Com o passar do tempo, a capacidade da Pólis de engajar as pessoas em sua defesa diminui. A pólis estava dividida entre um partido nacionalista, que queria fazer uma última resistência contra a Macedônia, e o partido macedônio, que desejava cooperar, se aliar com a monarquia da Macedônia em sua luta contra o império Persa. Como resultado disso, teremos, de um lado, pensadores como Platão que, acreditando ainda na viabilidade da política, tentarão criar formas de manter a Pólis coesa. De outro lado, surgirão pensadores (cínicos, epicuristas) que irão procurar uma via que levará ao apolitismo.
Se um "cosmion" político (a pólis - cidade, uma entidade política, cujo governo é aceito por quem lhe está submetido, sejam pessoas livres, estrangeiros ou escravos) está intacto ou pelo menos permanece coeso, a literatura que o evoca, as ideias políticas que a justificam também permanecerão intactas. O problema é quando as pessoas que vivem na Pólis já não se entendem mais. Quando isso acontece, qual o caminho deve ser seguido? Continuar apostando na política como uma forma de organizar a sociedade ou optar pelo apolitismo? Platão optou pela política. Outros pensadores (cínicos, epicuristas), por sua vez, optaram pelo apolitismo.
Primeiramente, é preciso dizer que na pólis grega nem todos participavam da vida política. A participação na vida política da pólis sempre foi restrita a um corpo definido de cidadãos, enquanto amplos setores da população ficavam com o status de apolíticos. "No pensamento grego, portanto, temos que lidar com o problema do apolitismo sob dois aspectos que frequentemente se justapõem. O primeiro aspecto é representado pelo apolitismo de fato, isto é, os sentimentos das pessoas que não têm a chance ou o desejo de governar. Esses sentimentos podem ser encontrados em todos os estratos da sociedade grega, tanto entre cidadãos como em meio à população de não cidadãos da pólis. O segundo aspecto é representado pelo apolitismo formal, isto é, o status formal da não cidadania, seja como cidadão livre, seja como escravo." (página 101)
Filósofos Apolíticos: Cínicos e Epicurismo
A vida na Pólis já não é mais a vda perfeita. Cínicos. Autossuficiência - Autarquia - Autarkeia
Segundo o filósofo Sócrates, não ter desejos é um atributo da divindade. Tê-los, o menos possível, e a única forma para o homem se aproximar da divindade.
Essa ideia estava implícita na "tese platônica de que Deus é a medida de todas as coisas; e a encontramos novamente na autarkeia (autossuficiência) aristotélica como a categoria da existência perfeita, estando presente na hierarquia do universo, partindo de Deus, passando pela pólis, até chegar no homem." (página 108)
Com a chegada dos cínicos, a vida na pólis já não é mais vista como algo perfeito. A pólis é omitida na hierarquia das entidades autossuficientes. Os valores da pólis negados pelos cínicos incluíam a participação na vida política e as instituições de propriedade e família. "Além disso, uma vez que, para os cínicos, a verdadeira liberdade consistia na libertação da alma de seus vícios, as divisões entre cidadãos e escravos, gregos e bárbaros, foram declaradas irrelevantes." (página 109)
Essa atitude de desvalorizar da vida na pólis não levou a que os cínicos adotassem ideias revolucionários. Os cínicos, por exemplo, não demandaram pelo fim da escravidão. Tampouco demandaram pelo fim da propriedade privada. O cínico preferia viver como mendigo, pois uma vida de pobreza assegura a autossuficiência ao homem.
"Em vista de tal indiferença para com as instituições sociais (...). Parece mais provável que o ascetismo cínico tivesse uma tintura aristocrática; na medida em que continha um atrativo, deve ter atraído os homens que tinham energia espiritual e força de caráter para ignorar amenidades da vida civilizada que tinha perdido sua magia. (...) A única ideia que emerge com alguma clareza dos poucos fragmentos de Diógenes é que todo o mundo, o cosmos, é a terra natal do sábio; ele se sente perfeitamente em casa em todos os lugares e em nenhum, independentemente das condições exteriores; o sábio é um cidadão, não da pólis, mas da cosmópolis." (página 109)
Platão e Diógenes.
Pólis de Platão:
Plátão usou seu pensamento para buscar uma regeneração do modo de vida ao qual estava ligado por nascimento e tradição. A pólis bem ordenada tem a função de diminuir a ansiedade existencial do homem ao dar à sua alma, pela evocação mágica da comunidade, a garantia de ter um lugar significativo em um cosmos bem-ordenado.Quando a pólis deixa de ser bem ordenada, as inquietações primordiais são novamente liberadas, tornando o mundo circundante numa vastidão desordenada. Por fim, para Platão, uma comunidade política (pólis) não pode existir por longo tempo a não ser que a coesão de seus membros seja garantida efetivamente por meio de um laço espiritual.
Cosmópolis de Diógenes:
Diógenes, por sua vez, refletia para evocar a ideia de uma comunidade que podia dar sentido à vida do indivíduo apolítico.
A busca por hedone, prazer. Razão da ação humana. A busca por prazer. Epicurismo. Ideia do cosmopolitismo como justificativa para se retirar da pólis.
Epicuro (341-270 a.C.) tratava do conceito de ataraxia (paz de espírito nas almas de seus membros - membros da escola de Epicuro). Com a desagregação da Pólis, pelos motivos já expostos acima, ocorre o fenômeno da "Nosos", que indica a desordem de um espírito que tinha perdido a sua orientação religiosa, espiritual e social. Com a desintegração da Pólis grega (conflitos políticos diversos, disputa entre gregos que apoiavam uma união com a Macedônia com gregos que apoiavam uma oposição à Macedônia), a principal função do "cosmion" político ( a pólis, a entidade política), que é a de diminuir a ansiedade existencial do homem, pela evocação mágica de uma comunidade, dando a ele um lugar significativo em um cosmos bem-ordenado, deixa de existir. Para preencher esse vazio, surge então o Epicurismo, como antes já tinham surgido os cínicos. Quando a ordem da pólis desaba, as inquietações primordiais são novamente liberadas e o mundo circundante torna-se uma vastidão desordenada.
Tentando reordenar as coisas, o sistema epicurista formulou a seguinte ideia:
"O sistema epicurista explica o universo e o homem como o resultado do movimento dos átomos, e interpreta as formas das coisas corpóreas, bem como a alma do homem, como combinações temporárias de partículas de matérias. Embora essa teoria contenha a ideia originalíssima de que os átomos produzem um 'giro' em seu movimento (porque de outra maneira eles iriam cair eternamente em linhas paralelas sem jamais entrarem em combinação), e que esse 'giro' no homem é o que é chamado de 'livre arbítrio', o seu propósito primário não é uma investigação da natureza." (páginas 114/115)
O homem, segundo os epicuristas, deve seguir a sua natureza, que o leva a buscar o prazer e a evitar a dor.
Anotações extraídas da leitura do livro Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo, História das Ideias Políticas, Editora É realizações, Coleção Filosofia Atual, volume 1 Eric Voegelin
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