segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Um Príncipe árabe traído pela Grã-Bretanha Nascimento da Arábia Saudita


No centro da foto, Emir (Príncipe) Faisal, filho do Xarife de Meca Hussein. Ele iria se tornar, pelas mãos dos Britânicos, Rei do Iraque

UM PRÍNCIPE ÁRABE TRAÍDO PELA GRÃ-BRETANHA. DOIS PRÍNCIPES ÁRABES LUTANDO PELO DOMÍNIO DA PENÍNSULA ARÁBICA. QUEDA DO IMPÉRIO OTOMANO. SURGIMENTO DA ARÁBIA SAUDITA.


UM PRÍNCIPE ÁRABE TRAÍDO PELA GRÃ-BRETANHA:

O príncipe árabe traído pela Grã-Bretanha foi o Xarife Hussein Ibn Ali de Meca. 

Hussein era da tribo Hachemita, a mesma de Maomé. Era o xarife de Meca, a cidade sagrada do islã. Xarife era o título dado ao descendente de Maomé (Muhammad). Era ainda senhor da província de Hejaz, localizada no oeste da península arábica, na costa do mar vermelho. Hussein era vassalo do Império Otomano. Meca e o Hejaz faziam parte do Império Otomano

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Grã-Bretanha passou a negociar com Hussein. O Império Otomano tinha entrado na guerra ao lado da Alemanha. A Grã-Bretanha viu em Hussein um possível aliado contra o Império Otomano. 

Em troca do apoio de Hussein na guerra contra os Otomanos, a Grã-Bretanha prometeu a criação de um Reino Árabe independente, que abrangeria as atuais Síria, Líbano, Iraque, Israel, Jordânia, Cisjordânia, Faixa de Gaza e o Hejaz. Esse Reino Árabe seria então dado a Hussein e aos seus filhos, Faisal e Abdullah.

Hussein então, ao lado de seus filhos, deu início a uma rebelião contra os Otomanos. Em julho de 1917, Faisal tomou a fortaleza otomana de Ácaba, localizada atualmente na Jordânia. Com a ajuda dos britânicos, os árabes as forças otomanas na Síria, tomando a cidade de Damasco.

Terminada a Primeira Guerra Mundial, Hussein foi traído pelos britânicos e pelos franceses. As atuais Síria e Líbano foram dadas para a França. A Palestina (atuais Israel, Jordânia, Faixa de Gaza, Cisjordânia) e o Iraque ficaram com a Grã-Bretanha. No fim, Hussein teve que se contentar com a província do Hejaz, com suas cidades de Meca, Medina e Jidá (Jedah). 

DOIS PRÍNCIPES ÁRABES LUTANDO PELO DOMÍNIO DA PENÍNSULA ARÁBICA:

O Xarife de Meca, Hussein, além de ter sido traído pela Grã-Bretanha, se deparou com outro problema: a ascensão de Ibn Saud, um governante árabe cujo centro de poder localizava-se no centro da península arábica, num oásis próximo da cidade de Diriyah. 

O poder de Ibn Saud foi resultado da união de seus antepassados com um movimento reformista islâmico, o Wahabismo. O Wahabismo foi criado por Muhammad Ibn Abd al-Wahab. O Wahabismo defendia um retorno ao islã puro do profeta e seus sucessores, os califas. O Wahabismo defendia que o islã que voltasse no tempo, englobando os três primeiros séculos do islã após a revelação do Alcorão. Tudo o que tinha vindo depois deveria ser descartado.

Num primeiro momento, os antepassados de Ibn Saud e os seguidores do Wahabismo foram contidos pelo Império Otomano, por meio dos exércitos de Muhammad Ali, o senhor do Egito.

Mas no século XIX o movimento reformista do Wahabismo retornou, mais uma vez com o patrocínio da família saudita. A expansão dos sauditas, sob o comando de Ibn Saud, foi rápida. Partindo do coração da península arábica (Najd), os sauditas conquistaram áreas da península arábica na costa do Golfo Pérsico. Enquanto o Xarife de Meca, Hussein, lutava contra os Otomanos, os sauditas se expandiam pela península arábica, chegando nas proximidades do Hejaz. 

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, as forças de Ibn Saud partiram de Riad (atual capital da Árabia Saudita) para conquistar o Hejaz de Hussein. Os ingleses nada fizeram para socorrer seu antigo aliado Hussein, Sozinho, Hussein foi derrotado pelos sauditas e teve que abandonar a sua terra.

Ibn Saud, depois de derrotar Hussein, unificou grande parte da península arábica sob o seu governo. Ibn Saud então renomeou seu reino, criando o moderno estado da Arábia Saudita. 

PRÊMIO DE CONSOLAÇÃO:

Hussein ajudou os ingleses a derrotar o Império Otomano. Hussein foi traído pelos ingleses, que não o ajudaram na luta contra os sauditas. Os ingleses ainda não entregaram o prometido Reino Árabe. 

Mas os ingleses deram dois prêmios de consolação a Hussein:

Faisal, um dos filhos de Hussein, foi premiado com o Reino do Iraque.

Abdullah, outro filho de Hussein, foi premiado com o Reino da Transjordânia (atual Jordânia)

Esses dois prêmios de consolação dados aos filhos de Hussein foram denominados de Solução Xarifiana.

"Como Secretário das Colônias, Winston Churchill, explicou à Câmara dos Comuns em junho de 1921: 'Estamos cada vez mais inclinados para o que eu chamaria de solução xarifiana, tanto na Mesopotâmia, para onde se encaminha agora o emir Faisal, como para a Transjordânia sob o atual comando do emir Abdullah.' Ao pôr no trono dos mandatos britânicos os filhos de Hussein, Churchill esperava de alguma forma redimir as promessas quebradas da Grã-Bretanha aos hachemitas, ao mesmo tempo que assegurava ao Reino Unido governantes leais e dependentes em suas possessões árabes." (página 262/263)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "OS ÁRABES, UMA HISTÓRIA" EUGENE ROGAN, EDITORA ZAHAR



Um comentário:

Anônimo disse...

Faltou falar de Lawrence da Arábia