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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Da vez primeira em que me assassinaram


Da vez primeira em que me assassinaram




Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...




Depois, de cada vez que me mataram...




Foram levando qualquer coisa minha...






E hoje, dos meus cadáveres, eu sou




O mais desnudo, o que não tem mais nada...




Arde um toco de vela, amarelada...




Como o único bem que me ficou!






Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!




Ah! desta mão, avaramente adunca,




ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!






Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!




Que a luz, trêmula e triste com um ai,




A luz do morto não se apaga nunca!



Mario Quintana

Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha.

Editora Global Editora, 17º edição, São Paulo, 2005, p. 26