quinta-feira, 19 de março de 2020

Mundo Pós-Napoleônico Legados da Revolução Francesa Doutrina Monroe Equilíbrio de Poder Concerto da Europa Diplomacia de Gabinete Natureza da Soberania


DOUTRINA MONROE:

De dezembro de 1823. Essa doutrina nascida nos EUA impedia que países europeus viessem intervir em assuntos relacionados aos países americanos. Impedia, por exemplo, que a Espanha viesse restaurar as suas colônias nas Américas. 
Entre 1812 e 1814, os americanos estavam em guerra contra a Grã-Bretanha, disputando direitos de pesca e a fronteira do Canadá. 

DOMÍNIO BRITÂNICO SOBRE OS OCEANOS:

Em grande parte do século XIX, os britânicos dominavam os Oceanos. Dominavam o comércio/transporte mundial.
Durante o Mercantilismo, um determinado país buscava expulsar um país concorrente da exploração de uma atividade comercial. A Grã-Bretanha do século XIX não agia dessa forma. A Grã-Bretanha tinha vantagens competitivas insuperáveis, de forma que não precisava apelar para o Mercantilismo. A Grã-Bretanha, sabedora de seu desenvolvimento industrial, defendia o Livre Comércio internacional. Ela assim o fazia porque seu desenvolvimento econômico e industrial era tão formidável que conseguiria superar qualquer um que porventura resolvesse desafiá-la. A indústria da Grã-Bretanha não tinha concorrentes e por isso ela defendia o Livre Comércio Mundial. 

GUERRAS, UM MODO DE VIDA NA EUROPA E BUSCA PELO CONCERTO DA EUROPA:

Um breve inventários de algumas Guerras na Europa:

1)Guerra dos 30 anos (1618/1648): Entre outras desgraças, ceifou a vida de 1/3 da população alemã
2)Guerra da Sucessão Espanhola (1701/1714)
3)Guerra da Sucessão Austríaca (1740/1748)
4)Guerra dos Sete Anos (1756/1763)
5)Guerras Revolucionárias e Napoleônicas (1792/1815)
6)Guerra do Norte (1701/1721)

Em contraste, entre 1815 e 1914, houve um número menor de guerras, com duração e impacto relativamente limitados, com poucos Estados envolvidos: 
1)Guerra da Crimeia (1854/56)
2)Guerras da Unificação Alemã (Áustria/Prússia/Dinamarca: 1864; Áustria/Prússia: 1866; Prússia/França: 1871)
3)Guerra da Unificação Italiana ( França/Piemonte Sardenha/Áustria)

Por que houve menos conflitos no século XIX em comparação com os séculos anteriores?

Resposta: Abandonou-se a política do EQUILÍBRIO DE PODER, segundo o qual nenhum Estado poderia tornar-se tão poderoso a ponto de dominar todos os outros Estados. Em seu lugar adotou-se o CONCERTO DA EUROPA, segundo o qual manter-se-ia a paz por meio de instituições colaborativas. Os países europeus agora buscariam entrar em acordo apesar de seus interesses antagônicos. Subjacente a essa ideia colaborativa estava o medo da revolução. Era o medo da revolução em seu próprio país, com o seu povo saindo às ruas para lhe derrubar, que levou Soberanos da Europa a deixar de lado sentimentos antagônicos, entrando em acordo com países que antes eram seus inimigos. Esses soberanos ainda tinham pesadelos com a Revolução Francesa, com um rei e uma rainha sendo guilhotinados. 

RESQUÍCIOS DO EQUILÍBRIO DE PODER E MUDANÇA NA NATUREZA DA SOBERANIA - DAS CASAS DINÁSTICAS PARA A NAÇÃO/ESTADO:

O Equilíbrio de Poder não tinha sido totalmente abandonado. No passado, a França, país que era então o mais rico e populoso da Europa, se candidatou ao posto de liderança. Desde os tempos de Luís XIV que a França flertava com a ideia de ser a líder de uma Monarquia Universal.
Porém, as derrotas de Napoleão no século XIX foram o canto do cisne para o sonho de liderança francês. Nem por isso os outros países europeus ficaram tranquilos. Eles temiam o ressurgimento da França. Não confiavam nela. Sabiam do que a França era capaz.

"No resto do século XIX, houve mais ou menos um equilíbrio de poder entre os principais Estados continentais..."
(página 63)

No Congresso de Viena vigorou aquilo que se denomina de DIPLOMACIA DE GABINETE. Nesse tipo de diplomacia, territórios são repartidos entre países sem se levar em conta os interesses das pessoas que os habitam.

"Passei o dia cortando a Europa como se fosse um queijo" (Matternich, durante o Congresso de Viena, em 1815)
(página 63)

De fato, ninguém perguntava, por exemplo, aos habitantes da Renânia se eles queriam ser governados pela distante Prússia, e nem perguntavam aos italianos do norte se eles queriam ser governados pela ainda mais distante Áustria. Mas era dessa forma que as coisas eram feitas, mas isso iria mudar, porque a Revolução Francesa tinha mudada a natureza da Soberania na Europa.
Nos séculos XVII e XVIII as maiores causas de guerras na Europa tinham a ver com disputas dinásticas, como as guerras das sucessões austríaca e espanhola no século XVIII.
Após 1815, este já não era o caso. A base da Soberania transitou para as nações e os Estados. A Soberania mudou de mãos: das mãos de família dinásticas/indivíduos para as mãos da Nação/Estado.

"Os tratados como os de 1814-15 eram concluídos entre Estados e não entre monarcas individuais e conservavam a validade até que uma das partes o revogasse de forma deliberada. Com efeito, o príncipe ou o governante tornou-se o executor da soberania nacional ou estatal garantida por acordo internacional com a força de lei."
(página 64)

"Antes de 1815, todos os tratados internacionais eram considerados nulos após a morte de um soberano e tinham que ser imediatamente renovados com a assinatura de um novo soberano para não caducarem."
(página 64)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.


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