A HERANÇA DE FREDERICO II. DINASTIA REINANTE HOHENZOLLERN:
Frederico II, o Grande, é o personagem tratado nesse livro. Reinou de 1740 até 1786. Não teve filhos. Foi sucedido pelo seu sobrinho, Frederico Guilherme II.
Antes de Frederico II, o Grande, vieram os seguintes personagens:
👉Eleitor João Sigismundo de Brandemburgo (1610-1618). O Reino da Prússia ainda não existia. Existia o eleitorado de Brandemburgo, integrante do Sacro Império Romano Germânico. O título de Eleitor derivava da prerrogativa de participar do colégio eleitoral que elegia o Sacro Imperador Romano Germânico.
👉Eleitor Jorge Guilherme de Brandemburgo (1619-1640).
👉Grande Eleitor Frederico Guilherme de Brandemburgo (1640-1688). O epíteto "O Grande" foi conseguido por Frederico Guilherme no ano de 1675, quando Brandemburgo derrotou os suecos na batalha de Fehrbellin
👉Eleitor Frederico III de Brandemburgo. Em 1701, tem seu status elevado para Frederico I, Rei na Prússia. De 1701 em diante, todas as possessões territoriais da Dinastia Reinante da Casa Hohenzollern teriam o nome de Prússia, inclusive o território de Brandemburgo, onde se localiza a atual capital da Alemanha, Berlim. Frederico I passou incólume pelas seguintes guerras: Guerra dos Nove Anos (1688-1697); Grande Guerra do Norte (1700-1721); Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714). Seu exército ajudou a Inglaterra (Duque de Marlborough) e a Áustria (Príncipe Eugênio de Saboia) na vitória sobre os franceses na batalha de Blenheim, em 1704.
👉Frederico Guilherme I, Rei na Prússia (1713-1740). Pai de Frederico II, o Grande. Ainda como Príncipe herdeiro, participou, ao lado de seu pai, Frederico I, da batalha de Malplaquet, no ano de 1709, durante a Guerra da Sucessão Espanhola, na qual os franceses foram derrotados. Na oportunidade, os exércitos prussianos lutaram ao lado dos exércitos da Inglaterra, comandados pelo Duque de Marlborough, e dos exército da Áustria. Frederico Guilherme, já Rei na Prússia, instituiu o recrutamento cantonal. Cada Cantão do reino ficava responsável por criar um regimento. Crianças de dez anos já eram registradas para esse fim. "Todos os habitantes nascem a serviço do país." (página 14)
A HERANÇA DE FREDERICO II - TERRITÓRIOS DA CASA REINANTE HOHENZOLLERN:
A Dinastia Hohenzollern era a proprietária de vários territórios espalhados pelo norte da Europa, dentre eles podemos citar Brandemburgo (onde se localiza a atual capital da Alemanha, Berlim), Pomerânia (Stettin/Estetino, atual cidade polonesa de Szczecin - foz do rio Oder), Magdeburgo (situado nas margens do Rio Elba), Condado de Cleves (situado nas duas margens do rio Reno, na fronteira com a Holanda), Condado de Mark (Rio Ruhr) e Prússia Oriental (Konigsberg, atual cidade russa de Kalininegrado).
Essa colcha de retalhos de territórios não contíguos, espalhados pelo norte da Europa, tinha como elo, além da governança da dinastia Hohenzollern, a religião (protestantismo). Também eram unidos pela língua alemã e pelo fato de pertencerem ao Sacro Império Romano Germânico.
TERRA ➨PODER
"No mundo agrário, a terra é status, terra é poder." (página 6)
O capitalismo ainda não tinha chegado, de forma que a Terra (propriedade de terra) era a base do poder. O rei era o maior proprietário de terras agricultáveis em seus Estado. A Dinastia Hohenzollern detinha 1/3 das terras agricultáveis da Prússia. Um quarto ainda de seu Estado era constituída de propriedades pertencentes à dinastia Hohenzollern. O rei poderia administrá-las de forma direta ou sublocá-las, arrendá-las. Essas terras foram adquiridas (compradas) ou obtidas quando da secularização das terras que pertenciam à Igreja Católica (após a reforma).
As terras que não pertenciam ao rei geralmente pertenciam aos Junkers (jovem senhor), a classe social que dava sustentação ao regime prussiano. O Junker era geralmente o filho mais jovem de algum senhor. Esse jovem saia do interior da Alemanha em busca de fortuna no leste (idade média).
A propriedade comportava função econômica e social. O Junker era uma espécie de autoridade judicial e política em sua área. Os camponeses trabalhavam a terra do Junker, arando-a, colhendo, etc. O camponês precisava da autorização do Junker para casar, ir embora da propriedade, mudar de profissão. Em troca, o camponês recebia um lote de terra e assistência em caso de velhice e doença.
Dentro de sua propriedade, o Junker nomeava o pastor da Igreja e o diretor da escola.
A HERANÇA DE FREDERICO II, O GRANDE. RECEBIMENTO DE UM ESTADO CUJO PODER ERA CENTRALIZADO NAS MÃOS DE SEU REI:
Processo de Centralização de Poder. Processo de centralização do poder nas mãos de Frederico Guilherme, o Grande.
O poder centralizado usufruído por Frederico II, o Grande, não foi criação dele. Esse processo de centralização de poder começou com Frederico Guilherme, o Grande Eleitor. No início, os Junkers, em suas propriedades, formavam Assembleias. Frederico Guilherme, o Grande, deu início ao processo de centralização do poder nas mãos da Dinastia Hohenzollern. Buscou criar um exército permanente e um sistema de melhor arrecadação. Criou ainda um Conselho Privado (autoridade central - independente das assembleias dos Junkers). Em 1656, as Assembleias Junkers (Landstande - Propriedade) cederam poder a Frederico Guilherme. Mas essa concessão dos nobres não saiu de graça. Em troca dessa concessão, os Junkers receberam mais poder sobre seus camponeses. Nessa história, todos ganharam, Frederico Guilherme e os nobres (Junkers). Só os camponeses perderam.
Junkers e sua família:
Os Junkers davam sustentação ao governo de Frederico Guilherme. Ao mesmo tempo, Frederico Guilherme dava sustentação ao exercício de poder desses mesmos Junkers sobre seus camponeses. Os Junkers prestavam serviços ao Estado, no exército e na administração civil. Havia convocação obrigatória dos filhos dos Junkers para o serviço militar. As famílias Junkers não eram tão ricas (não eram ricas como a dinastia Hohenzollern) a ponto de permitir que mesmo o filho mais velho vivesse na propriedade da família como um nobre, esbanjando dinheiro. Dessa forma, fazer parte do exército era uma forma de obter uma renda, desafogando financeiramente a sua família. Os nobres (Junkers) de Brandemburgo e depois do Reino da Prússia eram mais pobres do que os seus congêneres na França e na Inglaterra.
O exército passava a ser uma boa opção para uma família Junker. Seu filho teria uma boa educação na Academia Militar. Poderia sair dali com uma posição que iria lhe possibilitar uma renda. Lembrando que numa terra Protestante não havia a opção de seguir uma carreira eclesiástica lucrativa.
Conselheiro Distrital (Landrat) :
O Junker poderia passar do serviço militar para o serviço civil. Ele poderia ser tornar um Conselheiro Distrital (Landrat). Como Conselheiro Distrital, o Landrat servia de elo entre o governo central e os proprietários de terra locais. O Landrate podia ter 80 membros. Eles supervisionavam a coleta de impostos, cuidavam das tropas que passavam por seus distritos. divulgavam decretos do governo central, regulavam as relações entre os senhores e camponeses. Um Conselheiro Distrital era escolhido entre seus colegas Junkers, mas precisava ser nomeado pelo Eleitor de Brandemburgo e depois Rei na Prússia.
O Landrate representava uma parceria entre o governante central (Eleitor de Brandemburgo e depois Rei na Prússia) e os senhores de terra locais (Junker).
"Não por acaso, os governos locais mais eficientes da Europa eram os da Inglaterra e o da Prússia, pois ambos se baseavam na parceria entre o soberano, no centro, e os ilustres nas localidades. Se os juízes de paz ingleses eram parceiros na oligarquia, os Landerate prussianos eram parceiros na autocracia."
(página 9)
O GOVERNO DO ELEITORADO DE BRANDEMBURGO (DEPOIS REINO DA PRÚSSIA - 1701) SUSTENTAVA-SE SOBRE UMA COOPERAÇÃO ENTRE O GOVERNANTE HOHENZOLLERN (ELEITOR DE BRANDEMBURGO E DEPOIS REI DA PRÚSSIA), NO CENTRO DO PODER, E SEUS NOBRES LOCAIS, OS JUNKERS. (JUNG - JOVEM; HERR - SENHOR)
Criação de um funcionalismo público no século XVII:
Frederico Guilherme, o Grande Eleitor de Brandemburgo, criou algo idêntico a um funcionalismo público, constituído por um misto de origem social (nascimento nobre) e meritocracia (bons serviços prestados ao Estado). O Estado pagava para essa pessoa.
HERANÇA DE FREDERICO II, O GRANDE. MELHOR SER O PREDADOR DO QUE SER A PRESA:
Frederico Guilherme, o Grande Eleitor de Brandemburgo, se deu conta de que era melhor ser o predador do que ser a presa. Ele viu o estrago que a guerra dos Trinta Anos (1618-1648) fez em seu país. Daí a necessidade de ter um exército permanente e um Estado organizado de forma a poder sustentá-lo.
HERANÇA DE FREDERICO II, O GRANDE. O PIETISMO:
O Pietismo foi resultado de um movimento de reforma dentro do luteranismo, ocorrido na segunda metade do século XVII. O pietismo estava no centro daquilo que se chamava de senso de dever prussiano. Ele pregava o trabalho construtivo como sendo a melhor forma de afastar as tentações pecaminosas. Os preguiçosos e ociosos estavam condenados ao inferno. O Pietismo defendia a necessidade de uma renovação de fé, buscando a luz interior, afirmando o sacerdócio de todos os crentes.
Na época de Frederico Guilherme I, a figura de proa do pietismo atendia pelo nome de August Hermann Francke (1663-1727). Era um pietista que tinha rompido com a ortodoxia luterana, que tinha uma experiência de luta pela penitência e de medo da danação eterna. Como dito acima, para os pietistas o trabalho era um meio de reparação e um bem por si só. Trabalhar era um dever sagrado para todos os fiéis.
"No cânone pietista, os pobres não mereciam o reino dos céus."
(página 16)
Motivo político para o apoio aos pietistas:
Brandemburgo tinha um motivo político para apoiar os pietistas. Brandemburgo tinha como rival o eleitorado da Saxônia, berço do luteranismo ortodoxo, com suas faculdades em Wittenberg e Leipzig. Brandemburgo criou a Universidade de Halle, um centro do pietismo, em Magdeburgo, para fazer frente ao luteranismo ortodoxo da Saxônia.
Tolerância religiosa:
Brandemburgo era religiosamente tolerante. Essa tolerância era fomentada pela convicção, pela tradição e pela necessidade de repovoar um território que foi devastado durante a guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
HERANÇA DE FREDERICO II: O SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO:
O Sacro Império Romano Germânico comportavam centenas de territórios, cujos governantes desfrutavam da maioria dos poderes associados a um soberano (mas não todos).
O Sacro Império Romano Germânico era um ESTADO MÚLTIPLO.
Era composto por mais de 100 governantes, que tinham muito poder, mas não todos os poderes associados a um Soberano, como por exemplo, um Luís XIV na França ou um Henrique VIII na Inglaterra.
O Sacro Império Romano Germânico era um "Estado Múltiplo, composto por cerca de 300 territórios, cujos governantes desfrutavam da maioria dos poderes - mas não todos - associados a um soberano."
(página 20)
Esses cerca de 300 governantes eram unidos em função da lealdade ao Imperador. Submetiam-se a uma lei imperial, que era aplicada por duas cortes imperiais. Também se uniam por meio de representantes na imperiais, no Reichstag, a Dieta Imperial em Rastibona.
Essa Dieta Imperial era dividida em três colégios eleitorais:
PRIMEIRO COLÉGIO: Era composto pelos nove eleitores:
-Mainz
-Trier
-Colônia
-Boêmia
-Saxônia
-Brandemburgo
-Baviera
-Hanôver
-Palatinado
SEGUNDO COLÉGIO: Era composto por príncipes, condes e Abadias/Monastérios:
-34 Príncipes Eclesiásticos
-Havia dois votos coletivos compartilhados por Abadias e Monastérios
-Havia 60 príncipes seculares
-Havia 4 votos coletivos compartilhados por cerca de Condes Imperiais
TERCEIRO COLÉGIO: Era formado por cidades imperiais livres
-51 cidades imperiais livres, que eram república autogovernadas, sujeitas apenas à autoridade do Imperador.
"As estruturas institucionais foram fixadas em torno do ano de 1500, mas o mundo desde então havia mudado, separando Poder de Aparência."
(página 20)
Na segunda metade do século XVI, o poder não era mais aparência e sim essência, daí a necessidade demonstrada pela aquisição de títulos reais.
"Ficar parado significava ficar para trás."
(página 21)
HERANÇA DE FREDERICO II - O ELEITOR DE BRANDEMBURGO TORNA-SE REI NA PRÚSSIA:
Onda de Reificações no Sacro Império Romano Germânico:
Todos queriam ser reis. Ficar parado, significava ficar para trás.
👉O Eleitor da Saxônia, Augusto, o Forte, torna-se Rei na Polônia, em 1697. Para virar rei da Polônia, Augusto teve que abandonar o protestantismo, convertendo-se ao catolicismo.
👉O Eleitor de Hanover torna-se Rei em 1714. A Casa de Brunsvique Luneburg governava Hanover. Em 1692, o Duque Ernesto Augusto sob de status e torna-se Eleitor de Hanover. Ernesto Augusto casou-se com Sófia, neta do Rei da Inglaterra, Jaime I. Em 1714, o filho de Sofia com Ernesto Augusto torna-se Rei da Inglaterra, com o nome de George I. George I era Rei da Inglaterra e Eleitor de Hanover.
👉O Eleitor de Brandemburgo, Frederico III, torna-se Rei na Prússia em 1701.
Qual era a importância de um título real nos séculos XVII e XVIII? Por que alguém como Frederico III, que já era Eleitor de Brandemburgo-Prússia, fez tanto esforço para se tornar Rei? Qual era a importância de ter um título régio?
"Naquela época, a resposta era: muitíssimo."
(página 20)
"Em um período em que a representação de poder não era aparência, e sim essência, realeza era poder"
(página 20)
Um rei era soberano porque podia fazer e desfazer nobres. Ser rei significava independência total, o que um Eleitor do Sacro Império Romano Germânico não tinha.
E Frederico teve que se esforçar para conseguir seu título régio. Conseguiu seu título de rei por meio de uma barganha feita com o Imperador do Sacro Império Romano Germânico. A barganha consistia no empréstimo, por Frederico III, de soldados para o Imperador, que estava na iminência de entrar em guerra contra a França, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola. Feito esse empréstimo de 8 mil homens, o Imperador abriu as portas para que Frederico III, Eleitor de Brandemburgo-Prússia, se transformasse em Rei na Prússia (1701). Rei NA Prússia, e não Rei DA Prússia. A razão para essa diferença de terminologia residia no fato de haver uma outra Prússia, a Prússia Ocidental, que pertencia à Polônia. E por que Frederico não se tornou Rei de Brandemburgo? A resposta é que Brandemburgo fazia parte do Sacro Império Romano Germânico, enquanto que a Prússia Oriental era uma possessão soberana fora do Império.
HERANÇA DEFINITIVA DE FREDERICO GUILHERME I PARA SEU FILHO FREDERICO II, O GRANDE:
- Um exército grande, bem equipado e bem treinado
- Uma administração civil eficiente
- Uma nobreza leal, acostumada a servir
- Cofres reais cheios.
De posse dessa herança, Frederico II empreendeu a expansão do Reino na Prússia.
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "FREDERICO, O GRANDE, O REI DA PRÚSSIA", DE TIM BLANNING, EDITORA AMARILYS, capítulo 1, A Herança.
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