quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A Família de Hitler O Surgimento da Grafia Hitler Dúvida sobre o Avô Paterno de Hitler



 

AS ORIGENS DA FAMÍLIA DE ADOLF HITLER:



No ano de 1837, uma criada solteira, MARIA ANNA SCHICKLGRUBER, aos 42 anos de idade, filha de um pequeno fazendeiro, na região agrícola de Waldviertel, aldeia Strones, em Dollersheim, na Áustria, fronteira com a Boêmia, deu à luz ALOIS SCHICKLGRUBER.

Alois Schicklgruber era um bastardo, um filho ilegítimo. Na sua certidão de nascimento, não constava o nome de seu pai.

Em 1842, Maria Anna Schicklgruber casou-se com o moleiro JOHANN GEORG HIEDLER, à época com 50 anos de idade. Alois, por sua vez, não foi morar com Maria Anna e Johann Georg. 

Alois foi morar com JOHANN NEPOMUK HUTTLER, irmão de Johann Georg Hiedler. Johann Nepomuk Huttler era um fazendeiro bem situado na cidade de Spital. Os historiadores chegaram a supor que o casal Maria Ana Schicklgruber e Johann Georg Hiedler, por ser pobre, preferiu deixar Alois com o tio mais bem de vida. Johann Nepomuk cuidou de Alois como se fosse seu filho.

A mãe de Alois, Maria Anna, faleceu em 1847. 

Obs.: O patronímico Hiedler de Johann Nepomuk era grafado como Huttler. Naquela época não se dava muita atenção às grafias dos nomes. O mesmo aconteceria com a grafia Hitler, que veremos mais adiante.

A IDENTIDADE DO AVÔ PATERNO DE HITLER CONTINUA INCERTA:

Alguns historiadores dizem que o verdadeiro pai de Alois, isto é, o avô paterno de Hitler, foi o fazendeiro Johann Nepomuk Huttler.

Essa posicionamento nasceu das dúvidas que surgiram em razão da forma como Johann Nepomuk refez a certidão de nascimento de Alois no ano de 1876

Se Johann Georg Hiedler era o pai de Alois, como registrado por seu irmão em 1876, por que ele não o reconheceu quando de seu casamento com Maria Anna Schicklgruber em 1842? 

Por que Johann Georg Hiedler deixou que Alois fosse criado na casa de seu irmão Johann Nepomuk?

A leitura oficial do Terceiro Reich dizia que o Johann Georg Hiedler era o avô de Hitler.

ALOIS SCHICKLGRUBER/HITLER:



Alois cresceu. Foi sapateiro em Viena e, em 1855, decidiu abandonar sua profissão para seguir uma carreira de Estado, servindo à Monarquia Habsburgo, governante do Império Austro-Húngaro. 

Em 1875 Alois foi promovido para Oficial de Alfândega na cidade de Braunau. 

A REVIRAVOLTA NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE ALOIS SCHICKLGRUBER - O SURGIMENTO DA GRAFIA HITLER:

Em 1876 aconteceu uma reviravolta na certidão de nascimento de Alois Schicklgruber. Por iniciativa de Johann Nepomuk Huttler, no espaço reservado ao nome do pai de Alois Schicklgruber foi inserido o nome de Johann Georg Hiedler, falecido há 19 anos, de forma que Alois Schicklgruber deixava de ser um filho ilegítimo. 

Mas não foi só isso que foi mudado na certidão de nascimento de Alois Schicklgruber.

Primeiro, o patronímico Schicklgruber foi retirado do registro de Alois

Segundo, o patronímico Hiedler teve sua grafia modificada para HITLER.

"...naquela época provavelmente não se dava muita atenção à grafia dos nomes." (página 4)

A VIDA PROFISSIONAL E AMOROSA DE ALOIS HITLER:

"Por fora, Alois Hitler, como ele passou a se chamar, desempenhou o papel de funcionário modelo. Um ex-colega de Braunau o descreveu como uma pessoa antipática, que seguia de modo pedante o regulamento dos funcionários, vivia isolado e não cultivava vínculos sociais." (página 5)

"Sua vida amorosa era extremamente instável." (página 5)

Alois se casou várias vezes. Primeiro, com Anna Glasl. Divorciou-se dela. Depois Alois começou a namorar uma garçonete, Franziska Matzelsberger, com a qual teria dois filhos, um ilegítimo, Alois, em 1881, e outro legítimo, Ângela, em 1883. Neste mesmo ano de 1883, Alois e Franziska se casaram. 



A alegria não durou. 

Ainda em 1883, Franziska adoeceu, descobriu uma tuberculose. Enquanto Franziska sofria com a tuberculose, Alois se engraçou com Klara Polzl, "...que já havia trabalhado para ele como empregada doméstica e fora recontratada para ser governanta d seus dois filhos, Alois e Ângela." (página 5)



Klara Polzl era 23 anos mais nova do que Alois. Era "...filha de um pequeno agricultor, Johann Baptist Polzl e de sua esposa Johanna, que por sua vez era uma das filhas de Johann Nepomuk Hutter.

AQUELE ERA UM MUNDO PEQUENO: KLARA POLZL PODERIA SER PRIMA EM SEGUNDO GRAU DE ALOIS HITLER OU PODERIA SER SUA SOBRINHA:

Aquele era um mundo pequeno. Um tio poderia se casar com a sua sobrinha. Primos em segundo grau poderiam se casar.

Alois Hitler começou a namorar a sua empregada, Klara Polzl, que era simplesmente a neta de seu tio Johann Nepomuk Hutter. 

Sendo a neta de Johann Nepomuk Hutter, então Alois estaria namorando sua prima em segundo grau. 

Ou, pior ainda, segundo o entendimento de alguns historiadores, Johann Nepomuk Hutter seria o verdadeiro pai de Alois Hitler. Neste caso, Alois Hitler estaria então namorando a sua sobrinha. Um tio namorando com a sua sobrinha.

Apesar disso, Alois Hitler, depois da morte de sua segunda esposa, Franziska, em 1884, conseguiu a permissão da Igreja Católica para se casar com Klara Polzl. O casamento de Alois, então com 51 anos, e Klara, então com 28 anos, ocorreu em 1885.

No início, Alois Hitler e Klara Polzl tiveram três filhos, Gustav (1885), Ida (1886) e Otto (1887), que faleceram precocemente. 

Mas em 20 de abril de 1889, Klara Polzl deu à luz um menino que iria sobreviver até 30 de abril de 1945. O nome dele: Adolf Hitler.



Alois e Klara ainda teriam mais dois filhos, Edmund, que morreu com sarampo, e Paula, nascida em 1896. 



A FAMÍLIA DE ADOLF HITLER:

A família de Adolf Hitler era composta pelo seu pai Alois e pela sua mãe Klara. Tinha ainda seus dois meio- irmãos Ângela e Alois, filhos de Alois com Franziska. Hitler ainda morava com sua irmã Paula. Havia ainda a irmã de Klara, Johanna Polzl, chamada de 'Tia Hanni', que era corcunda e com um leve retardo mental.

Tratava-se de uma família padrão de classe média abastada. 

"Nesse círculo familiar, Alois Hitler atuava como um pai de família severo e facilmente irritável. Ele exigia de seus filhos obediência irrestrita e respeito incondicional, e, quando estes não cumpriam com suas exigências, ele não pensava duas vezes antes de pegar a vara de marmelo." (página 8)

Klara fazia o contraponto de seu marido:

"Klara era uma mulher humilde, tranquila e obediente, que suportava sem reclamar os arroubos autocráticos de seu marido..." (página 8)

ADOLF HITLER ERA O FILHO MIMADO:

Adolf Hitler era mimado pela sua mãe Klara. 

"A morte precoce de seus três primeiros filhos foi uma perda amarga para ela. Por isso, sempre tentou cercar seu quarto filho, Adolf, com amor e cuidados, enquanto seus dois enteados Alois e Ângela às vezes se sentiam negligenciados." (página 8)

" 'Ele (Adolf Hitler) era mimado desde as primeiras horas da manhã até tarde da noite', declarou William Patrick Hitler, o filho de Alois Jr., em setembro de 1943, em Nova Iorque." (página 9)

HITLER AMAVA SUA MÃE:

Hitler sempre falou de sua mãe com amor (página 9). 

"Anos mais tarde, ele (Adolf Hitler) ainda carregava consigo uma pequena foto de Klara Polzl, dentro da bolsinha de seu paletó." (página 9)

"E um retrato da mãe, pintado a óleo, foi um dos poucos objetos pessoais que Hitler manteve em seu quarto até o fim." (página 9)

A mãe de Adolf Hitler, Klara Polzl, faleceu no dia 21 de dezembro de 1907. Ela tinha 47 anos de idade.

Já o pai de Adolf Hitler, Alois Hitler, faleceu quatro anos antes, em 1903, aos 65 anos de idade.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO ADOLF HITLER, OS ANOS DE ASCENSÃO, 1889-1939, VOLKER ULLRICH, EDITORA AMARILYS



sábado, 20 de fevereiro de 2021

Peste Negra Origem



ORIGEM E RAZÕES DA DISSEMINAÇÃO DA PESTE NEGRA DA ÁSIA CENTRAL PARA A EUROPA, CHINA, ÍNDIA, EGITO E ORIENTE MÉDIO:

A Peste Negra surgiu na Ásia Central, entre a Mongólia (planalto da Mongólia, na região do deserto de Gobi) e o Quirguistão (lato Issyk Kul, perto da fronteiro noroeste da China).

Estas são regiões ainda hoje remotas. O bacilo Y. pestis da Peste Negra, portanto, poderia ter ficando confinado e restringido nessas regiões, caso não existisse no século XIV um processo de globalização já em gestação.

Com efeito, com a ascensão do Império Mongol a partir do século XIII, houve uma pacificação e unificação da Ásia Central, permitindo um crescimento do comércio e das viagens, "....facilitando o crescimento de três atividades que continuam a ter um papel importante na disseminação das doenças infecciosas: o comércio, as viagens e as comunicações mais amplas e eficientes." (página 14)

"Uma doença é mais que meramente um agente patogênico acrescido de um sistema de transporte." (página 65)

"...é fácil imaginar de que forma mudanças políticas e econômicas, como a ascensão do Império Mongol e o desenvolvimento da nascente economia global, teriam possibilitado que o Y. Pestis (Peste Negra) superasse enormes distâncias, populações escassas e outras barreiras que o haviam mantido preso no isolamento da Ásia Central por vários séculos. Depois de unificar a fragmentária estepe sob uma 'Pax Mongolica', os tártaros lançaram diversas redes de comunicação interconectadas por sobre as vastas pradarias abertas na Ásia e da Rússia..." (página 60)

Como exemplo dessa globalização já presente no século XIV podemos citar como exemplo o porto de Caffa, atual Teodósia, localizada na Península da Crimeia. O porto de Caffa era uma concessão do Império Mongol para os comerciantes de Gênova. 

"...entre 70 mil e 80 mil pessoas caminhavam pelas ruas estreitas de Caffa, e uma duzia de línguas diferentes ecoava por seus mercados ruidosos." (página 20)

Pelo porto de Caffa passavam "sedas de merdacaxi da Ásia Central, esturjões do rio Don, escravos da Ucrânia e lenha e peles das grandes florestas russas ao norte. Avaliando Caffa em 1340, um visitante muçulmano declarou que era uma cidade distinta, 'de belos mercados, com um precioso porto em que vi duzentos navios grandes e pequenos' " (página 20)

TRANSMISSOR DA PESTE NEGRA:

O principal transmissor da Peste Negra para o ser humano é a pulga que usa um roedor como hospedeiro. A pulga mais comum que faz isso é a Xenopsylla Cheopis, que é a pulga do rato preto, o Rattus rattus. 

SINTOMAS:

O sintoma mais comum da Peste Negra era o Bubão ovalado. Depois de entrar na pele humana pela picada da pulga, os bacilos da Y. Pestis se multiplicam, formando um inchaço dolorido. 

DIMENSÃO DA TRAGÉDIA:

"O percentual da mortandade mais amplamente aceito é de 33%. Em números simples, isso vale dizer que entre 1347, quando a peste chegou à Sicília, na atual Itália, e 1352, quando surgiu nas planícies russas de Moscou, o continente perdeu 25 milhões de seus 75 milhões de habitantes." (página 28)

DESLOCAMENTO DA PESTE NEGRA:

Como já dito acima, a peste negra surgiu em algum lugar entre a Mongólia e o Quirguistão. No ano de 1339, ela já teria feito suas primeiras vítimas na região do lago Issyk Kul, no Quirguistão. Daí a peste seguiu para leste (China) e para o oeste. Pelo oeste, passou por Belasagun, um ponto de descanso e troca de cavalos para os cavaleiros que integravam uma espécie de Correio mongol, cruzando as estepes levando correspondências e mensagens. Depois a peste chegou na cidade de Samarcanda, no atual Usbequistão, um importante centro comercial da Ásia Central. Em 1346, a peste chegou à margem ocidental do Mar Cáspio, na cidade de Sarai, capital da Horda Dourada Mongol e importante centro de comércio escravo das estepes. A peste continuou a sua viagem, ultrapassando os rios Volga e Don, chegando então à península da Crimeia, no porto genovês de Caffa. E de Caffa a peste se espalhou para a Sicília e da Sicília para o resto da Europa.

"Caffa quase certamente não foi o único porto do leste que a peste atravessou em seu caminho para a Europa, mas, para a geração que vivenciou a peste negra, ela seria para sempre o lugar onde se originara a pestilência, e os genoveses, o povo que levara a doença para a Europa." (página 28/29)

ORIGEM DO NOME:

"...a aplicação da expressão peste negra à peste medieval nasceu de um antigo equívoco histórico. Em 1631, um historiador chamado Johannes Isaacus Pontanus, talvez pensando no uso que Sêneca faz do termo latino para a peste negra - Arta Mors - para descrever um surto de uma doença epidêmica em Roma, alegou que a expressão teria sido comum durante a mortandade do século XIV." (página 43)

Na realidade, a geração que vivenciou a tragédia sanitária do século XIV não chamava a peste de peste negra. Usava a expressão Grande Morte ou ainda Grande Mortandade (página 43)

DESCOBRIDOR DO BACILO RESPONSÁVEL PELA PESTE NEGRA:

Foi o cientista suíço Alexandre Yersin quem descobriu que a peste negra era causada pelo bacilo Yersinia Pestis (Y. Pestis). No final do século XIX um novo surto da peste negra acometeu a China e a Índia. Alexandre Yersin foi um dos cientistas chamados para pesquisar o agente patogênico causador da peste. E em 1894, Alexandre descobriu o bacilo responsável pela peste, dando a ele seu nome: Yersinia Pestis. 

FLAGELANTES E ANTISSEMITISMO:

Com a peste negra ressurgiu a perseguição aos judeus. os bodes expiatórios preferidos em momentos de crise. Acusava-se os judeus de terem espalhado a peste pela Europa. Em 1349, em Basel, seus moradores queimaram os judeus numa ilha no rio Reno. Em Estrasburgo, na atual França, os judeus locais foram levados a um cemitério onde foram assassinados. 

As pessoas do século XIV queriam respostas para aquela mortandade sem fim. Numa época extremamente religiosa, a resposta mais comum era a de que a peste negra era um castigo de Deus para punir os pecados da humanidade. Daí o surgimento dos Flagelantes, que "acreditavam na ideia de que a maldição da humanidade seria eliminada com autoflagelação da carne e assassínio de judeus." (página 47)

Homens então desfilavam pelas vilas e cidades europeias açoitando seus corpos até que o sangue começasse a escorrer. 

No filme "O sétimo selo" de Ingmar Bergman, há uma cena na qual aparecem esses flagelantes em procissão em meio a uma região tomada pela peste.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A GRANDE MORTANDADE, UMA HISTÓRIA ÍNTIMA DA PESTE NEGRA A PANDEMIA MAIS DEVASTADORA DE TODOS OS TEMPOS", JOHN KELLY, EDITORA BERTRAND BRASIL.



Sulde do Guerreiro Mongol



Sulde era o estandarte do espírito que corporificava a alma do guerreiro mongol.

O Sulde era constituído de fios das crinas dos melhores cavalos do guerreiro mongol, que eram amarrados à haste de uma lança, abaixo da sua lâmina. O guerreiro mongol, ao chegar em sua tenda, fincava o seu sulde na frente dela, como a identificar o seu ocupante.

Então o Sulde ficava ao ar livre, com suas crinas movimentando-se pelo constante vendo das estepes, captando sua energia e as energias do eterno céu azul e do sol. Acreditava-se ainda que essa energia acumulada pelo Sulde passava para o guerreiro mongol.

O Sulde constantemente a flamular pelo vento das estepes indicava o destino do guerreiro mongol, como a dizer que ele não poderia ficar parado, deveria estar em movimento, indo atrás de novos desafios e de pastos melhores para seus animais. 

Quando o guerreiro mongol morria, seu corpo era abandonado à estepe, mas seu Sulde permanecia como a corporificação de sua alma.

Ver mais aqui:

A Alma perdida de Gengis Khan:

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https://direitomaisdireito.blogspot.com/2019/05/a-alma-perdida-de-gengis-khan.html

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "GENGIS KHAN E A FORMAÇÃO DO MUNDO MODERNO", JACK WEATHERFORD, EDITORA BERTRAND BRASIL.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Justificativas para a conquista relâmpago da Espanha sobre os Impérios Pré-Colombianos



RESUMO DAS PRINCIPAIS CONQUISTAS ESPANHOLAS NAS AMÉRICAS:

1519-1521: Hernando Cortés, o primeiro grande conquistador espanhol que subjugou o povo asteca

16 de novembro de 1532: Pizarro encontrou-se com o Imperador Inca Atahualpa em Cajamarca, no norte do Peru. Pizarra era acompanhado por 167 homens. Atahualpa foi detido pelos espanhóis. Mais algumas escaramuças e o Império Inca tinha sido conquistado pela Espanha.

JUSTIFICATIVAS PARA A CONQUISTA RELÂMPAGO DA ESPANHA SOBRE OS IMPÉRIOS PRÉ-COLOMBIANOS:

1) Choque Biológico:

As doenças trazidas pelos europeus causaram uma catástrofe demográfica que se abateu sobre os povos pré-colombianos (Astecas, Maias e Incas).

"Entre o momento da chegada de Cortés e o fim do século XVI, a população do México diminuiu 90%, de 12 milhões (talvez) para pouco mais de 1 milhão." (página 87)

2) Relativa novidade da hegemonia Asteca e Inca:

As comunidades locais recém-conquistadas pelos astecas e pelos incas nutriam uma natural antipatia por estes. Dessa forma, os espanhóis contaram com a colaboração dessas comunidades locais na luta contra os Astecas e Incas. 

3) Superioridade do armamento espanhol e o uso de cavalos:

As armas espanholas eram tecnologicamente superiores. E o uso do cavalo também foi uma vantagem.

4) Falta de conhecimento dos povos pré-colombianos sobre quem os espanhóis eram:

"O que tornou o Império Asteca vulnerável ao ataque espanhol foi o fato de o seu alto comando não ter percebido as origens, objetivos e motivos do seu inimigo europeu. Nem imaginando as razões para o seu súbito aparecimento." (página 86)

5) Ilhas do Caribe como plataforma para a invasão do continente:

As ilhas do Caribe, notadamente Cuba e Hispaniola (atuais Haiti e República Dominicana), serviram como plataforma de lançamento de entradas, expedições e incursões espanholas em direção ao México, à América Central. Essas ilhas serviram para que os espanhóis se adaptassem ao clima das Américas. Eram ainda locais acolhedores e de fácil acesso para os navios espanhóis. E os indígenas que as habitavam não eram páreo para o poderio espanhol. 

"Proporcionavam uma base vital onde os espanhóis podiam adaptar-se ao clima e a partir da qual podiam explorar a costa da América Central." (página 85)

Nessas ilhas ainda havia ouro de aluvião, cuja extração serviu para financiar os elementos espanhóis que organizavam expedições para a o México e a América Central. 

"Foi o ouro roubado aos ameríndios ou extraído com trabalho escravo, e não o ouro da Espanha, que ajudou a financiar as entradas organizadas localmente após 1508."(página 86)

"O avanço para o continente americano foi obra, não de príncipes ou capitalistas residentes na Europa, mas de pioneiros sedentos de ouro incitados pelo rápido esgotamento dos jazigos das ilhas. Sem a efêmera corrida ao ouro nas ilhas das Caraíbas (Caribe) e na vizinha 'Tierra Firme' (América Central), o impulso para a conquista territorial do Continente (México) talvez tivesse sido adiado indefinidamente..." (página 86)

6) Imperadores Pré-Colombianos onipotentes e centralizadores:

Incas e Astecas eram governados por imperadores onipotentes, divinos e centralizadores. Tudo girava em torno do Imperador. Com a sua derrubada, tudo em torno dele desmoronava, para proveito dos espanhóis. 

7) Isolamento cultural dos povos Pré-Colombianos:

Não havia informações sobre os espanhóis. Essa falta de informação resultou numa paralisia generalizada, que destruiu a capacidade de resistência dos astecas e dos incas. A chega dos europeus foi vista quase como um fenômeno sobrenatural, para o qual não havia nenhuma oração que poderia resolver. 

Resumo:

"Foi o efeito conjunto destes diferentes fatores que transformou o contato espanhol com as grandes civilizações do interior americano em conquistas fulminantes com custos quase negligenciáveis." (página 89)

TALVEZ QUALQUER DOS GRANDES ESTADOS EURASIÁTICOS TIVESSE CONSEGUIDO UM SUCESSE IGUAL AO DOS ESPANHÓIS NAS AMÉRICAS:

"Talvez qualquer dos grandes Estados eurasiáticos tivesse conseguido um sucesso semelhante: Tamerlão teria acabado rapidamente com Montezuma. A sorte do Ocidente foi a sua posição geográfica - mais próxima da antecâmara caribenha dos Impérios Pré-Colombianos - lhe proporcionou um avanço decisivo na aquisição de novos impérios no Mundo Exterior." (página 89)

O que o autor está querendo dizer é que outros estados da Eurásia, como China, o Império Muçulmano no norte da Índia, o Império Otomano e o Império de Tamerlão, teriam tido o mesmo sucesso que os espanhóis tiveram nas Américas. A sorte da Espanha foi o fato dela estar geograficamente melhor localizada para a expansão ultramarina em direção das Américas. 

Quando o autor fala em "Mundo Exterior", ele se vale de um conceito criado por Halfort Mackinder, para o qual a Eurásia era a "Ilha Mundial". Tudo o que não estivesse compreendido nessa "Ilha Mundial" seria denominado de "Mundo Exterior". O continente americano era esse Mundo Exterior, assim como a Oceania, a África Subsaariana, etc.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "ASCENSÃO E QUEDA DOS IMPÉRIOS GLOBAIS, 1400-2000, DE JOHN DARWIN, EDITORA EDIÇÕES 70

Eurásia A Ilha Mundial Tamerlão Timur



O CENTRO DE GRAVIDADE DA MODERNA HISTÓRIA MUNDIAL:

"O Centro de gravidade da moderna história mundial está na Eurásia - nas relações conturbadas, conflituosas, dependente e íntimas das suas grandes culturas e estados, que se estendiam em linha do Extremo Ocidente europeu ao Extremo Oriente asiático." (página 43)

EURÁSIA, A ILHA MUNDIAL:

O britânico Halford Mackinder criou a expressão "Ilha Mundial" para se referir à Eurásia, o continente que se estende do extremo ocidente (Europa) ao extremo oriente (China). Que se estende do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. O que estava fora dessa Ilha Mundial foi denominado de "Mundo Exterior". Esse mundo exterior era composto pelo continente americano, pela Oceania, pelas ilhas do sudeste asiático e pela África Subsaariana. 

De acordo com Halford Mackinder, quem viesse a controla essa "Ilha Mundial" iria controlar o mundo todo. O país que controlasse a Eurásia a partir de seu centro, valendo-se de uma rede de estradas de ferro, poderia manejar amplos recursos humanos e materiais, podendo dessa forma afastar qualquer rival "....para a orla marítima do mundo - o mundo exterior das Américas, da África Subsaariana, das ilhas do Sudeste Asiático e a Oceania." (página 43)

Essa visão geopolítica de Halford Mackinder desprezava o uso dos oceanos e os mares como forma de dominar o mundo. Para ele, essa fase, que tinha sido dominada pela Grã-Bretanha, fazia parte do passado. Com a invenção das estradas de ferro, o domínio dos mares não era mais uma condição para se dominar o mundo. Para se dominar o mundo, bastaria um país dominar a Eurásia, instalar seu centro de poder na região central dela e, a partir dela, por meio de estradas de ferro, dominar todo o continente e, por consequência, todo o mundo. Essa dominação do mundo por meio da dominação da Eurásia poderia ter se concretizado com um Império Soviético ou por meio de um Império Nazista. 

No passado, o Império Mongol, comandado por Gengis Khan e por seus filhos, conseguiu conquistar grande parte da Eurásia. Seus cavaleiros foram da península coreana à Hungria, chegando à atual Croácia. Passaram pela Polônia. Seus herdeiros dominaram a China, o Irã, a Ucrânia e o Iraque. Príncipes de Moscou eram vassalos dos mongóis. Após a morte de Gengis Khan, seu império foi dividido entre seus filhos. Divisões e conflitos internos implodiram o Império Mongol, que poderia ter dominado o mundo com o seu domínio sobre a Eurásia. 

O ÚLTIMO CONQUISTADOR DA EURÁSIA, TIMUR OU TAMERLÃO:

O último conquistador que tentou submeter todo o mundo por meio da conquista da Eurásia foi Tamerlão (Timur).

Tamerlão nasceu em Chagatai, na Ásia Central, numa confederação tribal turco-mongol, em meados do século XIV. Tamerlão, por meio de guerras e selvageria incessantes, construiu um grande império, tentando emular o império mongol. A construção de seu Império foi possível graças ao domínio sobre as rotas comerciais (Rota da Seda) que interligavam o Extremo Ocidente europeu ao Extremo Ocidente oriental asiático. O centro desse império ficava na cidade de Samarcanda, no atual Turcomenistão. 

Tamerlão saiu de Chagatai para conquistar o Irã, o Iraque, a Armênia, a Geórgia. Derrotou o exército otomano na batalha de Ancara em 1402. Pilhou e saqueou o norte da Índia, destruindo a cidade de Deli. Em 1390, invadiu as terras russas. Em 1400 retornou ao oriente médio, para conquistar Damasco e Alepo (atual Síria).

Tamerlão morreu no ano de 1405, quando preparava uma expedição militar para invadir a China. Sua morte foi seguida pelo desmantelamento de seu Império.  

A morte de Tamerão ainda assinalou a última tentativa de unificar a Eurásia sob um único poder. Seu império via-se ainda cercado pelos mamelucos do Egito e da Síria, pela China, pelos Otomanos na Anatólia e pelo sultanato muçulmano no norte da Índia. 

O Império de Tamerlão foi a última tentativa de contestar a partilha da Eurásia entre os Estados do Extremo Ocidente, a Eurásia Central muçulmana e a Ásia Oriental Confuciana. 

O fracasso de Tamerlão também assinalou uma nova era, na qual o poder começara a transferir-se definitivamente dos impérios nômades para os Estados sedentários. 

A morte de Tamerlão coincidiu com uma mudança radical na economia e na geopolítica dos impérios. Essa mudança foi a descoberta do mar como espaço comum de comércio. As rotas comerciais pelos oceanos e pelos mares diminuíram a importância das rotas comerciais (Rota da Seda) que atravessavam a Ásia Central. Não haveria mais a riqueza comercial que despertou a cobiça de tantos conquistados, dos mongóis a Tamerlão. A riqueza agora estava nas rotas comerciais marítimas, que ligavam todo o planeta. 

"A morte de Tamerlão em 1405 assinala um ponto de viragem na história mundial. Tamerlão foi o último de uma série de conquistadores do mundo na tradição de Átila e Gengis Khan que tentou colocar toda a Eurásia - a Ilha Mundial - sob o domínio de um único e vasto império." (página 17)

"...a ideia de um império mundial governado a partir de Samarcanda tornara-se uma fantasia." (página 28)

DECADÊNCIA DA ÁSIA CENTRAL COMO CENTRO DE PODER MUNDIAL:

A ausência de governos centralizados, a predominância da política tribal e os estragos causados pelas campanhas militares empreendidas por Tamerlão e a descoberta de rotas marítimas, que se tornariam as artérias de grandes impérios marítimos, fizeram o poder passar do centro da Ásia para as regiões do extremo ocidente eurasiático (Espanha, Portugal, França, Grã-Bretanha, Holanda) e para o extremo oriente asiático (exemplo: China). 

"...os danos colaterais que Tamerlão infligiu à Eurásia Central e a influência desproporcionada que as sociedades tribais continuavam a exercer nessa região ajudaram (embora, apenas gradualmente) a fazer pender o equilíbrio de poderes do Velho Mundo para o Extremo Oriente e Extremo Ocidente à custa do centro." (página 28)

O velho mundo era a Ásia Central, a região pela qual a Rota da Seda passava. O extremo ocidente era a Europa e o Extremo Oriente era a China. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "ASCENSÃO E QUEDA DOS IMPÉRIOS GLOBAIS, 1400 - 2000", JOHN DARWIN, EDITORA EDIÇÕES 70



Expansão Marítima de Portugal nos séculos XV e XVI



ALGUMAS DATAS RELEVANTES NA EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA:

1482-1484: Construção da Fortaleza de São Jorge da Mina, atual Elmina, em Gana. Com essa fortaleza, Portugal teve acesso a uma parte do comércio de ouro da África Ocidental. Com o lucro advindo da exploração desse comércio, financiou suas viagens seguintes ao longo da costa ocidental africana.

1488: Navegador português Bartolomeu Dias alcança o Cabo das Tormentas, depois denominado de Cabo da Boa Esperança. 

1498: Navegador português Vasco da Gama chega à Índia, em Calecute, na costa indiana de Malabar.

FATORES QUE AJUDARAM NA EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA:

Navegação ao longo da costa ocidental africana sem oposição:

A sul de Marrocos, "nenhum Estado importante tinha a vontade ou os meios para contestar o uso feito por Portugal das águas costeiras africanas. A maioria dos Estados africanos estava voltada para o interior, encarando o Oceano Atlântico como um deserto aquático..." (página 79)

Financiamento das navegações portuguesas:

Com a construção da fortaleza de São Jorge da Mina, na costa marítima da atual Gana, os portugueses começaram a explorar uma parte do comércio do ouro da África Ocidental. Com esse comércio, os portugueses conseguiram financiar a busca de uma rota marítima para a Índia.

VASCO DA GAMA DESEMBARCA NA ÍNDIA:

Em 1498, o navegador português Vasco da Gama desembarca em Calecute, na costa indiana de Malabar. Agora que Portugal tinha finalmente achado uma rota marítima para a Índia, era necessário achar uma forma de explorá-la da melhor forma possível. Mas Portugal era um país pequeno (território e população pequenas) e sem recursos, de forma que não iria conseguir se impor na rota comercial que havia descoberto.

A FALTA DE RECURSOS DE PORTUGAL IMPEDIU QUE ELE SE TORNASSE UM IMPÉRIO TERRITORIAL E/OU MARÍTIMO:

"...era pouco provável que uns quantos navios portugueses no Oceano Índico conseguissem desviar grande parte do comércio dessas águas para as longas e desertas rotas marítimas à volta da África." (página 80)

Mas mesmo com todas as dificuldades, os portugueses tentaram se impor. Quatro anos depois de Vasco da Gama, uma frota de caravelas, sob o comando de Afonso Albuquerque, começou a estabelecer bases fortificadas para controlar o movimento do comércio marítimo no Oceano Índico. As bases fortificadas foram erigidas em Cochim (1503), Cananor (1505), Goa (1510), Malaca (1511). Ainda na década de 50 do século XVI, Portugal tinha cerca de 50 fortalezas entre Sofala (Moçambique) e Macau no sul da China. 

Apesar desse sucesso inicial, Portugal não se tornou nem um Império Territorial nem um Império Comercial. Os portugueses não tinham o poder, para por exemplo, impor o monopólio da pimenta, uma especiaria muito demandada pela Europa. 

Com efeito, grande parte do comércio de especiarias permaneceu fora do controle de Portugal.

Achar o caminho para a Índia foi um feito, mas não era tudo. Era preciso conseguir o monopólio do comércio que passava pelo Oceano Índico, mas isso demandaria um Poder Naval que Portugal não tinha. 

PORTUGAL PASSA A EXTORQUIR NAVIOS QUE USAVAM O OCEANO ÍNDICO COMO ROTA COMERCIAL:

"O Estado (português) tornou-se então um sistema para extorquir dinheiro em troca de proteção ao comércio marítimo entre o Sudeste Asiático, o ocidente da Índia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho." (página 80)

Já que Portugal não tinha força para impor o monopólio, passou a usar suas caravelas para extorquir navios que usavam o Oceano Índico como rota comercial, sob o falso pretexto de protegê-los. 

PORTUGUESES COMO INTERMEDIÁRIOS:

A leste da península malaia, os portugueses não trabalhavam com extorsão. Viraram intermediários no comércio de longa distância envolvendo China, Japão e outras localidades. 

Alguns portugueses ainda ganhavam a vida como empresários independentes. 

"Em Hugli, a norte da atual Calcutá, um comerciante empreendedor conseguiu a autorização do Imperador Mongol Akbar para construir um posto de comércio para enviar artigo de luxo chineses rio acima, para a corte imperial." (página 83).

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "ASCENSÃO E QUEDA DOS IMPÉRIOS GLOBAIS 1400 2000", JOHN DARWIN, EDIÇÕES 70



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Revolução Diplomática de meados de 1750 e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763)



DOIS ARQUI-INIMIGOS TORNAM-SE ALIADOS:

Em meados da década de 1750, França da Dinastia Bourbon e a Áustria da Dinastia Habsburgo, deixam para trás anos de antagonismo para se tornarem aliadas. Essa mudança foi denominada de Revolução Diplomática. Era vista na época como uma aliança Anti-Natural. Por meio dela, a França abandonava seus velhos aliados, a Suécia, a Polônia e o Império Otomano, optando por se aliar à Áustria, seu inimigo hereditário.

A aliança entre França e Áustria inverteu mais de dois séculos de inimizade entre a dinastia francesa Bourbon/Valois e a dinastia Habsburgo. Essa aliança foi formalizada por meio do Tratado de Versalhes, assinado no ano de 1756.

Essa mudança ocorreu porque a França passou a temer mais a Grã-Bretanha do que a Áustria. França e Grã-Bretanha disputavam entre si colônias no continente americano e no continente asiático. A França temia que os recursos que a Grã-Bretanha retirava das suas colônias ultramarinas proporcionariam a ela um domínio avassalador sobre o continente europeu. A Áustria, por sua vez, via na ascensão da Prússia, que lhe havia roubado a província da Silésia na Guerra da Sucessão Austríaca de 1740/1745, o maior perigo que enfrentava naquele momento. A Prússia passou a disputar com a Áustria o protagonismo no seio do Sacro Império Romano Germânico. Para a política externa austríaca, era imperioso que a Prússia fosse destruída. Esses antagonismos acabaram redundando na eclosão da Guerra dos Sete Anos.

GUERRA DOS SETE ANOS - DUAS GUERRAS EM UMA:

Prússia e Grã-Bretanha versus França, Áustria, Saxônia, Rússia, Suécia e forças imperiais do Sacro Império Romano Germânico (Reichsexecutionsarmee).

A Guerra dos Sete Anos, de 1756 a 1763, foi na realidade um conflito que envolveu duas guerras distintas:

a) Uma Guerra Alemã:

Os combates ocorreram no interior do Sacro Império Romano Germânico, que corresponde hoje à Alemanha. A Áustria tentava retomar a província da Silésia dos prussianos. Prússia e Áustria ainda disputavam o protagonismo no interior do Sacro Império Romano Germânico, um gigante formando por uma miríade de unidades políticas alemãs pequenas e médias. Áustria e Prússia eram os maiores estados do Sacro Império e disputavam entre si a liderança sobre ele. A Áustria tinha o apoio da Rússia e da França. A Áustria ainda conseguiu que o os pequenos e médios estados alemães votassem a favor a que o Sacro Império Romano Germânico se aliasse a ela. A Prússia, por sua vez, contava apenas com a aliança com a Grã-Bretanha. A Prússia lutava para manter a província da Silésia, conquistada durante a Guerra da Sucessão Austríaca (1740/1745). A França entrou nesse conflito ao lado de sua antiga arqui-inimiga Áustria porque temia a ascensão da Prússia. A segurança francesa sempre dependeu de um Sacro Império Romano Germânico desunido, composto por médios e pequenos estados alemães, que vivessem numa eterna desunião, incapazes de se unirem de forma a criar uma nação alemã coesa e poderosa. A França via na Prússia um agente capaz de unir os alemães num só país, colocando em risco a sua segurança. Era imperioso evitar que os estados alemães que compunham o Sacro Império Romano Germânico se unissem em torno da Prússia. A Rússia, por sua vez, se aliou à Áustria porque temia a ascensão da Prússia.

b) Guerra Colonial entre França e Grã-Bretanha:

Os combates ocorreram nas colônias ultramarinas de ambos os países, notadamente na América do Norte, nos atuais Canadá e EUA. 

DESENROLAR DA GUERRA DOS SETE ANOS:

Frederico II, o Grande, monarca da Prússia, foi informado que uma grande aliança se formava contra ele. A Prússia seria atacada. Frederico II então resolver tomar a iniciativa, começando ele mesmo a guerra, invadindo a Saxônia. Frederico II justificou sua atitude dizendo que "quem se antecipa a um ataque secretamente planejado está talvez empenhado numa guerra, mas não é o agressor." (página 154)

Durante os sete anos do conflito grandes batalhas foram travadas, como em Rossbach, em novembro de 1757, quando uma combinação de soldados franceses e soldados imperiais alemães foi derrotada pela Prússia. 

Nas colônias ultramarinas, os ingleses batiam sem dó nos franceses. Quebec, no Canadá francês, foi capturada pelos ingleses em 1759. Ainda nesse ano, a ilha francesa de Guadalupe, no caribe, foi conquistada pelos ingleses. Montreal foi conquistada pelos ingleses em 1760. Mesmo com os espanhóis se aliando aos franceses, os ingleses continuavam obtendo vitórias. No ano de 1762, Manila e Havana, que pertenciam à Espanha, foram conquistadas pelos ingleses. 

Enquanto os ingleses surravam franceses e espanhóis nas colônias americanas e asiáticas, os prussianos sofriam nas mãos dos austríacos e dos russos. O exército prussiano foi derrotado em Zorndorf (1758) e em Kunesdorf (1759). A situação era tão desesperadora para a Prússia que Frederico II pensou em se suicidar. Somente um milagre poderia salvar a Prússia. E esse milagre veio, com a morte da Czarina Isabel da Rússia. Ascendeu ao trono russo Pedro III, um prussianófilo, que era admirador da Prússia e de Frederico II. Pedro III desfez sua aliança com a Áustria. O milagre tinha acontecido. A Prússia estava salva. Com a saída da Rússia, a Guerra dos Sete Anos caminhava para o seu fim.

FIM DA GUERRA DOS SETE ANOS:

Acabou no ano de 1763. Naquele momento, a Grã-Bretanha estava em alta, ao lado da Prússia e da Rússia. França e Áustria estava com viés de baixa. França teve que ceder o Canadá à Grã-Bretanha, mantendo apenas uma pequena posição na ilha de Saint-Pierre e Miquelon. A França ainda perdeu Senegal e uma série de ilhas no Caribe, mas conseguiu manter Saint-Domingue, atual Haiti, que naquela época era uma das maiores produtoras de açúcar do mundo. A Prússia manteve a Silésia em seu poder. A Espanha recuperou Havana (Cuba) e Manila (Filipinas). 

Como dissemos acima, a Guerra dos Sete Anos compreendia dois conflitos, a Guerra Alemã e a Guerra Colonial entre França e Grã-Bretanha. 

A primeira foi encerrada por meio do Tratado de Hubertusburgo, enquanto que a segunda foi encerrada pelo Tratado de Paris.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "EUROPA, A LUTA PELA SUPREMACIA, DE 1453 AOS NOSSOS DIAS, DE BRENDAN SIMMS, EDITORA EDIÇÕES 70



Tratado de Verdun 843 e as Fronteiras entre Alemanha e França



 TRATADO DE VERDUN:



Tratado de Verdun de 843 (século IX) pôs fim ao Império Carolíngio. Com a morte de Luís, o Piedoso, o Império Carolíngio foi dividido entre seus filhos Carlos, Luís e Lotário. 

Essa divisão territorial não tinha nenhuma conotação de ordem nacional. Embora a divisão de 843 trouxesse, de forma embrionária, as configurações territoriais daquilo que no futuro seriam os territórios da Alemanha (Francônia Oriental) e da França (Francônia Ocidental), ambas separadas por uma área central, a Lotaríngia, "...não existiam quaisquer motivos nacionais decisivos nesse processo: pretendia-se tão-só que os três irmãos com direito de sucessão - Carlos, Lotário e Luís (com o cognome não histórico, de o Germânico) - recebessem partes iguais e o mais velho - Lotário - ficasse com as duas residências imperiais de Aachen (Aix La Chapelle) e Roma." (página 36)

Enfim, no ano de 843, embora embrionariamente, o contexto para futuros conflitos entre Alemanha e França estivesse posto, ninguém pensava em termos nacionais, não havia uma consciência nacional alemã, tampouco havia uma consciência nacional francesa. 

"...a fronteira entre a Francônia Ocidental e o Reino Central (Lotaríngia) estabelecida no Tratado de Verdun (843) passou a constituir a fronteira duradoura (ou, melhor: o espaço fronteiriço) entre a Alemanha e a França, a partir de 925." (página 40)

Estava se colocando em prática tão-somente o direito de sangue vigente, pelo qual cada um dos filhos de Luís, o Piedoso, tinha o direito de sucedê-lo, Eram três os filhos de Luís, de forma que cada um deles ficou com um pedaço do Império Carolíngio. 

TRATADOS DE MEERSEN (870) E RIBEMONT (880):

Após o Tratado de Verdun, outros foram feitos para um rearranjo territorial. Os Tratados de Meersen e Ribemont trataram da parte setentrional do Reino Central (Lotaríngia), pelos quais os territórios da Alsácia e da Lorena foram transferidos para a Francônia Oriental. 

"...as regiões setentrionais do reino central - a Lorena e a Alsácia - não se juntaram à Francônia Oriental  em 870 e 880 e tão-pouco foram conquistadas pela Francônia Oriental. Tratava-se de divisões dinásticas dentro de um império, divisões essas que prepararam, no entanto, um estabelecimento de fronteiras entre a França e a Alemanha que viria a revelar-se muito importante do ponto de vista histórico." (página 37)

No futuro, Alemanha e França entrariam em guerra (Primeira Guerra Mundial 1914-1918, Segunda Guerra Mundial1939-1945, Guerra Franco-Prussiana em 1871, etc) justamente pela disputa dessas fronteiras que, originalmente, foram criadas no ano de 843, no longínquo século IX.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS", VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70



Surgimento da Alemanha


 

SURGIMENTO DO REINO ALEMÃO:

Há uma convicção bastante generalizada segundo a qual "...o surgimento de um <<reino alemão>> se teria processado, por assim dizer, em três passos: separação da Francônia Oriental - fim dos carolíngios - primeiro rei não pertencente à tribo dos francos." (página 39)

a) Primeiro rei não pertencente à tribo dos francos: 

Estamos falando da eleição de Henrique I (919-939 século X), duque da Saxônia, da casa dos Luidolfings. 

b) Fim dos Carolíngios: 

No ano de 888 (século IX), morre Carlos, o Gordo, o último soberano de todo o Império Carolíngio. Já na Francônia Oriental, a morte de Luís, a Criança (911), representou o desaparecimento do último representante da dinastia carolíngia. 

c) Separação da Francônia Oriental:

Pelo Tratado de Bona, de 921, Carlos III, soberano da Francônia Ocidental, reconheceu o governo de Henrique I na Francônia Oriental.

CRITÍCA: 

A convicção generalizada acima exposta, sobre o surgimento do reino alemão, é contestada pelo autor Ulf Dirlmeier nos seguintes termos: 

"Estas objeções prendem-se com o significado da palavra <<alemão>> (= língua alemã), a falta de uma consciência nacional alemã e as fortes linhas de continuidade com o período franco carolíngio. [...] Portanto, podemos continuar a considerar que o governo da Casa da Saxônia constitui o início da história alemã - com as devidas limitações e tomando-o como referência carolíngia." (página 39)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS, VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Alexandre Dumas, o General negro de Napoleão Bonaparte e pai de um grande escritor francês





ALEXANDRE DUMAS PAI: 

Alexandre Dumas ouThomas Alexandre Davy de La Pailetterie, foi um homem negro, filho de um nobre francês, Antoine Davy, Marquês de La Pailleterie e de uma escrava, Marie Cossette Dumas. Nasceu na localidade de Jérémie, na ilha de Saint Domingue, atual Haiti, em meados do século XVIII. 

Saint Domingue era uma colônia francesa cuja principal atividade consistia na produção de açúcar, cujo comércio gerava tanta riqueza quanto o comércio de petróleo nos dias de hoje.

"O plantio da cana-de-açúcar era o comércio petrolífero do século XVIII e Saint Domingue era a fronteira do velho oeste para o Ancien Régime, onde filhos de famílias empobrecidas podiam fazer fortuna." (página 40)

"Hoje, o mundo tem tal abundância de açúcar - é um gênero tão básico da dieta moderna, associado a tudo o que é ordinário e prejudicial à saúde - que é difícil acreditar que as coisas foram exatamente o oposto. As Índias Ocidentais foram colonizadas num mundo no qual o açúcar era visto como um artigo escasso, luxuoso e altamente salutar." (página 40)

O pai de Alexandre Dumas ou Thomas Alexandre Davy de La Pailetterie, o nobre francês Antoine Davy, Marquês de La Pailleterie, teve uma vida conturbada. Serviu no exército francês durante a guerra da sucessão polonesa, depois tentou fazer riqueza na ilha de Saint Domingue. Ali tentou trabalhar ao lado de seu irmão Charles, proprietário de um engenho de açúcar. Saiu tudo errado para ele, brigou com o irmão, fugiu levando consigo três escravos do irmão, embrenhando-se nas matas de Saint Domingue. Chegou a mudar seu nome para Antoine Alexandre D'isle. Tentou a vida como um pequeno proprietário na localidade de Jérémie. Teve filhos com uma escrava, Marie Cossette Dumas. Passado algum tempo, com seus pais e irmão já mortos, retornou à França, voltando a usar seu nome Antoine Davy e reivindicando seu título de Marquês e as propriedades de sua família. Trouxe consigo apenas um de seus filhos, Thomas Alexandre/Alexandre Dumas.

Seguindo seu pai, Alexandre Dumas chegou à França em agosto de 1776, Nessa época ele ainda se chamava Thomas Alexandre Davy de La Pailleterie. Ao entrar no exército, no ano de 1786, adotou o nome de Alexandre Dumas, em homenagem à sua mãe negra e escrava, Marie Cossette Dumas. 

Como dissemos, Alexandre alistou-se no exército no ano de 1786. Sua ascensão, apesar da cor de sua pele, foi meteórica. Começou como um simples soldado num Regimento de Dragões, ainda sob o governo de Luís XVI.  Graças ao seu mérito, após a Revolução Francesa de 1789, virou General, estando sob o comando de Napoleão Bonaparte, e teve muitos homens sob o seu comando. 

"um homem negro num mundo de brancos no fim do século XVIII" (página 22)

Como explicar esse homem, filho de um nobre francês com uma escrava negra, fazendo sucesso na sociedade francesa de final do século XVIII? 

Esse fenômeno poderia atribuído ao movimento francês a favor dos direitos civis, aliás, o primeiro do mundo, ocorrido a partir de 1750, que batia de frente com aqueles setores que defendiam a escravidão, notadamente o lobby açucareiro e colonialista, que via na mão de obra escrava um instrumento indispensável para a economia da época. Mesmo com a força do lobby açucareiro/colonialista, escravos das colônias que eram levados para a metrópole francesa acabavam, em alguns casos, obtendo sua liberdade por meio de processos judiciais.

"Ao contrário do sistema legal moderno da França, baseado no Código Napoleônico, o sistema do Ancien Régime (Antigo Regime) se apoiava fortemente na questão do precedente: a França era governada por máximas destiladas por advogados examinando documentos com centenas de anos. Ausente um corpo legislativo como o Parlamento inglês, esses tribunais (Parlements) superiores franceses não só interpretavam a lei, eles a escreviam." (página 81)

Os Parlaments eram órgãos judiciais que interpretavam os costumes franceses antigos, emitindo decisões com força de lei. Juristas usaram esses Parlements para conseguir estabelecer que a França era a Terra da Liberdade, conceito extraído da fundação do país.

E essas leis adotadas por esses Tribunais (Parlements) consagravam o princípio da liberdade, segundo o qual "....ninguém devia ser mantido em servidão involuntária em solo francês. A ideia de aplicar esse conceito à condição de escravo desembarcando em portos franceses começou no fim do século XVI." (página 83)

Aceitava-se então que houvesse escravos nas colônias francesas, como na ilha de Saint Domingue, mas não se aceitava que houvesse escravidão na metrópole, na França. Dizia-se que os Francos, que dominaram o território francês após a queda do Império Romano, etimologicamente tinham seu nome relacionado à liberdade: franc = livre. Dizia-se ainda que a França, por ser o primeiro país cristão da Europa, não poderia aceitar que em seu território houvesse escravidão. 

CASAMENTO DE ALEXANDRE DUMAS:

Alexandre Dumas casa-se com Marie Louise Labouret, uma mulher branca, filha de um burguês, um estalajadeiro de Villers-Cotterêts. Um dos filhos do casal adotaria o nome do pai, Alexandre Dumas, e sob esse nome tornar-se-ia um famoso escritor francês do século XVIII, autor dos livros Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo. 

ALEXANDRE DUMAS FILHO:

Foi um famoso escritor francês no século XIX, autor de obras de sucesso, como por exemplo o Conde de Monte Cristo e os Três Mosqueteiros. 

O pai, do qual pegou o nome, foi um grande general. Da mesma forma como seu pai foi vítima de preconceito racial, Alexandre Dumas viu sua obra literária ser atacada por contemporâneos por causa da cor de sua pele.  

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CONDE NEGRO", GLÓRIA, REVOLUÇÃO, TRAIÇÃO E O VERDADEIRO CONDE DE MONTE CRISTO, DE TOM REISS, EDITORA OBJETIVA

Servidão no Império Carolíngio



SERVIDÃO:

Era uma forma de dependência especificamente medieval. Não confundir com a escravidão dos negros nas plantations dos séculos XVII a XIX. 

De fato, para quem era livre quando da adoção da servidão, ela representou uma perda de liberdade. Contudo, para os 'servi' e 'mancipio', que antes eram submetidos a um trabalho forçado, numa posição semelhante à dos escravos negros, a servidão significava uma ascensão à situação de semiliberdade. (página 24)

SERVIDÃO SIGNIFICAVA MAIS DEPENDÊNCIA ENTRE AS PESSOAS:

Com a adoção da servidão, o vínculo pessoais aumentavam, assim como a dependência entre as pessoas que participavam desse arranjo social, característico da época carolíngia, com o regime senhorial franco abrangendo o centro de seu território entre os rios Loire e Reno. 

A servidão foi a forma de organização social predominante nos séculos VI, VII, VIII.

"A massa da população rural, constituída por cada vez mais servos, foi dominada pela elite pouco numerosa dos nobres."(página 24)

Esses nobres eram oriundos da nobreza imperial franca, do século VI, aos quais vieram se juntar nos séculos VII e VIII os seguidores dos carolíngios que ascendiam de status, por meio da prestação de valoroso serviço militar. Nas inúmeras guerras nos séculos VI, VII e VIII, o senhor da guerra buscava aumentar seu exército por meio da concessão de terras para os guerreiros que lutavam ao seu lado. 

"Esta prática constituiu o requisito, a longo prazo, para o sistema feudal medieval." (página 28)

O SUCESSO NA GUERRA ERA O QUE UNIA O SENHOR E SEUS VASSALOS:

O sucesso vinha da guerra. Para que uma pessoa nessa época pudesse angariar poder, alcançando uma posição de destaque, tornando-se um rei/senhor entre os seus, teria que ser vitorioso no campo de batalha, destruindo os inimigos externos, proporcionando segurança aos seus servos e terras para quem lutasse ao seu lado. Esse rei tinha que manter afastadas as ameaças externas, com a ajuda de seus nobres, que eram recompensados com terras. Essa sociedade medieval dividia-se entre:

a) aqueles que lutavam em guerras para manter a segurança de todos (rei, nobres)

b) aqueles que trabalhavam, os camponeses, os servos

c) os padres, que rezavam por todos.

JUSTIFICATIVA PARA A EXISTÊNCIA DA ARISTOCRACIA/NOBREZA:

Aos nobres/aristocratas/reis incumbia a defesa contra ameaças externas. Eles deveriam fornecer a segurança. E era justamente isso que justificava a existência dessa classe social que não trabalhava, vivendo do trabalho de outras pessoas, os servos. Os servos, por sua vez, indefesos que eram, buscavam nos seus senhores a segurança em tempos de guerra. Um fornecia segurança, enquanto o outro fornecia trabalho.

Se algo desse errado nessa equação, como por exemplo, se o rei e seus nobres não conseguissem mais afastar ameaças externas, o reino poderia colapsar. E foi justamente isso que acabou acontecendo com o Império Carolíngio. No final do século IX, os governantes carolíngios não conseguiam mais enfrentar as ameaças externas representadas pela invasões de normandos e sarracenos. 

"As próprias zonas centrais do império deixaram de ser seguras. A incapacidade do poder central para garantir uma proteção eficaz diminuía a sua reputação e favorecia a ascensão de poderes regionais." (página 29)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS", VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70



Carlos Magno foi o primeiro Imperador Alemão?



CARLOS MAGNO FOI O PRIMEIRO IMPERADOR ALEMÃO?:

Estaria correto afirmar que Carlos Magno foi o primeiro imperador alemão? 

Resposta (página 36): Chamar Carlos Magno de primeiro Imperador Alemão é uma simplificação que impede a verdadeira compreensão da história medieval alemã.

É óbvio que o Império Carolíngio de Carlos Magno não era a mesma coisa que o Império alemão. Não eram a mesma coisa. Eram coisas distintas. Ao mesmo tempo, tanto a Alemanha como a França têm origem no império erigido por Carlos Magno, durante a Idade Média Arcaica (séculos VI a IX).

Além do mais, não há sequer uma data que possa ser utilizada para dizer que exatamente aqui a Alemanha surgiu.

A Alemanha surgiu na esteira de um processo prolongado, representado pela mudança do Império Carolíngio até chegar à Alemanha medieval. Alguns dizem que o início desse processo se deu no ano de 843, quando da celebração do Tratado de Verdun. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS", VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70



A Igreja Católica e o Sacro Império Romano




BATISMO DE CLÓVIS, SENHOR DOS FRANCOS:

Tudo começou quando Clóvis, senhor dos Francos, foi batizado no ano de 498 (século V). Sua conversão ao catolicismo não era um mero formalismo, pois continha nele situações de ordem prática. Ela permitiu uma maior coesão em sua sociedade política, unindo francos e galos-romanos. 

A aproximação com a Igreja Católica conferia estabilidade à entidade política. Era mais um fator de legitimação do poder do governante. 

UM PASSO ALÉM: SER UNGIDO PELO PAPA:

Pepino, o Breve (741-768), novo senhor dos Francos, foi além. Ele foi ungido pelo Papa. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Esse ato solene dava um colorido divino ao governo de Pepino. 
A Igreja Católica, por sua vez, aliava-se a um rei que poderia lhe proteger, caso alguma ameaça ao Papado surgisse no futuro. E naquele tempo, século VIII, ameaças surgiam o tempo todo. 

ALIANÇA REFORÇADA:

A aliança entre a Igreja Católica e os Francos foi reforçada três anos mais tarde, quando o Papa Estevão II ungiu o novo rei Franco e a sua família. Como contrapartida, o Papado recebeu o compromisso de proteção contra os Lombardos na Itália.

Para a Igreja Católica daquela época conturbada, era "...melhor designar como rei aquele que detém realmente o poder." (página 28)

Nesse jogo todos saiam ganhando: o governante Franco recebia a chancela divina para o exercício de seu poder e o Papa, por sua vez, se se visse ameaçado, poderia pedir ajudar militar aos Francos, que prontamente viriam socorrê-lo. 

ANOI 800 COROAÇÃO DE CARLOS MAGNO:

No ano 800 houve o ápice na união entre a Igreja Católica e os Francos. Carlos Magno, então rei dos Francos, foi tornado Imperador do Sacro Império Romano pelo Papa, confirmando sua posição dominante na cristandade ocidental. A Igreja Católica passou a herança do Império Romano para os Francos de Carlos Magno. Em troca, Carlos Magno estaria pronto para defender o Papado. 

ABALOS FUTUROS NA RELAÇÃO ENTRE A IGREJA CATÓLICA E O SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO:

Com o passar do tempo, ambições de ambas as partes fizeram com que a união entre a Igreja Católica e o Imperador do Sacro Império Romano sofresse abalos sérios. 
O Papa e o Imperador passaram a disputar entre si quem seria o chefe máximo da sociedade cristã ocidental. 
Como não há dois sóis no céu, também não pode haver dois senhores na Terra. A disputa para ver quem iria ser o chefe máximo do cristianismo ocidental fez surgir um antagonismo entre o Papa e o Imperador do Sacro Império Romano. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS, VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70


Império Carolíngio Dilema entre o Direito de Sangue e a Preservação do Império




UM DILEMA:

O Império Carolíngio, em meados do século VIII, via-se envolto num dilema:

Qual critério deveria ser utilizado quando da sucessão?

DIREITO DE SANGUE: Aqui haveria a participação de todos os herdeiros no poder, repartindo entre si pedaços do Império

PRESERVAÇÃO DO IMPÉRIO: Aqui visava-se a preservação da unidade territorial do império, de forma que a herança iria para uma só pessoa.

O critério escolhido foi o do direito de sangue. O resultado foi a divisão do Império Carolíngio em três pedaços, indo cada um deles para um herdeiro do trono. A divisão então se deu entre Carlos, Lotário e Luís, com se cognome não histórico de Germânico. 

Assim então ficou a divisão:




Francônia Ocidental (Paris) para Carlos

Reino Central (Verdun, Aachen, Roma) para Lotário

Francônia Oriental (Regensburgo, Mainz, Speyer, Worms) para Luís.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS, VÁRIOS AUTORES, EDIÇÕES 70



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O Mundo Pós Paz de Vestfália - Vestefália




O QUE SE SEGUIU À PAZ DE VESTFÁLIA?

👉Pretensão de Luís XIV, rei francês, a uma Monarquia Universal. 

No século XVI Carlos V, da dinastia Habsburgo, pretendia criar uma Monarquia Universal, unindo todos os europeus sob uma monarquia cristã governada pela dinastia Habsburgo. Já no século XVII a pretensão por uma Monarquia Universal foi assumida por Luís XIV, da dinastia Bourbon. 
Luís XIV queria romper o cerco Habsburgo, que estrangulava a França. França se via cercada por territórios governados por Habsburgos austríacos (Sacro Império Romano Germânico, Áustria) e por Habsburgos Espanhóis (Países Baixos, Espanha, etc). A França precisava romper esse cerco, criando ainda uma barreira ao longo do Rio Reno de forma a proteger a fronteira oriental com a Alemanha. 
Espanha, Áustria, Holanda e Inglaterra buscavam refrear os planos expansionistas franceses. A França, por sua vez, contava com o Império Otomano e com a Suécia como aliados.

👉 Revolução Gloriosa na Inglaterra - 1688:

Políticos protestantes ingleses (Whigs), temiam que a Inglaterra voltasse a ser dominada pelos católicos Os temores dos protestantes ingleses cresceram quando Jaime II subiu ao trono no ano de 1685. Jaime II era um católico convicto e aliado do também católico rei francês Luís XIV. Jaime II ainda tinha um herdeiro varão católico. Ao mesmo, na Europa, tropas francesas de Luís XIV conquistavam novos territórios, ameaçando a Holanda protestantes e os estados alemães protestantes. A expansão de Luís XIV colocava a Europa sob o risco de ser governada por uma Monarquia Universal católica. O equilíbrio europeu estava ameaçado. Era preciso fazer algo. Daí nasceu a Revolução Gloriosa de 1688, com a deposição do rei Jaime II e com a coroação do Stadholder holandês Guilherme de Orange como o rei Inglês Guilherme III.

"Em finais dos anos 1680 a questão tinha chegado a um ponto crítico. Em junho de 1688 nasceu a Jaime II um herdeiro varão católico, que em última instância receberia a herança de preferência a Maria e Ana, as duas filhas protestantes de seu primeiro casamento. Um perigo mais imediato era, porém, o que apresentava o movimento de Luís XIV para o Palatinado (território integrante do Sacro Império Romano Germânico). Foi este golpe iminente que impeliu Guilherme de Orange a invadir a Inglaterra em novembro de 1688. Só a restauração do governo constitucional em Inglaterra, acreditavam os holandeses, tornaria o país capaz de participar na defesa das liberdades contra Luís XIV. [...] Da mesma maneira, foi a deterioração da situação europeia, mais do que a perspectiva longínqua de Jaime II ser sucedido por um herdeiro varão católico, que convenceu as chefias Whigs de que não tinham outra hipótese que não fosse convidar Guilherme de Orange como seu libertador; quando Jaime II fugiu, fizeram-no seu rei também." (página 97)

Com a Revolução Gloriosa de 1688 a Inglaterra entrou em guerra contra a França. Ao lado dos ingleses estavam os alemães, austríacos, espanhóis e os holandeses. Essa aliança conseguiu deter as ambições de Luís XIV de edificar uma Monarquia Universal na Europa.

👉 Eclosão em simultâneo de duas grandes guerras no Europa:

✅A Grande Guerra do Norte
✅A Guerra da Sucessão Espanhola

A Grande Guerra do Norte, de 1700 até 1721, tinha uma aliança formada por Rússia, Saxônia, Polônia e a Dinamarca numa guerra contra a Suécia. O conflito foi decidido na grande batalha de Poltova, na atual Ucrânia, em 1709, quando o exército russo impôs uma derrota acachapante ao exército da Suécia. A Grande Guerra do Norte foi o início da ascensão da Rússia como grande potência.
A Guerra da Sucessão Espanhola começou com morte do rei espanhol Carlos II sem herdeiros. Mas Carlos II, antes de morrer, indicou como seu sucessor Filipe de Anjou, neto de Luís XIV. Se tal fato viesse a se concretizar, França e Espanha iriam se unir num só bloco, em torno do qual um poder sem igual, jamais visto na Europa, seria erigido, destruindo dessa forma qualquer resquício de equilíbrio europeu. Para evitar isso, ingleses, alemães, holandeses e austríacos formaram uma aliança e declararam guerra à França. A guerra terminou com o Tratado de Utrech (Utreque), por meio do qual Luís XIV viu sua pretensão de criar uma Monarquia Universal sob seu comando ser mais uma vez destruída. Mas Luís XIV pelo menos teve uma vitória: seu neto Filipe de Anjou pôde assumir trono espanhol, com a condição de abdicar do trono francês. Assim o cerco Habsburgo tinha terminado. A França não teria mais na sua fronteira sul um rei espanhol da dinastia Habsburgo. 

A LUTA PELA SUPREMACIA EUROPEIA CONTINUAVA:

Após os conflitos da Grande Guerra do Norte e da Guerra da Sucessão Espanhola, a luta pela supremacia europeia continuava mais vida do que nunca. A guerra era um hábito da época. A ânsia por dominar, pela supremacia, não tinha cessado. Por exemplo, a Espanha de Filipe de Anjou buscou retomar territórios perdidos durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Agora aliadas, França e Inglaterra a detiveram. 
Depois, foi a vez da Áustria da dinastia Habsburgo se sentir tentada a expandir o seu poder. Sua recentes vitórias na Guerra da Sucessão Espanhola e na guerra contra os Otomanos a tinham deixado animada. Mas não foi além de um desejo, pois França e Inglaterra mais uma vez se aliaram para conter a ambição austríaca de querer unir Alemanha, Áustria e Espanha num só bloco. 

GUERRA DA SUCESSÃO POLONESA:

Em 1733, morreu o rei Polonês Augusto II. A Polônia era um reino estratégico, que ficava entre o gigante russo e o restante da Europa Ocidental. O rei polonês era eleito, de forma que abria brecha para a ingerência de outros países na sua escolha. Rússia e Áustria queriam um saxão (eleitorado da Saxônia, um estado alemão componente do Sacro Império Romano Germânico) como rei polonês. Já a França queria ver Estanislau Leszczinski no trono polonês. Para resolver esse impasse, França entrou em guerra contra a Áustria, a Espanha e a Rússia. A sorte foi decidida a favor dos russos e dos austríacos. Os franceses estavam levando a melhor, até que os Russos, depois de uma marcha épica de mais de 1000 quilômetros, chegaram ao Palatinado. 

GUERRA DA SUCESSÃO AUSTRÍACA:

Mal terminava uma guerra e já começava outra. Era assim que a Europa era no século XVIII. Agora o conflito se concentrava em torno da sucessão na Áustria. Seu soberano, Carlos VI, morreu sem deixar um herdeiro varão. Subiu ao trono austríaco então sua filha Maria Tereza. Carlos VI ainda era o Imperador do Sacro Império Romano Germânico. Mas sua filha não poderia sucedê-lo nesse caso, pois só homens poderiam assumir a coroa do Sacro Império Romano Germânico. 
Quem seria então o próximo Imperador do Sacro Império Romano Germânico? Os franceses apoiavam o católico da Baviera Carlos Alberto. Os ingleses, por sua vez, viam com preocupação a França tendo como aliado um Imperador do Sacro Império Romano Germânico. Os ingleses então passaram a apoiar o marido de Maria Tereza, o duque da Lorena, Francisco Estevão. Esse foi apenas um dos conflitos desencadeados pela morte de Carlos VI. 
Outro conflito viria da Prússia, cujo monarca absoluto, Frederico II, o Grande, iria aproveitar a confusão na Áustria para invadir uma de suas províncias mais ricas, a Silésia, em dezembro de 1740. No fim de mais essa guerra, a Prússia conseguiu manter a Silésia, tornando-se um ator importante na Europa. Maria Tereza, soberana da Áustria, que tinha perdido a Silésia para a Prússia, conseguiu pelo menos emplacar seu marido como Imperador do Sacro Império Romano Germânico, mantendo dessa forma a coroa alemã na dinastia Habsburgo. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "EUROPA, A LUTA PELA SUPREMACIA, DE 1453 AOS NOSSOS DIAS, DE BRENDAN SIMMS, EDITORA EDIÇÕES 70.