quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Eurásia A Ilha Mundial Tamerlão Timur



O CENTRO DE GRAVIDADE DA MODERNA HISTÓRIA MUNDIAL:

"O Centro de gravidade da moderna história mundial está na Eurásia - nas relações conturbadas, conflituosas, dependente e íntimas das suas grandes culturas e estados, que se estendiam em linha do Extremo Ocidente europeu ao Extremo Oriente asiático." (página 43)

EURÁSIA, A ILHA MUNDIAL:

O britânico Halford Mackinder criou a expressão "Ilha Mundial" para se referir à Eurásia, o continente que se estende do extremo ocidente (Europa) ao extremo oriente (China). Que se estende do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. O que estava fora dessa Ilha Mundial foi denominado de "Mundo Exterior". Esse mundo exterior era composto pelo continente americano, pela Oceania, pelas ilhas do sudeste asiático e pela África Subsaariana. 

De acordo com Halford Mackinder, quem viesse a controla essa "Ilha Mundial" iria controlar o mundo todo. O país que controlasse a Eurásia a partir de seu centro, valendo-se de uma rede de estradas de ferro, poderia manejar amplos recursos humanos e materiais, podendo dessa forma afastar qualquer rival "....para a orla marítima do mundo - o mundo exterior das Américas, da África Subsaariana, das ilhas do Sudeste Asiático e a Oceania." (página 43)

Essa visão geopolítica de Halford Mackinder desprezava o uso dos oceanos e os mares como forma de dominar o mundo. Para ele, essa fase, que tinha sido dominada pela Grã-Bretanha, fazia parte do passado. Com a invenção das estradas de ferro, o domínio dos mares não era mais uma condição para se dominar o mundo. Para se dominar o mundo, bastaria um país dominar a Eurásia, instalar seu centro de poder na região central dela e, a partir dela, por meio de estradas de ferro, dominar todo o continente e, por consequência, todo o mundo. Essa dominação do mundo por meio da dominação da Eurásia poderia ter se concretizado com um Império Soviético ou por meio de um Império Nazista. 

No passado, o Império Mongol, comandado por Gengis Khan e por seus filhos, conseguiu conquistar grande parte da Eurásia. Seus cavaleiros foram da península coreana à Hungria, chegando à atual Croácia. Passaram pela Polônia. Seus herdeiros dominaram a China, o Irã, a Ucrânia e o Iraque. Príncipes de Moscou eram vassalos dos mongóis. Após a morte de Gengis Khan, seu império foi dividido entre seus filhos. Divisões e conflitos internos implodiram o Império Mongol, que poderia ter dominado o mundo com o seu domínio sobre a Eurásia. 

O ÚLTIMO CONQUISTADOR DA EURÁSIA, TIMUR OU TAMERLÃO:

O último conquistador que tentou submeter todo o mundo por meio da conquista da Eurásia foi Tamerlão (Timur).

Tamerlão nasceu em Chagatai, na Ásia Central, numa confederação tribal turco-mongol, em meados do século XIV. Tamerlão, por meio de guerras e selvageria incessantes, construiu um grande império, tentando emular o império mongol. A construção de seu Império foi possível graças ao domínio sobre as rotas comerciais (Rota da Seda) que interligavam o Extremo Ocidente europeu ao Extremo Ocidente oriental asiático. O centro desse império ficava na cidade de Samarcanda, no atual Turcomenistão. 

Tamerlão saiu de Chagatai para conquistar o Irã, o Iraque, a Armênia, a Geórgia. Derrotou o exército otomano na batalha de Ancara em 1402. Pilhou e saqueou o norte da Índia, destruindo a cidade de Deli. Em 1390, invadiu as terras russas. Em 1400 retornou ao oriente médio, para conquistar Damasco e Alepo (atual Síria).

Tamerlão morreu no ano de 1405, quando preparava uma expedição militar para invadir a China. Sua morte foi seguida pelo desmantelamento de seu Império.  

A morte de Tamerão ainda assinalou a última tentativa de unificar a Eurásia sob um único poder. Seu império via-se ainda cercado pelos mamelucos do Egito e da Síria, pela China, pelos Otomanos na Anatólia e pelo sultanato muçulmano no norte da Índia. 

O Império de Tamerlão foi a última tentativa de contestar a partilha da Eurásia entre os Estados do Extremo Ocidente, a Eurásia Central muçulmana e a Ásia Oriental Confuciana. 

O fracasso de Tamerlão também assinalou uma nova era, na qual o poder começara a transferir-se definitivamente dos impérios nômades para os Estados sedentários. 

A morte de Tamerlão coincidiu com uma mudança radical na economia e na geopolítica dos impérios. Essa mudança foi a descoberta do mar como espaço comum de comércio. As rotas comerciais pelos oceanos e pelos mares diminuíram a importância das rotas comerciais (Rota da Seda) que atravessavam a Ásia Central. Não haveria mais a riqueza comercial que despertou a cobiça de tantos conquistados, dos mongóis a Tamerlão. A riqueza agora estava nas rotas comerciais marítimas, que ligavam todo o planeta. 

"A morte de Tamerlão em 1405 assinala um ponto de viragem na história mundial. Tamerlão foi o último de uma série de conquistadores do mundo na tradição de Átila e Gengis Khan que tentou colocar toda a Eurásia - a Ilha Mundial - sob o domínio de um único e vasto império." (página 17)

"...a ideia de um império mundial governado a partir de Samarcanda tornara-se uma fantasia." (página 28)

DECADÊNCIA DA ÁSIA CENTRAL COMO CENTRO DE PODER MUNDIAL:

A ausência de governos centralizados, a predominância da política tribal e os estragos causados pelas campanhas militares empreendidas por Tamerlão e a descoberta de rotas marítimas, que se tornariam as artérias de grandes impérios marítimos, fizeram o poder passar do centro da Ásia para as regiões do extremo ocidente eurasiático (Espanha, Portugal, França, Grã-Bretanha, Holanda) e para o extremo oriente asiático (exemplo: China). 

"...os danos colaterais que Tamerlão infligiu à Eurásia Central e a influência desproporcionada que as sociedades tribais continuavam a exercer nessa região ajudaram (embora, apenas gradualmente) a fazer pender o equilíbrio de poderes do Velho Mundo para o Extremo Oriente e Extremo Ocidente à custa do centro." (página 28)

O velho mundo era a Ásia Central, a região pela qual a Rota da Seda passava. O extremo ocidente era a Europa e o Extremo Oriente era a China. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "ASCENSÃO E QUEDA DOS IMPÉRIOS GLOBAIS, 1400 - 2000", JOHN DARWIN, EDITORA EDIÇÕES 70



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