ORIGEM E RAZÕES DA DISSEMINAÇÃO DA PESTE NEGRA DA ÁSIA CENTRAL PARA A EUROPA, CHINA, ÍNDIA, EGITO E ORIENTE MÉDIO:
A Peste Negra surgiu na Ásia Central, entre a Mongólia (planalto da Mongólia, na região do deserto de Gobi) e o Quirguistão (lato Issyk Kul, perto da fronteiro noroeste da China).
Estas são regiões ainda hoje remotas. O bacilo Y. pestis da Peste Negra, portanto, poderia ter ficando confinado e restringido nessas regiões, caso não existisse no século XIV um processo de globalização já em gestação.
Com efeito, com a ascensão do Império Mongol a partir do século XIII, houve uma pacificação e unificação da Ásia Central, permitindo um crescimento do comércio e das viagens, "....facilitando o crescimento de três atividades que continuam a ter um papel importante na disseminação das doenças infecciosas: o comércio, as viagens e as comunicações mais amplas e eficientes." (página 14)
"Uma doença é mais que meramente um agente patogênico acrescido de um sistema de transporte." (página 65)
"...é fácil imaginar de que forma mudanças políticas e econômicas, como a ascensão do Império Mongol e o desenvolvimento da nascente economia global, teriam possibilitado que o Y. Pestis (Peste Negra) superasse enormes distâncias, populações escassas e outras barreiras que o haviam mantido preso no isolamento da Ásia Central por vários séculos. Depois de unificar a fragmentária estepe sob uma 'Pax Mongolica', os tártaros lançaram diversas redes de comunicação interconectadas por sobre as vastas pradarias abertas na Ásia e da Rússia..." (página 60)
Como exemplo dessa globalização já presente no século XIV podemos citar como exemplo o porto de Caffa, atual Teodósia, localizada na Península da Crimeia. O porto de Caffa era uma concessão do Império Mongol para os comerciantes de Gênova.
"...entre 70 mil e 80 mil pessoas caminhavam pelas ruas estreitas de Caffa, e uma duzia de línguas diferentes ecoava por seus mercados ruidosos." (página 20)
Pelo porto de Caffa passavam "sedas de merdacaxi da Ásia Central, esturjões do rio Don, escravos da Ucrânia e lenha e peles das grandes florestas russas ao norte. Avaliando Caffa em 1340, um visitante muçulmano declarou que era uma cidade distinta, 'de belos mercados, com um precioso porto em que vi duzentos navios grandes e pequenos' " (página 20)
TRANSMISSOR DA PESTE NEGRA:
O principal transmissor da Peste Negra para o ser humano é a pulga que usa um roedor como hospedeiro. A pulga mais comum que faz isso é a Xenopsylla Cheopis, que é a pulga do rato preto, o Rattus rattus.
SINTOMAS:
O sintoma mais comum da Peste Negra era o Bubão ovalado. Depois de entrar na pele humana pela picada da pulga, os bacilos da Y. Pestis se multiplicam, formando um inchaço dolorido.
DIMENSÃO DA TRAGÉDIA:
"O percentual da mortandade mais amplamente aceito é de 33%. Em números simples, isso vale dizer que entre 1347, quando a peste chegou à Sicília, na atual Itália, e 1352, quando surgiu nas planícies russas de Moscou, o continente perdeu 25 milhões de seus 75 milhões de habitantes." (página 28)
DESLOCAMENTO DA PESTE NEGRA:
Como já dito acima, a peste negra surgiu em algum lugar entre a Mongólia e o Quirguistão. No ano de 1339, ela já teria feito suas primeiras vítimas na região do lago Issyk Kul, no Quirguistão. Daí a peste seguiu para leste (China) e para o oeste. Pelo oeste, passou por Belasagun, um ponto de descanso e troca de cavalos para os cavaleiros que integravam uma espécie de Correio mongol, cruzando as estepes levando correspondências e mensagens. Depois a peste chegou na cidade de Samarcanda, no atual Usbequistão, um importante centro comercial da Ásia Central. Em 1346, a peste chegou à margem ocidental do Mar Cáspio, na cidade de Sarai, capital da Horda Dourada Mongol e importante centro de comércio escravo das estepes. A peste continuou a sua viagem, ultrapassando os rios Volga e Don, chegando então à península da Crimeia, no porto genovês de Caffa. E de Caffa a peste se espalhou para a Sicília e da Sicília para o resto da Europa.
"Caffa quase certamente não foi o único porto do leste que a peste atravessou em seu caminho para a Europa, mas, para a geração que vivenciou a peste negra, ela seria para sempre o lugar onde se originara a pestilência, e os genoveses, o povo que levara a doença para a Europa." (página 28/29)
ORIGEM DO NOME:
"...a aplicação da expressão peste negra à peste medieval nasceu de um antigo equívoco histórico. Em 1631, um historiador chamado Johannes Isaacus Pontanus, talvez pensando no uso que Sêneca faz do termo latino para a peste negra - Arta Mors - para descrever um surto de uma doença epidêmica em Roma, alegou que a expressão teria sido comum durante a mortandade do século XIV." (página 43)
Na realidade, a geração que vivenciou a tragédia sanitária do século XIV não chamava a peste de peste negra. Usava a expressão Grande Morte ou ainda Grande Mortandade (página 43)
DESCOBRIDOR DO BACILO RESPONSÁVEL PELA PESTE NEGRA:
Foi o cientista suíço Alexandre Yersin quem descobriu que a peste negra era causada pelo bacilo Yersinia Pestis (Y. Pestis). No final do século XIX um novo surto da peste negra acometeu a China e a Índia. Alexandre Yersin foi um dos cientistas chamados para pesquisar o agente patogênico causador da peste. E em 1894, Alexandre descobriu o bacilo responsável pela peste, dando a ele seu nome: Yersinia Pestis.
FLAGELANTES E ANTISSEMITISMO:
Com a peste negra ressurgiu a perseguição aos judeus. os bodes expiatórios preferidos em momentos de crise. Acusava-se os judeus de terem espalhado a peste pela Europa. Em 1349, em Basel, seus moradores queimaram os judeus numa ilha no rio Reno. Em Estrasburgo, na atual França, os judeus locais foram levados a um cemitério onde foram assassinados.
As pessoas do século XIV queriam respostas para aquela mortandade sem fim. Numa época extremamente religiosa, a resposta mais comum era a de que a peste negra era um castigo de Deus para punir os pecados da humanidade. Daí o surgimento dos Flagelantes, que "acreditavam na ideia de que a maldição da humanidade seria eliminada com autoflagelação da carne e assassínio de judeus." (página 47)
Homens então desfilavam pelas vilas e cidades europeias açoitando seus corpos até que o sangue começasse a escorrer.
No filme "O sétimo selo" de Ingmar Bergman, há uma cena na qual aparecem esses flagelantes em procissão em meio a uma região tomada pela peste.
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A GRANDE MORTANDADE, UMA HISTÓRIA ÍNTIMA DA PESTE NEGRA A PANDEMIA MAIS DEVASTADORA DE TODOS OS TEMPOS", JOHN KELLY, EDITORA BERTRAND BRASIL.
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