RIO AMU DARIA - OXUS:
"Assim que deixamos Nukus deparamos com uma grande ponte. Só quando estávamos pelo meio da travessia foi que o rio apareceu sob nossos pés; uma faixa estreita e prateada de água quase estagnada. Isso é tudo que resta do Amu Daria (Amu Darya), chamado pelos gregos de Oxus, o Nilo da Ásia Central, a artéria de vida que pulsa no deserto. Semanas antes, eu estava sentada às margens do mesmo rio no vale do Wakhan, no Tadjiquistão, na fronteira com o Afeganistão. Ainda era um rio, largo e vivo. Desde Pamir, ele corre pelo Turcomenistão e, finalmente, pelo Uzbequistão, onde, através de uma rede de riachos menores, costumava desembocar no Mar de Aral. Os nativos ainda se referem ao Amu Daria com reverência, mas o rio hoje é uma pálida sombra do que foi no passado. (página 425)
A cidade de Nukus, referida pela autora, é a capital do Caracalpaquistão, no oeste do Uzbequistão, localizada no meio do deserto.
Os habitantes originais do Caracalpaquistão são chamados de Caracalpaque, que significa "chapéu preto". O seu idioma lembra mais o dos habitantes do Cazaquistão (cazaque) do que o uzbeque.
Vivendo no deserto, os Caracalpaques dependiam do Rio Amu Daria. Uma das fontes do Rio Amu Daria é o Panj (Piandj), que serve de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. Foi exatamente esse rio, o Panj, que delimitou a expansão do Império Russo na Ásia Central. Os russos não passariam das terras que hoje compõem o Tadjiquistão. Do outro lado da fronteira fica o Afeganistão, que a URSS tentou invadir no início da década de 80 do século XX, sem sucesso.
O Rio Amu Daria então, recebendo as águas do Panj na região do Pamir, corre para o oeste, atravessando desertos, na direção do Mar de Aral. Pelo menos era assim no passado, pois hoje o rio Amu Daria não alcança mais o leito do Mar de Aral, morrendo antes nas areias do deserto.
"O Amu Daria não deságua mais num lago, mas vai se esvaindo aos poucos, cada vez mais estreito e sem vida, para desaparecer na areia." (página 425)
O DESASTRE AMBIENTAL:
Em meados do século XX, as autoridades soviéticas, sediadas em Moscou, resolveram transformar o deserto da Ásia Central no maior produtor de algodão do mundo. Para tanto, os soviéticos passaram a usar as águas do Amu Daria (Amu Darya) nesse colossal empreendimento.
"Havia muito que os comunistas sonhavam em transformar as extensas áreas desérticas em lavouras de algodão, e, sob Leonid Brezhnev, (...) esse processo foi acelerado. Milhares de quilômetros de canais foram construídos com a ajuda de tratores, escavadeiras e trabalho braçal." (página 427)
"A natureza deveria obedecer aos comunistas e não o contrário. Na década de 1950, os primeiros tratores e escavadeiras começaram as obras às margens do Amu Daria. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas receberam ordens de cavar, cada uma munida da própria pá. Na nova ordem mundial, essas pessoas já não viviam para si e para suas famílias; a partir de agora, viveriam para o partido, para a sociedade, extensão da família. Elas foram obrigadas a dedicar a vida e, não menos importante, a força de trabalho para ajudar a construir o império socialista." (página 426)
O resultado da exploração do Amu Daria e de outros rios da região foi o recuo do Mar de Aral. Imagens de satélite mostraram como o Mar de Aral, que era o quarto maior lado do mundo, acabou minguando até se dividir em dois. A sua parte sul, no Uzbequistão, viu suas águas recuarem de forma dramática. A cidade de Moynaq era a única cidade portuária do Uzbequistão. Moynaq vivia da pesca e do seu processamento. Atualmente, o que sobrou do Mar de Aral está a 200 quilômetros de distância.
"Demarcando os dias de glória de outrora, uma placa com o desenho de um grande peixe azul ainda dá as boas-vindas aos visitantes de Moynaq. Até a década de 70, Moynaq, que fica a três horas de estrada de Nukus, era a única cidade portuária do Uzbequistão e dispunha de praias, ondas e de uma frota pesqueira ativa. Agora, o mar está a 200 quilômetros de distância." (página 429)
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "SOVIETISTÃO", A HISTÓRIA DO CAZAQUISTÃO, DO UZBEQUISTÃO, DO QUIRGUISTÃO, DO TADJIQUISTÃO E DO TURCOMENISTÃO, DE ERIKA FATLAND, EDITORA ÂYINÉ
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