teóricas do Império do Ocidente: Para legitimar o Poder desse novo Império do Ocidente, foi evocado o Corpo de Cristo, cujos membros têm funções diferentes, conforme a Teoria Paulina. Sob Cristo, o rei-sacerdote se apresenta como pessoa sacerdotal (persona sacerdotalis) e pessoa régia (persona regalis).

No Império do Ocidente, não há distinção entre Estado e Igreja, porque leigos e clero representam, respectivamente, as pessoas régias e sacerdotais, que são os membros do Corpo de Cristo.

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(Fonte: Anotações extraídas da Leitura do Livro "Idade Média até Tomás de Aquino, História das Ideias Políticas, Volume II, Eric Voegelin, Coleção Filosofia Atual, editora É Realizações)

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Anarquismo Max Stirner - O Individualismo Absoluto


Max Stirner nasceu em 1806, em Bayreuth (atual Alemanha), numa família Protestante. Seu pai era artesão (escultor de flautas).
Os amigos de Stirner gritavam: "Abaixo os reis!" Ao ouvi-los, Stirner complementava: "Abaixo também as leis."
Stirner defendia a volta do EU, fonte de todas as relações com o mundo, portador das significações. Interessava a Stirner a sua própria subjetividade, a sua existência concreta e original. Não confundir essa subjetividade de Stirner com a subjetividade transcendental de Husserl.
O sujeito existente é chamado de ÚNICO, que é o indivíduo sem abstrações, não subordinado a nada, nem a Deus e nem à Humanidade.
Stirner dizia que havia duas alienações, com o mesmo furor de Crer, dois seres supremos aos quais o o EU deveria se submeter:
a) Para os Cristãos, esse ser supremo é Deus
b) Para os Ateus, esse ser supremo é o Homem
No mesmo sentido, para reforçar a ideia, para Stirner, havia duas alienações:
a)A alienação religiosa concebia Deus como o ser supremo 
b)A alienação criada pelo fetichismo do homem (Feuerbach), no qual o ser supremo é o Outro, é a humanidade.

Stirner dizia: "A minha causa não é divina, nem humana [,,,] não é geral, mas única, tal como eu sou único." - (página 145)
"O regresso ao Único, ao EU sem conteúdo, ou seja, ao nada: fundei a minha causa sobre o nada. Mas este nada é o centro de tudo." - Max Stirner (página 145)

O valor supremo de Stirner era o EGOÍSMO. Pensar assim naquele época era nada contra a corrente, pois Feuerbach opunha o Amor Humano ao Egoísmo, os socialistas tinham como inimigo o egoísmo intrínseco dos burgueses e Bauer criticava as massas, que acusa de se entregarem a atividades egoístas.
Ao escolher o egoísmo como Valor Supremo, Stirner constata aquilo que existe (para ele, não havia dúvidas sobre essa constatação): no Mundo só existem pessoas egoístas, consciente ou de forma inconsciente. 
Stirner não se sentia obrigado a nada, sem deveres para consigo mesmo, sem deveres para com Deus, sem deveres para com os outros e sem deveres para com a Humanidade.
Para Stirner não havia necessidade de terceiros, de mediadores.
Stirner definia o OUTRO como sendo aquilo que não é o EU.

".....é preciso que eu consiga persuadir-me, à maneira estoica, da ideia de que as condições reais da minha vida nunca têm a importância que eu lhes quero atribuir." (Max Stirner - página 163)

Fonte: Anotações extraídas da leitura do Livro História do Anarquismo, Jean Préposiet, Edições 70, Almedina


    terça-feira, 23 de abril de 2019

    Antissemitismo Estrutural Judenstaat Junkers



    Prússia era um Estado alicerçado sobre uma aristocracia proprietária de terras, os Junkers (do alemão Herr: Senhor; Jung: Jovem).
    Os Junkers eram os Aristocratas que constituíam a chamada NOBREZA EM SERVIÇO do Estado, possuindo dessa forma o monopólio dos altos postos no serviço público e no Exército, constituindo a base do Estado Prussiano.
    Mas em 1806, com a chegada de Napoleão Bonaparte, o modo de vida da Aristocracia prussiana ficou em risco. E o risco não vinha apenas das ideias trazidas pela Revolução Francesa. O mundo estava mudando. A terra, símbolo de estabilidade, tornava-se uma commodity, um mero objeto de troca. Nesse novo mundo, o dinheiro fluía, de forma que a sociedade estável, assentada sobre a propriedade fundiária, estava sob ataque.
    A Propriedade Fundiária deixava de ser uma símbolo de identidade para ser algo volátil, uma commodity, suscetível de ser vendida, consagrando o domínio do dinheiro sobre o valor real das coisas. Quem ganhava com isso era o detentor do capital, do dinheiro, geralmente comerciantes judeus. 
    Durante o domínio napoleônico na Prússia, foi dado início a uma Reforma, na qual, entre outras mudanças, aos judeus seria permitida a aquisição de propriedades rurais. Criou-se um conflito no qual de um lado estavam os reformistas do Estado Prussiano (ex.: Stein) e de outro lado estavam os Junkers prussianos, aristocratas conservadores, que não queriam mudanças, como por exemplo Ludwig Von Der Marwitz.
    Ludwig Von Der Marwitz dizia que os judeus não podiam adquirir propriedades rurais, caso contrário tornar-se-iam eles, os judeus, representantes do Estado, de forma que o Estado de Brandemburgo-Prússia tornar-se-ia um Estado Judeu (Judenstaat). Esse pensamento redundou no antissemitismo estrutural "que forma uma linha contínua no ódio que prussianos e alemães nutriram pelos judeus. Os judeus são inimigos do Estado prussiano precisamente no sentido descrito por Edmund Burke: eles 'volatizam' a propriedade e representam o domínio do dinheiro sobre o valor real."


    Fonte:
    (Anotações extraídas da Leitura do Livro BISMARCK, UMA VIDA, de Jonathan Steinberg, Editora Amarilys)

    domingo, 21 de abril de 2019

    Feudalismo





    Fonte:

    Ascensão e Queda dos Impérios Globais: 1400-2000, John Darwin, Edições 70

    terça-feira, 16 de abril de 2019

    Plantations Cana-de-açúcar Colônia Francesa de Saint-Domingue, atual Haiti



    "O Plantio de cana-de-açúcar era o comércio petrolífero do século XVIII e Saint-Domingue era a fronteira do velho oeste para o Antigo Regime, onde filhos de famílias nobres empobrecidas podiam fazer fortuna."
    "Hoje, o mundo tem tal abundância de açúcar - é um gênero tão básico da dieta moderna, associada a tudo o que é ordinário e prejudicial à saúde - que é difícil acreditar que as coisas foram um dia exatamente o oposto. As Índias Ocidentais foram colonizadas em um mundo no qual o açúcar era visto como um artigo escasso, luxuoso e altamente salutar. Os médicos do século XVIII prescreviam pílulas de açúcar para quase tudo: problemas cardíacos, dor de cabeça, tuberculose, dores de parto, insanidade, velhice e cegueira."
    "Colombo trouxe a cana-de-açúcar para Hispaniola, o primeiro povoamento europeu no Novo Mundo, sua sua segunda viagem, em 1493."
    "Os espanhóis fundaram uma colônia no lado leste de Hispaniola e a batizaram de Santo Domingo; no fim, a colônia se estenderia para o leste por dois terços da ilha, correspondendo, grosso modo, à República Dominicana dos tempos modernos. (Os habitantes nativos chamavam a ilha inteira de outro nome: Hayti.)."
    (Páginas 40/43)

    Os espanhóis trouxeram a tecnologia dos engenhos de açúcar, a cana-de-açúcar e os escravos. A Espanha lançou as fundações dessa grande riqueza e perversidade nas Américas, depois rapidamente voltou sua atenção para  a exploração do ouro e da prata. A ilha ficou a definhar por quase dois séculos, até que os franceses começaram a aproveitar seu verdadeiro potencial.
    Já em meados do século XVIII, a colônia de Saint-Domingue, situada no extremo ocidental de Hispaniola, onde hoje fica o Haiti, respondia por dois terços do comércio francês do além-mar. 

    Obs.: Ilha de Hispaniola, que atualmente comporta dois países, o Haiti, na sua parte oeste, e a República Dominicana, na sua porção leste.



    (Fonte: O CONDE NEGRO, Glória, Revolução, Traição e o verdadeiro Conde de Monte Cristo, Tom Reiss, Editora Objetiva)

    Os Africanos e a Escravidão




    "Os Portugueses descobriram que os reinos africanos estavam dispostos a lhes fornecer escravos diretamente: os africanos não consideravam que estivessem vendendo seus irmãos raciais para os brancos. Eles não pensavam absolutamente em termos raciais mas apenas em diferentes tribos e reinos. Antes, tinham vendido seus cativos para outros africanos negros ou para os árabes. Agora os estavam vendendo para os brancos. Os próprios reinos e impérios africanos mantinham milhões de escravos. À medida que o tempo passou, os africanos descobririam sobre os horrores que aguardavam os escravos negros nas colônias americanas, para não mencionar a travessia, porém continuaram a exportar quantidades cada vez maiores de "Bois d' ebène", madeira de ébano, como os franceses chamavam sua carga. Não havia misericórdia ou moralidade envolvida. Era tudo estritamente negócios." (Páginas 42/43)


    (Fonte: Conde Negro: Glória, Revolução, Traição e o Verdadeiro Conde de Monte Cristo, Tom Reiss, Editora Objetiva)

    segunda-feira, 15 de abril de 2019

    Holanda, Sociedade Diluviana


    Caráter Nacional Holandês: Redenção pela fé no enfrentamento da adversidade que a natureza peculiar de seu território lhe impunha. Território sujeito a inundações constantes, vindas do Oceano ou das tempestades. Ser holandês significava, sob orientação divina, transformar a catástrofe em fortuna, a lama em ouro e a água em terra seca. Triunfar sobre a adversidade fazia com que o holandês se visse tocado pela graça divina, sinal de que ele seria um povo eleito por Deus. A Calamidade, na forma das águas invadindo seu território ou na guerra contra os Espanhóis,  era entendida pelos holandeses como uma prova enviada por Deus para testá-los. Sendo obedientes às leis de Deus, os holandeses teriam a redenção na terra e a salvação no outro mundo. 
    Os holandeses sofriam tanto com a invasão das águas, principalmente com as enchentes dos séculos XIV e XV, que seu país foi retratado como uma Terra Submersa, por Sebastian Munster, em sua Cosmographia Universalis, no ano de 1552.
    E o emblema heráldico holandês mostra bem o trauma do país com a água: "Luctor et emergo" Luto para emergir. E a figura de um Leão a arrostar as ondas.

    Mas as provações a que os holandeses eram submetidos não vinham apenas da peculiaridade de seu território.
    A Holanda também sofria com a cobiça de outros países.
    O Certo espanhol a Leiden, em 1574, foi uma prova disso. Mais uma vez vemos a  necessidade da provação, do sofrimento para que em seguida o povo holandês fosse merecedor da Recompensa Divina, na forma da expulsão dos espanhóis. Guilherme de Orange, maior autoridade holandesa naquela época, deliberadamente rompeu diques, provocando inundações sistemáticas para afastar os invasores espanhóis. 
    Os religiosos holandeses pregavam dizendo que seu povo era predestinado, escolhido por Deus, pois tinha sobrevivido a um Dilúvio. Era uma analogia entre a constante luta do povo holandês para livrar seu território das inundações vindas do Oceano e das chuvas com o Dilúvio bíblico.
    Deus teria dado um poder aos holandeses: o poder de criar nova terra, por meio de diques, moinhos de vento e trabalho árduo. 
    Dessa forma, os holandeses se viam como os bíblicos filhos de Israel, munidos com uma nova aliança com Deus.
    O Dilúvio bíblico representa o fim do Velho mundo e o nascimento de um novo mundo, sob um novo pacto de um povo eleito com Deus. O povo holandês se via como esse povo eleito, que graças a Deus tinha conseguido impor limites ao Oceano, tinha expulsado os espanhóis, sob a condição de levar uma vida cristã conforme os mandamentos divinos.


    (Anotações retiradas da leitura do Livro O Desconforto da Riqueza, a Cultura Holandesa na Época de Ouro, de Simon Schama, Editora Companhia das Letras)




    domingo, 14 de abril de 2019

    A Imprensa, o Quarto Poder.


    Guerra da Crimeia - 1854
    Foi a primeira guerra produzida pela pressão da opinião pública e da imprensa.
    O desenvolvimento das Ferrovias tornou a imprensa nacional. Na Grã-Bretanha, a opinião pública, influenciada por essa imprensa, se tornou uma força poderosa na política.
    O Jornal "The Times", principal jornal nacional da Grã-Bretanha, se via como uma Instituição Nacional, uma espécie de "Quarto Poder". 

    "Jornalismo não é o instrumento pelo qual as várias divisões da classe dirigente se expressam: é o instrumento pelo qual a inteligência somada do país critica e controla todas elas. É de fato o quarto Estado do Reino: não meramente a contraparte escrita e a voz do terceiro. (Henry Reeve - The Times, 1855)


    "Um Ministro inglês tem que satisfazer os jornais." (Lorde Aberdeen, Primeiro Ministro inglês, meados do século XIX)


    Fonte: Crimeia, a história da guerra que redesenhou o mapa da Europa no século XIX, Orlando Figes, Editora Record, páginas 172/173)

    sexta-feira, 12 de abril de 2019

    A Deformidade Genital de Adolf Hitler



    "Acredita-se que o próprio Hitler teve duas formas de anormalidades genitais: um testículo retido e uma condição rara chamada hipospadia peniana, caso em que a abertura da uretra fica na parte de baixo do pênis, ou, em alguns casos, no períneo. A famosa canção de marcha, cantada na melodia de Colonel Bogev, cujo início é: 'Hitler has only got one ball/The other is in the Albert Hall' (Hitler só tem uma bola/A outra está no Albert Hall), pode ter sido mais precisa do que jamais imaginaram as tropas."

    (Fonte: O Último dia de Hitler, minuto a minuto, de Jonathan Mayo e Emma Craigie, editora Vestígio, página 49)