Minha mãe morreu às 00:10 do dia 21 de dezembro de 2023. Dizem que esses eventos acontecem porque estão inseridos naquilo que seria um plano de Deus. Tinha chegado a hora dela. Todo mundo vai morrer um dia mesmo, como disse Jair Bolsonaro durante a Pandemia da Covid19. Dizem ainda que é o caminho natural o filho enterrar a mãe, o pai. Lugares comuns, chavões. A verdade é que não existe nada de natural, nada que um plano possa justificar, mesmo que ele seja divino, ver sua mãe morrendo nos seus braços, alguém que você ama profundamente, sufocada por uma broncoaspiração, nem conseguindo lhe reconhecer, nem conseguindo se despedir de você. Alguém que conviveu com você por 51 anos e, num instante, deixa de existir. É a exemplificação da miséria que é a nossa existência. É o legado da nossa miséria.
Hoje, no jornal da minha cidade, O Município, vi uma foto de minha mãe, quando ela era professora substituta. Ao vê-la, todos esses pensamentos me vieram à mente. Na verdade, eles não me saem da mente. Mas me veio, aí sim pela primeira vez, a parte final do livro de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Bras Cubas. Trecho abaixo:
Capítulo CLX Das Negativas
"................Somadas umas cousas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve mingua nem sobra, e consequentemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a esse outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa desse capítulo de negativas - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
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