Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram...
Foram levando qualquer coisa minha...
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste com um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha.
Editora Global Editora, 17º edição, São Paulo, 2005, p. 26