segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Alexandre Dumas, o General negro de Napoleão Bonaparte e pai de um grande escritor francês





ALEXANDRE DUMAS PAI: 

Alexandre Dumas ouThomas Alexandre Davy de La Pailetterie, foi um homem negro, filho de um nobre francês, Antoine Davy, Marquês de La Pailleterie e de uma escrava, Marie Cossette Dumas. Nasceu na localidade de Jérémie, na ilha de Saint Domingue, atual Haiti, em meados do século XVIII. 

Saint Domingue era uma colônia francesa cuja principal atividade consistia na produção de açúcar, cujo comércio gerava tanta riqueza quanto o comércio de petróleo nos dias de hoje.

"O plantio da cana-de-açúcar era o comércio petrolífero do século XVIII e Saint Domingue era a fronteira do velho oeste para o Ancien Régime, onde filhos de famílias empobrecidas podiam fazer fortuna." (página 40)

"Hoje, o mundo tem tal abundância de açúcar - é um gênero tão básico da dieta moderna, associado a tudo o que é ordinário e prejudicial à saúde - que é difícil acreditar que as coisas foram exatamente o oposto. As Índias Ocidentais foram colonizadas num mundo no qual o açúcar era visto como um artigo escasso, luxuoso e altamente salutar." (página 40)

O pai de Alexandre Dumas ou Thomas Alexandre Davy de La Pailetterie, o nobre francês Antoine Davy, Marquês de La Pailleterie, teve uma vida conturbada. Serviu no exército francês durante a guerra da sucessão polonesa, depois tentou fazer riqueza na ilha de Saint Domingue. Ali tentou trabalhar ao lado de seu irmão Charles, proprietário de um engenho de açúcar. Saiu tudo errado para ele, brigou com o irmão, fugiu levando consigo três escravos do irmão, embrenhando-se nas matas de Saint Domingue. Chegou a mudar seu nome para Antoine Alexandre D'isle. Tentou a vida como um pequeno proprietário na localidade de Jérémie. Teve filhos com uma escrava, Marie Cossette Dumas. Passado algum tempo, com seus pais e irmão já mortos, retornou à França, voltando a usar seu nome Antoine Davy e reivindicando seu título de Marquês e as propriedades de sua família. Trouxe consigo apenas um de seus filhos, Thomas Alexandre/Alexandre Dumas.

Seguindo seu pai, Alexandre Dumas chegou à França em agosto de 1776, Nessa época ele ainda se chamava Thomas Alexandre Davy de La Pailleterie. Ao entrar no exército, no ano de 1786, adotou o nome de Alexandre Dumas, em homenagem à sua mãe negra e escrava, Marie Cossette Dumas. 

Como dissemos, Alexandre alistou-se no exército no ano de 1786. Sua ascensão, apesar da cor de sua pele, foi meteórica. Começou como um simples soldado num Regimento de Dragões, ainda sob o governo de Luís XVI.  Graças ao seu mérito, após a Revolução Francesa de 1789, virou General, estando sob o comando de Napoleão Bonaparte, e teve muitos homens sob o seu comando. 

"um homem negro num mundo de brancos no fim do século XVIII" (página 22)

Como explicar esse homem, filho de um nobre francês com uma escrava negra, fazendo sucesso na sociedade francesa de final do século XVIII? 

Esse fenômeno poderia atribuído ao movimento francês a favor dos direitos civis, aliás, o primeiro do mundo, ocorrido a partir de 1750, que batia de frente com aqueles setores que defendiam a escravidão, notadamente o lobby açucareiro e colonialista, que via na mão de obra escrava um instrumento indispensável para a economia da época. Mesmo com a força do lobby açucareiro/colonialista, escravos das colônias que eram levados para a metrópole francesa acabavam, em alguns casos, obtendo sua liberdade por meio de processos judiciais.

"Ao contrário do sistema legal moderno da França, baseado no Código Napoleônico, o sistema do Ancien Régime (Antigo Regime) se apoiava fortemente na questão do precedente: a França era governada por máximas destiladas por advogados examinando documentos com centenas de anos. Ausente um corpo legislativo como o Parlamento inglês, esses tribunais (Parlements) superiores franceses não só interpretavam a lei, eles a escreviam." (página 81)

Os Parlaments eram órgãos judiciais que interpretavam os costumes franceses antigos, emitindo decisões com força de lei. Juristas usaram esses Parlements para conseguir estabelecer que a França era a Terra da Liberdade, conceito extraído da fundação do país.

E essas leis adotadas por esses Tribunais (Parlements) consagravam o princípio da liberdade, segundo o qual "....ninguém devia ser mantido em servidão involuntária em solo francês. A ideia de aplicar esse conceito à condição de escravo desembarcando em portos franceses começou no fim do século XVI." (página 83)

Aceitava-se então que houvesse escravos nas colônias francesas, como na ilha de Saint Domingue, mas não se aceitava que houvesse escravidão na metrópole, na França. Dizia-se que os Francos, que dominaram o território francês após a queda do Império Romano, etimologicamente tinham seu nome relacionado à liberdade: franc = livre. Dizia-se ainda que a França, por ser o primeiro país cristão da Europa, não poderia aceitar que em seu território houvesse escravidão. 

CASAMENTO DE ALEXANDRE DUMAS:

Alexandre Dumas casa-se com Marie Louise Labouret, uma mulher branca, filha de um burguês, um estalajadeiro de Villers-Cotterêts. Um dos filhos do casal adotaria o nome do pai, Alexandre Dumas, e sob esse nome tornar-se-ia um famoso escritor francês do século XVIII, autor dos livros Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo. 

ALEXANDRE DUMAS FILHO:

Foi um famoso escritor francês no século XIX, autor de obras de sucesso, como por exemplo o Conde de Monte Cristo e os Três Mosqueteiros. 

O pai, do qual pegou o nome, foi um grande general. Da mesma forma como seu pai foi vítima de preconceito racial, Alexandre Dumas viu sua obra literária ser atacada por contemporâneos por causa da cor de sua pele.  

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CONDE NEGRO", GLÓRIA, REVOLUÇÃO, TRAIÇÃO E O VERDADEIRO CONDE DE MONTE CRISTO, DE TOM REISS, EDITORA OBJETIVA

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou lendo essa belíssima obra literária. Fascinado pelo personagem Alexandre Dumas e sua conduta frente ao exército. Sua postura no começo da ascensão do "grande" Napoleão Bonaparte. Pensar que um negro, pôde naquele período ser tão benevolente e próspero militar inspira a mim que sou negro e gosto de personagens negros fortes.