domingo, 2 de maio de 2021

1939/1940 Dilema da Grã-Bretanha Declarar ou não Guerra à URSS





DILEMA INGLÊS:

Diante do Pacto Ribbentrop-Molotov (Nazi-Soviético) de 23 de agosto de 1939 e da invasão russa à Finlândia (final de novembro de 1939 até março de 1940), a Grã-Bretanha se viu diante de um dilema: declarar ou não guerra à URSS.

Naquele momento, a Grã-Bretanha se via em meio a sentimentos que iam do medo dos motivos ocultos que tinham animado a URSS a fazer um acordo com a Alemanha nazista ao receio de jogar a Stalin de vez no colo de Hitler.

ALEMANHA NAZISTA E URSS, DUAS DITADURAS SEDENTAS POR CONQUISTAS, QUE NÃO RESPEITAVAM A SOBERANIA DOS PAÍSES QUE LHE FAZIAM FRONTEIRA:

1/09/1939: A Alemanha invade a porção oeste da Polônia

17/09/1939: A URSS invade a parte leste da Polônia

Novembro de 1939: A URSS invade a Finlândia, naquilo que ficaria conhecido como a Guerra de Inverno

O QUE DEVERIA FAZER A GRÃ-BRETANHA DIANTE DAS INVASÕES DA URSS À POLÔNIA E À FINLÂNDIA?

Diante da invasão russa à Polônia e à Finlândia, deveria a Grã-Bretanha declarar guerra à URSS, como fizera em relação à Alemanha, quando esta invadiu a Polônia?

OS INGLESES TINHAM SE PRECAVIDO QUANTO A UMA INVASÃO RUSSA À POLÔNIA:

Com o Pacto Nazi-Soviético os ingleses já conjecturavam uma invasão russa à Polônia. Com isso em mente, os britânicos, quando celebraram o Tratado de Mútua Assistência com a Polônia, em agosto de 1939, ficou estabelecido que a Grã-Bretanha socorreria a Polônia caso esta fosse atacada por uma Potência Estrangeira. A pegadinha inglesa foi consignada por meio de um protocolo secreto, que definia essa Potência Estrangeira como sendo unicamente a Alemanha Nazista. Assim, a Polônia só seria socorrida pela Grã-Bretanha no caso de um ataque alemão, o que de fato aconteceu, quando os ingleses declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro de 1939. Com relação a uma agressão da URSS à Polônia, a Grã-Bretanha não tinha nenhuma obrigação a cumprir. Neste caso haveria somente uma mútua consulta para se definir qual resposta seria dada. (página 172) 

Como a história mostrou, nenhuma resposta foi dada e a URSS pôde tranquilamente anexar o leste da Polônia ao seu território. 

A GRÃ-BRETANHA NÃO ESTAVA DISPOSTA A ENTRAR NUMA GUERRA CONTRA A URSS:

Os ingleses ficaram chocados com o Pacto Nazi-Soviético, mas tinham a esperança que ele fosse de curto prazo. A Grã-Bretanha via no Pacto Nazi-Soviético um arranjo cínico, de curto prazo, entre inimigos ideologicamente opostos. Seria um arranjo antinatural. de forma que seria temporário.

A Grã-Bretanha via a necessidade de manter um canal de diálogo aberto com a URSS. A Grã-Bretanha não estava "disposta a desfazer um vínculo potencialmente vital com a União Soviética, transformando-a de forma prematura em inimiga." (página 168)

MANEIRA ENCONTRADA PELA GRÃ-BRETANHA PARA MANTER ABERTA UM CANAL DE DIÁLOGO COM A URSS:

A Grã-Bretanha viu no comércio uma forma de manter um canal de diálogo aberto com a URSS.

"Na primeira semana de outubro (1939), firmou-se um acordo para trocar madeira soviética no valor de um milhão de libras esterlinas por borracha e estanho." (página 172)

Até Churchill procurou minimizar o fato da URSS ter violado da soberania da Polônia. Churchill disse que atitude da URSS se justificava pelo fato dela ter agido para se proteger diante da expansão nazista pelo oeste da Polônia. (página 173)

"Longe de ser criticas, Churchill foi conciliatório, tão tolerante com seu potencial aliado soviético como contundente com seu inimigo alemão. " (página 173)

A Rússia, concluiu então Churchill, era "uma charada, envolta em mistério, dentro de um enigma." (página 173)

ALTERNATIVA À DECLARAÇÃO DE UMA GUERRA CONTRA A URSS:

A Grã-Bretanha não iria declarar guerra à URSS, mas nem por isso ficaria totalmente passiva. A Grã-Bretanha passou então a trabalhar para estorvar o comércio internacional soviético. Essa política tinha dois objetivos: 

A) Pressionar a URSS, mostrando que seu acordo com a Alemanha iria lhe trazer problemas

B) impedir que matérias-primas vitais chegassem à Alemanha via URSS. 

"Foi assim que autoridades britânicas começaram a interceptar e deter navios soviéticos, como o Selenga, parado em Hong Kong, em janeiro de 1940 com um carregamento de tungstênio, antimônio e estanho a caminho de Vladivostok." (página 174)

INVASÃO DA URSS À FINLÂNDIA (GUERRA DE INVERNO: NOVEMBRO DE 1939 A MARÇO DE 1940)

Com a invasão da URSS à Finlândia, voltou-se a especular sobre os méritos e deméritos de uma declaração de guerra da Grã-Bretanha à URSS. 

A Grã-Bretanha estava realmente diante de um dilema que a atormentava: declarar ou não guerra à URSS. O caso da Polônia tinha sido resolvido. Mas agora os ingleses de deparavam com uma nova agressão soviética, contra um país pequeno, a Finlândia. 

E não se tratava apenas da URSS. Buscava-se também, por meio de uma ataque à URSS, atingir a sua aliada, a Alemanha Nazista.

Cogitou-se de um ataque a Baku (Operação Pike), localizada no Cáucaso, que era responsável por 75% do petróleo produzido pela URSS. França e Grã-Bretanha estavam de acordo. Um avião britânico chegou a sobrevoar o Cáucaso russo para mapear a área que deveria ser bombardeada. 

"No fim de 1939, a ideia de bombardear Baku já circulava pelos governos britânicos e francês havia algum tempo, mas, com a vitória soviética contra os finlandeses na Guerra de Inverno em março de 1940, ganhou novo impulso. No começo do ano, um relatório do Estado-Maior da Força Aérea Britânica sugeriu que bastava um punhado de bombardeiros para mutilar a indústria petrolífera soviética, atingindo, dessa forma, a produção militar de Hitler. No início de 1940, o Gabinete de Guerra aprovou devidamente a construção dos necessários campos de aviação na Turquia e, dentro de um mês, um Lockheed Electra modificado, pertencente à Unidade de Processamento Fotográfico da RAF em Heston, fez duas incursões, a partir de Habbaniya no Iraque, para realizar voos de reconhecimento fotográfico de alvos." (página 176)

No fim, tudo ficou no plano da cogitação. Com a invasão alemã à França em maio de 1940, o plano foi abandonado. 

NO FIM OS INGLESES SE DERAM CONTA DE QUE NÃO IRIAM AUFERIR NENHUMA VANTAGEM DECLARANDO GUERRA À URSS:

Definitivamente não seria vantajoso para a Grã-Bretanha declarar uma guerra à URSS. No caso da declaração de uma guerra, a Grã-Bretanha poderia reforçar ainda mais a aliança entre a URSS e a Alemanha. 

"Em geral, dava-se ao proposto ataque à União Soviética a justificativa mais ampla de interromper as relações de Stalin com Hitler, mas a ideia de que esse ataque pudesse ter o efeito contrário, e na verdade viesse a fortalecer a conexão Berlim-Moscou, parece não ter sido levantada." (página 179)

Ou poderia ocorrer um cenário mais tenebroso: 

Um ataque inglês à União Soviética (Operação Pike, o bombardeamento do campo petrolífero em Baku) acabaria por enfraquecê-la, abrindo caminho então para uma invasão alemã à URSS. O leste então estaria aberto para o avanço alemão. 👉👉 "Nesse caso, o mais provável beneficiário teria sido, não as Potências Ocidentais, mais Hitler, que ficaria livre para marchar para o leste sem encontrar resistência, e assumir ele próprio o controle daqueles mesmos campos petrolíferos do Cáucaso." (página 179)

Os ingleses fizeram bem em esperar desenrolar dos acontecimentos. Em 22 de junho de 1941, com a invasão alemã à URSS (Operação Barborossa), os soviéticos foram em busca de uma aliança com a Grã-Bretanha. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O PACTO DO DIABO, A ALIANÇA DE HITLER COM STALIN, 1939-1941, DE ROGER MOORHOUSE, EDITORA OBJETIVA.



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