Napoleão foi derrotado definitivamente em 18 de junho de 1815, na Batalha de Waterloo. Napoleão foi exilado na ilha de Santa Helena, onde veio a morrer em 1821.
Nos últimos cem dias (fuga da ilha de Elba até a Batalha de Waterloo) que ficou no poder, Napoleão tentou vestir a roupagem de um liberal. Nesses cem dias, Napoleão prometia paz ao mundo e valores liberais para os franceses. Tinham acabado os tempos de conquistas militares.
O mito do Napoleão Bonaparte liberal cultivado em seus 100 dias de retorno ao poder deu origem ao vocábulo BONAPARTISMO.
O Bonapartismo se diferenciava do Republicanismo, pois o primeiro tinha ênfase na figura de uma liderança forte e na glória militar, enquanto que o Republicanismo dava ênfase ao sufrágio universal para os homens, para a burocracia estatal eficiente, para a adoção de referendos, plebiscitos e o Estado deveria tratar todas as pessoas de forma igual.
NAPOLEÃO E O USO DE UM GOLPE MILITAR PARA SE ALCANÇAR O PODER POLÍTICO:
A ideia de um golpe militar como forma de se alcançar o poder político transitava normalmente pelas mentes dos franceses. Essa ideia era inspirada pelo Golpe de Estado Militar de Napoleão de 18 de Brumário (9/11/1799), que derrubou o Diretório Revolucionário e elevou Napoleão à posição de 1º Cônsul e o levou depois a estabelecer o 1º Império Francês em 1804. As pessoas, inspiradas pelo golpe dado por Napoleão em 1799, sonhavam que os Regimes da Restauração, que eram repressivos e que queriam voltar para antes de 1789 (Antigo Regime), poderiam ser derrubados por um novo golpe, dando lugar a um regime Liberal.
Os poloneses e os irlandeses inspiravam-se em Napoleão. Simon Bolívar, na América Latina, via em Napoleão um herói.
Enfim, Napoleão, o golpista, o Imperador, tinha se tornado um Mito, servindo de símbolo para as pessoas que queriam lutar pela derrubada de regimes opressivos, lutando contra a dominação colonial para no fim implantarem um regime liberal e constitucional.
CONSEQUÊNCIAS DAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS:
Jakob Walter, um pedreiro alemão, recrutado pelo Estado fantoche francês de Vurtemberga (Wurttemberg) para o exército francês que seguiria para Rússia, foi e conseguiu voltar vivo à sua casa. Jakob foi porque não tinha alternativa, senão obedecer. Jakob era indiferente à política, à França; não odiava os russos; era indiferente ao Estado fantoche francês de Wurttemberg. Jakob Walter também não tinha interesse pelo resultado das guerras napoleônicas.
Quase 1/4 de século de guerras (a partir de 1789) havia deixado a população cansada. Jakob Walter queria apenas sobreviver. Outro compromisso dele era com a Fé Católica, que o sustentava em meio ao sofrimento.
Seiscentos e oitenta e cinco mil soldados (italianos, franceses, alemães e poloneses) invadiram a Rússia em 1812. Menos de 70 mil regressaram. Jakob Walter foi um dos que regressou. Quatrocentos mil foram mortos e 100 mil feitos prisioneiros (número desconhecido de isolados e desertores).
Em 1814 os aliados ocuparam Paris e Napoleão Bonaparte foi exilado na Ilha de Elba.
No período compreendido entre 1789 e 1815 cinco milhões de pessoas morreram. Moscou, a capital da Rússia, foi incendiada, entre 7 mil e 9 mil casas foram destruídas pelo fogo, além de 8 mil lojas e armazéns. Não havia como compensar todas essas perdas.
A Espanha também sofreu sob a ocupação francesa. Houve pilhagens, carnificinas. A Renânia, na Alemanha, sofreu com a requisições do Exército francês. Em Aachen (oeste da Alemanha), habitantes morriam de fome. Exércitos tinham que viver da terra na qual estava estacionados ou passando por ela. Daí as requisições, quando não as pilhagens, os saques. Era preciso alimentar milhares de soldados e os animais, como por exemplo, a cavalaria que puxava as peças de artilharia.
PERÍODO IMEDIATAMENTE POSTERIOR AO ENCERRAMENTO DAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS (1815/1820):
Se não bastassem os danos causados pelas guerras napoleônicas, mudanças climáticas causadas pela erupção de vulcões causaram danos à produção agrícola europeia. Havia queda abruptas de temperatura e chuvas intensas. Os preços dos cereais dispararam. Em Paris, em 1817, o preço do pão dobrava de valor. O Bloqueio Britânico e o Contra-bloqueio napoleônico tinham arruinado o comércio, causando desemprego. Havia fome na Europa em localidades como a Renânia, a Croácia, a Hungria, a Lombardia no norte da Itália, etc)
Neste cenário de depressão econômica, os pobres mendigavam ou roubavam ou iam às cidades em busca de alguma comida.
"Tinham, como disse um observador, a palidez da morte nas faces."
(página 39)
As pessoas tentavam sair da Europa. Em 1818, duas mil pessoas de Baden (Alemanha) foram para o Rio de Janeiro. Em 1817, vinte mil alemães e 30 mil franceses foram para os EUA.
Havia um incremento na morte por tifo, varíola, etc. À falta de higiene acrescentavam-se pessoas enfraquecidas pela fome, pedintes perambulando de cidade em cidade em busca de ajuda. A peste bubônica matou 12 mil pessoas nas Ilhas Baleares em 1820.
A partir de 1816, a falta de alimentos provocava revoltas populares. As revoltas eram causadas pela crise de subsistência, pela miséria maciça e pelo desemprego. Houve revoltas na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na França, na Prússia. Os Estados agiram para reprimi-las.
Em 1819, na Grã-Bretanha, 15 ingleses morreram em Saint Peter's Field (Manchester). A polícia inglesa dispersou uma maciça concentração popular a tiros. Esse evento ficou conhecido como PETERLOO, numa alusão jocosa à Batalha de Waterloo, em 1815, quando Napoleão foi definitivamente derrotado.
Mas só a repressão não funcionava. Os Estados tentaram agir para atenuar a miséria do povo, mas naquele tempo eles não tinham recursos. O que houve então foi uma política para prevenir revoluções, revoltas. O fantasma da Revolução Francesa era onipresente. E além da repressão interna preventiva, externamente havia o temor de que a França viesse a, mais uma vez, criar problemas na Europa.
MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA REVOLUÇÕES:
Grã-Bretanha, Prússia, Rússia e Áustria acordaram entre si que, caso houvesse um evento revolucionário em algum lugar da Europa, agiriam prontamente para debelá-lo. A primeira ação conjunta deles se deu na volta de Napoleão ao poder, durante os cem dias após a sua fuga da ilha de Elba, finalizando com a Batalha de Waterloo. Essa primeira ação conjunta foi de caráter preventivo, que estabeleceu as bases para outras ações desse gênero no futuro. A ideia era que os Estados repressivos da época (Prússia, Áustria e Rússia) tinham que agir para recolocar o gênio da revolução de volta na garrafa da história.
Na década de 90 do Século XVIII a intervenção em assuntos internos de um país soberano (a França revolucionária) ocorreu também em caráter preventivo, ocasionada pelo medo da propagação das ideias democráticas (liberdade, igualdade, fraternidade) nascidas com a Revolução Francesa pelo resto da Europa, e em proteção à Maria Antonieta, irmã do então Imperador Austríaco, e ao Rei Luís XVI.
NAPOLEÃO ESTAVA MORTO MAS AS IDEIAS DA REVOLUÇÃO FRANCESAS ESTAVAM VIVAS:
O medo de novas revoluções vinha da constatação de que as ideias trazidas pela Revolução Francesa tinham criado raízes em vários locais, principalmente nos países ocupados por Napoleão. As transformações feitas por Napoleão foram profundas. Napoleão causou um terremoto no Antigo Regime.
Exemplos:
1)Napoleão desprezava fronteiras estabelecidas há séculos. Criou um anel em torno de si, formado por Estados-Satélites, incluindo o Grão-Ducado de Varsóvia, o Reino da Itália e o Reino de Vestfália.
2)Napoleão pôs fim ao Sacro Império Romano Germânico, que tinha sido criado no ano 800 d.C., por Carlos Magno. Extinguindo com o Sacro Império Romano Germânico em 1806, Napoleão mostrava que as fronteiras não eram imutáveis.
3)Napoleão ainda diminuiu o poder da Igreja Católica. Introduziu direitos iguais aos não-cristãos, em particular aos judeus.
4)Tribunais eclesiásticos e senhoriais foram substituídos por um sistema centralizado de uniformidade, administrado por uma burocracia judicial.
5)Pesos e Medidas, até certo ponto, foram padronizadas. E outras restrições ao movimento livre dos trabalhadores foram eliminadas.
"Napoleão levara mudanças a toda parte e, quando partiu para o seu exílio final em Santa Helena, em 1815, era evidente que muitas delas não podiam ser revogadas."
(página 49)
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70"
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