A VOLTA DE PEDRA DE SUA VIAGEM À EUROPA. ANO DE 1698/99: A TROCA DO VELHO PELO NOVO:
Imediatamente após o retorno de Pedro à Rússia, muitas coisas aconteceram:
- Os Streltis foram torturados, enforcados, expropriados em seus bens e exilados.
- O casamento de Pedro foi desfeito, com sua esposa Eudóxia sendo exilada num Convento.
- Reformas foram feitas na forma das pessoas se vestirem. Barbas eram cortadas.
- Foram feitas mudanças no sistema monetário e no calendário
- Construções de navios em Voronej
- Zombarias com as tradições da Igreja Ortodoxa (ex.: Sínodo dos Bêbados): "Muitos embaixadores ocidentais ficaram chocados com essa paródia, e o próprio Korb impressionou-se ao notar que a 'cruz, o mais precioso penhor de nossa redenção, era usada em zombarias..." (página 321)
O objetivo de Pedro era levar seu país medieval e atrasado a uma nova era, para fazer frente aos países do Ocidente. Era só o começo. Ele ainda tinha um grande caminho a percorrer. Enquanto estivesse vivo (morreria em 1725), com sua autocracia absoluta, único árbitro da vida e da morte de toda uma nação, iria conseguir colocar a Rússia na direção das Grandes Nações Ocidentais.
QUARESMA DE 1699:
"Na calma da Quaresma, as autoridades finalmente começaram a soltar os corpos dos Streltsi das forcas onde haviam permanecido dependurados durante o inverno e levá-los para ser enterrados. 'Foi um espetáculo horrível', recordou Korb. 'Cadáveres empilhavam-se em carroças, muitos seminus, de forma totalmente desordenada. Como ovelhas abatidas sendo levadas a um mercado, eles seguiam para suas sepulturas."
(página 322)
"Além da vida na corte de Pedro, Korb observou muitas facetas da vida cotidiana em Moscou. O Czar decidiu fazer algo a respeito das hordas de mendigos que seguiam cidadãos pelas ruas desde o momento em que passavam pela porta de suas casas até entrarem em outra casa. Com frequência, esses pedintes conseguiam simultaneamente misturar suas súplicas com furtos de algo dos bolsos das vítimas. Por decreto, pedir esmolas era proibido, assim como encorajar tal ato. Qualquer um que fosse pego dando esmolas era multado em cinco rublos. Para lidar com os mendigos, o Czar anexou um hospital a cada igreja, arcando pessoalmente com esses custos para atender aos pobres. A possibilidade de as condições nesses hospitais serem assustadoras foi sugerida por outras testemunhas diplomática, que escreveu: 'Isso logo afastou das ruas os pobres mendigos, muitos dos quais escolheram trabalhar em vez de serem trancafiados nos hospitais.' "
(página 322)
VIOLÊNCIA URBANA EM MOSCOU:
"Korb estava impressionado, mesmo naqueles dias da ausência de leis em todos os países, pelo impressionante número e pela audácia dos ladrões de Moscou, que agiam em bandos e, ousados, pegavam o que queriam. Em geral, à noite, mas também sob a luz do dia, assaltavam e frequentemente assassinavam suas vítimas. Havia assassinatos misteriosos e não revolvidos. Um capitão marinho estrangeiro, jantando com sua esposa na casa de um Boiardo, foi convidado para sair à noite para andar de trenó na neve. Quando ele e seu anfitrião retornaram, descobriram que a cabeça da esposa havia sido cortada e não havia pistas quanto à identidade ou aos motivos do assassino. Oficiais do governo não viviam mais seguros do que os cidadãos comuns."
(página 322)
A PUNIÇÃO SEVERA NÃO AFASTAVA OS LADRÕES DE SUA ATIVIDADE:
"Não que ladrões, quando pegos, fossem julgados de forma leve. Eles seguiam aos montes para a forca e para a ruína; em um único dia, setenta eram enforcados. Ainda assim, isso não impedia seus colegas de continuarem agindo. Para eles, o crime era uma forma de vida e a desobediência à lei estava tão profundamente arraigada que tentativas de executá-las com frequência geravam uma fúria indignada naqueles acostumados a quebrá-la. Por exemplo: embora o conhaque fosse monopólio do Estado, e sua venda particular fosse estritamente proibida, ele estava sendo vendido em uma casa reservada. Cinquenta soldados foram enviados para cessar o contrabando. Uma briga ocorreu e três soldados saíram mortos. Longe de ficarem assustados ou de pensarem em fugir, os produtores de conhaque ameaçaram uma vingança ainda maior caso a tentativa de confisco de repetisse."
(página 323/324)
ESTRANGEIROS QUE VIVIAM NA RÚSSIA PRECISAVAM TER CUIDADO:
"Estrangeiros precisavam ser especialmente cuidadosos, pois eram considerados presas fáceis não apenas pelos ladrões, mas também pelos moscovitas comuns. Um dos servos de Korb que falava russo relatou ter recentemente encontrado um cidadão que pronunciou uma série de juramentos e ameaças contra todos os estrangeiros: 'Vocês, cachorros alemães, vêm roubando à vontade há muito tempo, mas está chegando o dia em que sofrerão e pagarão por tudo'. "
(página 323)
JOHANN GEORG KORB:
Era Secretário de um embaixador austríaco, lotado em Moscou. Johann escreveu muitos relatos sobre aqueles dias movimentados da Moscou sob o reinado de Pedro. Johann Georg Korb chegou a Moscou em abril de 1689, quando Pedro ainda estava em Londres.
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PEDRO, O GRANDE, SUA VIDA E SEU MUNDO", DE ROBERT K. MASSIE, EDITORA AMARILYS, capítulo XX, páginas 312/325)
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