quarta-feira, 18 de março de 2020

A Peste no Século VI d.C. Persas versus Constantinopla Séculos VI e VII Persas e Constantinopla versus Islã



A PESTE BUBÔNICA (SÉCULO VI d.C.):

A desordem precedeu a ascensão do islã. A peste bubônica criou um tumulto na esteira da qual mortes e mais mortes se abateram sobre a região que era então o centro do mundo (Constantinopla, Pérsia, China e Egito). Isso aconteceu no século VI d.C..

"...as portas das casas haviam sido deixadas abertas, sem ninguém para guardar o ouro, a prata e objetos de valor dentro deles." O CORAÇÃO DO MUNDO, Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: O encontro do oriente com o ocidente, de Peter Frankopan, Editora Crítica, página 85

"...com 10 mil pessoas sendo mortas por dia em Constantinopla, a certa altura de meados da década 540 d.C."O CORAÇÃO DO MUNDO, Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: O encontro do oriente com o ocidente, de Peter Frankopan, Editora Crítica, página 85

A peste impactou negativamente a economia, resultando em menos mão de obra, menos consumidores. A peste também impactou negativamente o Império Bizantino, que durante o século VI ia retomando territórios no norte da África e na Itália. O tesouro bizantino já ia mal (gastos com guerras; comprando boas relações com vizinhos irascíveis, etc) e piorou com a superveniência da peste bubônica. 

RIVALIDADE ENTRE O IMPÉRIO PERSA E CONSTANTINOPLA (SÉCULOS VI E VII d.C.):

Para tumultuar ainda mais o ambiente na Ásia, Constantinopla e Pérsia retomaram as hostilidades entre si durante o século VI d.C.. Com o início do século VII as hostilidades entre Pérsia e Constantinopla não cessam. No ano de 609 os Persas capturaram a cidade de Edessa (atual Turquia). Antioquia (610) e Damasco, na atual Síria, no ano de 613, são outras aquisições Persas. 

PERDA DE JERUSALÉM PARA OS PERSAS E O CERCO DE CONSTANTINOPLA:

No ano de 614 d.C., Constantinopla perde a cidade de Jerusalém para os Persas. A expansão Persa é imparável. No ano de 619, Alexandria, no Egito, é conquistada. No ano de 626, os exércitos do Império Persa podiam avistar de seus acampamentos os Muros que guarneciam a cidade de Constantinopla. 

"O fim estava próximo e parecia absolutamente inevitável."
(página 91)

Nessa altura dos acontecimentos, o Imperador Bizantino era Heráclio. E a sorte sorriu para ele e para seus súditos, pois os Persas e seus aliados avaros ( nômades das estepes, que avançavam do norte, penetrando pelos Balcãs) começaram a perder o ímpeto. A expansão dos Persas tinha exigido recursos demais do Império e por essa razão tiveram que recuar. Constantinopla se salvou.

CONTRA-ATAQUE ROMANO:

Constantinopla contra-atacou. Heráclio usou a religião para estimular seus soldados na reconquista dos territórios perdidos. Em 627, Constantinopla derrotou os Persas em Nínive, no atual norte do Iraque. Em 630 Jerusalém foi reconquistada. Os cristãos orientais residentes em Jerusalém tiveram que jurar fidelidade ao cristianismo ortodoxo de Constantinopla, tendo que abandonar os ensinamentos do cristianismo oriental, que tinham como centro propagador clérigos que viviam na Pérsia. A vitória de Constantinopla no campo de batalha deveria ser a prova irrefutável de que o Cristianismo Ortodoxo era o único avalizado por Deus. Heráclio, tomado pela euforia, sonhava levar o Cristianismo Ortodoxo de Constantinopla para o resto da Ásia. Mas nesse exato momento de glória para Constantinopla, um novo ator surgia, vindo da Península Arábica: o Islã!

O ISLÃ PEDIA PASSAGEM: 

O sudoeste da Península Arábica era um caldeirão onde fermentavam as disputas protagonizadas por Pérsia e Constantinopla. Bizantinos e Persas procuravam cultivar clientes entre as tribos que habitavam a Península Arábica. Bizantinos e Persas tinham se aproveitado da desunião dessas tribos, manipulando-as, jogando-as umas contra as outras, fazendo-as de aliadas contra seu inimigo. Mas com a ascensão de Maomé, a desunião virou união, a fraqueza virou força e os árabes, de joguetes nas mãos de Persas e Bizantinos, passaram a ser eles mesmos os senhores de seu destino.

SÓ HÁ UM DEUS E MAOMÉ TINHA SIDO ESCOLHIDO COMO SEU MENSAGEIRO:

Os povos que habitavam a Península Arábica eram politeístas. Cada tribo árabe tinha seus próprios deuses. Com o tempo o Politeísmo perdeu terreno para o Monoteísmo. Só havia um Deus em torno do qual os árabes, desunidos no passado, se uniram. E o profeta desse único Deus era Maomé. A ideia de que havia um só Deus levou à união daqueles que no passado viviam brigando entre si. A união fez a força dos árabes. E essa força levou à expansão do islamismo, da Espanha aos confins da Ásia. 

MAOMÉ:

Maomé foi o escolhido como o mensageiro de Deus. Maomé recitava as mensagens de Deus, que ficariam registradas no Corão. Maomé surgiu numa época caracterizada por uma depressão econômica, causada pela guerra entre Constantinopla e Pérsia. Essa guerra prejudicou o comércio que era feito na Península Arábica. Os árabes foram prejudicados.

"O confronto e a efetiva militarização de Roma e Pérsia tiveram importante impacto sobre o comércio que se originava no Hijaz ou passava por ele. Com gastos do governo canalizados para o exército e a crônica pressão na economia doméstica para apoiar o esforço de guerra, a demanda por bem de luxo caíra consideravelmente."
(página 95)

Naquele cenário de retração econômica, as palavras de Maomé encontraram um terreno fértil. Maomé prometia o paraíso para quem o seguisse. Naquele mundo conturbado e áspero, deixar-se levar por uma pregação que prometia um outro mundo, muito melhor do que aquele no qual viviam, era tentador, era sedutor. 

"A salvação espiritual traria recompensas econômicas."
(página 96)

"Os árabes estavam sendo apresentados à sua própria religião, que criava uma nova identidade."
(página 97)


EXPANSÃO ISLÂMICA:

A união entre interesses econômicos e religiosos foi a força por trás da qual a expansão islâmica se concretizou. A palavra de Deus era difundida simultaneamente com os saques e as pilhagens. Os infiéis eram expropriados de seus bens, que iam para os fiéis islâmicos. A palavra de Deus era difundida e os guerreiros eram recompensados com os bens conseguidos por meio de saques. Foi inclusive criado um escritório (diwan) para a organização da repartição daquilo que era saqueado dos infiéis.

"Uma fração de 20% era dada ao líder dos fiéis, o Califa, mas a maior parte era distribuída entre seus apoiadores e aqueles que haviam participado dos ataques bem-sucedidos." 
(página 99)

Jerusalém foi conquistada pelos muçulmanos em meados da década de 630. Constantinopla e o Império Persa sofriam derrotas nas mãos dos muçulmanos. A capital Persa, Ctesifonte (atual Iraque), foi tomada pelos árabes, que saquearam seu tesouro. 

CONCÓRDIA ENTRE ISLÃ, CRISTÃOS E JUDEUS:

O Islã se via como um herdeiro da tradição monoteísta inaugurada por judeus e pelos cristãos. Havia apenas um Deus, que de tempos em tempos fazia conhecer as suas palavras. Para tanto, ele se valeu de Moisés, de Jesus e de Maomé. 

"Em outras palavras, os profetas do judaísmo e do cristianismo eram os mesmos do islã"
(página 106)

Os muçulmanos falavam sobre a Umma, uma comunidade de fiéis que deveria unir toda a comunidade. Eventualmente havia dissensões nessa comunidade (Umma), resultando no aparecimento de judeus e cristãos. Mas a ideia do Corão era no sentido de que "não descriminemos nenhum deles." (página 106)

"Na realidade, o islã parecia tão próximo que alguns eruditos cristãos achavam que seus ensinamentos eram não tanto os de uma nova fé como uma interpretação divergente do cristianismo. Para João de Damasco, um dos principais cronistas da época, o islã era uma heresia cristã, mais do que uma religião á parte. Maomé, escreveu ele, tinha surgido com ideias baseadas em sua leitura do Antigo e Novo Testamentos - e com uma conversa com um monge cristão itinerante."
(página 112)

As conquistas árabes não foram brutais. A população cristã continuava com suas igrejas na Síria e na Palestina. A mudança era de senhorio. Agora o imposto deveria ser pago ao Califa e não mais ao Imperador de Constantinopla. 

"A coabitação dessas diferentes formas de fé (cristianismo, zoroastrismo, judaísmo e islamismo) foi uma marca dos primórdios da expansão islâmica - e parte importante de seu sucesso."
(página 109)

A expansão árabe agora seguia para o Egito e para o restante da Pérsia, derrubando a dinastia Sassânida. Na esteira da expansão muçulmana, muitas cidades foram criadas, como Fustat no Egito e Kufa no Eufrates (atual Iraque). Na Europa, a expansão islâmica foi detida por Carlos Martel, entre Poitiers e Tours (320 km de Paris), no ano de 732. A Europa Ocidental poderia ter se tornado muçulmana. O autor deixa subentendido que os muçulmanos não insistiram na conquista da Europa porque ela não era economicamente atraente. Havia troféus mais valiosos na Ásia. Mas de toda forma, a Europa sofreu com a ascensão do Islã. Atenas e Corinto, na atual Grécia, diminuíram de tamanho. O comércio no mediterrâneo contraiu-se drasticamente. O comércio na Europa tornou-se apenas local.

BRIGAS DENTRO DO ISLÃ:

Quem iria suceder Maomé? Qual era com exatidão a mensagem recebida por Maomé? Tudo seria compilado no Corão, no final do século VII. Essa desavenças internas de quem seria o guardião da palavra de Deus respingou naqueles que não eram muçulmanos. Novas regras endureceram a vida dos infiéis. E mais: depois de vencerem no campo de batalha, agora os muçulmanos queriam converter a população local ao islã.

EXPANSÃO DO ISLÃ PARA A ÁSIA CENTRAL:

As cidades iam sendo conquistadas: Samarcanda (atual Usbequistão), Panjikent (atual Tadjiquistão), Balkh (atual Afeganistão). Em 751 um exército árabe derrotou um exército chinês, no rio Talas, na Ásia Central. Com essa derrota, os chineses recuaram para o seu território, abandonando a Ásia Central. Aproveitando-se disso, o povo uigure passou a construir cidades no que hoje é o Quirguistão. 

DIVISÕES DENTRO DO ISLÃ:

No início do século X, havia 3 centros de poder:

a)Córdoba, na atual Espanha
b)Egito
c)Bagdá

BAGDÁ:

"Bagdá iria se tornar a mais rica e populosa do mundo."
(página 115)

O apetite de Bagdá por produtos luxosos era insaciável. Importavam, por exemplo, seda e peças de cerâmica da China; doces do Egito; figos sírios; pistache de Nishapur. No século VIII o papel chegou da China. Havia um tráfego intenso de navios no Golfo Pérsico. Riquezas eram construídas. Bagdá era o centro do mundo (séculos VIII, IX e X). Em Bagdá a cultura era patrocinada por mecenas locais. O estudo era valorizado, buscando-se conhecimento, onde quer que ele se encontrasse (Índia, Constantinopla, etc). 

Havia ainda uma outra divisão, entre Xiitas e Sunitas. Xiitas diziam que apenas os descendentes de Ali (primo e genro de Maomé) podiam ser califas. Já os sunitas defendiam uma interpretação mais ampla, menos radical. 

"Portanto, embora houvesse em tese uma unidade religiosa abrangente que ligava o Indocuche (Indo-Kush - Afeganistão) aos Pireneus (Espanha), passando pela Mesopotâmia (Iraque) e pelo norte da África, encontrar um consenso era outra questão."
(página 122)

RESUMO:

Enquanto os dois grandes impérios dos séculos VI e VII, Persa e Constantinopla, brigavam entre si, 
das profundezas da Península Arábica, a partir do Hejaz (Meca e Medina), uma força se preparava para criar um dos maiores impérios da História, sob a religião islâmica.

Anotações extraídas da leitura do Livro O CORAÇÃO DO MUNDO, Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: O encontro do oriente com o ocidente, de Peter Frankopan, Editora Crítica.


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