terça-feira, 30 de junho de 2020

Heréticos O Menino Crucificado Século XVI Judeu como Bode Expiatório


Roma, século XVI.
Um menino é encontrado morto numa cruz.
Era semana de Páscoa.
Judeus são os suspeitos de sempre. Em meio ao populacho corria a história de que os judeus tinham matado e crucificado a criança.
Fatos semelhantes tinham acontecido na Espanha no ano de 1492, quando judeus foram expulsos daquele país.
O caso caiu nas mãos do Papa Marcelo II. A cidade de Roma estava em polvorosa com o assassinato. A população acreditava que os judeus eram culpados pela morte do menino, pois celebravam a Páscoa com o ritual de assassinar uma criança cristã, crucificando-a.
A população queria expulsar os judeus de Roma. Queria também matá-los e saquear seus bens.
O Papa Marcelo II delegou a investigação do assassinato para o Cardeal Alessandro Farnese.
Incumbido da investigação, o Cardeal Alessandro Farnece foi averiguar o ocorrido. Chegando ao local dos fatos, se deparou com o menino assassinado preso a uma cruz. A população de Roma se fazia presente, instigada por Alessandro Fanseschi, um judeu convertido, que discursava acusando os judeus pelo assassinato, já condenando-os de antemão.
O Cardeal Fanese se dirigiu a Alessandro Fanseschi, vendo no zelo deste pela sua nova religião, o cristianismo, algo de vulgar, "assim como as injúrias que invectivavam a sua antiga identidade (judaica)" (página 70).
Fanese repreendeu Fanseschi pela forma como ele agia, condenando os judeus de antemão, instigando a população a agir contra a comunidade judaica.
Faneschi retrucou a reprimenda sofrida, dizendo achar estranho que um Cardeal da Igreja Católica, cuja instituição sempre atacou a comunidade judaica, viesse agora admoestá-lo por acusar os judeus de um assassinato ritualístico.
Ao ouvir a resposta de Fanseschi, o Cardeal Alessandro Fanese intimamente concordou com ela. Mas guardou os pensamentos para si. A Igreja Católica realmente tinha fomentado o ódio aos judeus. Mas o Cardeal só podia pensar essas coisas, não dizê-las. O que ele disse foi para que o judeu convertido se calasse, parando imediatamente de atiçar a população contra os judeus.
Em seguida, Cardeal Fanese foi ao bairro romano onde residia a comunidade judaica. Ali ele se encontrou com representantes judeus e disse que uma investigação seria feita, começando pela busca da identidade da criança assassinada.
No dia seguinte, um médico local descobriu a identidade da criança, como sendo a de um filho de um espanhol. Ao irem à casa desse espanhol, os investigadores encontraram ali outras duas pessoas, um outro espanhol e uma mulher. Esse outro espanhol não era o pai da criança, mas amigo do pai. O pai da criança tinha morrido e passado para ele a incumbência de cuidar dela. Mas o espanhol que foi encontrado pelos investigadores resolveu matar a criança para ficar com a herança dela. E a crucificou para se desvincular do caso, jogando a culpa na comunidade judaica. 
Dessa forma foi reconhecida a inocência da comunidade judaica. O judeus comemoraram.
Os judeus não seriam mais expulsos de Roma. 
Mas o Papa que veio a substituir Marcelo II decretou que os judeus iriam passar a viver confinados num bairro, o Gueto. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "HERÉTICOS", A HISTÓRIA COMO ROMANCE, DE ANNA FOA, EDITORA EDIÇÕES 70. Capítulo V, O Menino Crucificado, páginas 65/73

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