terça-feira, 6 de julho de 2021

As Estratégias de Santo Agostinho e Maquiavel




O POLITEÍSMO E O MONOTEÍSMO:

No início da história humana vigorava o politeísmo. O medo daquilo que está além da compreensão humana é a fonte criadora das religiões, dos deuses. Desde sempre deuses e espíritos personificaram, materializaram as manifestações da natureza (raios, enchentes, temporais, vulcões, terremotos, eclipses, etc), doenças, etc. Enfim, tudo aquilo que se encontrava além da compreensão humana era materializado na forma de um deus, de um espírito. Daí surgiu a adoção do politeísmo na Antiguidade. Havia uma miríade de deuses e espíritos venerados e temidos pelos seres humanos. 

Enquanto vigorava o politeísmo, a religião se mostrava inofensiva para a administração dos Estados. 

"Os deuses passavam tanto tempo discutindo entre si que os mortais mantinham uma espécie de equilíbrio aqui na terra." (página 97)

Mas quando o monoteísmo superou o politeísmo, surgiram várias perguntas:

- as pessoas deviam obediência a César (Estado) ou a esse Deus único, onisciente e onipotente?

- o Estado agora precisaria da aprovação da Igreja para que seus atos fossem legitimados?

- a Igreja sobreviveria sem a proteção do Estado?

Para resolver essas questões foram elaboradas duas estratégias, uma por Santo Agostinho e outra por Maquiavel. 

SANTO AGOSTINHO BUSCAVA, ANTES DE TUDO, CONCILIAR RAZÃO E FÉ:

Como conciliar a ideia de um Deus onipotente e onisciente com o mundo imperfeito no qual vivemos, onde até um inocente bebê, na visão de Santo Agostinho, assume a forma de um verme voraz?

"Se os bebês são inocentes, não é por lhes faltarem o desejo de fazerem o mal, mas por lhes faltarem forças." (página 99)

Será por meio da Razão que Santo Agostinho tentará explicar essa contradição envolvendo um Deus onipotente e um mundo imperfeito. Esse mundo imperfeito estava nos pecados confessados pelo próprio Santo Agostinho, em seu livro "Confissões". A imperfeição do mundo ainda estava na decadência do Império Romano. Santo Agostinho vivenciou as invasões dos bárbaros, a tomada de Roma pelos visigodos de Alarico, no ano de 410. 

Nessa busca de tentar conciliar a onipotência de Deus com um mundo imperfeito, Santo Agostinho buscará, por exemplo, justificar a guerra, uma conduta obviamente pecaminosa do homem, mas que podia ser justificada, por meio do seguinte pensamento: a guerra existe porque Deus talvez quisesse punir o homem para o seu próprio bem ou, se ele fosse morto no campo de batalha, viesse a ser transportado para um mundo melhor.

Enfim. sua luta para conciliar fé e razão, para conciliar um Deus onipotente com um mundo imperfeito, Santo Agostinho buscava coisas positivas em coisas ruins, pois isso refletiria de alguma forma a vontade de Deus. Santo Agostinho procurava lógica nos infortúnios, nas imperfeições do mundo, buscando justificá-los dizendo que refletiam a vontade de Deus.

A ESTRATÉGIA DE SANTO AGOSTINHO PARA CONCILIAR O ESTADO (CÉSAR) E A IGREJA (DEUS):

No seu esforço para tentar conciliar Deus e Estado Agostinho escreveu a obra "Cidade de Deus", na qual declara que só há um Deus e só há um Estado (Cesar), e você deve obediência aos dois. 

Mas como servir a dois senhores simultaneamente? Como ser leal a dois senhores? Como ser simultaneamente leal a Deus e a César (Estado)? Uma pessoa então teria que se equilibrar entre esses dois poderes, o terreno, representado pelo Estado, e o celestial, representado por Deus. 

Esse equilíbrio é então "a maior das tarefas estratégicas, pois exige alinhar capacidades humanas limitadas com uma aspiração - a vida após a morte - sem limites." (página 101)

Para buscar esse equilíbrio, Santo Agostinho buscava conciliar a Fé com a Razão. Para isso, ele buscava criar um guia de comportamento, um checklist que deveria ser seguido pelas pessoas, na condução/direção de suas vidas aqui na Terra (Cidade dos Homens). Se a pessoa agisse de acordo com as orientações de Santo Agostinho, ela então teria direito à vida eterna, podendo então entrar na Cidade de Deus. 

A obra "Cidade de Deus" é então é a tentativa de mostrar ao cristão como ele deveria agir para se equilibrar entre suas obrigações terrenas, em relação ao Estado, e suas obrigações com Deus, de forma a salvar a sua alma. 

Ao agir, o homem deveria equilibrar suas ações entre, fazer suas escolhas, entre as seguintes polaridades:

ORDEM - JUSTIÇA

GUERRA - PAZ

CÉSAR (ESTADO) - DEUS

"A Cidade de Deus é uma estrutura frágil dentro da pecaminosa Cidade dos Homens." (página 103)

AS JUSTIFICATIVAS DE SANTO AGOSTINHO PARA A GUERRA, O ESTADO E A ORDEM:

Santo Agostinho, na sua busca para conciliar a Fé com a Razão, buscou justificar a existência do Estado, da Guerra e da Ordem. 

- Existência do Estado:

Se Deus é Todo-Poderoso, por que há a necessidade da existência de um Estado? Santo Agostinho respondia dizendo que sem um Estado não haveria cristãos, e essa não podia ser a vontade de Deus.

De fato, não obstante períodos de perseguição, o Estado representado pelo Império Romano propiciou o desenvolvimento do cristianismo, inclusive reconhecendo-o, por meio do então Imperador Constantino. 

Agostinho tinha motivos de sobra para pensar dessa forma. Ele temia que a decadência do Império Romano, então tomado pelas invasões bárbaras (Roma foi saqueada pelo Visigodo Alarico, em 410 d.C), viesse a colocar em risco o próprio cristianismo. Santo Agostinho temia que o cristianismo, sem um Estado forte que o protegesse, submergisse diante das invasões dos bárbaros.

"Uma fé pacífica - a única forma de justiça para os cristãos - não pode florescer sem alguma forma de proteção proporcionada por um Estado." (página 103)

- A Ordem deve preceder a Justiça:

Diante então dessa desordem verificada no século V, com o Império Romano sendo invadido por povos bárbaros, Santo Agostinho procurou justificar que a Ordem deveria preceder a Justiça.

"Estabeleceu-se, então, que a ordem deve preceder a justiça, pois direitos podem existir mesmo sob terror constante." (página 103)

- Existência da Guerra:

Santo Agostinho foi o primeiro cristão a criar exceção para a  conduta de dar a outra face após ser ofendido/agredido. O cristão não deveria dar a outra face e sim lutar e, se necessário, matar o seu inimigo. Em seguida, Santo Agostinho estabeleceu um guia para justificar o emprego da guerra:

- teria ocorrido uma provocação?

- seria o recurso à violência um meio escolhido, não um fim em si mesmo?

- seria o uso da força proporcional a seu propósito de forma a não destruir o que deveria defender?

- teria a autoridade competente esgotado todas as alternativas pacíficas?

CONCLUSÃO:

A estratégia de Santo Agostinho, para um cristão conciliar suas obrigações com o Estado e com Deus, para conciliar as suas aspirações (ilimitadas) à Justiça, à Paz e à Vida Eterna com as realidades mundanas (capacidades limitadas) da Ordem, da Guerra e do Estado, baseava-se na adoção da PROPORCIONALIDADE, isto é, "os meios devem ser adequados, ou, pelo menos, não prejudiciais aos fins almejados." (página 107)

A ESTRAGÉGIA DE MAQUIAVEL:

Maquiavel tinha várias diferenças em relação a Santo Agostinho. Primeiro de tudo, Maquiavel não era santo. Ao contrário de Santo Agostinho, dizia que "DEUS NÃO QUER DECIDIR TUDO."

Contrariando ainda mais Santo Agostinho, Maquiavel nunca tentou restringir o livre-arbítrio do ser humano nos limites de sua razão. Com efeito, o livre-arbítrio de Santo Agostinho estava limitado pela razão, na medida em que as escolhas que o homem fazia entre Deus e César (Estado), entre a Justiça e a Ordem e entre a Paz e a Guerra, deveriam ser feitas sempre por meio da Razão, seguindo as instruções dadas por ele mesmo, isto é, retiradas de seus ensinamentos. Se assim agisse, o homem salvaria a sua alma e teria direito à vida eterna. 

Então, contrariando frontalmente o pensamento de Santo Agostinho, Maquiavel dizia:

"Deus não quer decidir tudo. Para que nosso livre-arbítrio não se anule e parte de nossa glória dependa de nós." (página 109).

Num mundo religioso como o do século XVI,  dizer que Deus não queria decidir tudo, era revolucionário. Se Deus não queria decidir sobre tudo que acontecia no mundo, abria para o ser humano a chance de atuar para corrigir a direção das coisas. Dessa forma, ao contrário de Santo Agostinho, Maquiavel não via o mundo como algo predeterminado.  

Maquiavel dava como exemplo um Estado governado erroneamente, no qual a cobiça dos homens logo irá destruí-lo, quer por uma revolta interna, quer por uma guerra externa. Mas se um Estado for governado com sabedoria, ele poderá obter bons resultados, como no caso de uma cidade que, para evitar enchentes, constrói diques, comportas e barragens, de forma a regular as cheias de um rio. Para Maquiavel, eram os homens que deveriam agir para evitar que uma cidade fosse destruída por uma enchente, por meio de obras de engenharia, e não ficar esperando pela boa vontade de Deus, afinal de contas, Deus não quer decidir tudo.

ESTRATÉGIAS QUE UM GOVERNANTE DEVERIA ADOTAR, SEGUNDO MAQUIAVEL:

Primeiramente, já que Deus não queria decidir sobre tudo, então o governante não precisaria, ao tomar uma decisão, buscar discernir a vontade de Deus. Seria presunçoso e temerário se um governante, antes de agir, ficasse perquirindo sobre qual seria a vontade de Deus no tratamento de um determinado assunto. 

A estratégia de Maquiavel também pode ser resumida na adoção da proporcionalidade, entendida esta na ideia de que o homem deve fazer o que é exigido de acordo com a necessidade, mas não à sua mercê em todos os aspectos. (página 113)

RESUMO DAS DIFERENÇAS DAS ESTRATÉGIAS DE SANTO AGOSTINHO E MAQUIAVEL:

SANTO AGOSTINHO buscou estratégias para se defender do caos na Terra e das labaredas do inferno

MAQUIAVEL buscou estratégias para se esquivar do governantes e Estados incompetentes

SANTO AGOSTINHO buscou razão num único Deus

MAQUIAVEL elaborou sua estratégia ignorando Deus

SANTO AGOSTINHO criou uma cidade imaginária num livro

MAQUIAVEL preparou um guia para os príncipes de como governar seus Estados


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "AS GRANDES ESTRATÉGIAS, DE SUN TZU A FRANKLIN ROOSEVELT, COMO OS GRANDES LÍDERES MUDARAM O MUNDO", DE JOHN LEWIS GADDIS, EDITORA CRÍTICA.



segunda-feira, 10 de maio de 2021

Como que a Guerra entre a Itália e a Abissínia ajudou Hitler e enterrou a Liga das Nações



INVASÃO ITALIANA À ABISSÍNIA:

Em 3 de outubro de 1935, a Itália, sob a condução de Benito Mussolini, invadiu a Abissínia, atual Etiópia. A Abissínia era um país independente, situado na África Oriental, governado pelo Imperador Hailé Selassié. 

LIGA DAS NAÇÕES:

Organismo criado após o fim da Primeira Guerra Mundial. Tinha o objetivo de reunir as nações do mundo para que elas pudessem resolver pacificamente seus conflitos. 

"Das cinzas da Primeira Guerra Mundial, contudo, emergiu um novo conjunto de princípios internacionais, cristalizado pela Liga das Nações. A época do imperialismo descarado e da diplomacia na ponta da faca já deveria ter acabado, e a era do direito internacional, tido início." (página 93)

O artigo 16 do instrumento que criou a Liga das Nações dizia que um ataque a qualquer membro constituía um ataque a toda a Liga. 

Itália, Grã-Bretanha, Itália e Abissínia faziam parte da Liga das Nações.

MEDO DE JOGAR A ITÁLIA NO COLO DE HITLER:

Com a invasão italiana na Abissínia, surgiu o dilema: 

França e Grã-Bretanha deveriam intervir para obstar a agressão italiana na África Oriental? 

Pela letra fria da lei, que tinha criado a Liga das Nações, o ataque a qualquer membro constituía um ataque a todos os membros da Liga das Nações. A maioria dos países membros da Liga não tinham condições de acudir a Abissínia, mas França e Grã-Bretanha tinham os meios para fazê-lo. Mas não fizeram nada de relevante, a não ser algumas sanções econômicas, que não afetavam o produto mais necessário para o esforço de guerra italiano, o Petróleo. 

A conduta de ingleses e franceses pode ser entendida pelo medo de, ao ajudarem militarmente a Abissínia, ou se pressionassem demais a Itália, impondo-lhe sanções que lhe obstassem o acesso ao Petróleo, acarretariam um acordo dela com a Alemanha de Hitler.  

Além disso, havia vozes importantes na Grã-Bretanha que eram contrárias à guerra contra a Itália, por causa da Abíssinia, um país que, segundo um político inglês, era "um país bárbaro, que ainda praticava o comércio de escravos." (página 96)

O rei inglês, Jorge V, disse para Lloyd George, ex-Primeiro-Ministro inglês durante a Primeira Guerra Mundial, "Não vou entrar em outra guerra, Não vou, gritava um rei George V claramente transtornado para Lloyd George." (página 96)

O parlamentar conservador Henry Chips Channon, "que indagava por que deveria o Reino Unido lançar-se à guerra pela Abissínia, 'quando grande parte dos recantos mais remotos do nosso Império (Império Britânico) foi ganha por meio da conquista." (página 96)

Não obstante a Marinha da Grã-Bretanha ser superior numa comparação com a da Itália, havia o receio de que o Japão se aproveitasse de um conflito entre Grã-Bretanha e Itália para iniciar um ataque no Extremo Oriente. 

SE A ABISSÍNIA NÃO FOSSE SOCORRIDA, A LIGA DAS NAÇÕES ESTARIA DESTRUÍDA:

Se a Abissínia não fosse socorrida, a autoridade da Liga das Nações iria perecer. Seria o fim de fato dessa instituição criada para fazer valer o Direito Internacional sobre o uso da força.

"...o Reino Unido precisa fazer valer o Pacto da Liga e apoiar sanções contra a Itália. Se não o fizesse, a autoridade da Liga, já abalada pela invasão japonesa da Manchúria, implodiria, e o mundo perderia um instrumento de contenção de agressores, em particular da Alemanha. Era essa a visão de Churchill, apesar de também enxergar com bastante simpatia a noção de que a ação firma contra a Itália só faria destruir a Frente de Stresa e jogar Mussolini nos braços de Hitler." (página 96)

ACORDO PARA ACABAR COM A GUERRA. A AGRESSÃO IMPERIALISTA DE MUSSOLINI FOI PREMIADA:

Grã-Bretanha, França e Itália acertaram-se então para por um fim à guerra. O acordo foi tão vergonhoso, que o Secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Hoare, foi obrigado a renunciar. O Acordo estabelecia que a Abissínia teria que ceder 2/3 de seu território para a Itália, recebendo como compensação uma fina faixa territorial na Eritreia. 

Em 5 de maio de 1936, tropas italianas entraram em Adis Adeba. Quatro dias depois, Mussolini decretou a anexação da Abissínia e a criação do Império Fascista. Hailé Selassié, Imperador da Abissínia, fugiu para a Grã-Bretanha. 

Hailé Selassié ainda discursou na Suíça, onde pediu que a Liga das Nações impusesse sanções à Itália:

"Trata-se da confiança depositada por cada Estado nos tratados internacionais. Trata-se do valor das promessas feitas às pequenas nações de que lhe serão respeitadas e garantidas a integridade e a independência. Trata-se do princípio da igualdade dos Estados, por um lado, ou então a obrigação depositada sobre os pequenos de aceitarem elos de vassalagem. Numa palavra, é a moralidade internacional que está em jogo." (Hailé Selassié, junho de 1936 - página 101)

O esperneio de Hailé Selassié de nada serviu. A Liga das Nações decidiu suspender as sanções contra a Itália.

CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA ENTRE ITÁLIA E ABISSÍNIA E A DESMORALIZAÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES:

"Mais até do que Mussolini, o vitorioso da guerra entre Itália e Abissínia foi Hitler." (página 101)

Primeiro de tudo, Hitler viu o fim da Frente de Strese, uma união entre Grã-Bretanha, França e Itália, estabelecida em abril de 1935, num encontro na cidade de Strese, na Itália, que tinha como objetivo conter a Alemanha. 

Hitler ainda viu ingleses e franceses comportarem-se de forma ignominiosa, abandonada a Abissínia à própria sorte. 

A autoridade da Liga das Nações, que poderia ser usada para conter os abusos da Alemanha Nazista, não existia mais. A Liga estava desmoralizada. Se ela não podia proteger a Manchúria, a Abissínia, não poderia proteger ninguém mais.

"Mussolini mostrara tudo o que se podia obter por meio da agressividade pura e simples. e as potências ocidentais haviam se mostrado incapazes de contê-lo. Hitler registrou a mensagem e acelerou seus planos." (página 102)

E Hitler acelerou mesmo. Acelerou na Renânia, acabando com a desmilitarização da região que tinha sido determinada pelo Tratado de Versalhes. E não parou por aí: vieram a anexação da Áustria (Auschluss), da Boêmia, da Morávia (atual República Tcheca)...


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "NEGOCIANDO COM HITLER, A DESASTROSA DIPLOMACIA QUE LEVOU À GUERRA", DE TIM BOUVERIE, EDITORA CRÍTICA.



Por que a Grã-Bretanha não deteve Hitler tão logo ele assumiu o Poder?



PERÍODO ENTREGUERRAS - PACIFISMO:

O Período compreendido entre o final da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda Guerra Mundial foi caracterizado, na Grã-Bretanha, por um espírito pacifista. 

Com efeito, entre 1933 e 1934, havia na Grã-Bretanha um espírito pacifista maior que em qualquer outra época desde o fim da Primeira Guerra, em 1918. Filmes e livros sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial foram lançados entre os anos de 1920 e 1930, ajudando a criar na opinião pública um sentimento de repulsa sobre qualquer iniciativa que levasse a uma nova guerra. Um dos livros de maior sucesso foi a obra de Erich Maria Remarque, "Nada de novo no front." 

A QUIMERA DO DESARMAMENTO E A GUERRA AÉREA:

Havia o desejo pelo desarmamento, pois foi a armamento desenfreado que levou à Primeira Guerra Mundial. Houve uma Conferência de Desarmamento, na Suíça. 

A opinião pública, na Grã-Bretanha, era a favor do desarmamento. 

Havia ainda o medo das novas armas, notadamente o uso de aviões para bombardear cidades. O surgimento dos bombardeios aéreos tinha esfarelado a noção de fronteiras. Segundo um político britânico, então no cargo de Primeiro Ministro, Baldwin, as fronteiras da Grã-Bretanha não estavam mais estabelecidas pelos "...penhascos de giz de Dover, mas pelo Rio Reno." (página 52)

Havia a noção segundo a qual não havia poder na terra capaz de deter um bombardeamento aéreo.

A guerra aérea na década de 30 era encarada da mesma forma como nós encaramos hoje um conflito nuclear. (página 55)

"A versão cinematográfica de "Daqui a cem anos", de H.G. Wells, lançada em 1936, imaginava a destruição completa de Londres após um ataque aéreo ..." (página 55)

Cidades seriam totalmente destruídas, daí a necessidade de lutar por um consenso em favor do desarmamento.

"....grandes armamentos levam inevitavelmente à guerra." (página 42)

O temos de que a destruição viesse de cima, por meio de ataques aéreos, obrigou a Grã-Bretanha a gastar mais dinheiro com sua Força Aérea do que com seu exército e marinha. E isso se fez necessário, diante do fracasso da Conferência de Desarmamento e diante do rearmamento alemão. 

O investimento da Grã-Bretanha em sua Força Aérea atendia ao conceito da Dissuasão Aérea. 

Dissuasão Aérea:

A ideia da Dissuasão Aérea nasceu da visão apocalíptica de uma guerra aérea. A única forma então de se defender de um bombardeio inimigo era o ataque, "...o que significa termos que matar mais mulheres e crianças com mais celeridade do que o inimigo se quisermos salvar nossas peles." (página 49)

A ESTRATÉGIA BRITÂNICA NO ENTREGUERRAS:

A estratégia britânica quando da ascensão do nazismo na Alemanha visava a "Limitação de Vulnerabilidades." Tinha por objetivo reforçar a Força Aérea para bombardear os Alemães em sua casa, reduzindo assim a sua força de combate. O britânicos queriam evitar o envio de grandes forças terrestres para o continente, pois ainda estavam vivas na memória as tragédias dos combates da Primeira Guerra Mundial. As lembranças do Somme e de Passchandaele, onde milhares de soldados britânicos morreram em combate, ainda estavam vivas. Na visão dos britânicos, o exército francês teria uma força terrestre capaz de obstar uma avanço alemão. Os franceses ainda contavam defesas terrestres formidáveis, como a Linha Maginot. 

Além do uso da Força Aérea, a Grã-Bretanha também se valeria do uso de seus navios para estabelecer um bloqueio naval.

FALTAVA DINHEIRO PARA A GRÃ-BRETANHA FORTALECER SUAS FORÇAS ARMADAS:

Vigorava na Grã-Bretanha, desde o ano de 1919, a "Regra dos Dez Anos", que presumia que o Império Britânico não se engajaria numa grande guerra durante os dez anos seguintes, de forma que o orçamento militar poderia ser diminuído nesse período.

Essa regra foi renovada em 1929. Mas essa política teve que ser abandonada em razão da invasão do Japão à província chinesa da Manchuria, no ano de 1931. Mas mesmo assim, os efeitos da Grande Depressão, somado ao espírito de desarmamento vigente então na Grã-Bretanha, atuaram para manter dilapidado o sistema de defesa britânico entre 1932 e 1935. (página 44)

CHURCHILL, A VOZ PELA GUERRA CONTRA HITLER:

Em novembro de 1934, Winston Churchill discursou no Parlamento Inglês para alertar os ingleses sobre o rearmamento alemão. Mas Churchill, naquela ocasião, não encontrou apoio. A resposta do governo inglês, por meio de seu Primeiro Ministro, Baldwin, foi no sentido de desmerecer o discurso de Churchill, dizendo:

"No que se referia à comparação, a Força Aérea alemã correspondia a apenas 50% da RAF (Força Aérea inglesa)." (página 56)

No geral, naquele final de ano de 1934, a política da Grã-Bretanha era a de tentar apaziguar Hitler, pois a alternativa a isto seria uma corrida armamentista que provavelmente levaria a outra guerra. E o governo inglês, naquela altura, não estava disposto a pagar esse preço. Nem a opinião pública aceitaria o rearmamento, que também era atacado pelo Partido Trabalhista inglês, sob o comando de Clement Attlee. O rearmamento era visto como uma das causas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

OS APAZIGUADORES:

A tentativa de apaziguar Hitler, de tentar achar uma forma de negociar com ele, nasceu de um sentimento de culpa que acometia membros da elite britânica e do governo inglês. Esse sentimento de culpa foi causado pela constatação que o Tratado de Versalhes tinha sido duro demais com a Alemanha, "...fornecendo todas as mágoas que o coração de um nacionalista alemão poderia desejar." (página 64)

A noção de que a culpa pelo nazismo pertencia aos aliados (França e Grã-Bretanha - Tratado de Versalhes) era fundamental à mentalidade a partir da qual se desenvolveu o apaziguamento.

"Se o nacional-socialismo (nazismo) fora 'criado' por Inglaterra e França, seria apenas lógico que coubesse aos dois países apaziguá-lo com a reparação das mágoas, por meio das quais havia prosperado." (página 64)

Os defensores do apaziguamento acreditavam que poderiam alterar o Regime Nazista, até reformá-lo, desde que os aliados se mostrassem dispostos a fazer justiça à Alemanha, leia-se, reformando o Tratado de Versalhes. 

David Lloyd George, ex-Primeiro Ministro inglês durante a Primeira Guerra, alertou que o Tratado de Versalhes tinha transformado a Alemanha num pária. Havia chegado a hora de corrigir os erros do passado, isto é, os duros termos do Tratado de Versalhes teriam que ser revistos, de forma a trazer a Alemanha de volta para a comunidade das nações. 

O MEDO DO COMUNISMO:

A elite inglesa via o nazismo como algo menos ruim do que o comunismo. Era o mal menor. Se tivessem que escolher entre Hitler e Stalin, escolheriam o primeiro. Nesse sentido, o diretor do Banco da Inglaterra, Montagu Norman, "...descrevia Hitler e o Ministro da Economia da Alemanha, Hjalmar Schacht, como baluartes da civilização engajados em uma guerra em nome do nosso modelo de sociedade." (página 69)

Essas pessoas viam em Hitler uma barreira que iria conter a expansão do comunismo. A lembrança da revolução bolchevique ainda estava bem viva na mente da elite inglesa. Não dava para esquecer o assassinato do Czar Nicolau II e de sua família. Não dava para esquecer que o comunismo pregava o fim da propriedade privada. 

ACORDO NAVAL ANGLO-GERMÂNICO DE 18 DE JUNHO DE 1935:

Em março de 1935, John Simon, Secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, e Anthony Eden, Lorde do Selo Privado inglês, tiveram um encontro com Adolf Hitler, em Berlim.

Seria mais uma tentativa para amansar Hitler. Mas Hitler deixou uma péssima impressão. Hitler mantinha-se irredutível em sua ambição de recuperar as colônias que a Alemanha tinha perdido depois do fim da Primeira Guerra. Hitler já havia violado o Tratado de Versalhes, ao criar uma Força Aérea, a Luftwaffe. Hitler ainda pretendia expandir suas forças terrestres para 300 mil homens, outra violação do Tratado de Versalhes. Hitler ainda dava sinais de que pretendia acabar com a desmilitarização da Renânia. 

Diante disso, Sir John Simon reconheceu para o seu governo que, mais cedo ou mais tarde, as pretensões alemãs teriam que ser obstadas com o uso da força. (página 87)

Os ingleses finalmente tinham acordado para o perigo representado pelo regime nazista.

Todavia, os alemães voltaram a pôr os ingleses para dormir, por meio de uma jogada de Hitler. A jogada de Hitler consistia num acordo naval com a Grã-Bretanha. A proposta alemã atendia a um desejo antigo da política de defesa da Grã-Bretanha. Ela estabelecia a frota naval alemã com 35% do tamanho da Marinha inglesa. 

E essa proposta veio num momento em que a Marinha inglesa via-se ameaçada pela expansão japonesa. O Japão tinham sinalizado, em dezembro de 1934, que não iriam renovar o Tratado Naval de Washington, que concedeu tanto à Grã-Bretanha quando aos Estados Unidos da América superioridade naval sobre os japoneses da ordem de 5 para 3. 

"Aquele era um presságio de uma disputa naval com o Japão, e o Reino Unido já havia concluído que não tinha como arcar com ela. Deparar-se com o desafio dos alemães ao mesmo tempo era impensável." (página 88)

E a Grã-Bretanha ainda tinha a lembrança da tentativa alemã de superá-la na produção de navios de guerra, às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial. 

A jogada de Hitler acabou surtindo o efeito esperado. O Almirantado inglês, responsável pela Força Naval da Grã-Bretanha, "...alertara o Gabinete (o governo inglês) para agarrar com as duas mãos a oferta de Hitler." (página 88) 

Em 18 de junho de 1935, Alemanha e Grã-Bretanha então assinando o Acordo Naval Anglo-Germânico.

ITÁLIA E FRANÇA SENTEM-SE TRAÍDOS PELA GRÃ-BRETANHA:

Itália a França se sentiram traídos pelo Acordo Naval Anglo-Germânico. Isso porque, em abril de 1935, na cidade italiana de Stresa, os primeiros ministros da Inglaterra e da França se encontraram com o Duce Mussolini. Nesse encontro ficou acertado uma frente comum para deter o rearmamento alemão e a violação alemã dos termos do Tratado de Versalhes. Acertaram ainda que iriam se opor através de todos os meios práticos (sanções, guerra) a qualquer desrespeito unilateral que possa por em perigo a paz na Europa.

Mas com o posterior acordo naval entre Inglaterra e Alemanha, os termos acordados em Stresa não tinham mais eficácia, para jubilo de Hitler. Franceses e italianos ficaram furiosos com o comportamento da Inglaterra. 

"A segurança francesa havia sido sacrificada no altar dos interesses britânicos." (página 89)

"Em Roma, Mussolini, igualmente irritado, chegou a duas conclusões importantes: o Reino Unido não era amigo da segurança coletiva e vacilava quando confrontado por meio da força. Estava armado o palco para a aventura do próprio Duce na África oriental." (página 89)

Com efeito, em 3 de outubro de 1935, encorajado demonstração de fraqueza da Grã-Bretanha, a Itália invadiu a Abissínia, atual Etiópia. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "NEGOCIANDO COM HITLER, A DESASTROSA DIPLOMACIA QUE LEVOU À GUERRA", DE TIM BOUVERIE, EDITORA CRÍTICA.



domingo, 2 de maio de 2021

1939/1940 Dilema da Grã-Bretanha Declarar ou não Guerra à URSS





DILEMA INGLÊS:

Diante do Pacto Ribbentrop-Molotov (Nazi-Soviético) de 23 de agosto de 1939 e da invasão russa à Finlândia (final de novembro de 1939 até março de 1940), a Grã-Bretanha se viu diante de um dilema: declarar ou não guerra à URSS.

Naquele momento, a Grã-Bretanha se via em meio a sentimentos que iam do medo dos motivos ocultos que tinham animado a URSS a fazer um acordo com a Alemanha nazista ao receio de jogar a Stalin de vez no colo de Hitler.

ALEMANHA NAZISTA E URSS, DUAS DITADURAS SEDENTAS POR CONQUISTAS, QUE NÃO RESPEITAVAM A SOBERANIA DOS PAÍSES QUE LHE FAZIAM FRONTEIRA:

1/09/1939: A Alemanha invade a porção oeste da Polônia

17/09/1939: A URSS invade a parte leste da Polônia

Novembro de 1939: A URSS invade a Finlândia, naquilo que ficaria conhecido como a Guerra de Inverno

O QUE DEVERIA FAZER A GRÃ-BRETANHA DIANTE DAS INVASÕES DA URSS À POLÔNIA E À FINLÂNDIA?

Diante da invasão russa à Polônia e à Finlândia, deveria a Grã-Bretanha declarar guerra à URSS, como fizera em relação à Alemanha, quando esta invadiu a Polônia?

OS INGLESES TINHAM SE PRECAVIDO QUANTO A UMA INVASÃO RUSSA À POLÔNIA:

Com o Pacto Nazi-Soviético os ingleses já conjecturavam uma invasão russa à Polônia. Com isso em mente, os britânicos, quando celebraram o Tratado de Mútua Assistência com a Polônia, em agosto de 1939, ficou estabelecido que a Grã-Bretanha socorreria a Polônia caso esta fosse atacada por uma Potência Estrangeira. A pegadinha inglesa foi consignada por meio de um protocolo secreto, que definia essa Potência Estrangeira como sendo unicamente a Alemanha Nazista. Assim, a Polônia só seria socorrida pela Grã-Bretanha no caso de um ataque alemão, o que de fato aconteceu, quando os ingleses declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro de 1939. Com relação a uma agressão da URSS à Polônia, a Grã-Bretanha não tinha nenhuma obrigação a cumprir. Neste caso haveria somente uma mútua consulta para se definir qual resposta seria dada. (página 172) 

Como a história mostrou, nenhuma resposta foi dada e a URSS pôde tranquilamente anexar o leste da Polônia ao seu território. 

A GRÃ-BRETANHA NÃO ESTAVA DISPOSTA A ENTRAR NUMA GUERRA CONTRA A URSS:

Os ingleses ficaram chocados com o Pacto Nazi-Soviético, mas tinham a esperança que ele fosse de curto prazo. A Grã-Bretanha via no Pacto Nazi-Soviético um arranjo cínico, de curto prazo, entre inimigos ideologicamente opostos. Seria um arranjo antinatural. de forma que seria temporário.

A Grã-Bretanha via a necessidade de manter um canal de diálogo aberto com a URSS. A Grã-Bretanha não estava "disposta a desfazer um vínculo potencialmente vital com a União Soviética, transformando-a de forma prematura em inimiga." (página 168)

MANEIRA ENCONTRADA PELA GRÃ-BRETANHA PARA MANTER ABERTA UM CANAL DE DIÁLOGO COM A URSS:

A Grã-Bretanha viu no comércio uma forma de manter um canal de diálogo aberto com a URSS.

"Na primeira semana de outubro (1939), firmou-se um acordo para trocar madeira soviética no valor de um milhão de libras esterlinas por borracha e estanho." (página 172)

Até Churchill procurou minimizar o fato da URSS ter violado da soberania da Polônia. Churchill disse que atitude da URSS se justificava pelo fato dela ter agido para se proteger diante da expansão nazista pelo oeste da Polônia. (página 173)

"Longe de ser criticas, Churchill foi conciliatório, tão tolerante com seu potencial aliado soviético como contundente com seu inimigo alemão. " (página 173)

A Rússia, concluiu então Churchill, era "uma charada, envolta em mistério, dentro de um enigma." (página 173)

ALTERNATIVA À DECLARAÇÃO DE UMA GUERRA CONTRA A URSS:

A Grã-Bretanha não iria declarar guerra à URSS, mas nem por isso ficaria totalmente passiva. A Grã-Bretanha passou então a trabalhar para estorvar o comércio internacional soviético. Essa política tinha dois objetivos: 

A) Pressionar a URSS, mostrando que seu acordo com a Alemanha iria lhe trazer problemas

B) impedir que matérias-primas vitais chegassem à Alemanha via URSS. 

"Foi assim que autoridades britânicas começaram a interceptar e deter navios soviéticos, como o Selenga, parado em Hong Kong, em janeiro de 1940 com um carregamento de tungstênio, antimônio e estanho a caminho de Vladivostok." (página 174)

INVASÃO DA URSS À FINLÂNDIA (GUERRA DE INVERNO: NOVEMBRO DE 1939 A MARÇO DE 1940)

Com a invasão da URSS à Finlândia, voltou-se a especular sobre os méritos e deméritos de uma declaração de guerra da Grã-Bretanha à URSS. 

A Grã-Bretanha estava realmente diante de um dilema que a atormentava: declarar ou não guerra à URSS. O caso da Polônia tinha sido resolvido. Mas agora os ingleses de deparavam com uma nova agressão soviética, contra um país pequeno, a Finlândia. 

E não se tratava apenas da URSS. Buscava-se também, por meio de uma ataque à URSS, atingir a sua aliada, a Alemanha Nazista.

Cogitou-se de um ataque a Baku (Operação Pike), localizada no Cáucaso, que era responsável por 75% do petróleo produzido pela URSS. França e Grã-Bretanha estavam de acordo. Um avião britânico chegou a sobrevoar o Cáucaso russo para mapear a área que deveria ser bombardeada. 

"No fim de 1939, a ideia de bombardear Baku já circulava pelos governos britânicos e francês havia algum tempo, mas, com a vitória soviética contra os finlandeses na Guerra de Inverno em março de 1940, ganhou novo impulso. No começo do ano, um relatório do Estado-Maior da Força Aérea Britânica sugeriu que bastava um punhado de bombardeiros para mutilar a indústria petrolífera soviética, atingindo, dessa forma, a produção militar de Hitler. No início de 1940, o Gabinete de Guerra aprovou devidamente a construção dos necessários campos de aviação na Turquia e, dentro de um mês, um Lockheed Electra modificado, pertencente à Unidade de Processamento Fotográfico da RAF em Heston, fez duas incursões, a partir de Habbaniya no Iraque, para realizar voos de reconhecimento fotográfico de alvos." (página 176)

No fim, tudo ficou no plano da cogitação. Com a invasão alemã à França em maio de 1940, o plano foi abandonado. 

NO FIM OS INGLESES SE DERAM CONTA DE QUE NÃO IRIAM AUFERIR NENHUMA VANTAGEM DECLARANDO GUERRA À URSS:

Definitivamente não seria vantajoso para a Grã-Bretanha declarar uma guerra à URSS. No caso da declaração de uma guerra, a Grã-Bretanha poderia reforçar ainda mais a aliança entre a URSS e a Alemanha. 

"Em geral, dava-se ao proposto ataque à União Soviética a justificativa mais ampla de interromper as relações de Stalin com Hitler, mas a ideia de que esse ataque pudesse ter o efeito contrário, e na verdade viesse a fortalecer a conexão Berlim-Moscou, parece não ter sido levantada." (página 179)

Ou poderia ocorrer um cenário mais tenebroso: 

Um ataque inglês à União Soviética (Operação Pike, o bombardeamento do campo petrolífero em Baku) acabaria por enfraquecê-la, abrindo caminho então para uma invasão alemã à URSS. O leste então estaria aberto para o avanço alemão. 👉👉 "Nesse caso, o mais provável beneficiário teria sido, não as Potências Ocidentais, mais Hitler, que ficaria livre para marchar para o leste sem encontrar resistência, e assumir ele próprio o controle daqueles mesmos campos petrolíferos do Cáucaso." (página 179)

Os ingleses fizeram bem em esperar desenrolar dos acontecimentos. Em 22 de junho de 1941, com a invasão alemã à URSS (Operação Barborossa), os soviéticos foram em busca de uma aliança com a Grã-Bretanha. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O PACTO DO DIABO, A ALIANÇA DE HITLER COM STALIN, 1939-1941, DE ROGER MOORHOUSE, EDITORA OBJETIVA.



sábado, 1 de maio de 2021

Richard Sorge o Espião de Stalin



FAMÍLIA E LOCAL DE NASCIMENTO:

Richard Sorge nasceu em 1895, em Baku, então uma cidade pertencente ao Império Russo. Atualmente Baku, às margens do Mar Cáspio, é a capital do Azerbaijão.

Filho de Wilhelm Richard Sorge, um alemão natural da Saxônia, Alemanha, que veio a Baku para trabalhar no setor petrolífero. A mãe de Richard Sorge atendia pelo nome de Nina e era natural de Kiev, atual capital da Ucrânia. 

Baku tinha sua riqueza baseada na exploração do petróleo. Mas a riqueza produzida pela sua exploração não era compartilhada pelos habitantes de Baku. Havia muita pobreza. Os operários das empresas petrolíferas (dos Nobel e dos Rothschilds) viviam em precárias condições, habitando bairros "...pejados de lixo putrefato, cães esventrados, carne podre e fezes." (página 22)

Mas também havia riqueza. Havia bairros bem localizados, nos quais residiam a burguesia abastada. E a família de Richard Sorge fazia parte dessa burguesia abastada.

RETORNO À ALEMANHA:

Quando Richard Sorge tinha 4 anos de idade, sua família voltou a residir na Alemanha. Na Alemanha, a família de Richard Sorge manteve seu status social, com seu pai indo trabalhar num Banco em Berlim.

ECLOSÃO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL:

Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Richard Sorge, então um patriota alemão, correu para se alistar no exército alemão. 

KINDERMORD - MASSACRE DE INOCENTES:

Richard Sorge, então praça do exército alemão, foi mandado para a Bélgica. Ali teve contato com a realidade nua e crua da guerra, vindo a testemunhar aquilo que viria ser denominado como Kindermord, o massacre de inocentes. 

NASCIMENTO DE UM REVOLUCIONÁRIO:

A experiência da guerra transformou Richard Sorge. Ele passou a ser um contestador, vendo na guerra um evento inútil, no qual vidas eram sacrificadas inutilmente. 

Richard Sorge tinha até então vivido numa vida burguesa. Mas nas trincheiras do front ocidental, Richard passou a ter contato com o proletariado alemão. Para sua surpresa, seus amigos soldados proletários "...não estavam aparentemente interessados em debruçarem-se sobre as causas de uma guerra na qual eram carne para canhão." (página 26)

A guerra, portanto, como já afirmado acima, acabou por despertar a consciência revolucionária em Richard Sorge. Ali ele se encontrou pela primeira vez com dois soldados que eram comunistas, que lhe ensinaram que somente o socialismo seria capaz acabar com as guerras.

FERIMENTO RETIRA RICHARD SORGE DA GUERRA:

Em março de 1916, um ferimento causado por estilhaços retirou Richard Sorge da guerra. "Ficou coxo pelo resto da vida." (página 28)

Sua carreira militar estava encerrada. Então, no lugar do patriotismo alemão, Richard Sorge foi tomado pela revolta. Convenceu-se de que a Alemanha não tinha nenhuma ideia nova para dar ao mundo. Richard Sorge mergulho de cabeça no socialismo, convencendo-se de que "...a única maneira de nos libertarmos do pantanal era uma mudança política violenta." (página 28)

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL DESPERTOU SENTIMENTOS RADICAIS  NOS JOVENS QUE PARTICIPARAM DELA:

A participação na Primeira Guerra Mundial provocou em Richard Sorge "...um renascimento violento que o isolou do mundo interior, divorciando da sua família e da sua classe, e que pôs em dúvida as fundações da sociedade na qual ele tinha crescido." (página 28/29)

Nesse ponto, o autor Owen Matthews traça um aparelho entre a trajetória de vida de Richard Sorge com a trajetória de vida de Hitler. Ambos tinham lutada na Primeira Guerra Mundial, vivenciando seus horrores. Ambos tinham vivenciado uma revolução interior causada pela guerra. Ambos seriam empurrados para o radicalismo político. Hitler tornar-se-ia um extremista da direita, enquanto que Richard Sorge tornar-se-ia um radical da esquerda. 

"A raiva e a repugnância que empurraram uma geração de jovens veteranos de guerra para o radicalismo político de esquerda e de direita tiveram uma origem idêntica." (página 29).  

RICHARD SORGE TEM CONTATO COM OS ESCRITOS DE MARX E ENGELS:

Quando esteve internado para cuidar de seus ferimentos, Richard Sorge o primeiro contato com os escritos de Marx e Engels. A notícia do golpe bolchevista em novembro de 1917 na Rússia serviu para consolidar as convicções socialistas de Richard.

Richard Sorge via na adoção do comunismo a única forma de "...eliminar as causas econômicas e políticas da guerra e de todas as guerras futuras através da revolução mundial." (página 30)

A REVOLUÇÃO ALEMÃ:

Em janeiro de 1918, Richard Sorge partir para a cidade de Kiel, que era então o viveiro do socialismo alemão. Sorge então viu-se no epicentro da revolução socialista alemã, desencadeada na esteira do colapso do Império Alemão, que não conseguia mais manter a sua máquina de guerra funcionando. O fim da guerra se aproximava. 

A revolução alemã teve início em outubro de 1918. Na noite de 4 de novembro de 1914, na cidade de Kiel, que era o Quartel-General da Marinha Imperial Alemã, estava sublevada, tomada de assalto por 40 mil marinheiros, soldados e operários rebeldes. 

Transcorridos três meses de lutas, a revolução socialista alemã foi derrotada. Em seu lugar foi construído um governo que seria denominada de República de Weimar, sob o comando majoritário do Partido Social Democrata, com a presidência de Friedrich Ebert. 

RICHARD SORGE PROFESSOR E MEMBRO DO PARTIDO COMUNISTA ALEMÃO:

Com o fim do experimento revolucionário alemão, coube a Richard Sorge se resignar na função de professor na cidade de Aachen. Nesse meio tempo entrou no Partido Comunista Alemão, Ainda trabalhava como editor de um jornal comunista, A Voz do Povo. Casou-se em 1921. 

Em abril de 1924, foi realizada uma convenção comunista em Frankfurt. Richard Sorge foi convocado para servir de segurança dos delegados soviéticos da Internacional Comunista, o Comintern, que foram convidados para evento. 

O Comintern era o Estado-Maior Geral da Revolução Comunista, criado em 1919 por Lênin. O Comintern tinha como "...a sua verdadeira função reunir todos os radicais estrangeiros numa grande rede controlada por Moscou e servir de fachada para a propaganda soviética e para recolher informações." (página 43)

RICHARD SORGE MEMBRO DO COMINTERN:

Em outubro de 1924, Richard Sorge viajou a Moscou, para assumir uma posição no Comintern. Então, Richard Sorge, o filho de uma abastada família burguesa alemã, passaria a fazer parte do Estado-Maior Geral da Revolução Comunista mundial. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO RICHARD SORGE, O ESPIÃO PERFEITO, O MELHOR AGENTE SECRETO DE ESTALINE, OWEN MATTHEWS, EDITORA EDIÇÕES 70



quarta-feira, 28 de abril de 2021

Hiwis Russos que lutaram no Exército Nazista



HIWIS:

Hiwis é o diminutivo de Hilfswillige, significando ajudante voluntário. Eram russos que passaram para o lados dos alemães durante a invasão nazista à URSS.

"Embora alguns fossem voluntários autênticos, a maioria era de prisioneiros soviéticos de guerra, recrutados de campos para compensar faltas de efetivo humano, sobretudo como trabalhadores braçais, mas cada vez mais constantes em funções de combate." (página 215)

Havia, portanto, em 1942, russos lutando ao lado de alemães, reforçando assim os efetivos do exército alemão. 

Comentando sobre o fato de russos serem recrutados nas forças alemãs, o coronel alemão Groscurth, chefe do estado-maior do XI Corpo de Exército na região do rio Don, disse:

"É perturbador que sejamos obrigados a reforçar nossas tropas de combate com prisioneiros de guerra russos, que já estão sendo transformados em atiradores. É um estranho estado de coisas o fato de as 'feras' contra as quais temos lutado estarem agora vivendo conosco na mais íntima harmonia." (página 215)

Além de servir em combate, esses Hiwis também eram usados em outros trabalhos: na cozinha, na faxina e cuidando dos cavalos.

Os nazistas mais convictos, que adotavam a ideia nazista de que os eslavos eram escravos e subhumanos ( untermensch) não viam com bons olhos russos vestindo uniformes alemães.

"Isso refletia a divergência fundamental entre a hierarquia nazista, obcecada com a total subjugação dos eslavos, e os oficiais do exército profissional, que acreditavam que a única esperança era agir como os libertadores da Rússia do comunismo. Já no outono de 1941, o serviço secreto de exército alemão chegara à conclusão de que a Wehrmacht talvez não conseguisse vencer na Rússia, a não ser que transformasse a invasão numa outra guerra civil." (página 216)

Pela ótica da URSS, um Hiwi deveria ser tratado como um ex-russo, extirpando dele sua identidade nacional soviética, de forma a eliminar qualquer ideia de que os cidadãos soviéticos estavam insatisfeitos com a forma como a guerra era conduzida por Stalin. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "STALINGRADO, O CERCO FATAL, ANTONY BEEVOR, EDITORA RECORD



segunda-feira, 26 de abril de 2021

Qual era o pensamento dos contemporâneos quando da ascensão de Hitler ao poder





ZOMBADORES DE HITLER:

Quando Hitler se tornou Chanceler da Alemanha, em 30 de janeiro de 1933, os jornais britânicos da época zombavam dele, não acreditando que ele iria durar muito tempo no cargo. 

Diziam então de Hitler:

"um homem tão pouco inspirador." (página 22)

"dono de um bigodinho ridículo." (página 22)

"pintor de paredes austríaco." (página 22)

"irritável como uma moça." (página 22)

"gordinho austríaco com aperto de mão molenga." (página 22)

Os britânicos acreditavam que Hitler teria um fim igual ao de seus antecessores, os quais duraram pouco no cargo, em meio a uma crise econômica que não tinha fim.

"Desde a guerra, a média de duração de um chanceler no cargo era de menos de um ano, e a economia do país vivia uma grande depressão, com 24% da força de trabalho desempregada." (página 22)

PASSADORES DE PANO/CONTEMPORIZADORES DE HITLER:

Enquanto alguns estadistas já vinham em Hitler o embrião de uma tragédia que iria se abater sobre a humanidade, outros procuravam passar o pano no regime nazista, buscando ver algo de bom nele.

As pessoas que buscavam contemporizar com as barbaridades nazistas tinham um temor ainda maior: o comunismo. Essas pessoas teriam que a Alemanha caísse nas mãos dos comunistas. Para essas pessoas, entre dois males inevitáveis, o nazismo e o comunismo soviético, era preciso escolher o menor deles, daí escolherem o nazismo. 

Uma das pessoas que pensava dessa maneira foi o ex-general britânico Ian Hamilton, que havia lutado na Primeira Guerra Mundial. Ian Hamilton tinha mais medo do comunismo soviético do que do nazismo de Hitler. Ian Hamilton acreditava que caso a Alemanha sucumbisse ao comunismo soviético, isso seria o "infortúnio mais mortal para a Europa." (página 26/27 )

Enfim, o medo que o comunismo soviético se alastrasse pela Europa fez com que muitos membros da classe social de Ian Hamilton visse o nazismo com olhos condescendentes, contemporizando com Hitler. 

Quando, em 1º de Abril de 1933, os nazistas patrocinaram o primeiro ato de perseguição aos judeus de amplitude nacional, consubstanciado no boicote a empresas e lojas pertencentes a judeus, a reação internacional foi de ultraje. Mas esse ultraje não passou de esperneio, sem medidas práticas para demover os nazistas de suas políticas criminosas. 

O governo inglês, por exemplo, nada podia fazer além de um protesto por meio de seu embaixador em Berlim. 

No mais, numa política de lavar as mãos, imperava a ideia segundo a qual 👉👉

"Se um país enlouquece, tem o direito de cometer horrores de todo tipo dentro de suas próprias muralhas." (página 27)

OS PRIMEIROS ESTADISTAS QUE ALERTARAM SOBRE O PERIGO QUE O REGIME NAZISTA REPRESENTAVA PARA A HUMANIDADE:

Um dos primeiros estadistas a alertar sobre o perigo que o regime nazista representava para a humanidade foi o embaixador britânico em Berlim, Sir Horace Rumbold. Já em abril de 1933, Sir Horace Rumbold já alertava o governo de seu país por meio de despachos, nos quais descrevia a ideologia nazista para seus superiores. Ele tinha lido o livro Mein Kampf, espécie de autobiografia e manifesto escrito por Adolf Hitler. 

Horace Rumbold então desvelava o Darwinismo Social do regime nazista nos seguintes termos:

"Ele (Hitler) inicia afirmando ser o homem um animal que luta e conclui, portanto, ser a nação uma unidade lutadora, posto que é uma comunidade de lutadores. Um organismo vivo que deixe de lutar por sua existência está destinado à extinção, afirma. País ou raça que pare de lutar está igualmente condenado." (página 29)

O pacifismo então seria, no pensamento de Hitler, o mais mortal dos pecados, pois significava a rendição da raça na luta por sua existência. Hitler, portanto, buscava transplantar a ideia da sobrevivência do mais apto, do mais forte, que é verificada na luta dos organismos vivos na natureza pela sua sobrevivência, para o âmbito das relações entre os Estados e as raças humanas. 

Um Estado e uma raça humana que não lutam estarão condenados à extinção, da mesma forma como um organismo vivo que deixe de lutar pela sua sobrevivência. 

Fica claro, então, desde o início, o caráter belicoso do pensamento de Hitler, que via no conflito, na luta a chave para a sobrevivência da Alemanha. Quem não luta perecerá. Se a Alemanha não lutasse, iria perecer.

O alerta de Horace Rumbold ao governo britânico não resultou em nada. Ademais, naquela mesma época, o embaixador francês em Berlim, François Poncet, que também tinha lido o livro Mein Kampf, não o via como uma ameaça concreta.

Francois Poncet ficava em dúvida em "...encarar Mein Kampf como uma linha-mestra de sua (de Hitler) atuação no poder ou os resmungos inócuos de um jovem agitador. No geral, tendia à segunda opção." (página 31)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "NEGOCIANDO COM HITLER, A DESASTROSA DIPLOMACIA QUE LEVOU À GUERRA", DE TIM BOUVERIE, EDITORA CRÍTICA



Hitler e Stalin Pacto Ribbentrop Molotov 23 de Agosto de 1939 Nacional Bolchevismo



PACTO RIBBENTROP-MOLOTOV:

O Pacto Ribbentrop-Molotov ou Nazi-Soviético de 23 de agosto de 1939 causou uma reviravolta política sem precedentes que antecedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Essa Aliança entre Stalin e Hitler, entre os Comunistas de Moscou e os Nazista de Berlim ajudou a reforçar a narrativa daqueles que viam nos dois regimes mais convergências do que diferenças. 

"Consequentemente, a ideia de que Hitler e Stalin estavam convergindo, ou mesmo de que os dois compartilhavam algum DNA político, teve sua voga." (página 141)

De fato, Stalin e Hitler convergiam em alguns pontos:

👉 Hitler e Stalin desprezavam todos os argumentos, exceto o da força superior. Nesse sentido, Hitler tinha usado sua força superior para subjugar a Polônia em 1939. Depois ainda anexaria a Grécia, a Dinamarca, a Noruega, Holanda, Bélgica e a parte norte da França, tudo isso no ano de 1940. Stalin, por sua vez, usou sua força superior para anexar os países bálticos (Letônia, Estônia, Lituânia) em meados de 1940, para anexar partes do território da Finlândia (Guerra de Inverno de 1939/1940) e a província romena da Bessarábia (meados de 1940). Para Hitler e Stalin, portanto, as relações entre os países deveriam ser reguladas pela lei do mais forte e não pela aplicação do Direito Internacional. Só a força importava.

👉 Nazistas e Comunistas eram regimes revolucionários que desprezavam as democracias capitalistas ocidentais, como França e Grã-Bretanha.

NACIONAL BOLCHEVISMO:

O Nacional Bolchevismo seria uma junção entre o comunismo da URSS com o fascismo da Alemanha nazista:

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"Pelas leis inexoráveis de sua dialética, o bolchevismo fez nascer a sua antítese, o Nacional-Socialismo. Hoje a pergunta que se faz é se essa coisa feia que reina de Vladivostok a Colônia está se transformando na síntese inevitável, o Nacional-Bolchevismo." (trecho de Editorial do jornal inglês News Statesman - página 141).

A UNIÃO ENTRE A URSS COMUNISTA E A ALEMANHA NAZISTA NÃO ERA APENAS TEÓRICA:

"Essa aparente convergência de objetivos nazistas e soviéticos não era meramente teórica. Nos Estados Unidos, em outubro de 1940, um marinheiro mercante britânico foi preso em Boston, por ter se oferecido para abastecer a rede de espionagem alemã local com informações sobre comboios atlânticos. George Armstrong era um comunista de 39 anos de Newcastle que tinha sido motivado por um discurso de Molotov incentivando todos os marinheiros mercantes aliados a desertarem logo que chegassem a um porto neutro. Deportado para a Grã-Bretanha, Armstrong foi julgado por ajudar o inimigo - o primeiro britânico da guerra a ser julgado por espionagem - e condenado à morte. Teria ficado estupefato se soubesse que, quando foi executado, em julho de 1941, a amizade nazi-soviética em cujo nome tinha cometido traição já era coisa do passado." (página 142)

De fato, em julho de 1941, a Alemanha Nazista estava em guerra com a URSS. O Pacto Ribbentrop-Molotov, em cujo nome George Armstrong cometeu traição que lhe rendeu uma condenação à morte, durou 22 meses, de 23 de agosto de 1939 a 22 de junho de 1941. Em 22 de junho de 1941 a Alemanha Nazista deu início à Operação Barbarossa, a invasão da URSS.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O PACTO DO DIABO, A ALIANÇA DE HITLER COM STALIN, 1939-1941", DE ROGER MOORHOUSE, EDITORA OBJETIVA. 



quinta-feira, 22 de abril de 2021

Hitler invade a ilha de Creta Maio de 1941



CRETA - ANTONY BEEVOR

Tudo começou em outubro de 1940, com a Itália invadindo a Grécia. Antes disso, em junho de 1940, a mesma Itália tinha declarado guerra à Grã-Bretanha. O que era para ser um passeio, tornou-se uma pesadelo para os italianos. Os gregos resistiram à invasão e ainda impuseram derrotas aos italianos. A Grã-Bretanha ainda veio em socorro aos gregos. Enquanto isso, a Alemanha via com preocupação o seu aliado, a Itália, apanhando dos gregos e, pior de tudo, via a Grã-Bretanha voltando a ter uma base no continente europeu. A Alemanha, prestes a iniciar a Operação Barbarossa, a invasão da URSS, não poderia permitir que sua retaguarda direita fosse ameaçada pela presença britânica nos Bálcãs. A Grã-Bretanha enviou uma Força Expedicionária para a Grécia. E para piorar ainda mais para os alemães, a presença britânica nos Bálcãs colocava sob ameaça seus poços de petróleo em Ploesti, na Romênia. Diante de tudo isso, a Alemanha nazista se viu obrigada a invadir os Bálcãs. Para chegar à Grécia, a Alemanha teria que passar pela Iugoslávia. Superada a Iugoslávia, os alemães invadiram a Grécia. Conquistada a Grécia, os alemães então partiram para a conquista da ilha de Creta. E é sobre a conquista da ilha de Creta pela Alemanha nazista, em maio de 1941, de que trata esse livre de Antony Beevor.

INTERESSE ITALIANO NA GRÉCIA:

Em seu sonho imperial, em seu sonho de reviver o Império Romano, Mussolini planejava conquistar a Grécia. A Itália ainda tinha declarado guerra à Grã-Bretanha em 10 de junho de 1940, tornando a conquista a Grécia e do Mar Mediterrâneo oriental ainda mais necessário, de forma a ameaçar a presença britânica no Egito e no vital Canal de Suez. Se a Itália conseguisse dominar a navegação no Mar Mediterrâneo oriental, a Grã-Bretanha se viria em sérios apuros, em razão de sua dependência do Canal de Suez.

Então, em 28 de outubro de 1940, partindo da Albânia, país que o exército italiano ocupara em abril de 1939, a Itália deu início à invasão da Grécia. O desempenho do exército italiano foi catastrófico. Os gregos, com a ajuda de uma Força Expedicionária Britânica, deram uma surra nos italianos. Mussolini então teve que pedir ajuda à Alemanha Nazista. A Alemanha então veio em socorro aos italianos, em 6 de abril de 1941, invadindo a Grécia, a partir da Iugoslávia, invadida pelos alemães em 27 de março. Os alemães então varreram os gregos e a Força Expedicionária britânica. Posteriormente, os alemães ainda iriam invadir a ilha de Creta, em maio de 1941, expulsando dali forças  (uma mistura de soldados neozelandeses, australianos, escoceses, ingleses, gregos e guerrilheiros locais) da Creforce, sob o comando do general  neozelandês Freyberg 

ESTRATÉGIA PERIFÉRICA ALEMÃ:

Hitler via na conquista da Grécia e do mediterrâneo oriental uma forma de derrotar a Grã-Bretanha sem precisar atacá-la de forma direta, numa invasão pelo Canal da Mancha. 

Fazia parte dessa estratégia periférica alemã a conquista de Gibraltar, denominada Operação Félix. Neste caso, Hitler teve problemas com o ditador espanhol Franco, que não se viu inclinado a ajudar os alemães. Restou então para Hitler a Grécia e o Mediterrâneo Oriental, por meio dos quais os nazistas poderiam atacar o Canal de Suez, artéria vital para a Grã-Bretanha. A invasão da Grécia foi denominada de Operação Marita. 

Mas no fim foi a Itália que deu início à invasão da Grécia, em outubro de 1940. O Mar Mediterrâneo era o "Mare Nostrum" dos Italianos e Hitler fez essa concessão a Mussolini. Mas a invasão italiana foi um total fracasso. Os gregos, com a ajuda da Força Expedicionária Britânica, impuseram várias derrotas aos italianos. Diante do fracasso italiano, Hitler se viu obrigado a intervir nos Bálcãs.  A Alemanha tinha que socorrer seu aliado em apuros, além de expulsar a Força Expedicionária britânica da Grécia. Hitler não poderia permitir que os britânicos ficassem instalados na Grécia, colocando em risco seu exército (criação de uma frente inimiga à direita de sua retaguarda), bem na véspera da Operação Barborossa, a invasão da URSS.

INTERESSE BRITÂNICO NOS BÁLCÃS E NA GRÉCIA:

A Grã-Bretanha viu na Grécia e nos Balcãs uma chance de voltar a por os pés no continente europeu, apagando o vexame da retirada de Dunquerque. 

O Britânicos também ficariam próximos do campo petrolífero de Ploesti, na Romênia, que era utilizado pelos alemães no abastecimento de sua máquina de guerra. Com uma base na Grécia, os britânicos poderiam enviar bombardeios para destruir o campo petrolífero de Ploesti. 

Os britânicos ainda sonhavam com uma aliança balcânica contra os alemães, unindo Turquia, Grécia e Iugoslávia. Ficou só no sonho. A Iugoslávia ainda ensaiou uma oposição à Alemanha, mas a Blitzkrieg alemã a esmagou. A Turquia rechaçou a proposta inglesa, pois temia ter o mesmo fim da Polônia: ser invadida concomitantemente pela Alemanha e pela sua inimiga história, a URSS, que naquela época ainda era aliada dos nazistas. 

CONSEQUÊNCIAS DO CONFLITO BALCÂNICO/GREGO PARA O DESENROLAR DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:

1) Há um corrente que defende que o conflito balcânico (invasão italiana à Grécia, seguida da invasão alemã à Iugoslávia e à Grécia/Creta) atrasou o lançamento da Operação Barbarossa, a invasão alemã à URSS. 

2) Confirmou a falsa sensação de segurança de Stalin. A invasão alemã dos Bálcãs fez com que Stalin pensasse que o objetivo alemão era a conquista do Canal de Suez, no Egito. Isso fez com que Stalin passasse a desprezar ainda mais as notícias de que a Alemanha estava preparando uma invasão à URSS. 

3) Para os ingleses foi mais uma retirada do continente europeu. 

"...dos 58 mil soldados enviados à Grécia, houve dois mil mortos e feridos e 14 mil aprisionados." (página 77)

De positivo para a Grã-Bretanha restou somente a mensagem que buscou passar para o resto do mundo, principalmente para os EUA. A mensagem era a de que a Grã-Bretanha não abandonava seus aliados. Essa mensagem era importante, principalmente naquele momento em que a Grã-Bretanha buscava uma aliança com os EUA.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDA DA LEITURA DO LIVRO "CRETA", DE ANTONY BEEVOR, EDITORA RECORD





segunda-feira, 19 de abril de 2021

Pacto Ribbentrop Molotov Pacto Nazi-Soviético Pacto Hitler Stalin 23 agosto de 1939



PACTO RIBBENTROP MOLOTOV:

Assinado em 23 de agosto de 1939. Encerrado em 22 de junho de 1941, quando a Alemanha Nazista invadiu a URSS (Operação Barbarossa).

Ribbentrop era então o Ministro das Relações Exteriores de Hitler, enquanto Molotov era o Ministro das Relações Exteriores de Stalin

Adolf Hitler e Stalin, Alemanha Nazista e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) ficaram juntos por 22 meses, quase 1/3 da duração da Segunda Guerra Mundial.

Não foi propriamente uma aliança. Foi um tratado de não agressão. A ele se seguiram mais 4 acordos. 

O Acordo Ribbentrop-Molotov trouxe consequências nefastas para Polônia, Letônia, Finlândia, Lituânia, Estônia e Romênia. 

Polônia e os países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia) deixaram de existir. A Polônia foi dividida entre a Alemanha e a URSS, enquanto que os estados bálticos foram anexados pela URSS. A Romênia perdeu a sua província da Bessarábia para a URSS. A Finlândia perdeu a carélia e outros territórios para a URSS.

Com base ainda no Pacto Ribbentrop-Molotov, Alemanha e URSS trocavam informações, segredos, tecnologia e matéria-prima. 

"Apesar de sua brevidade, durou apenas 22 meses, e seus sete curtos parágrafos, tem menos de 280 palavras, o Pacto Nazi-Soviético foi determinante." (página 25)

TEUTOSLÁVIA:

"Por um tempo, parecia que as duas ditaduras (a Alemanha Nazista e a URSS) - ou a teutoslávia, como um político britânico as chamava - tinham se juntado contra o mundo democrático." (página 22)

AS RAZÕES DE HITLER PARA PACTUAR COM STALIN:

Para Hitler era a adoção da Realpolitik, isto é, fazer aquilo que é de seu interesse e que funcione.

Com o Pacto com Stalin, a Alemanha conseguiria contornar o Bloqueio marítimo inglês, na medida em que aquela teria acesso à matéria-prima e alimentos da URSS.

Hitler ainda se via cercado. Em março de 1939, a Grã-Bretanha fez um tratado com a Polônia. A mesma Polônia que rechaçou qualquer acordo com a Alemanha Nazista. Hitler tentou atrair Polônia (final de 1938, início de 1939) para um acordo com a Alemanha, no qual os dois países entrariam juntos num conflito contra a URSS. 

Hitler ainda sabia que não poderia lutar em duas frentes, contra a URSS no leste e contra França e Grã-Bretanha no oeste, como tinha acontecido durante a Primeira Guerra Mundial. Com o Pacto com a URSS, Hitler se viu livre para agir contra a França e a Grã-Bretanha. 

Resolvida a guerra no front oeste, com a derrota da França, então Hitler poderia se concentrar na URSS. A URSS sempre foi um alvo, por causa de seu regime comunista e porque Hitler via a URSS como local do Lebensraum alemão, o espaço vital alemão, no qual seriam buscados as matérias-primas e os alimentos para o Reich alemão. A URSS vista como área de expansão da Alemanha remontava à Idade Média, quando já havia um desejo de marchar para o leste - "Drang nach osten"

AS RAZÕES DE STALIN PARA PACTUAR COM HITLER:

Aforismo de Lênin: A história não se desenrola por linha reta, mas em zigue-zagues, sinuosamente.  

1) A narrativa cor-de-rosa dos comunistas:

A narrativa cor-de-rosa dos comunistas para o Pacto Ribbentrop-Molotov prendia-se à necessidade da URSS de ganhar tempo, mantendo a Alemanha nazista contida enquanto preparava as suas defesas.

2) Desejo da URSS de expandir para o oeste, para o coração industrial da Europa, acarretando a queda do capitalismo na Alemanha, França e Grã-Bretanha:

"...Stalin foi muito mais proativo e antiocidental ao assinar o pacto do que convencionalmente se julga. Pelo menos num sentido, procurava explorar a agressão nazista em benefício próprio, a fim de acelerar a queda do Ocidente e o tão esperado colapso do mundo capitalista. Um neutro relutante e passivo é o que ele não era." (páginas 22/23)

De fato, Stalin queria ver Alemanha, França e Grã-Bretanha exauridos pela guerra, dando margem assim a uma futura entrada vantajosa da URSS na guerra que viria. E ainda havia a esperança de revoluções comunistas num ocidente capitalista depauperado pela guerra.

Stalin sabia que a revolução comunista de 1917, num país rural como a Rússia, tinha sido algo anômalo. Assim, a fim de assegurar o próprio futuro, a URSS teria que se expandir para o oeste, para o coração industrial da Europa, mais precisamente para a Alemanha, cujo proletariado desenvolvido e ideologicamente sólido iria romper as correntes da democracia burguesa, unindo-se então à URSS. A URSS tentou isso em 1919/1920, na guerra contra a Polônia. Se a Polônia tivesse sido derrotada naquele conflito, provavelmente a URSS teria prosseguido a sua marcha rumo à Alemanha. Stalin via agora, no possível embate entre a Alemanha Nazista contra França e Grã-Bretanha, a oportunidade de que precisava para expandir a URSS para o oeste.

Para tanto, Stalin esperava que acontecesse na França, na Grã-Bretanha e na Alemanha o mesmo que havia ocorrido na Rússia em 1917: a eclosão da Revolução Comunista, na esteira da miséria que a Primeira Guerra Mundial havia produzido no país. Lênin teria dito que a Primeira Guerra Mundial tinha proporcionado a tomada de poder dos bolcheviques na Rússia e a Segunda Guerra Mundial iria acarretar o domínio da França, da Alemanha e da Grã-Bretanha pela URSS. (página 48).

O Pacto Ribbentrop-Molotov poderia então abrir o caminho para que a URSS se expandisse para o oeste. Num primeiro momento a URSS apoiaria a Alemanha Nazista de forma a fomentar a guerra entre esta e a França e a Grã-Bretanha. Quando o proletariado empobrecido pela guerra se levantasse na França, na Alemanha e na Grã-Bretanha, as burguesias desses países tentariam acabar com a guerra, voltando-se então para esmagar a insurreição do proletariado em seus países. Nesse momento, a URSS entraria para proteger os proletários sublevados:

"Mas nesse momento nós (URSS) acudiremos para ajudá-lo (o proletariado) com novas forças bem preparadas, e no território da Europa ocidental, acho eu (Molotov), em algum lugar perto do Reno (rio), a batalha final entre o proletariado e a burguesia degenerada será travada, decidindo para sempre o destino da Europa. Estamos convencidos de que nós, e não a burguesia, venceremos essa batalha." (Molotov, Ministro das Relações Exteriores da URSS, em conversa com o comunista lituano Vincas Kreve Mickevicius, citado em Richard Raak, Stalin's Drive to the West, 1938-1945) (página 49)

3) Outras razões para Stalin fazer um acordo com a Alemanha Nazista:

Num primeiro momento, a política da URSS para conter o fascismo concentrava-se na formação de Frentes Populares e na construção de uma defesa coletiva, envolvendo outros países, por meio da Liga das Nações (a URSS foi aceita na Liga das Nações em 1934)

Todas essas iniciativas fracassaram. Stalin, de Moscou a marcha vitoriosa do Fascismo:

Na Espanha, a República, que chegou ao poder por meio de uma Frente Popular,  foi derrotada pelo fascista General Franco, que contou com a ajuda dos fascistas Hitler e Mussolini. A Alemanha violava o Tratado de Versalhes, remilitarizando a Renânia. A Alemanha se expandia. Anexou a Áustria (Auschluss) em 1938, anexou os sudetos em outubro de 1938 e Morávia e Boêmia em março de 1939. A Itália invadiu e anexou a Abissínia. 

Stalin vendo a marcha do fascismo sem oposição eficaz se deu conta que não podia contar com a Frentes Populares e com a Liga das Nações para conter o apetite dos fascistas. Stalin se deu conta que não podia contar com a Grã-Bretanha e com a França para conter os fascistas. Stalin começou a ver na passividade da Grã-Bretanha e da França um sinal de que esses dois países poderiam entrar em acordo com a Alemanha Nazista à custa da URSS. (página 46)

Em março de 1939, Stalin discursou acusando as potências ocidentais capitalistas de serem deliberadamente coniventes com as agressões de países como a Itália, que acabara de invadir a Abissínia. Essas mesmas potências ocidentais nada fizeram quando a Alemanha invadiu a Tchecoslováquia. E as potências ocidentais capitalistas agiam assim porque desejavam, no fim, jogar a URSS numa guerra contra a Itália e a Alemanha, para que ambos "...enfraquecessem e exaurissem uns aos outros, até que os debilitados beligerantes estivessem prontos para aceitar as condições ditadas mais uma vez pelo mundo capitalista.' (página 46)

CONSUMAÇÃO DO PACTO GERMANO-SOVIÉTICO:

O Pacto foi assinado no dia 23 de agosto de 1939. Mas a sua consumação veio no dia 22 de setembro de 1939, na cidade de Brest-Litovsk, quando soldados alemães e soviéticos fizeram um desfile militar conjunto, sob os olhares do general alemão Guderian e do general russo Krivoshein.

Naquela oportunidade, os alemães entregavam a cidade de Brest-Litovsk para os russos, tudo de acordo com o acordado no Pacto Ribbentrop-Molotov.

O General soviético, Krivoshein, no dia seguinte ao desfile, teria dito a dois jornalista alemães: "Hitler e Stalin, homens do povo." (página 33)

Os alemães, por sua vez, por meio do jornal nazista Volkischer Beobachter, comemoravam o acordo entre Stalin e Hitler escrevendo: "...o encontro com os soviéticos em Brest tinha afundado de vez os piedosos planos das democracias ocidentais." (página 33)

EU OS PEGUEI!:

Quando Hitler ficou sabendo que Stalin tinha aceitado os termos do acordo Nazi-Soviético, deu um murro na mesa e gritou: "Eu os peguei."

Stalin, por sua vez, deve ter pensado e mesma coisa.

O Pacto de Não Agressão Nazi-Soviético, assinado no dia 23 de agosto de 1939, surpreendeu a todos. 

Dois inimigos jurados fazendo juras de amor. 

A verdade é que ambos continuavam inimigos. 

Os objetivos de Hitler e de Stalin não tinham mudado. 

Hitler continua vendo a URSS como o local de seu Lebensraum, o local no qual o Reich Alemão iria buscar o seu espaço vital. 

E Stalin continuava a sonhar com a Europa ocidental convertida ao comunismo soviético.

Stalin e Hitler só deviam convergir num ponto: ambos viam no Pacto Nazi-Soviético apenas como uma simples etapa que talvez ajudasse a sua causa, cumprindo seu destino ideológico. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O PACTO DO DIABO", A ALIANÇA DE HITLER COM STALIN, 1939-1941, ROGER MOORHOUSE,  EDITORA OBJETIVA.