IDADE MÉDIA ARCAICA (SÉCULOS VI A IX):
"A divisão da história europeia em três épocas - a Antiguidade, a Idade Média e a Idade Moderna - tem a sua origem em Christoph Cellarius (1638-1707)..."
(página 19)
Quando começou a Idade Média? Com a desagregação do Império Romano? Não há entendimento pacificado nessa área. Há a teoria da catástrofe que bate na tecla das invasões dos povos germânicos do século III e na migração dos povos nos séculos IV a VI. Há a teoria da continuidade que defende a existência de uma continuidade da história cultural e econômica. Segundo essa última teoria, parte-se "do ponto de partida da existência de uma evolução ininterrupta desde a Antiguidade que só teria sofrido uma cisão decisiva no século VIII, devido à invasão do Islão, no mundo mediterrâneo."
(página 19)
O autor do livro reconhece que há uma época de transição na Europa que abrange os séculos VI e VIII. O que se seguiu a ela, não de forma abrupta mas numa passagem progressiva, chamamos de Idade Média. Para o autor, a cisão não foi a ascensão do Islão, mas a ascensão do Império Carolíngio.
Em meados do século IX, o Império Carolíngio começou a entrar em decadência, cuja agonia durou um século. No seu lugar começaram a surgir "grandes unidades suprarregionais, que se transformariam , por seu turno, em regna autônomos, num processo que se prolongou por várias gerações, até cerca de meados do século XI."
(página 20)
A Europa de hoje tem suas raízes na Alta Idade Média, que sucedeu à Idade Média Arcaica (séculos VI a IX)
Do desmoronamento do Império Carolíngio surgiu, por exemplo, a Francônia Oriental (regnum), o embrião do Sacro Império Romano Germânico e depois da atual Alemanha. A Francônia Oriental apresentava uma disputa entre "as grandes ligas de fidalgos" (página 20) que buscavam contrabalançar o poder das Dinastias reinantes (otoniana, saliana e staufer/hohenstaufer) por meio de eleições. Esse direito de eleger o rei duraria até o fim do Sacro Império Romano Germânico, no século XIX.
Cronologia da Idade Média Arcaica Alemã (séculos VI a IX):
Anos 482-511: Clóvis I (rei dos Francos)
Ano 511: Divisão do reino entre os filhos de Clóvis
Anos 558-561: Clotário I, soberano de todos os Francos
Anos 679-714: Pepino de Herstal, mordomo do Palácio de Austrásia, reina a partir de 687 sobre too o reino Franco.
Anos 714-741: Carlos Martel, mordomo do Palácio do Reino dos Francos.
Ano 732: Carlos Martel derrota os árabes muçulmanos (Poitiers/Tours).
Anos 741-768: Pepino, o Breve, mordomo do palácio da Nêustria, da Borgonha e da Provença
Anos 768/814: Carlos Magno, soberano a partir de 771
Ano 800: Carlos Magno coroado Imperador
Anos 813-840: Luís, o Piedoso, co-Imperador a partir de 813 e imperador a partir de 814
Ano 817: Plano de Divisão do Império - Ordinatio Imperii
O IMPÉRIO MEROVÍNGIO E O IMPÉRIO CAROLÍNGIO:
Menos gente significava menos desenvolvimento econômico. Comércio, circulação monetária e ofícios quebrados.
Cerca de 90% da população na Idade Média vivia no campo. Para haver uma transição para atividades não agrícolas, era necessário a produção de excedente de alimentos. Para tanto, foi necessário aumentar a superfície de cultivo para outras áreas.
"O Regime Senhorial Franco, partindo do centro dos territórios francos, situado entre o Reno e o Loire, com o seu sistema de servidão, tornou-se a forma de organização predominante nos séculos VII e VIII. O trabalho forçado dos servos, indispensável para a exploração das terras dos senhores (pars dominica), está estreitamente associado ao desenvolvimento social característico da época carolíngia: as relações de dependência e os vínculos pessoais aumentaram, as medidas legislativas que visavam contrariar esta propagação da privação de liberdade revelaram-se todas ineficazes, quando chegavam, sequer, a ser adotadas com uma intenção séria. A forma de dependência especificamente medieval agora em estruturação - a servidão - representava uma perda de estaturo para pessoas que antes eram livres. Pelo contrário, para os servi e mancipia, que haviam trabalhado antes como trabalhadores forçados, numa posição semelhante à dos escravos, esta nova forma significava uma ascensão à situação de semiliberdade."
(página 24)"
A massa de servos era dominada pelos poucos Nobres existentes. Como era constituída essa nobreza?
- você tinha aquela nobreza imperial inicial dos Francos (século VI)
- a ela somaram-se, nos séculos VII e VIII, os seguidores dos carolíngios, tornando-se cavaleiros por meio do serviço militar
"Esta classe nobre do Império Franco deu origem a uma pequena elite, na transição entre a Idade Média Arcaica e a Alta Idade Média, da qual surgiriam, mais tarde, as dinastias alemãs e francesas."
(página 24)
Na Idade Média Arcaica havia produção de bens artesanais (em mosteiros e nos senhorios). Mas também havia alguma produção destinada ao mercado. Exemplo: vidro, joias e cerâmica na região dos Rios Reno e Mosela (século VI).
De toda forma, é inegável que o comércio diminuiu dramaticamente durante a Idade Média Arcaica, principalmente no Mediterrâneo.
O sistema monetário estava prejudicado. A situação só melhorou no século VIII, com a utilização da moeda de prata no Império Carolíngio.
O REINO FRANCO E SEU DESENVOLVIMENTO POLÍTICO:
"Os Francos, quando comparados com todos os outros povos germânicos, foram extraordinariamente bem-sucedidos na constituição do Império a partir da Gália do norte."
(página 26)
Clóvis tomou o poder em 486, numa vitória sobre Siágrio, o último governador romano designado na Gália. A conversão de Clóvis ao cristianismo (498?) permitiu a fusão das elites galo-romanas e franca. Essa conversão trouxe estabilidade ao domínio exercido por Clóvis.
O Império Franco ganhou novos territórios com os filhos de Clóvis: a Turíngia (atual Alemanha) e a Borgonha no sul.
Em 558, Clotário I torna-se o rei de todos os Francos. "Clotário I conseguiu até reunir todo o reino merovíngio num reinado único, entre 558 e 561, contudo, o princípio da partilha da herança revelou-se mais forte."
(página 26)
Conflitos durante a era Merovíngia acarretaram na divisão do Império, com as constituição das seguintes partes: Austrásia, Nêustria e Borgonha. Essa divisão de poder acabou acarretando o surgimento de novas figuras, que conseguiram superar o poder do rei, denominadas Mordomo do Palácio - MAIOR DOMUS.
O mais conhecido desses mordomos foi Carlos Martel, "filho ilegítimo de Pepino, de Herstal, que conseguiu se impor, a partir de 716, como mordomo do palácio de todo o reino, vencendo uma resistência persistente. Concedia terras (na maior partes das vezes, propriedades da Igreja) aos seus seguidores como recompensa pelos serviços militares dos cavaleiros. Esta prática constituiu o requisito, a longo prazo, para o sistema feudal medieval e permitiu-lhe, a curto prazo, a vitória sobre os árabes, na batalha de Poitiers (732). Carlos Martel não salvou o Ocidente, como se afirma frequentemente, de forma simplista; mas com esta vitória conseguiu prestígio para a sua família, entre outras coisas fazendo-a ascender a um lugar de poder a nível europeu."
(página 28)
O filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, num ato formal, foi ungido Rei dos Francos, em 751. Tal solenidade só foi possível graças à associação de Pepino com a Igreja Romana. Para a Igreja Romana, também era vantajosa essa associação. Sobre isso, disse o Papa Zacarias:
"será melhor designar como rei aquele que detém realmente o poder."
(página 28)
O papado se valia dessa associação com os Francos para conseguir proteção contra os Lombardos, na Itália.
"Estes acordos significavam muito mais do que uma confirmação da passagem da dinastia dos merovíngios para os carolíngios; elas criaram as condições para a estreita coordenação existente entre o Império e a Igreja Católica na Alta Idade Média."
(página 28)
Em 800, Carlos Magno foi coroado Imperador em Roma, recebendo sua Coroa das mãos do próprio Papa.
A maior extensão do Império Carolíngio era a seguinte: estendia-se do rio Elba (atual Alemanha) até ao Atlântico, a oeste. Da costa do Mar do Norte até os Pireneus. Ainda tinha uma parte da Península Italiana, no sul.
Luís, o Piedoso, era filho de Carlos Magno. Ele se deparou com um problema: manter o Império intacto ou, após a sua morte, dividir o Império, segundo o direito de sangue, entre seus filhos.
O Império ainda tinha outros problemas:
-invasões de sarracenos e normandos (meados do século IX)
-influência crescente da Igreja em detrimento do poder do Imperador
-poder central não conseguia se fazer presente. a insegurança aumentava no reino
-vínculos estabelecidos por meio do feudalismo não eram suficientes para compensar a falta de um poder central, que era ausente, não possuindo uma administração eficiente
Todos esses problemas resultaram na repartição do Império, consubstanciado no Tratado de Verdun (843).
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS (PÁGINAS 19/29) DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS, EDIÇÕES 70, VÁRIOS AUTORES.
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