sábado, 22 de maio de 2010
Profecia
Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, Profecias de Ivan Fiodorovich:
Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus, então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começará o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo- se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem deus.Vencendo,a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, não tem ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade...”
quarta-feira, 31 de março de 2010
DA HUMANA CONDIÇÃO

CUSTA O RICO A ENTRAR NO CÉU
(AFIRMA O POVO E NÃO ERRA).
PORÉM MUITO MAIS DIFÍCIL
É UM POBRE FICAR NA TERRA.
Mario Quintana.
Amigo

DO AMIGO
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele...Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, http://www.globaleditora.com.br/
2005, 17º edição
sábado, 27 de março de 2010
DO ETERNO MISTÉRIO

"UM OUTRO MUNDO EXISTE...UMA OUTRA VIDA..."
MAS DE QUE SERVE IRES PARA LÁ?
BEM COMO AQUI, TUA ALMA ATÔNITA E PERDIDA
NADA COMPREENDERÁ
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, seleção Fausto Cunha, editora global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 78.
sábado, 13 de março de 2010
Buliçosas.............................................................................................................

"Eu vi duas borboletas amarelas pousadas no muro da tarde.
A borboleta maior enfiou numa coisa fininha que nem tripa de lambari
na borboleta menor.
Ambas tremeram de amor durante.
Depois voaram buliçosas pelas ruas do jardim."
Manoel de Barros.
Cuiabá(MT)
Livros:
Menino do Mato
Poesia Completa
(Editora Leya)
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Da vez primeira em que me assassinaram

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram...
Foram levando qualquer coisa minha...
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste com um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha.
Editora Global Editora, 17º edição, São Paulo, 2005, p. 26
sábado, 20 de fevereiro de 2010
ERRADOS RUMOS

A caminhada....
Amassando a terra.
Carreando pedras.
Construindo com as mãos
sangrando
a minha vida.
Deserta a longa estrada.
Mortas as mãos viris
que se estendiam às minhas.
Dentro da mata bruta
leiteando imensos vegetais,
cavalgando o negro corcel da febre,
desmontado para sempre.
Passa a falange dos mortos...
Silêncio! Os namorados dormem.
Os poetas cobriram as liras.
Flutuam véus roxos
no espaço.
Na esquina do tempo morto,
a sombra dos velhos seresteiros.
A flauta. O violão. O bandolim.
Alertas as vigilantes
barroando portas e janelas
cerradas.
Cantava de amor a mocidade.
A estrada está deserta.
Alguma sombra escassa.
Buscando o pássaro perdido
morro acima, serra abaixo.
Ninho vazio de pedras.
Eu avante na busca fatigante
de um mundo impreciso,
todo meu,
feito de sonho incorpóreo
e terra crua.
Bandeiras rotas.
Desfraldadas.
Despedaçadas.
Quebrado o mastro
na luta desigual.
Sozinha...
Nua. Espoliada. Assexuada.
Sempre caminheira.
Morro acima. Serra abaixo.
Carreando pedras.
Longa procura
de uma furna escura
fugitiva me esconder,
escondida no meu mundo.
Longe...longe...
Indefinido longe.
Nem sei onde.
O tardio encontro...
Passado o tempo
de semear o vale
de colher o fruto.
O desencontro.
Da que veio cedo e do que veio tarde.
A candeia está apagada.
E na noite gélida
eu me vesti de cinzas.
Restos, Restolhos.
Renegados os mitos.
Quebrados os ícones.
Desfeitos os altares.
Meus olhos estão cansados.
Meus olhos estão cegos.
Os caminhos estão fechados.
Perdida e só...
No clamor da noite
escuto a maldição das pedras.
Meus errados rumos.
Apagada a lâmpada votiva,
tão inútil.
Cora Coralina.
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas nasceu na cidade de Goiás, a 20 de agosto de 1889, na "Casa da Ponte". Hoje, sob o nome de Museu Casa de Cora Coralina, recebe turistas de todo o Brasil e do exterior. Morreu em Goiânia, a 10 de abril de 1985.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Mario Quintana

ENVELHECER
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas
SEMPRE
Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
Só o que está perdido é nosso para sempre.
Nós só amamos os amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente.
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meios aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, páginas 115, 101 e 69.
http://www.globaleditora.com.br/
Mario (de Miranda) Quintana nasceu em Alegrete/RS, a 30 de julho de 1906. O poeta faleceu em 1 de maio de 1994. É detentor de vários prêmios literários. Seu primeiro livro de poesia surgiu em 1940, A Rua dos Cataventos.
ESTE QUARTO

ESTE QUARTO
Para Guilhermino Cesar
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 53.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
O DIA SEGUINTE AO DO AMOR

O DIA SEGUINTE AO DO AMOR
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
página 62.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Prefiro Rosas

PREFIRO ROSAS, meu amor, à pátria,
E antes magnólia amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre.
Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva
Fernando Pessoa
Coleção Melhores Poemas - Seleção Tereza Rita Lopes
Global editora.12º edição, São Paulo, 2004, página 137
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Sermos

The very fact that we are proves all.
O próprio fato de sermos prova tudo.
Fernando Pessoa, Aforismos e Afins.
Editora Companhia das Letras.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
E lá fora o Luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim


NA NOITE TERRÍVEL, substância natural de todas as noites,
Na noite da insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado - esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido -
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso - e foi afinal o melhor de mim - é que nem os Deuses fazem viver...
Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora , no meio-sono, elaboro -
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser para que outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.
Fernando Pessoa
Coleção Melhores Poemas, global editora, páginas 113/114, São Paulo, 12º edição, 2004, Seleção Tereza Rita Lopes.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
HEDONISTA

No fundo, o homem religioso é um hedonista. O instinto religioso geral é um instinto de prazer, de ter tudo resolvido na vida. Deter-se só perante a Verdade é doloroso para o homem.
A Realidade é muda e fria.
FERNANDO PESSOA
Aforismos e Afins
Companhia das Letras, página 46, São Paulo, 2006.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Sonho

SONHO. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Cancioneiro
Fernando Pessoa
Coleção Melhores Poemas, Seleção Teresa Rita Lopes, global editora, 12º edição, São Paulo, 2004, página 48.
sábado, 23 de janeiro de 2010
PAIRA

PAIRA à tona de água
Uma vibração,
Há uma vága mágoa
No meu coração.
Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,
Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta,
Não sabe o que quer.
É uma dor serena,
Sofre porque vê.
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...
Fernando Pessoa
.......................................................x............................................
seria de mim mesmo.
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