segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Justiça
JUSTIÇA
O que a lei
não redime
é o crime
com defeito.
Se bem-feito
ou bonito,
o delito
talvez rime
com direito.
Se perfeito,
ora, o crime
é a lei.
Eugênio Bucci
Ilustríssima, Domingo, 21 de agosto de 2011, Folha de São Paulo, página 10.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Erros e um final feliz
Erros e um final feliz
No dia a dia do Fórum nos deparamos com erros alheios que podem nos prejudicar
O exemplo abaixo é elucidativo aconteceu comigo.
Na imagem 1 temos o despacho do Juízo designando data e hora de uma audiência de instrução, debates de julgamento para o dia 11 de janeiro de 2011. Esse despacho consta da folha 53 do processo.
Muito bem, até aqui tudo bem.
O problema vai aparecer agora.
No documento aqui numerado como nº 2, vemos a folha 57 na qual há dois atos praticados por um serventuário da Justiça: No primeiro, ele diz que o despacho que marcava a audiência do dia 11 de janeiro teria sido remetido para a publicação no Diário Oficial no dia 17 de dezembro de 2010. Abaixo, ele volta a carga para dizer que aquilo que ele teria remetido em 17 de dezembro de 2010 fora publicado nesse mesmo dia! Eu não consigo imaginar como isso foi feito. Que celeridade! Nunca imaginei que um jornal fosse impresso tão rápido assim. Mesmo que fosse uma publicação apenas virtual, desconfio que não seria factível fazê-la com ao ponto da remessa de algo coincidir com a sua publicação.
Mas enfim, há mais.
Não vamos entrar no mérito da celeridade improvável da publicação.
De fato, algo foi publicado em meu nome naquele dia. Mas não era nada sobre a referida audiência para a qual eu deveria ter sido intimado, inclusive, pessoalmente, e não via diário oficial.
Na publicação do dia 17/12/2010 há um despacho que nada tem a ver com a audiência, pois nele há menção a um outro fato do processo, como se vê na imagem de número 3. Tratava-se de uma intimação de um apenso que dizia respeito ao pedido de restituição de uma motocicleta que teria sido usada pelo assaltante num roubo.
Qual foi o resultado disso tudo?
A audiência aconteceu no dia 11 de janeiro de 2011. Eu, como não tinha conhecimento dela, a ela não compareci. Todavia, fui dado como ausente e o Juízo determinou que se oficiasse à OAB local comunicando que eu não havia cumprido com as minhas obrigações.
Sobre essa audiência, veja a imagem número 4
Mas o final da história foi feliz.
A respeito do feliz deslinde dela, eis que tudo ficou esclarecido. E tudo isso acontecendo e eu não sabendo de nada.
Na imagem 5 vemos o serventuário se corrigindo em parte
Na imagem 6, o Juízo, ao tomar ciência da Certidão do seu serventuário, pede que se desconsidere o envio daquele oficio à OAB local no qual constaria a minha ausência de uma audiência que eu sequer fora intimado, nem pessoalmente, nem via diário oficial.
Imagens mencionadas acima e relacionadas abaixo. Para melhor visualização, clique sobre elas (botão esquerdo do seu mouse - um clique ou duplo clique):
Imagem 1:
Imagem 3:
Imagem 5:
Imagem 6:
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Poema
PREPARANDO A CREMAÇÃO
Levanto-me. Vou ao cartório
autorizar minha cremação. Autorizar
que transformem
minhas vísceras, sonhos e sangue
em ficção.
O que pode haver
de mais radical?
Assinar este papel
tão simples
tão fatal.
Autorizar a solução final
de todos os poemas.
Faz um belo dia. Do terraço
vejo o mar:
pescadores cercam um cardume
banhistas seguem
se expondo à vida, ao sol.
Olho a trepadeira de jasmim
os vasos de begônia e gerânios
margaridas brancas e a azaleia:
– a vida continua viva dentro
e ao redor de mim.
Poetas antes e depois de Homero
tentaram cantar a morte.
(Nos consolaram).
Hamlet (cioso)
dialogou com uma caveira
de antemão.
Olho cada parte de meu corpo
que vai se desintegrar:
mexo os dedos, vejo as veias
e no espelho esse olhar
que nada mais verá.
Irei à praia daqui a pouco
mas antes passarei pelo cartório.
Há muito venho me preparando
me despedindo do sorriso da mulher, das filhas
da rua onde diariamente passo
me despregando dos livros
vizinhos e paisagens.
Não sou só eu. Minha mulher
antes de mim no mesmo cartório foi
e ainda mostrou-me o documento.
Olho-a neste terraço: lá está ela, viva!
ligada nas plantas e planos. Olho-a:
acabou de fazer um vestido novo.
Como imaginá-la no jamais?
Ao lado, o barulho de um túnel que estão cavando:
– é a nova estação do metrô.
Há um alarido de crianças na escola vizinha
e eu saio
numa esplêndida manhã de sol
para cuidar de minhas cinzas.
Tenho muito que dialogar com a morte
e a vida ainda.
O AUTOR
Nome: Affonso Romano de Sant’Anna
Idade: 74. Nascimento: Belo Horizonte
SITE OFICIAL:
http://www.affonsoromano.com.br/
Levanto-me. Vou ao cartório
autorizar minha cremação. Autorizar
que transformem
minhas vísceras, sonhos e sangue
em ficção.
O que pode haver
de mais radical?
Assinar este papel
tão simples
tão fatal.
Autorizar a solução final
de todos os poemas.
Faz um belo dia. Do terraço
vejo o mar:
pescadores cercam um cardume
banhistas seguem
se expondo à vida, ao sol.
Olho a trepadeira de jasmim
os vasos de begônia e gerânios
margaridas brancas e a azaleia:
– a vida continua viva dentro
e ao redor de mim.
Poetas antes e depois de Homero
tentaram cantar a morte.
(Nos consolaram).
Hamlet (cioso)
dialogou com uma caveira
de antemão.
Olho cada parte de meu corpo
que vai se desintegrar:
mexo os dedos, vejo as veias
e no espelho esse olhar
que nada mais verá.
Irei à praia daqui a pouco
mas antes passarei pelo cartório.
Há muito venho me preparando
me despedindo do sorriso da mulher, das filhas
da rua onde diariamente passo
me despregando dos livros
vizinhos e paisagens.
Não sou só eu. Minha mulher
antes de mim no mesmo cartório foi
e ainda mostrou-me o documento.
Olho-a neste terraço: lá está ela, viva!
ligada nas plantas e planos. Olho-a:
acabou de fazer um vestido novo.
Como imaginá-la no jamais?
Ao lado, o barulho de um túnel que estão cavando:
– é a nova estação do metrô.
Há um alarido de crianças na escola vizinha
e eu saio
numa esplêndida manhã de sol
para cuidar de minhas cinzas.
Tenho muito que dialogar com a morte
e a vida ainda.
O AUTOR
Nome: Affonso Romano de Sant’Anna
Idade: 74. Nascimento: Belo Horizonte
SITE OFICIAL:
http://www.affonsoromano.com.br/
sábado, 5 de março de 2011
Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade?
O Juramento caiu em desuso.
Alguém pode ver esse ato apenas como uma mera formalidade.
Em Juízo, num processo judicial, o juramento ainda é usado. É crime mentir em juízo como já escrevi:
http://direitomaisdireito.blogspot.com/search/label/Falso%20Testemunho
Mas quando a Religião era mais presente no dia a dia das pessoas, essa conduta de jurar em nome de Deus tinha muita importância. As pessoas juravam por temer à Deus e não à Lei Criminal
Trecho de um filme que descreve bem a ideia moral do Juramento:
"Deus aprecia mais os pensamentos do coração do que as palavras da boca?
Mas o que é o juramento senão palavras que dizemos a Deus?
Quando um homem presta juramento, está a colocar-se nas suas próprias mãos, como água.
Se abre os dedos, nega-se a esperar que se encontre consigo mesmo novamente."
Trecho retirado do filme: A Man for All Seasons (O Homem que não vendeu sua alma ou Um homem para a eternidade)
http://cinema.uol.com.br/resenha/o-homem-que-nao-vendeu-sua-alma-1966.jhtm
Pelo que eu compreendi, abrir os dedos significa deixar de cumprir com aquilo que jurou e dessa forma deixar de se encontrar consigo mesmo
Alguém pode ver esse ato apenas como uma mera formalidade.
Em Juízo, num processo judicial, o juramento ainda é usado. É crime mentir em juízo como já escrevi:
http://direitomaisdireito.blogspot.com/search/label/Falso%20Testemunho
Mas quando a Religião era mais presente no dia a dia das pessoas, essa conduta de jurar em nome de Deus tinha muita importância. As pessoas juravam por temer à Deus e não à Lei Criminal
Trecho de um filme que descreve bem a ideia moral do Juramento:
"Deus aprecia mais os pensamentos do coração do que as palavras da boca?
Mas o que é o juramento senão palavras que dizemos a Deus?
Quando um homem presta juramento, está a colocar-se nas suas próprias mãos, como água.
Se abre os dedos, nega-se a esperar que se encontre consigo mesmo novamente."
Trecho retirado do filme: A Man for All Seasons (O Homem que não vendeu sua alma ou Um homem para a eternidade)
http://cinema.uol.com.br/resenha/o-homem-que-nao-vendeu-sua-alma-1966.jhtm
Pelo que eu compreendi, abrir os dedos significa deixar de cumprir com aquilo que jurou e dessa forma deixar de se encontrar consigo mesmo
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
As artérias da pedra
AS ARTÉRIAS DA PEDRA
A pedra não filosofa.
Ela bloqueia no seu bloco
de pedra o pensamento
e a sua corda.
A pedra não acorda as coisas
nem dá corda
para metafísicas plangentes.
No seu bloco bloqueado,
a pedra dispensa a ânima
e o ânimo do fluxo líquido
das correntes.
A pedra não corre.
Ela se estaca
e se adensa
no lugar em que se assenta.
Quieta,
a pedra é menos lição
e mais experiência.
Contra ela batem coisas,
batem ventos
e batem outras pedras
diversas.
Mas ela não se move
nem se dispersa
em sua imóvel
siesta.
Nem no sono de sua siesta,
a pedra regurgita por dentro
algum pétreo
som de estômago.
Ou algum flúor
indômito
de qualquer ânsia
de vômito.
A pedra não metaboliza
nem expulsa seus alimentos
nos íntimos arcanos
de seu templo.
Ela concentra nos intestinos
de sua natureza
a cúpula fechada
e a argamassa espessa
de sua igreja.
Isto porque a pedra
mais dorme
do que come.
E o sono dela não é nem sonso
nem elétrico.
Seu sono de pedra
não é o sono épico
ou lírico
de um homem que sonha leve
e aceso.
Bem ao inverso,
seu sono,
de chumbo eterno,
é um sonho paralítico
e paquidérmico.
Tanto que,
silêncio calmo,
as artérias da pedra
são átomos
que, dentro dela,
não se explodem,
compactos que são
em seus ásperos
conformes.
Pois esta é a ciência
de seu nome: - a pedra
não tem as artérias
das árvores,
nem as artérias de nosso corpo
plantado nas veias
de nossa carne.
Dessa ciência,
a diferença nasce,
magna e plena,
entre a pedra
(com o minério esquivo
do seu todo exposto)
e a nossa carne
(com o mistério vivo
no peso de nosso corpo).
Por isso,
a diferença da ciência
da pedra
está no confronto
pronto de suas artérias.
E a diferença é esta:
- As artérias da pedra
só se fixam no todo
dos seus átomos exangues
e impávidos.
Assim inerte,
a pedra inscreve
o império
de seu monólogo fechado.
- As artérias do corpo,
ao contrário,
só se movem na carne
do nosso sangue
e seus intrépidos coágulos.
Assim ativa,
a carne aviva
o espelho
de seu diálogo sangrado.
Autor:
Mario Chamie
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