segunda-feira, 13 de junho de 2011

Erros e um final feliz

Erros e um final feliz

No dia a dia do Fórum nos deparamos com erros alheios que podem nos prejudicar

O exemplo abaixo é elucidativo aconteceu comigo.

Na imagem 1 temos o despacho do Juízo designando data e hora de uma audiência de instrução, debates de julgamento para o dia 11 de janeiro de 2011. Esse despacho consta da folha 53 do processo.

Muito bem, até aqui tudo bem.

O problema vai aparecer agora.

No documento aqui numerado como nº 2, vemos a folha 57 na qual há dois atos praticados por um serventuário da Justiça: No primeiro, ele diz que o despacho que marcava a audiência do dia 11 de janeiro teria sido remetido para a publicação no Diário Oficial no dia 17 de dezembro de 2010. Abaixo, ele volta a carga para dizer que aquilo que ele teria remetido em 17 de dezembro de 2010 fora publicado nesse mesmo dia! Eu não consigo imaginar como isso foi feito. Que celeridade! Nunca imaginei que um jornal fosse impresso tão rápido assim. Mesmo que fosse uma publicação apenas virtual, desconfio que não seria factível fazê-la com ao ponto da remessa de algo coincidir com a sua publicação.

Mas enfim, há mais.

Não vamos entrar no mérito da celeridade improvável da publicação.

De fato, algo foi publicado em meu nome naquele dia. Mas não era nada sobre a referida audiência para a qual eu deveria ter sido intimado, inclusive, pessoalmente, e não via diário oficial.

Na publicação do dia 17/12/2010 há um despacho que nada tem a ver com a audiência, pois nele há menção a um outro fato do processo, como se vê na imagem de número 3. Tratava-se de uma intimação de um apenso que dizia respeito ao pedido de restituição de uma motocicleta que teria sido usada pelo assaltante num roubo.

Qual foi o resultado disso tudo?

A audiência aconteceu no dia 11 de janeiro de 2011. Eu, como não tinha conhecimento dela, a ela não compareci. Todavia, fui dado como ausente e o Juízo determinou que se oficiasse à OAB local comunicando que eu não havia cumprido com as minhas obrigações.

Sobre essa audiência, veja a imagem número 4

Mas o final da história foi feliz.

A respeito do feliz deslinde dela, eis que tudo ficou esclarecido. E tudo isso acontecendo e eu não sabendo de nada.

Na imagem 5 vemos o serventuário se corrigindo em parte

Na imagem 6, o Juízo, ao tomar ciência da Certidão do seu serventuário, pede que se desconsidere o envio daquele oficio à OAB local no qual constaria a minha ausência de uma audiência que eu sequer fora intimado, nem pessoalmente, nem via diário oficial.

Imagens mencionadas acima e relacionadas abaixo. Para melhor visualização, clique sobre elas (botão esquerdo do seu mouse - um clique ou duplo clique):
Imagem 1:


Imagem 2:
Imagem 3:

Imagem 4:

Imagem 5:

Imagem 6:




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vida longa



"Hoje, eu vejo que uma das
gratificações de uma longa
vida é poder revisitá-la."


Roberto Damatta

Poema

PREPARANDO A CREMAÇÃO



Levanto-me. Vou ao cartório

autorizar minha cremação. Autorizar

que transformem

minhas vísceras, sonhos e sangue

em ficção.

O que pode haver

de mais radical?

Assinar este papel

tão simples

tão fatal.

Autorizar a solução final

de todos os poemas.



Faz um belo dia. Do terraço

vejo o mar:

pescadores cercam um cardume

banhistas seguem

se expondo à vida, ao sol.

Olho a trepadeira de jasmim

os vasos de begônia e gerânios

margaridas brancas e a azaleia:

– a vida continua viva dentro

e ao redor de mim.

Poetas antes e depois de Homero

tentaram cantar a morte.

(Nos consolaram).

Hamlet (cioso)

dialogou com uma caveira

de antemão.

Olho cada parte de meu corpo

que vai se desintegrar:

mexo os dedos, vejo as veias

e no espelho esse olhar

que nada mais verá.

Irei à praia daqui a pouco

mas antes passarei pelo cartório.



Há muito venho me preparando

me despedindo do sorriso da mulher, das filhas

da rua onde diariamente passo

me despregando dos livros

vizinhos e paisagens.

Não sou só eu. Minha mulher

antes de mim no mesmo cartório foi

e ainda mostrou-me o documento.

Olho-a neste terraço: lá está ela, viva!

ligada nas plantas e planos. Olho-a:

acabou de fazer um vestido novo.

Como imaginá-la no jamais?

Ao lado, o barulho de um túnel que estão cavando:

– é a nova estação do metrô.

Há um alarido de crianças na escola vizinha

e eu saio

numa esplêndida manhã de sol

para cuidar de minhas cinzas.

Tenho muito que dialogar com a morte

e a vida ainda.
 
O AUTOR


Nome: Affonso Romano de Sant’Anna

Idade: 74. Nascimento: Belo Horizonte
SITE OFICIAL:
http://www.affonsoromano.com.br/