MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SÉCULO IV d.C.; SURGIMENTO DOS HUNOS; ONDAS MIGRATÓRIAS BATIAM ÀS PORTAS DO IMPÉRIO ROMANO E DO IMPÉRIO PERSA:
Mudanças climáticas já aconteciam no passado. No século IV d.C. mudanças climáticas acarretaram problemas no território chinês e no território sogdiano (atual Usbequistão). Fomes generalizadas pela quebra de safras agrícolas resultam em saques nas cidades. Os lucros auferidos pela Rota da Seda caem. A vida nas estepes ficou ainda mais difícil. O que já era ruim, piorou.
Mas houve uma tribo que vivia nas estepes que soube se aproveitar dos problemas causados por essas mudanças climáticas, conseguindo consolidar seu poder sobre as outras tribos existentes na Mongólia. Essa tribo era conhecida no ocidente como os HUNOS. Na Ásia eram chamados de Xiongnu.
O fortalecimento e a decorrente expansão dos Hunos resultou na expulsão de outras comunidades para o oeste, que fugiam deles. Estamos falando de um período compreendido entre 350 e 360 d.C..
Essas migrações não eram causadas apenas pela violência dos Hunos, como também pelas mudanças climáticas.
O impacto dessas migrações ( vindas do norte, das margens do Mar Negro e das estepes asiáticas) foi sentida do norte do atual Afeganistão (Báctria) à fronteira romana no rio Danúbio. Essa ondas migratórias, formadas por pessoas que fugiam dos Hunos ou das mudanças climáticas, forçavam a entrada no Império Romano.
Na Trácia, no ano de 378 d.C., uma dessas ondas migratórias derrotou um exército romano.
E não era só o Império Romano que sofria com esse repentino deslocamento populacional. O Império Persa também via suas fronteiras sendo forçadas por essas ondas migratórias. Hordas de bárbaros, vindos do atual Turcomenistão, ameaçavam a cidade Persa de Merv. A situação era tão amedrontadora que o Império Persa construiu um muro no Cáucaso para tentar conter o avanço dos bárbaros que vinham do norte .
ALIANÇA ENTRE O IMPÉRIO ROMANO E O IMPÉRIO PERSA PARA CONTER AS ONDAS MIGRATÓRIAS:
A situação desse deslocamento populacional era tão urgente que forçou a uma aliança inédita entre os Impérios Romano e Persa. Assim, Roma chegou a contribuir financeiramente para a construção do Muro no Cáucaso.
"Mas era tarde demais no que se refere a Roma."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 69)
ALARICO, LÍDER DOS VISIGODOS, INVADE ROMA E A SAQUEOU:
Era tarde demais para Roma. Em 410 d.C., Alarico, o líder dos Visigodos, invadiu Roma e a saqueou. Os Visigodos fugiam do avanço dos Hunos. O Império Romano desmoronava-se. Alanos, vindos de uma área compreendida entre o norte do Mar Negro e o Mar Cáspio, invadiam a província romana da Espanha. Os Vândalo chegaram ao norte da África romana.
CHEGADA DOS HUNOS:
Os Hunos, que vinham atrás desse deslocamento populacional, empurrando-o para o oeste, finalmente chegaram ao Império Romano. Os Hunos viviam montados em seus cavalos. Os cavalos lhes davam asas. Os cavalos eram suas casas. Os Hunos não eram agricultores. Os Hunos só tinham um interesse: Saquear/Pilhar. Eram comandados por Átila, o flagelo de Deus (século V d.C.).
Os Hunos só seriam detidos no ano de 451, na Batalha dos Campos Cataláunicos (atualmente é o centro da França).
RESULTADO DAS DEVASTAÇÕES DO SÉCULO V d.C.:
As invasões do Século V d.C. fizeram a economia da Europa Ocidental retroceder.
"os níveis de alfabetização despencaram; as construções em pedra praticamente cessaram."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 71)
Os mercados de longa distância foram substituídos pelos mercados locais (bens de pequeno valor).
"Por que Deus nos permite ser mais fracos e miseráveis do que todos esses povos tribais, lamentava-se Salviano, escritor cristão do século V."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 72)
Os cristão eram levados a acreditar que toda aquela tragédia acontecia porque Deus os punia pelos seus pecados. Os romanos pecaram e Deus os punia.
QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO OCIDENTAL, COM SEDE EM ROMA. CONSEQUÊNCIAS NO IMPÉRIO PERSA E PARA OS CRISTÃOS QUE ALI MORAVAM:
Com a queda de Roma, os Persas não viam mais o cristianismo como uma ameaça ao seu império. Agora quem a ameaçava eram as tribos vindas das estepes asiáticas (século V d.C.). Por esse motivo, o Império Persa deixou de perseguir os cristãos e passou a tolerá-lo como uma ameaça menor.
UNIFORMIZAÇÃO DA DOUTRINA E PRÁTICA CRISTÃS:
Colocar todos os cristãos pensando da mesma forma sobre a doutrina e prática cristãs seria um trabalho árduo (e impossível de concretizá-lo). Mas foi tentado. Reuniões foram feitas com esse objetivo.
Exemplo:
Concílio de Niceia (325 d.C.)
O Império Romano do Ocidente ainda existia. Constantino era o seu Imperador. Esse concílio foi convocado por Constantino com o objetivo de uniformizar o entendimento sobre várias questões sobre doutrina e prática cristãs. Uma das discussões girava em torno das relações existentes entre o Deus Pai e o Deus Filho. Qual era a natureza de Jesus Cristo? Jesus Cristo era somente humano, um homem como nós, como entendiam os Arianos, seguidores de Ário de Alexandria (um clérigo egípcio) ou ele era simultaneamente Humano e Divino? Concluiu-se que Jesus Cristo era simultaneamente humano e divino: Jesus Cristo é Um em Substância com Deus (seu pai). Dessa reunião em Niceia nasceu o Credo de Niceia, que é usada ainda hoje, quando se diz em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (santíssima trindade).
O Império Romano do Ocidente ainda existia. Constantino era o seu Imperador. Esse concílio foi convocado por Constantino com o objetivo de uniformizar o entendimento sobre várias questões sobre doutrina e prática cristãs. Uma das discussões girava em torno das relações existentes entre o Deus Pai e o Deus Filho. Qual era a natureza de Jesus Cristo? Jesus Cristo era somente humano, um homem como nós, como entendiam os Arianos, seguidores de Ário de Alexandria (um clérigo egípcio) ou ele era simultaneamente Humano e Divino? Concluiu-se que Jesus Cristo era simultaneamente humano e divino: Jesus Cristo é Um em Substância com Deus (seu pai). Dessa reunião em Niceia nasceu o Credo de Niceia, que é usada ainda hoje, quando se diz em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (santíssima trindade).
Mas as divisões persistiam. A divisão agora se dava entre:
Cirilo, Patriarca de Alexandria (Egito)
Nestório (Patriarca de Constantinopla).
Tanto Cirilo e Nestório concordavam que Jesus Cristo possuía duas naturezas, a humana e a divina. O problema era dizer como é que essas naturezas se relacionavam, se posicionavam na figura de Jesus Cristo.
Cirilo, Patriarca de Alexandria (Egito)
Nestório (Patriarca de Constantinopla).
Tanto Cirilo e Nestório concordavam que Jesus Cristo possuía duas naturezas, a humana e a divina. O problema era dizer como é que essas naturezas se relacionavam, se posicionavam na figura de Jesus Cristo.
Para Nestório, as naturezas divina e humana em Jesus Cristo deviam ser vistas separadas. Separadas e distintas. Para visualizar isso, imagine um copo com água e óleo. Água e óleo estão separados, mas estão dentro de um mesmo recipiente. Com Jesus Cristo seria a mesma coisa
Já para Cirilo, as naturezas divina e humana de Jesus Cristo não deviam ser entendidas como se estivessem separadas. Elas deviam ser entendidas como estando misturadas, coexistindo sem nenhuma separação. Para melhor visualizar essa ideia, imagine um copo onde são colocados água e vinho. Água e vinho se combinam perfeitamente, misturam-se de forma a não deixar nenhuma separação visível.
Havia ainda outras discussões que mantinham os cristão separados:
1) Status da Virgem Maria. Havia a distinção entre Maria Theotokos (Maria deu á Luz Deus) e Maria Christotokos (Maria deu à Luz Jesus, trazendo ao mundo apenas um humano, não um ser divino)
2) Jesus seria a criação de Deus e portanto subordinado e este ou era a manifestação de Deus sem qualquer relação de subordinação, sendo portanto coigual e coeterno?
CONCÍLIO DA CALCEDÔNIA (451 d.C.) MAIS UMA TENTATIVA DE PACIFICAR OS ENTENDIMENTO DE DOUTRINA E PRÁTICA CRISTÃS:
A Igreja do Oriente não concordou com as conclusões tiradas do Concílio da Calcedônia e reagiu com fúria. Seria impossível uniformizar a doutrina e a prática cristãs. A Igreja do Oriente defendia que as naturezas divina e humana de Jesus Cristo estavam separadas, como naquele exemplo de um copo com água e óleo.
O Imperador Romano reagiu a essa rebeldia fechando a escola de Edessa (atual Turquia) de onde surgiam os escritos doutrinários da Igreja do Oriente. Estudiosos da Igreja do Oriente foram expulsos do Império Romano e foram buscar refúgio na Pérsia.
SÉCULOS V E VI: O IMPÉRIO PERSA VIVENCIA UM PERÍODO DE PROSPERIDADE:
Os Persas viviam no apogeu. O Império Persa mantinha ligações comerciais com a Índia, com a China e com o Mediterrâneo Oriental. As estepes estavam tranquilas. O Império Bizantino estava concentrado em recuperar províncias romanas no ocidente. Prosperidade e paz trazem consigo tolerância religiosa. Os cristãos que viviam no Império Persa se beneficiaram dessa tolerância religiosa.
IGREJA CRISTÃ DO ORIENTE E A EVANGELIZAÇÃO DA ÁSIA:
A Igreja Cristão do Oriente se beneficiou do período de prosperidade experimentado pelo Império Persa nos séculos V e VI. Com a prosperidade veio a tolerância religiosa.
Aproveitando esse momento, a Igreja Cristã do Oriente buscou se expandir pelo leste. Em meados do século VII era fácil prever o futuro do cristianismo, que marchava pelo leste, competindo com outras religiões como o budismo, o zoroastrismo e o judaísmo.
A Igreja Cristão do Oriente se beneficiou do período de prosperidade experimentado pelo Império Persa nos séculos V e VI. Com a prosperidade veio a tolerância religiosa.
Aproveitando esse momento, a Igreja Cristã do Oriente buscou se expandir pelo leste. Em meados do século VII era fácil prever o futuro do cristianismo, que marchava pelo leste, competindo com outras religiões como o budismo, o zoroastrismo e o judaísmo.
O então Rei do Iêmen se tornou cristão. Tribos das estepes foram alcançados pelo cristianismo. O cristianismo chegou à China. Basra, Tikrit e Mosul, hoje no atual Iraque, tinham populações cristãs.
Samarcanda, Bucara (Bukhara), no atual Usbequistão, tinham populações formadas por cristãos.
"Em 635 d.C., missionários cristãos na China foram capazes de convencer o Imperador a retirar a oposição à fé cristã e reconhecê-la como uma religião legítima..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 83)
"Em 635 d.C., missionários cristãos na China foram capazes de convencer o Imperador a retirar a oposição à fé cristã e reconhecê-la como uma religião legítima..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 83)
"A sua expansão deve muito à tolerância e à habilidade dos governantes sassânidas da Pérsia, capazes de favorecer políticas inclusivas nas épocas em que a aristocracia e os sacerdotes do Zoroastrismo estavam pacificados."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 77)
"Cidades como Merv (Ásia Central), Gundeshapur e até Kashgar, a cidade-oásis na porta de entrada da China, tiveram Arcebispados bem antes de Canterbury."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 77)
Mas nem tudo eram flores. Na sua expansão para o Leste, a Igreja Cristã do Oriente teve que enfrentar o judaísmo, o budismo e o zoroastrismo.
EURASIA, O CENTRO DO MUNDO E PALCO DE DISPUTA ENTRE RELIGIÕES PELAS MENTES E CORAÇÕES DAS PESSOAS:
A Eurasia era o centro do mundo. Tudo fluía pelas rotas comerciais e pela Rota da Seda: mercadorias, ideias, tecnologias, etc. Religiões disputavam fiéis. Mas essas mesmas religiões também trocavam informações entre si. Uma religião poderia compartilhar ideias usadas por ela com outras religiões. Um exemplo disso é o símbolo do HALO, que ilustra a ligação com o divino, sinal de luminosidade que foi adotada por várias religiões.
Mas esse encontro de religiões também gerava conflitos. Elas competiam entre si para ver qual iria se sobressair sobre as outras, qual delas iria converter um determinado Soberano, qual delas iria atrair mais fiéis.
Os cristãos temiam perder fiéis para o judaísmo, cujos cultos, em suas sinagogas, eram mais atraentes.
Os judeus, por sua vez, desdenhavam os cristãos que se convertiam aos judaísmo.
"Não acredite num prosélito, até que tenham se passado 24 gerações, porque o mal inerente ainda estará com ele." (Hiyya, o Grande Rabino)
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)
Mas havia judeus que também temiam que o cristianismo ocupasse o lugar do judaísmo. Por esse motivo, os judeus buscavam fazer pouco caso do cristianismo, faziam joça das crenças dos cristãos:
"O nascimento a partir de uma virgem, por exemplo, é alvo de sátiras e zombarias..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)
No reino de Himyar, no sudoeste da Península Arábica, judeus perseguiam cristãos. Ali, nos séculos IV e V, instalou-se um reino que fez do judaísmo a religião oficial de seu Estado.
"cristãos eram regularmente martirizados em razão de suas crenças,... depois de condenados por um conselho de rabinos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 81)
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição
"Cidades como Merv (Ásia Central), Gundeshapur e até Kashgar, a cidade-oásis na porta de entrada da China, tiveram Arcebispados bem antes de Canterbury."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 77)
Mas nem tudo eram flores. Na sua expansão para o Leste, a Igreja Cristã do Oriente teve que enfrentar o judaísmo, o budismo e o zoroastrismo.
EURASIA, O CENTRO DO MUNDO E PALCO DE DISPUTA ENTRE RELIGIÕES PELAS MENTES E CORAÇÕES DAS PESSOAS:
A Eurasia era o centro do mundo. Tudo fluía pelas rotas comerciais e pela Rota da Seda: mercadorias, ideias, tecnologias, etc. Religiões disputavam fiéis. Mas essas mesmas religiões também trocavam informações entre si. Uma religião poderia compartilhar ideias usadas por ela com outras religiões. Um exemplo disso é o símbolo do HALO, que ilustra a ligação com o divino, sinal de luminosidade que foi adotada por várias religiões.
Mas esse encontro de religiões também gerava conflitos. Elas competiam entre si para ver qual iria se sobressair sobre as outras, qual delas iria converter um determinado Soberano, qual delas iria atrair mais fiéis.
Os cristãos temiam perder fiéis para o judaísmo, cujos cultos, em suas sinagogas, eram mais atraentes.
Os judeus, por sua vez, desdenhavam os cristãos que se convertiam aos judaísmo.
"Não acredite num prosélito, até que tenham se passado 24 gerações, porque o mal inerente ainda estará com ele." (Hiyya, o Grande Rabino)
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)
Mas havia judeus que também temiam que o cristianismo ocupasse o lugar do judaísmo. Por esse motivo, os judeus buscavam fazer pouco caso do cristianismo, faziam joça das crenças dos cristãos:
"O nascimento a partir de uma virgem, por exemplo, é alvo de sátiras e zombarias..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)
No reino de Himyar, no sudoeste da Península Arábica, judeus perseguiam cristãos. Ali, nos séculos IV e V, instalou-se um reino que fez do judaísmo a religião oficial de seu Estado.
"cristãos eram regularmente martirizados em razão de suas crenças,... depois de condenados por um conselho de rabinos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 81)
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição
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