sábado, 18 de abril de 2020

Parte 2 Prússia Grande Eleitor Frederico Guilherme Junkers Potop Tratado de Wehlau Fehrbellin Guerra do Norte Reino na Prússia Frederico I Ascensão da Prússia Império Alemão Derrotas alemãs em Duas Guerras Extinção da Prússia em 1947



POSIÇÃO CONSTITUCIONAL DO GRANDE ELEITOR:

"Vale a pena elucidar a posição constitucional do Grande Eleitor. A história alemã posterior apresentou-o sempre como um Príncipe do Império Alemão com interesses subsidiários no distante baluarte da Prússia. No entanto, a chave das suas políticas residiu no fato de ele estar sujeito a duas lealdades e não a uma. Enquanto Eleitor de Brandemburgo, dependia do Império Habsburgo, mas, como Duque da Prússia, era dependente e vassalo formal do Reino da Polônia. Nos primeiros anos de seu reinado, em especial, não era de todo claro qual das duas fidelidades seria a mais importante. Mais tarde, tornou-se claro qual das duas fidelidades seria a mais importante. Mais tarde, tornou-se mestre em por um suserano contra outro, mas antes do Tratado de Vestfália (Vestefália), em 1648, quando a Guerra dos Trinta Anos finalmente terminou, pendeu para a Polônia. A Corte de Ladislau IV Vasa, sediada em Varsóvia, onde prevalecia a tolerância religiosa, estava apenas a um dia de viagem de Konigsberg, pelo menos viajando de trenó no inverno, e o jovem Hohenzollern adorava visitar a cidade. Era fluente em mau polaco e, enquanto <>, gostava de participar em todos os encontros e cerimônias. Fez o seu juramento de vassalagem, em 6 de outubro de 1641, no pátio do Castelo de Varsóvia. A sua postura só se alterou nas décadas seguintes, quando a Polônia foi atingida por calamidades tão horríveis como as sofridas antes pela Alemanha."
(página 421)

JUNKERS;

Jung Herr: Jovem Amo (Senhor). Era uma classe social. Classe Social que cresceu junto com o Estado de Brandemburgo-Prússia. A maioria dos Junkers tinha origem na Aristocracia medieval alemã. Estavam concentrados em Brandemburgo-Prússia. 

"Os seus apelidos eram geralmente antecedidos de 'Von' ou 'Zu'."
(página 422)


Posse de terras e serviço militar sempre andaram de mãos dadas na Europa. Mas a situação no leste da Rio Elba, no século XVII, onde havia grandes áreas de terra incultas, foi diferente. A agricultura era capitalista, sendo explorada em grandes áreas. Os Junkers comandavam esse tipo de atividade econômica. Quando não estavam numa guerra ou prestando algum serviço civil para o Estado do Brandemburgo-Prússia, estava em suas grandes propriedades rurais. 

"Por conseguinte, adquiriram praticamente o monopólio dos cargos no exército e na burocracia dos Hohenzollerns, e cultivavam uma ideologia e um etos corporativos que foram definidos como o 'oposto de tudo o que é burguês'."
(página 422)


POTOP (DILÚVIO) NA COMUNIDADE FORMADA PELO REINO DA POLÔNIA E PELO GRÃO-DUCADO DA LITUÂNIA:

A Comunidade Polônia-Lituânia passou por uma grave crise em meados do século XVII. Rebeliões dos Cossacos ucranianos; invasões russas e suecas. Na esteira desses eventos, houve fome, epidemias, pilhagens, etc. 

"Um quarto da população morreu. O governo real entrou em colapso. O Monarca João Casimiro Vasa fugiu do reino no meio da anarquia. O duque da Prússia tentou permanecer neutral. Porém, em 1656, perante o desembarque de um exército sueco em Gdansk (Danzig), o Brandemburgo-Prússia viu-se confrontado com duas opções: juntar forças com os invasores suecos ou arriscar-se a ser invadido. Além do mais, a campanha dos suecos foi apresentada como uma cruzada protestante à qual os protestantes prussianos deviam aderir, e, como Carlos X Vasa se afirmou rei de direito da Polônia, poderia recompensar o duque de Hohenzollern, libertando-o de suas obrigações feudais. Frederico Guilherme Hohenzollern fez a sua opção e, em finais de julho, os prussianos entraram em triunfo em Varsóvia ao lado dos Suecos. Carlos X, monarca sueco, declarou que o Ducado da Prússia era soberano e independente."
(página 423)

TRATADO DE WEHLAU - 1657)

Depois de uma recuperação polonesa, esta e o Brandemburgo-Prússia entram num acordo. Brandemburgo-Prússia abandonava a Suécia e, em troca, veria a Polônia reconhecendo a soberania e a independência do Ducado da Prússia. Finalmente, pelo Tratado de Oliwa, em 1660, os poloneses chancelaram a independência do Ducado da Prússia.
O Tratado de Wehlau foi na verdade o resultado final da quebra do contrato feudal por parte dos Hohenzollern. Quando da invasão sueca, os Hohenzollern abandonara seu juramento de fidelidade aos poloneses e ajudaram a Suécia na invasão à Polônia. No fim, a Polônia teve que engolir essa traição e aceitar um acordo com Brandemburgo-Prússia, com esta se comprometendo a abandonar a Suécia para receber em troca o reconhecimento da independência da Prússia Ducal. A partir de agora, Frederico Guilherme, margrave-duque-eleitor, não teria mais que prestar vassalagem ao monarca polonês.

"Por conseguinte, entre 1657 e 1701, o ducado da Prússia foi um estado independente associado, através de uma união pessoal, ao Estado imperial dependente do Brandemburgo."
(página 424)

Apesar dessa conquista, Frederico Guilherme ainda não era um Monarca. Continuava sendo Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia.

"Não sendo uma monarquia no nome, era-o na substância..."
(página 424)

PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO DE PODER:

Frederico Guilherme não era rei mas tinha em Luís XIV um exemplo a ser seguido. Na terra de Frederico Guilherme, os nobres que cumprissem serviço militar ficavam isentos de tributação, desde que cedessem seus direitos a reunirem-se nos Estados (assembleias de nobres que eventualmente poderiam deliberar no sentido de restringir os poderes de Frederico Guilherme). 

"Em 1678, Frederico Guilherme conseguiu criar e financiar um exército permanente considerável."
(página 424)

O DESCONTENTAMENTO DA PRÚSSIA DUCAL COM O AUTORITARISMO DE FREDERICO GUILHERME:

Na época de Frederico Guilherme havia informações sobre o descontentamento dos habitantes da Prússia Ducal com a política do Brandemburgo. Habitantes da Prússia Ducal planejavam uma rebelião contra Frederico Guilherme. 

"Os dois Estados (Prússia Ducal e Brandemburgo) assentavam-se em tradições diferentes no tocante à relação entre governante e os governados."
(página 425)

"Enquanto os teóricos Pró-Hohenzollerns proclamavam que os governados tinham o dever de acreditar e confiar nas boas intenções de um governante  legibus solutus (acima da lei), alguns membros dos estados ducais prussianos, incluindo os burgueses de konigsberg, defendiam o princípio de leis fundamentais que restringissem o poder do governo central. Quem cerceava as suas liberdades era o estranho de Berlim, ao passo que a Coroa Polaca, com a qual tinham formado um corpo, era o seu lar natural. Convictos de que estavam a lidar com um governante estrangeiro, negaram-se a financiar os outros domínios e províncias do eleitor Frederico Guilherme no Império, cuja única ligação que tinham à Prússia era de natureza dinástica. Quererão sugar a última gota de sangue da nobreza prussiana, que não tem nada a ver com o Sacro Império Romano Germânico."
(página 425)

INVASÃO SUECA EM 1675. BATALHA DE FEHRBELLIN:

Em 1675, partindo da cidade de Stettin (Estetino), Suécia invade o Brandemburgo. As defesas de Berlim são rompidas, mas Frederico Guilherme resiste. Em 28 de junho de 1675, os prussianos derrotam os suecos na Batalha de Fehrbellin. Surgia uma nova potência na Europa.
Mas a Suécia não era a única ameaça ao Brandemburgo-Prússia. Na Polônia havia um novo rei, João Sobieski, que deseja o retorno da Prússia Ducal à Polônia. Mas Frederico Guilherme teve sorte, pois no exato momento que João Sobieski planejava retomar a Prússia Ducal, a Polônia se vê ameaça pelo Império Otomano, que avançavam pela Hungria e cercavam Viena. Em 1683, João Sobieski ajudou a romper o cerco otomano a Viena, mas na sequência ficou atolado numa guerra contra os Otomanos, na área do Danúbio. Assim, João Sobieski, ao contrário do que desejava, "nunca subjugou a Prússia." (página 426)

MORTE DE FREDERICO GUILHERME, O GRANDE ELEITOR - 1688:

Com a morte de Frederico Guilherme, Frederico III torna-se o novo Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia. Em 1697, Augusto II, Eleitor da Saxônia, é eleito Rei da Polônia, sucedendo a João Sobieski. 

GRANDE GUERRA DO NORTE E GUERRA DA SUCESSÃO ESPANHOLA. REINO NA PRÚSSIA EM 1701 - FREDERICO I.

A Grande Guerra do Norte durou 21 anos (1700-1721). A Guerra da Sucessão Espanhola durou 13 anos. O Século XVIII iniciou-se com duas guerras. A Grande Guerra do Norte envolveu a Suécia, a Rússia, a Dinamarca e a Saxônia. Enquanto essas guerras aconteciam, Frederico III buscava tirar proveito delas. Ele queria um título real e iria consegui-lo.

"Um título real era mais importante do que à primeira vista parecia. Era um símbolo de legitimidade e era ciosamente defendido. As negociações entre os Hohenzollerns e o Sacro Imperador Romano, o idoso Leopoldo I, foram conduzidas por Charles Ancillon, filho do líder da comunidade huguenote em Berlim. O Imperador era obcecado por protocolo. Era ou tinha sido detentor dos únicos títulos régios autorizados no Império: <>, <> e <>. No entanto, Ancillon reparou que a formação de uma nova grande aliança contra Luís XIV era um objetivo importante para os conselheiros do Imperador, que estavam inclinados a fazer cedências....Em troca de uma aliança contra a França e de um contingente de 8000 granadeiros, o Margrave-Duque-Eleitor teria a sua coroação."
(página 427/428)

Resumindo: Frederico III, então Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia, ajudaria Leopoldo I, Imperador do Sacro Império Romano Germânico, em sua guerra contra a França. Em troca, Frederico III receberia a autorização para se tornar Rei na Prússia, virando Frederico I, Rei na Prússia (janeiro de 1701). 
Frederico I era Rei na Prússia. Não poderia ter sido Rei de Brandemburgo, pois este Estado fazia parte do Sacro Império Romano Germânico. Rei Da Prússia também não poderia, pois havia uma Prússia, a Real, que pertencia ao Reino da Polônia. Daí a denominação Rei Na Prússia (Das Konigreich In Preussen). Quando de sua coroação, Frederico I foi abençoado por Bispos, para que seu reinado fosse visto como algo concedido por Deus. A Coroação de Frederico I foi em Konigsberg, hoje uma cidade russa, Kalininegrado. 

"Tinham quebrado a barreira invisível que, numa época religiosa, dividia os ungidos pelo Senhor  (os reis) dos simples executivos principais (margrave-duque-eleitor."
(página 429)

A partir, portanto, de 1701, o vocábulo <> deixava de ser um termo geográfico para se tornar uma Dinastia, uma marca. A partir de agora, todos os domínios dos Hohenzollerns receberiam o selo, a marca com os dizeres "Prússia". Berlim, que ficava em Brandemburgo, tornou-se Prussiana, e assim seria com qualquer território pertencente aos Hohenzollerns, por mais distante que ficasse de Konigsberg. 

ASCENSÃO DA PRÚSSIA:

Nos anos que se seguiram à coroação de Frederico I como Rei Na Prússia, esta, com a ajuda involuntária de seus vizinhos, foi ganhando força: a derrota da Suécia na Grande Guerra do Norte a tirou da disputa pelo domínio do norte da Europa, abrindo espaço para a expansão da Prússia nessa área; o enfraquecimento da Comunidade Polônia/Lituânia e da Saxônia também beneficiaram a Prússia. Em mais na frente, com o desaparecimento do Sacro Império Romano Germânico, em 1806, por obra de Napoleão Bonaparte, a Prússia passou a competir com a Áustria (Império Habsburgo) pelo controle da Alemanha. E no leste, a competição era com a Rússia.
No reinado de Frederico II, o Grande, no ano de 1772, o Reino na Prússia transformou-se em Reino da Prússia, após a anexação da Prússia Real/Polaca/Ocidental, cuja cidade principal era Danzig (Gdansk).

A PRÚSSIA DO SÉCULO XIX:

A Prússia do século XIX,  ia de Aachen no oeste, a antiga capital de Carlos Magno, a Tilsit (atual Sovetsk, no Oblast de Kalininegrado, pertencente à Federação Russa), a leste, às margens do Rio Niemen. No norte, ia da fronteira dinamarquesa à fronteira suíça, no sul. A Prússia do século XIX tinha centros relevantes:
(a) centros industriais no Vale do Ruhr e na Silésia
(b) centro estatal em Berlim, Brandemburgo
(c) centro histórico em Konigsberg, na Prússia Oriental, onde os Hohenzollerns eram coroados

"Era a maior potência industrial da Europa, e o seu gigantesco complexo militar industrial explica o seu papel de liderança no seio do Império Alemão."
(página 438)

GUERRA FRANCO-PRUSSIANA DE 1871 - CRIAÇÃO DO IMPÉRIO ALEMÃO SOB A DINASTIA HOHENZOLLERN:

"O zênite do sucesso da Prússia decorreu da sua vitória na Guerra Franco-Prussiana de 1871, quando o monarca prussiano foi declarado Imperador da Alemanha na Galeria dos Espelhos de Versalhes."
(página 433)

Com o surgimento do Império Alemão em 1871, Berlim superou Konigsberg em importância.
A Leste, surgia um novo adversário, o Império Russo. O Império Russo era então o maior estado do mundo, com população e recursos naturais enormes. A política inicial da Prússia era a de não "provocar os bárbaros russos." (página 439)
A Prússia procurava, em relação ao Império Russo, adotar "uma política calculada de não confrontação." (página 439)

PRONTIDÃO MILITAR COMO CHAVE PARA O ÊXITO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS:

A vitória alemã na guerra franco-prussiana de 1871 criou a convicção segundo a qual "a prontidão militar era a chave para o êxito nas relações internacionais. Ninguém estava mais convencido disto do que o Kaiser Guilherme II, último Imperador alemão e último Rei da Prússia (1888/1918)"
(página 442)

KAISER (CÉSAR) GUILHERME II HOHENZOLLERN:

No Império Russo, havia o Czar. No Império Alemão, havia o Kaiser. Os dois termos dizem receito ao título de César, usado no Império Romano.


A Prússia mexia com os sentimentos europeus. Sua ascensão, seu poder industrial, causavam medo em seus vizinhos. A França buscava se unir ao Império Russo para criar um contrapeso ao poderio alemão. A Grã-Bretanha, por sua vez, temia perder a sua hegemonia naval para o Império Alemão.

PLANO SCHLIEFFEN:

O Império Alemão, sob a liderança da Prússia, deveria atacar primeiro antes, tomar a iniciativa, para evitar sofrer um duplo ataque, que lhe deixaria cercada. O Império Alemão temia sofrer um cerco, feito pela França, no oeste, e pelo Império Russo, no leste. Daí a necessidade de agir antes, derrotar rapidamente um desses inimigos (a França, que era vista como a mais frágil), e depois partir para o segundo inimigo, o Império Russo, visto como o mais forte.

ALEMANHA E RÚSSIA QUERIAM A GUERRA:

O autor do livro defende que a Rússia também queria a guerra. Do mesmo modo que a Alemanha tinha dado um cheque em branco para o Império Austríaco, o Império Russo também tinha dado um cheque em branco para a Sérvia.

"A rapidez do ataque em tenaz do exército russo na Frente Oriental demonstrou que o comando militar czarista, tal como o seu homólogo alemão, tinha planejado uma ofensiva preventiva."
(página 443)

"...mas os objetivos de guerra publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em setembro de 1914 revelam as suas intenções. Os russos projetaram: (a) a liquidação total da Prússia Oriental; (b) a recriação do Reino da Polônia, que seria administrado pela Rússia; (c) o estabelecimento de uma nova fronteira russo-alemã nos rios Oder e Neisse Ocidental (exatamente como aconteceu em 1945). Na perspectiva da Alemanha, estes objetivos eram profundamente ameaçadores. Não absolvem a liderança alemã, mas mostram de forma inequívoca que o militarismo não era exclusivo da Prússia."
(página 443)

DERROTA ALEMÃ NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL:

A derrota alemã derrubou o Império Alemão, que seria substituído pela República de Weimar. Guilherme II abdicou. Hohenzollerns depostos. Uma paz severa foi imposta à Alemanha.
O fim da Primeira Guerra Mundial tinha pacificado a Frente Ocidental, mas a Frente Oriental continuou instável. A tomada da Russa pelos Bolcheviques deixou a Europa Oriental ainda em pé de guerra. Os revolucionários russos queriam exportar a sua revolução. Foram detidos pela Polônia, em meados de 1920.

ABOLIÇÃO DO REINO DA PRÚSSIA EM 1918:

"A abolição do Reino da Prússia em novembro de 1918, é frequentemente confundida com o fim da história da Prússia. Na realidade, marcou o fim do domínio Hohenzollern, mas não do Estado prussiano. Outra variante do Estado prussiano perdurou, o Freistaat Preussen (Estado Livre da Prússia), primeiro como componente autônomo da República de Weimar do pós-guerra e depois, a partir de 1933, do Terceiro Reich, embora nessa altura a sua autonomia fosse apenas nominal."
(página 445)

FREISTAAT PREUSSEN (ESTADO LIVRE DA PRÚSSIA):

De 1920 a 1932, foi governado pelo Primeiro Ministro Social Democrata Otto Braun. Em 1933, com Hitler assumindo a Chancelaria, Hermann Goring assume o cargo de Primeiro Ministro do Estado Livre da Prússia.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:

O autor do presente livro defende que a Segunda Guerra Mundial deve ser vista sobretudo como uma luta entre dois monstros totalitários, a Alemanha Nazista e a Rússia Comunista. Ambas lutavam para recuperarem os territórios que tinham perdido ao final da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha, por exemplo, tinha perdido a Prússia Real/Polaca. A Rússia, por sua vez, perdeu os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), parte da Ucrânia, etc. No meio desse conflito titânico, encontrava-se a Prússia Oriental. Se a Alemanha Nazista tivesse vencido a guerra, a Prússia Oriental seria um portal para o Lebensraum, o espaço vital no leste. Se a Alemanha Nazista perdesse a guerra, a Prússia Oriental seria riscada do mapa.

AGONIA DA PRÚSSIA. FINAIS DO VERÃO DE 1944:

Com a derrotada da Alemanha Nazista, em maio de 1945, a Prússia Oriental caiu nas mãos dos russos. Em finais do verão de 1944, tropas soviéticas já estavam na fronteira oriental da Prússia. Os russos empreenderam uma rápida incursão pelo interior da Prússia, na "aldeia de Nemmersdorf, deixando para trás um rastro de atrocidades. Mas Stálin (Estaline) tinha, naquele momento, tinha dado prioridade à conquista dos Balcãs, e os seus exércitos ficaram postados mais a norte, no Rio Niemen e no médio Vístula."
(página 448)

Os russos, portanto, concederam um tempo a mais para a Prússia. Hitler mesmo só saiu da Wolfsschanze (Toca do Lobo), perto de Rastenburg, na Prússia Oriental, em novembro de 1944. Além dos russos, os britânicos também atacaram, pelo ar, a Prússia Oriental. Aviões da RAF bombardearam a cidade de Konigsberg, em finais de agosto de 1944.
Em janeiro de 1945, a URSS finalmente resolveu invadir a Prússia Oriental. O avanço foi rápido, com exceção da cidade de Konigsberg. Civis alemães tentaram fugir do avanço russo, por terra e pelo mar. Essa fuga foi denominada de Fluchtaus dem Osten - Fuga do Leste.
Os residentes de Konigsberg (atual Kalininegrado) tentaram fugir primeiramente por terra, até Danzig (Gdansk) e Elbing, ou por trem até Allenstein. Quando os russos trancaram as rotas de fuga terrestres, sobrou a fuga pelo mar. Foi preciso atravessar o gelo da Frisches Haff (Lagoa de Água Doce) até Pillau, onde a marinha nazista (Kriegsmarine) estava. Os alemães prepararam a Operação Hannibal, que tinha por objetivo pegar os alemães em Pillau e leva-los para Stettin (Estetino), no rio Oder (21 de janeiro de 1945).

"Mil cargueiros e navios de guerra realizaram travessias ininterruptas entre Pillau, Danzig (Gdansk) e Stettin (Estetino), sob os ataques dos bombardeios e submarinos soviéticos. Sofreram perdas horríveis, incluindo o Wilhelm Gustloff, cujo afundamento foi o maior desastre da história mundial, com a morte de cerca de 10.000 pessoas." 
(página 450)

Obs.: Stettin ou Estetino, atual Szczecin na Polônia, no Rio Oder.
Em 4 de abril, o que sobrou da cidade de Konigsberg se rendeu aos russos. 80% da cidade estava em ruínas.

"Os defensores sobreviventes foram levados para o cativeiro, e os civis sujeitos a um reinado de assassinatos, violações e pilhagens."
(página 452)

Stálin obliterou Konigsberg e a Prússia. Mulheres foram estupradas pelos soldados soviéticos. Os soviéticos queriam destruir a história de Konigsberg. (página 452)

"Exterminou os prussianos orientais de forma tão completa como os Cavaleiros Teutônicos exterminaram os Prusai, mas em vez de um século, levou poucos anos."
(página 453)

Com a passagem do Exército russo pela Prússia Oriental, esta deixou de existir na prática. Mas ainda era necessário exterminá-la juridicamente, formalmente.

"Neste aspecto, os historiadores devem distinguir entre a Província da Prússia oriental e o Estado da Prússia. A Província da Prússia oriental foi eliminada pela Conferência de Postdam, o Estado não. Apesar das afirmações em contrário dos Aliados, a Conferência de Potsdam, realizada em julho e agosto de 1945, não teve qualquer sustentação legal. Foi um esquema improvisado entre os líderes vitoriosos que se reuniram para debater a gestão da Alemanha derrotada e, enquanto não se realizasse a Conferência de Paz projetada, para tomar decisões provisórias sobre questões urgentes. A agenda foi preparada por um Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, mas, como a conferência (de Paz) nunca se realizou, as decisões tomadas em Potsdam, ao contrário das corporizadas no Tratado de Versalhes, não foram sancionadas por um tratado internacional. Em relação à Konigsberg e à Prússia Oriental, as decisões foram extremamente vagas e provisórias: A conferência examinou uma proposta do Governo Soviético no sentido de, enquanto não for definido...o acordo de paz, a secção da fronteira ocidental da URSS adjacente ao Mar Báltico transite de um ponto da margem oriental da Baía de Danzig, a leste, a norte de Braunsberg-Goldap, para o ponto de encontro das fronteiras da Lituânia, da República Polaca e da Prússia Oriental. A conferência aceitou em princípio...a transferência definitiva da cidade de Konigsberg e da zona adjacente para a URSS tal como é supra-referido, sujeito à avaliação de especialistas..."
(página 454)

No fim, o mapa que vemos hoje foi acertado entre a URSS e seus clientes comunistas poloneses. no Tratado Polaco-Soviético de agosto de 1945. Esse tratado dividiu a Prússia Oriental entre a Polônia e a URSS. Isso não tinha sido discutido em Potsdam.

EXTINÇÃO FORMAL/JURÍDICA DO ESTADO DA PRÚSSIA - UBI SOLITUDINEM FACIUNT, PACEM APPELANT (CRIAM UM DESERTO E CHAMAM-LHE PAZ)

De acordo com a Lei número 46, de 25 de fevereiro de 1947, emanada pela Comissão de Controle Aliada (EUA, Grã-Bretanha, França e URSS), o Estado da Prússia (Freistaat Preussen) foi abolido, riscado do mapa.

"A Lei nº 46 limitou-se a pregar o último prego no caixão vazio da Prússia. O corpo da Prússia, a substância viva, a comunidade de seres humanos que tinha permanecido intacta até janeiro de 1945, já tinha sido dispersada. Em 1947, não restava praticamente nada. A Prússia teve o destino de Cartago: <> Criam um deserto e chamam-lhe paz."
(página 455)

"TODAS AS NAÇÕES QUE VIVERAM DEIXARAM PEGADAS NA AREIA." (PÁGINA 460)

No caso da Prússia, pegadas foram deixadas pelas Tribos Prusai, pelos eslavos, pelos alemães da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, pelos poloneses, pelos alemães novamente (hohenzollerns, weimar e terceiro reich) e, por fim, pelos russos de Kalininegrado.
A antiga Tvangste das Tribo Prusai virou Konigsberg (Montanha do Rei) em 1255, sob a administração dos Cavaleiros Teutônicos. Em 1701, Frederico I foi coroado Rei na Prússia, nessa mesma localidade. Hoje, Konigsberg não existe mais. Em seu lugar, existe uma cidade russa, Kalininegrado.

MILITARISMO PRUSSIANO VERSUS MILITARISMO RUSSO:

O autor Norman Davies fala que os critérios usados para julgar a Prússia e o seu militarismo não são adotados quando do julgamento do militarismo russo (Império Russo dos Romanov e sua sucessora, a URSS).

"Fala-se do militarismo prussiano, mas não do militarismo russo...O Imperialismo e o expansionismo russos, apesar de muito mais extensivos do que tudo o que consta no cadastro da Alemanha, são de alguma forma considerados normais. A ideia alemã do Lebensraum (espaço vital), muito anterior à Hitler, é singularmente agressiva e obnóxia. O desenvolvimento da Rússia, em especial na sua forma soviética, que com Lênin e Stálin seguiu uma via que abundou em desgraças humanas e chacinas em massa, é por vezes descrito como uma experiência nobre que se perdeu pelo caminho."
(página 434/437)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "REINOS DESAPARECIDOS, HISTÓRIA DE UMA EUROPA QUASE ESQUECIDA, NORMAN DAVIES, EDITORA EDIÇÕES 70: Capítulo 7, Borússia, A Terra das águas dos prusai, 1230-1945, páginas 383/461

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