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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dorme, meu filho.


Vamos, não chores...


A infância está perdida.


A mocidade está perdida.


Mas a vida não ser perdeu.



O primeiro amor passou.


O segundo amor passou.


O terceiro amor passou.


Mas o coração continua.



Perdeste o melhor amigo.


Não tentaste qualquer viagem.


Não possuís casa, navio, terra.


Mas tens um cão.



Algumas palavras duras,


em voz mansa, te golpearam.


Nunca, nunca cicatrizam.


Mas, e o humour?



A injustiça não se resolve.


A sombra do mundo errado


murmuraste um protesto tímido.


Mas virão outros.



Tudo somado, devias


precipitar-te, de vez, nas águas.


Estás nu na areia, no vento...


Dorme, meu filho.



Carlos Drummond de Andrade.

A Rosa do Povo. Editora Record, 10º edição, 1991, Rio de Janeiro.

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21.02.2010, 00:02
Preciso atrasar o relógio em 1 hora, pois hoje acaba o horário de verão. Mas queria atrasá-lo uns 37 anos.