quinta-feira, 19 de março de 2020

Império Persa Por que nos odeiam? Assírios Medos Ecbátana Estíages Ciro Persas Dario Zoroastro



POR QUE NOS ODEIAM?

O grego Heródoto, na cidade de Helicarnasso, atual Bodrum na Turquia, perguntava: Por que eles (aqueles que vem do leste, os persas) nos odeiam? Teria sido a destruição de Troia, cidade localizada na Ásia Menor, atual Turquia?

"Seu nome era Heródoto. Na condição de um grego natural do que é hoje o resort turco de Bodrum, então conhecido como Halicarnasso, cresceu nas bordas da Ásia. Por que, perguntou-se, as populações do Ocidente e do Oriente têm tanta dificuldade de conviver em paz?"
(página 15)

No momento em que Heródoto se indagava, uma nova ameaça começava a surgir na Ásia, nas planícies do que é o hoje o sul do Irã. Ali uma tribo iria partir para a conquista que iria do Mar Egeu à Índia. 
Em 480 a.C., Xerxes, um dos chefes dessa tribo, era o homem mais poderoso do mundo e a Grécia era apenas o nome de um local geográfico, no qual havia uma série de cidades-estados que não se davam bem umas com as outras. 
Apesar dessa rivalidade, os gregos viam-se como um único povo, compartilhando uma mesma língua, uma mesma cultura.
O Império Persa (já não era apenas uma tribo do sul do atual Irã) já tinha abocanhado cidades gregas naquilo que hoje é a Turquia Ocidental. Mas os Persas queriam mais. Queriam a própria Grécia, que ficava na Europa. Em 480 a.C., os Persas reuniram a maior força expedicionário já reunida e com ela tentaram invadir a Grécia. Mas os gregos resistiram e a repeliram. 
Quarenta anos após essa tentativa Persa de invadir a Grécia, Heródoto, o personagem citado acima, foi buscar razões para toda essa violência. Por que nos odiavam, perguntava Heródoto, a ponto de nos invadir com tantos soldados? 
Na verdade, nas guerras entre Gregos e Persas havia muita coisa em jogo. Exemplo: o desenvolvimento da democracia ateniense não teria ocorrido sob a dominação de um rei estrangeiro. E mais ainda: se a Grécia tivesse sido dominada pelo Império Persa, talvez nem o Ocidente, como o conhecemos, iria existir.
Termópilas, Maratona, Salamina ajudaram na criação do mito-fundador da Civilização Europeia.
O Império Persa, por sua vez, criou um Estado multiétnico, multicultural, que se estendia do Mar Egeu à Índia, dividindo para governar e garantindo a paz e a ordem para quem se deixasse submeter. 
Esse Império Persa foi paradigma para os próximos impérios que viriam a sucedê-lo, inclusive o Islâmico.

ESTRADA KHORASANIANA:

A estrada Khorasaniana transpunha a cadeia de Montanhas denominada ZAGROS. Essa cadeia montanhosa Zagros, por sua vez, separava duas regiões: na parte oeste, ficava a Mesopotâmia (atual Iraque). Na sua parte leste, ficava o Planalto iraniano (atual Irã).
Essa estrada, portanto, ligava a região do Crescente Fértil com o Irã e além dele (Afeganistão, etc)

ASSÍRIOS:

Era um povo guerreiro. Era um império comandado por reis guerreiros. Seus reis tinham que viver lutando, liderando seus homens na busca de novos territórios. A Civilização assíria tinha canais de irrigação, palácios e jardins. Vivia no que é hoje o norte do Iraque. Era uma civilização orgulhosa e sedenta por conquistas. Chegaram ao Egito mas queriam mais. Os assírios deslocavam populações inteiras de um lado para o outro; populações derrotadas que saíam de suas casas e eram realocadas em áreas desabitadas, de onde outras populações, também derrotadas pelos Assírios, já tinham sido realocadas em outra área. Assim, as populações derrotadas perdiam suas raízes. Suas principais cidades eram Nínive, Assur. A Assíria, regularmente, fazia expedições nas Montanhas Zagros para capturar membros de tribos locais, tornando-os escravos. Havia também incursões punitivas, para demover essas tribos que viviam nas Zagros de efetuarem ataques furtivos em cidades Assírias. Essas tribos também eram obrigadas a se submeter ao poder Assírio, pagando tributos na forma de cavalos, que iam para o exército Assírio (século VIII a.C.) Mas essas tribos começaram a se unir como forma de enfrentar os Assírios. As Montanhas Zagros ficaram mais arriscadas para as incursões dos Assírios em busca de escravos, em expedições punitivas ou para cobrar tributos.

ARYA - ARIANOS:

Povos nômades vindos das estepes do leste (Ásia Central). Da Ásia Central foram para as Montanhas Zagros.
Havia nas Montanhas Zagros tribos que se autodenominavam de ARYA (arianos). Arya significa nobre. Eram hábeis domadores de cavalos. Eram originalmente nômades. Com o tempo, tornaram-se sedentários, criando cidades.
Os Medos eram uma confederação de tribos arianas que residiam ao longo da Estrada Khorasaniana. Essa união tribal foi uma necessidade. Era necessária para fazer frente aos ataques assírios. E de uma defesa passou para o ataque. Os Medos passaram a atacar os Assírios. Nínive foi invadida e devastada (615 a.C. 612 a.C. - século VII). Os antigos algozes se tornaram vítimas. 

"um número infinito de mortos - eles avançavam pisando nos corpos."
(página 33)

Em 608 a.C., a grandiosidade da Assíria ficou para trás. No seu lugar entrou os Medos

A MÉDIA (MEDOS):

Essa nova força ficou com grande parte do espólio assírio. Seus reis eram meramente chefetes militares provisórios até alcançarem o status de terem derrotado os assírios. A Média emulou o comportamento dos assírios, passando a invadir áreas contíguas ao seu território. Daqui por diante, a Média iria invadir o norte da Síria e a Lídia (atual Turquia). Em 585 a.C., Astíages, rei dos Medos, fez um acordo com o rei da Lídia, estabelecendo a fronteira oeste de seu império no rio Hális.
A capital do reino Médio ficava em Ecbátana, que se localizava na Estrada Khorasaniana, no final da subida das Montanhas Zagros, antes do Planalto Iraniano. No controle dessa cidade, os Medos controlavam o comércio entre leste e oeste.

PERSAS: 

Os Medos superaram os Assírios. Agora os Persas iriam superar os Medos.
Medos e Persas eram arianos. Os Medos, ao olharem para os Persas, poderiam contemplar o seu próprio passado, formada por uma confederação de Clãs, um povo nômade, que eram excelentes cavaleiros.
Persas: Não se sabe se eram os mesmos, mas de toda forma, uma região que hoje situa-se no sul do Irã (costa do Golfo Pérsico), adotou o nome de Paarsa/Pérsia, a terra dos Persas. Essa nova tribo ariana, instalada na Paarsa, tinha já guerreado com os assírios no ano de 843 a.C..
O reino de Ciro, no início, era apenas um vassalo dos Medos. Na visão de Astíages, a Pérsia era um reino atrasado e que não lhe ameaçava. E foi por pensar assim que Astíages casou sua filha com o príncipe Persa. Astíages casou sua filha, Mandane, com o príncipe de um reino atrasado porque, num sonho, viu sua filha urinando sem parar, até causar a inundação do Reino da Média. O sonho foi interpretado como um alerta ao rei dos Medos, nos seguintes termos: qualquer filho de Mandane colocaria em risco o seu reino. Por esse motivo, Astíages se precaveu, da forma dele, casando sua filha com o príncipe de um reino sem importância.
Mas os sonhos não pararam por aí. Num segundo sonho, Astíages viu uma árvore crescendo por entre as pernas de sua filha. Essa árvore do sonho crescia sem parar, até cobrir toda a Ásia. Aterrorizado com essa visão, Astíages ordenou que o filho de Mandame fosse assassinado. 

"Como invariavelmente acontece nessas histórias, desobedeceram-lhe. Abandonado na encosta de uma montanha, o bebê foi encontrado e criado por um pastor; ou, talvez, dizem alguns, por um bandoleiro, ou quem sabe, até mesmo uma cadela, com as tetas, bem a propósito, transbordando de leite."
(página 34)

Enfim, esse bebê cresceria e tomaria o trono da Persa para si. E o nome desse bebê era Ciro. Independentemente de tais histórias serem verdadeiras ou não, a realidade é que os Persas derrotaram os Medos no campo de batalha.
Na Ásia era normal essa sucessão de reinos e impérios. Era uma selva onde o predador de hoje poderia ser o presa de amanhã. E a presa de ontem poderia se tornar o predador de hoje.

CIRO:

Em 559 a.C., Ciro sobe no Trono Persa. Ciro tornou-se líder dos Persas por ser o chefe da principal tribo, os AQUEMÊNIDAS (cidade de Pasárgada)
Em 550 a.C., Ciro derrota o rei dos Medos, Astíages. A vitória de Ciro contou com a ajuda de Harpago, comandante do exército de Astíages. Harpago traiu seu rei. 
O reino persa de Ciro tinha uma Corte, mas os persas não haviam se assentado completamente. Traziam ainda consigo muito daquilo que caracterizavam seus ancestrais que viveram nas estepes do Leste (cavaleiros em constante movimento em busca das melhores pastagens para os seus rebanhos).
Ciro tratou bem os derrotados Medos. Astíages passou a receber uma pensão. Ecbátana não foi destruída. Esse tipo de comportamento de Ciro trouxe os Medos para o seu lado. A partir de 550 a.C., os Persas mergulharam de cabeça na expansão de seu Império. Ao avançar para o oeste, Ciro derrotou o rei da Lídia, Creso. Ciro então entrou na capital da Lídia, Sardes, que ficava a três dias de jornada do mar Egeu (547 a.C.). Na sequência, Ciro alcançou o litoral do Mar Egeu, na Ásia Menor, atual Turquia. Cidades jônias do litoral foram conquistadas.
Com a Ásia Menor conquistada, Ciro voltou seus olhos para o Leste. Como um ariano, Ciro sabia o perigo representado pelas tribos nômades que viviam no Leste. Era necessário proteger o Planalto Iraniano e ir além, se possível. 

IMPÉRIO PERSA - EXPANSÃO PARA O LESTE:

A expansão para o leste foi exitosa. A Pérsia seria protegida pelas incursões da tribos nômades por meio de um arco que ia do Mar de Aral ao Indocuche (Indo-Kush), abrangendo a região da Sogdiana (atual Usbequistão) e a Bactriana (Gandara, Afeganistão, Paquistão). A expansão de Ciro parou no rio Jaxartes (Syr Daria). 

"Ciro, atravessando a monotonia das estepes, certamente não tinha a intenção de prosseguir até mais longe."
(página 44)

Estabelecida sua fronteira oriental, Ciro voltou seus olhos para o atual sul do Iraque. 

"as ricas terras planas do que é agora o sul do Iraque, indo da Assíria até o Golfo Pérsico, uma região de esplêndidas cidades, desde o alvorecer dos tempos."
(página 44)

O sul do Iraque foi conquistado por Ciro, sem maiores percalços. 
Ciro morreu no ano de 529 a.C..

"Nenhuma Império jamais for erguido em tais bases. Nenhum conquistador jamais praticara tanto e em tal extensão a clemência. Foi essa a genialidade de Ciro."
(página 46)

SUCESSÃO DE CIRO:

Ciro morreu. Quem iria sucedê-lo? Isso era um problema. Ele tinha 3 filhas e dois filhos. As filhas não eram o problema. Os filhos eram o problema: Cambises e Bardiya
Em vida, Ciro fez de Cambises um príncipe e de Bardiya governador da Báctria. Após a morte de Ciro, seus filhos acertaram um pacto entre si. Bardiya ficaria com a província de Báctria, enquanto Cambises seria o rei, sucedendo a seu pai. 
Com tudo acertado entre os irmãos, Cambises deu início à sua série de conquistas. A primeiras delas foi o Egito. Cambises tornou-se Faraó do Egito. Ele procurava mostrar respeito pela religião e pelos costumes egípcios. Com Cambises no Egito, a área central do Império Persa, no atual Irã, ficou acéfala. E quem dominasse a área central da Pérsia, dominaria o Império. Assim, na ausência de Cambises, nobres persas começaram a conspirar contra ele. Queriam fazer de Bardiya o novo Imperador. Esses nobres estavam cansados do jeito de governar de Cambises, que segundo eles era autoritário. Bardiya então deu início ao plano para derrubar o seu irmão (522 a.C.).

MORTE DE CAMBISES. ASCENSÃO DE DARIO:

Ao saber das tramas armadas contra ele, Cambises preparou um exército e deu início à sua marcha para o centro do seu Império, no atual Irã. Mas no caminho Cambises sofreu um acidente e morreu. Com a morte de Cambises, Bardiya tornou-se Imperador do Império Persa por direito e de fato. Mas seu reinado duraria pouco. Bardiya, para arrecadar dinheiro para o Tesouro Persa, confiscou os bens dos nobres que acompanhavam Cambises em sua marcha do Egito para o Irã. Entre os nobres expropriados em seus bens estava um sujeito que atendia pelo nome de DARIO. Dario teve o mérito de reunir em torno de si outros nobres que também tinham sido expropriados por Bardiya. 

"Dario era um primo distante do rei, (...), tinha apenas 28 anos."
(página 52)

"Dario era o carregador de lança de Cambises."
(página 52 )

"Assim, o título do jovem Dario, longe de implicar uma condição servil, era uma honra esplêndida e prestigiosa. O status na corte persa era conferido exclusivamente pela proximidade em relação à pessoa real."
(página 52)

Dario também era do clã Aquemênida, a mesma de Ciro. 
Enfim, Dario assumiria o comando do Regicídio (novembro de 522 a.C.) que acabaria por matar Bardiya e que o colocaria no trono persa.
No período de 1 anos, os dois filhos de Ciro estavam mortos.
Os Regicidas esconderam-se atrás da história dizendo que o verdadeiro Bardiya já estaria morto há muito tempo. Teria sido morto pelo próprio Cambises. O homem que agora estava no trono da Pérsia era um impostor, se fazendo passar pela figura de Bardiya, por meio da magia. Ninguém na Pérsia ousou contraditar essa história, com medo de sofrer represálias.
Com essa história, os conspiradores não seriam vistos como regicidas, mas como aqueles que livraram o trono da Pérsia de um impostor.
E isso não era pouca coisa, pois manter um impostor no Trono da Pérsia colocaria em perigo a própria existência do cosmos, do Universo.

ZOROASTRISMO E A ASCENSÃO DE DARIO AO TRONO PERSA:

Os persas acreditavam que o Deus Ahura Mazda, ao criar o Universo, tinha criado ARTA, a verdade, e Drauga, a mentira. Verdade e Mentira estavam em constante conflito. A Verdade era quem garantia a ordem no funcionamento do Universo, que por sua vez garantia a existência da vida. Já Drauga, representante da Mentira, era o caos, a desordem. 
Os conspiradores então tinham tirado um mentiroso do trono persa, um mago que se fazia passar por Bardiya. Com isso, Dario e seus amigos tinham restaurado a verdade e, por tabela, a ordem no Universo.
Por fim, Dario, como líder da conspiração e na ausência de um outro nome, assumiu o trono persa.

ZOROASTRO:

Zoroastro era o profeta do povo ariano (medos, persas, etc). Via o mundo como um palco no qual as forças do mal e do bem estavam em constante luta. A verdade (bem) e a mentira (mal) estavam em constante luta. 
Essa luta alcançaria um momento final com a vitória da verdade sobre toda a falsidade, sob o olhar do Deus Ahura Mazda, estabelecendo na Terra um reino de Paz. Ainda segundo os ensinamentos de Zoroastro, a VERDADE era representada pelas chamas do fogo, que se fazia acompanhar pela fumaça negra, que representava a mentira (drauga), representando assim a eterna briga entre a verdade e a mentira. 
Dario, buscando unir seu poder à religião (Zoroastrismo), construiu templos consagrados ao fogo. Dario, de fato, sendo um regicida e um golpista, buscou legitimar seu poder com o auxílio da religião. Dario não era filho de Ciro, por isso usava a religião para forçar a ideia de que seria pelo menos o representante na terra do Deus Ahura Mazda. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "FOGO PERSA", O primeiro Império Mundial e a Batalha pelo Ocidente. Tom Holland, Editora Record, páginas 13/63)


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