quarta-feira, 18 de março de 2020

A Rota das Peles Vikings Rus Pais da Rússia



RIQUEZA MUÇULMANA. CRIAÇÃO DE NOVAS ROTAS COMERCIAIS:

A riqueza do mundo muçulmano impulsionou a criação de novas rotas comerciais. Havia demanda por novos produtos e havia dinheiro para comprá-los. As novas rotas estavam no norte, nas estepes, habitadas por tribos nômades (pechenegues, ghuzz, etc). Essa tribos possuíam grandes rebanhos, por esse motivo estavam sempre em movimento, estavam sempre em deslocamento, montando e desmontando acampamentos, sempre em busca de melhores pastos para seus animais (cavalos, cabras, etc)
O Império Islâmico adquiria esses novos produtos como o mel, a cera, o âmbar, etc. Mas o principal produto que vinha dessa nova rota comercial do norte era a Pele. Peles de animais (zibelina, vison, raposa, esquilo cinza, etc). Surgiu uma Rota de Peles, ligando as estepes do Norte ao rico mundo muçulmano no sul.
Tínhamos então nômades do norte (norte do Mar Negro, margens do Rio Volga e além) comerciavam produtos diversos com os ricos muçulmanos sedentários do sul.
Cidades mais próximas das estepes se aproveitaram desse comércio e enriqueceram. Exemplos: Merv (Ásia Central), Balkh (Afeganistão). 
Fora do mundo muçulmano acontecia o mesmo. Tribos mais bem localizadas, perto da riqueza do Mundo Muçulmano, enriqueciam. Isso acabou aumentando a rivalidade entre as tribos das estepes, que já competiam normalmente pelos melhores pastos, melhores fontes de água, etc.

"Isso estava fadado a produzir uma de duas reações: ou as tensões ficavam maiores, resultando em uma violenta fragmentação, ou haveria uma consolidação no interior e entre as tribos. A opção era lutar ou cooperar."
(página 131)

A riqueza do mundo muçulmano despertou a cobiça dos povos das estepes. No futuro essa cobiça iria se transformar em invasões, sob Gengis Khan e seus descendentes. A riqueza do mundo muçulmano (Pérsia, Mesopotâmia, Afeganistão, Egito, etc) estimulava a economia além de suas fronteiras, fazendo com que empreendedores fossem, por exemplo, atrás de peles no norte da Eurasia, criando assim novas rotas comerciais, criando riquezas, criando cidades espetaculares, fortalecendo as tribos das estepes mais empreendedoras. O problema é que essa mesma riqueza acabaria atraindo contra si a cobiça dessas mesmos tribos nômades, que com o passar do tempo não iriam se contentar em sua posição de meros intermediários, meros comerciantes de peles ou cavalos para os povos sedentários do mundo muçulmano.

"O surgimento de uma rota de peles nas estepes e nas faixas de florestas ao norte foi resultado direto de um surto de riqueza disponível nos séculos que se seguiram às grandes conquistas islâmicas nos séculos VII e VIII."
(página 130)

DE NÔMADES A SEDENTÁRIOS: OS CAZARES:

De momento, as estepes se acomodaram nessa condição de intermediários. Um exemplo disso era o grupo túrquico chamado Cazares (norte do Mar Negro e do Mar Cáspio). Os Cazares conseguiram unir em torno de si outras tripos, criando assim alguma estabilidade nas estepes.
Os cazares se tornaram importantes porque conseguiram obstar o avanço muçulmano. Esse feito serviu até para atrair a atenção de Constantinopla, que passou a ver nos Cazares uma opção de aliança contra os muçulmanos. Até casamentos foram celebrados entre a elite da casa governante de Cazaria com membros da família imperial bizantina. O crescimento dos Cazares levou a sua estratificação, com a criação de elites e ainda ajudou na atração de outras tribos, que viraram vassalas desse novo poder, pagando tributos à Casa governante de Cazaria. O líder Cazan, o Khagan, tinha 25 esposas, escolhidas cada uma delas de 25 tribos distintas, de forma a criar uma aliança dessas tribos com o Khagan. Antes nômades, os cazares e seus clientes, em razão da estabilidade conquistada e do comércio que exerciam, acabaram se tornando sedentários. Cidades foram construídas, uma delas às margens do Rio Volga, Atil. No início do século X o próprio líder Khagan se estabeleceu em Atil. 
Na sociedade dos Cazares havia muçulmanos, cristãos, pagãos (Deus Tengri) e judeus. Cristãos, judeus e muçulmanos desejavam atrair o povo Cazar para a sua fé. Constantinopla chegou a mandar uma delegação para tentar converter os Cazares para o seu Cristianismo, chefiada por Cirilo, que iria ficar conhecido por ser o criador do alfabeto eponimo (cirílico) para os eslavos.
No final, o líder dos Cazares escolheu o judaísmo para o seu povo.

OS ESCANDINAVOS (RUS) 

Não foi só as peles que vieram do norte. Do norte também vieram os Escandinavos, que eram chamados de "rus", em razão de serem remadores ou por causa da cor de seu cabelo). Os escandinavos ligaram o Mar Báltico, no norte, aos mares Negro e Cáspio, descendo pelos rios Volga, Dnieper, Oder, Neva, etc.

"Eles foram os país da Rússia."
(página 137)

Foi a riqueza muçulmana que atraiu os Vikings. Cidades foram criadas por eles, como por exemplo Novgorod. 

"Foi a atração pelo comércio e riquezas do mundo islâmico que estimulou de início (século IX) os vikings a partirem para a jornada rumo ao sul."
(página 137)

"Os Vikings estavam envolvidos no comércio de cera, âmbar e mel, assim como no de espadas refinadas, muito admiradas no mundo islâmico."
(página 138)

Mas a mais importante mercadoria despachada para o sul era formada por escravos. Para o norte, em forma de pagamento, iam tecidos e moedas de prata.

OBSERVAÇÃO:

As peles eram usadas como moeda de troca nas estepes. Elas eram trocadas por dinheiro ou por algum outro produto. 
"Peles de esquilo de dezoito anos valiam uma moeda de prata, enquanto uma pele inteira tinha o preço de um grande filão de magnífico pão, suficiente para sustentar um homem grande."
(página 130)

"ter um meio de troca era importante para sociedades que interagiam entre si mas não possuíam um tesouro central capaz de supervisionar a cunhagem de moedas em larga escala."
(página 130)

Anotações extraídas da leitura do Livro O CORAÇÃO DO MUNDO, Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: O encontro do oriente com o ocidente, de Peter Frankopan, Editora Crítica.

A Rápida Expansão do Islamismo no Século VII d.C. Colaboração de Judeus e Cristãos



FATORES QUE EXPLICAM O RÁPIDO AVANÇO DO ISLÃ:

- Colapso do Império Persa, que estava exaurido pelas guerras contra Constantinopla
- Maomé tinha o apoio das elites de Meca
- A expansão do Islã combinava o ganho material (butim, pilhagens) com o proselitismo religioso
- Num primeiro momento, aceitação por parte dos cristãos e dos judeus que viviam nas áreas conquistadas pelos islãmicos
- Proselitismo: Em Bucara (Buckara), no atual Usbequistão, durante o século VIII, o governante local, objetivando trazer pessoas para o islã, anunciou que todos aqueles que comparecessem à oração de Sexta-Feira receberiam uma soma em dinheiro. Era um incentivo que atraia as pessoas para uma nova religião, o Islã.

O Islã, no início de sua expansão, tinha relações pacíficas com judeus e com cristãos. Nada parecido com o que acontece atualmente. Os islâmicos buscavam estabelecer uma relação de concórdia com os cristãos.

"Os esforços para uma concórdia com os cristãos eram complementados por uma política de proteção e respeito pelos Povos do Livro - ou seja, judeus e cristãos. O Corão deixa claro que os primeiros muçulmanos viam a si mesmos não como rivais daquelas duas fés, mas como herdeiros da mesma tradição: as revelações de Maomé haviam sido previamente reveladas a Abraão e Ismael, a Isaac e Jacó e às tribos. Deus também havia confiado as mesmas mensagens a Moisés e Jesus. 'Não discriminamos nenhum deles', diz o Corão. Em outras palavras, os profetas do judaísmo e do cristianismo eram os mesmos do islã."
("O CORAÇÃO DO MUNDO", Uma Nova História Universal a partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente, Peter Frankopan, Editora Crítica, página 106)

Os Judeus viam nos árabes muçulmanos uma chance para obter a liberdade do domínio romano (Constantinopla). 

"Na verdade, o relacionamento entre o islã e o judaísmo era ainda mais notável por sua mútua compatibilidade. O apoio dos Judeus no Oriente Médio foi vital para a propagação e a difusão da palavra de Maomé."
("O CORAÇÃO DO MUNDO", Uma Nova História Universal a partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente, Peter Frankopan, Editora Crítica, página 101)

"Quando Maomé foi encurralado em Yathrib, no sul da Árabia na década de 620, solicitar a ajuda dos judeus foi uma de suas principais estratégias. Era uma cidade - e uma região - impregnada de judaísmo e de história judaica. Apenas um século antes, um judeu fanático, governante de Himyar, havia comandado uma sistemática perseguição à minoria cristã, o que cristalizou um amplo padrão de alianças que ainda resistia firmemente: a Pérsia passara a apoiar os habitantes da cidade contra a aliança de Roma e Etiópia. Maomé estava ansioso pela conciliação com os judeus do sul da Árabia - e começou pelos mais velhos de Yathrib. Judeus importantes da cidade, mais tarde nomeada Medina, comprometeram-se a apoiar Maomé em troca de garantias de defesa mútua. Estas foram registradas num documento formal que declarava que sua fé e suas posses seriam respeitadas agora e no futuro pelos muçulmanos."
("O CORAÇÃO DO MUNDO", Uma Nova História Universal a partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente, Peter Frankopan, Editora Crítica, página 102)


Os cristãos, por sua vez, sentiam-se incomodados com o Imperador de Constantinopla, Heráclio, que queria impor o cristianismo de Constantinopla a eles. Os cristãos não eram um todo unido. Havia muitas discussões doutrinárias que criavam tipos diferentes de cristianismo. O Cristianismo de Constantinopla era um. O Cristianismo oriental (Palestina, Síria, Pérsia, etc) era outro. Como exemplo podemos citar a celeuma a natureza de Jesus Cristo. Jesus Cristo era somente humano ou era humano e divino? O Islã teve a sorte de pegar uma comunidade cristã desunida.


Anotações extraídas da leitura do Livro "O CORAÇÃO DO MUNDO", Uma Nova História Universal a partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente, Peter Frankopan, Editora Crítica, páginas 101/123)

segunda-feira, 16 de março de 2020

História da Alemanha (1) Panorama da Época Ulf Dirlmeier Idade Média Arcaica Reino Franco Merovíngios Carolíngios



IDADE MÉDIA ARCAICA (SÉCULOS VI A IX):

"A divisão da história europeia em três épocas - a Antiguidade, a Idade Média e a Idade Moderna - tem a sua origem em Christoph Cellarius (1638-1707)..."
(página 19)

Quando começou a Idade Média? Com a desagregação do Império Romano? Não há entendimento pacificado nessa área. Há a teoria da catástrofe que bate na tecla das invasões dos povos germânicos do século III e na migração dos povos nos séculos IV a VI. Há a teoria da continuidade que defende a existência de uma continuidade da história cultural e econômica. Segundo essa última teoria, parte-se "do ponto de partida da existência de uma evolução ininterrupta desde a Antiguidade que só teria sofrido uma cisão decisiva no século VIII, devido à invasão do Islão, no mundo mediterrâneo."
(página 19)
O autor do livro reconhece que há uma época de transição na Europa que abrange os séculos VI e VIII. O que se seguiu a ela, não de forma abrupta mas numa passagem progressiva, chamamos de Idade Média. Para o autor, a cisão não foi a ascensão do Islão, mas a ascensão do Império Carolíngio.
Em meados do século IX, o Império Carolíngio começou a entrar em decadência, cuja agonia durou um século. No seu lugar começaram a surgir "grandes unidades suprarregionais, que se transformariam , por seu turno, em regna autônomos, num processo que se prolongou por várias gerações, até cerca de meados do século XI."
(página 20)
A Europa de hoje tem suas raízes na Alta Idade Média, que sucedeu à Idade Média Arcaica (séculos VI a IX)
Do desmoronamento do Império Carolíngio surgiu, por exemplo, a Francônia Oriental (regnum), o embrião do Sacro Império Romano Germânico e depois da atual Alemanha. A Francônia Oriental apresentava uma disputa entre "as grandes ligas de fidalgos" (página 20) que buscavam contrabalançar o poder das Dinastias reinantes (otoniana, saliana e staufer/hohenstaufer) por meio de eleições. Esse direito de eleger o rei duraria até o fim do Sacro Império Romano Germânico, no século XIX.

Cronologia da Idade Média Arcaica Alemã (séculos VI a IX):

Anos 482-511: Clóvis I (rei dos Francos)
Ano 511: Divisão do reino entre os filhos de Clóvis
Anos 558-561: Clotário I, soberano de todos os Francos
Anos 679-714: Pepino de Herstal, mordomo do Palácio de Austrásia, reina a partir de 687 sobre too o reino Franco.
Anos 714-741: Carlos Martel, mordomo do Palácio do Reino dos Francos.
Ano 732: Carlos Martel derrota os árabes muçulmanos (Poitiers/Tours).
Anos 741-768: Pepino, o Breve, mordomo do palácio da Nêustria, da Borgonha e da Provença
Anos 768/814: Carlos Magno, soberano a partir de 771
Ano 800: Carlos Magno coroado Imperador
Anos 813-840: Luís, o Piedoso, co-Imperador a partir de 813 e imperador a partir de 814
Ano 817: Plano de Divisão do Império - Ordinatio Imperii

O IMPÉRIO MEROVÍNGIO E O IMPÉRIO CAROLÍNGIO:

Menos gente significava menos desenvolvimento econômico. Comércio, circulação monetária e ofícios quebrados. 
Cerca de 90% da população na Idade Média vivia no campo. Para haver uma transição para atividades não agrícolas, era necessário a produção de excedente de alimentos. Para tanto, foi necessário aumentar a superfície de cultivo para outras áreas.

"O Regime Senhorial Franco, partindo do centro dos territórios francos, situado entre o Reno e o Loire, com o seu sistema de servidão, tornou-se a forma de organização predominante nos séculos VII e VIII. O trabalho forçado dos servos, indispensável para a exploração das terras dos senhores (pars dominica), está estreitamente associado ao desenvolvimento social característico da época carolíngia: as relações de dependência e os vínculos pessoais aumentaram, as medidas legislativas que visavam contrariar esta propagação da privação de liberdade revelaram-se todas ineficazes, quando chegavam, sequer, a ser adotadas com uma intenção séria. A forma de dependência especificamente medieval agora em estruturação - a servidão - representava uma perda de estaturo para pessoas que antes eram livres. Pelo contrário, para os servi e mancipia, que haviam trabalhado antes como trabalhadores forçados, numa posição semelhante à dos escravos, esta nova forma significava uma ascensão à situação de semiliberdade."
(página 24)"

A massa de servos era dominada pelos poucos  Nobres existentes. Como era constituída essa nobreza?
- você tinha aquela nobreza imperial inicial dos Francos (século VI)
- a ela somaram-se, nos séculos VII e VIII, os seguidores dos carolíngios, tornando-se cavaleiros por meio do serviço militar

"Esta classe nobre do Império Franco deu origem a uma pequena elite, na transição entre a Idade Média Arcaica e a Alta Idade Média, da qual surgiriam, mais tarde, as dinastias alemãs e francesas."
(página 24)

Na Idade Média Arcaica havia produção de bens artesanais (em mosteiros e nos senhorios). Mas também havia alguma produção destinada ao mercado. Exemplo: vidro, joias e cerâmica na região dos Rios Reno e Mosela (século VI). 
De toda forma, é inegável que o comércio diminuiu dramaticamente durante a Idade Média Arcaica, principalmente no Mediterrâneo. 
O sistema monetário estava prejudicado. A situação só melhorou no século VIII, com a utilização da moeda de prata no Império Carolíngio. 

O REINO FRANCO E SEU DESENVOLVIMENTO POLÍTICO:

"Os Francos, quando comparados com todos os outros povos germânicos, foram extraordinariamente bem-sucedidos na constituição do Império a partir da Gália do norte."
(página 26)

Clóvis tomou o poder em 486, numa vitória sobre Siágrio, o último governador romano designado na Gália. A conversão de Clóvis ao cristianismo (498?) permitiu a fusão das elites galo-romanas e franca. Essa conversão trouxe estabilidade ao domínio exercido por Clóvis.
O Império Franco ganhou novos territórios com os filhos de Clóvis: a Turíngia (atual Alemanha) e a Borgonha no sul.
Em 558, Clotário I torna-se o rei de todos os Francos. "Clotário I conseguiu até reunir todo o reino merovíngio num reinado único, entre 558 e 561, contudo, o princípio da partilha da herança revelou-se mais forte."
(página 26)
Conflitos durante a era Merovíngia acarretaram na divisão do Império, com as constituição das seguintes partes: Austrásia, Nêustria e Borgonha. Essa divisão de poder acabou acarretando o surgimento de novas figuras, que conseguiram superar o poder do rei, denominadas Mordomo do Palácio - MAIOR DOMUS. 
O mais conhecido desses mordomos foi Carlos Martel, "filho ilegítimo de Pepino, de Herstal, que conseguiu se impor, a partir de 716, como mordomo do palácio de todo o reino, vencendo uma resistência persistente. Concedia terras (na maior partes das vezes, propriedades da Igreja) aos seus seguidores como recompensa pelos serviços militares dos cavaleiros. Esta prática constituiu o requisito, a longo prazo, para o sistema feudal medieval e permitiu-lhe, a curto prazo, a vitória sobre os árabes, na batalha de Poitiers (732). Carlos Martel não salvou o Ocidente, como se afirma frequentemente, de forma simplista; mas com esta vitória conseguiu prestígio para a sua família, entre outras coisas fazendo-a ascender a um lugar de poder a nível europeu."
(página 28)

O filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, num ato formal, foi ungido Rei dos Francos, em 751. Tal solenidade só foi possível graças à associação de Pepino com a Igreja Romana. Para a Igreja Romana, também era vantajosa essa associação. Sobre isso, disse o Papa Zacarias:
"será melhor designar como rei aquele que detém realmente o poder."
(página 28)
O papado se valia dessa associação com os Francos para conseguir proteção contra os Lombardos, na Itália. 

"Estes acordos significavam muito mais do que uma confirmação da passagem da dinastia dos merovíngios para os carolíngios; elas criaram as condições para a estreita coordenação existente entre o Império e a Igreja Católica na Alta Idade Média."
(página 28)

Em 800, Carlos Magno foi coroado Imperador em Roma, recebendo sua Coroa das mãos do próprio Papa.
A maior extensão do Império Carolíngio era a seguinte: estendia-se do rio Elba (atual Alemanha) até ao Atlântico, a oeste. Da costa do Mar do Norte até os Pireneus. Ainda tinha uma parte da Península Italiana, no sul.
Luís, o Piedoso, era filho de Carlos Magno. Ele se deparou com um problema: manter o Império intacto ou, após a sua morte, dividir o Império, segundo o direito de sangue, entre seus filhos.
O Império ainda tinha outros problemas:
-invasões de sarracenos e normandos (meados do século IX)
-influência crescente da Igreja em detrimento do poder do Imperador
-poder central não conseguia se fazer presente. a insegurança aumentava no reino
-vínculos estabelecidos por meio do feudalismo não eram suficientes para compensar a falta de um poder central, que era ausente, não possuindo uma administração eficiente

Todos esses problemas resultaram na repartição do Império, consubstanciado no Tratado de Verdun (843).


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS (PÁGINAS 19/29) DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS, EDIÇÕES 70, VÁRIOS AUTORES.

domingo, 8 de março de 2020

Mudanças Climáticas Hunos Queda do Império Romano do Ocidente Concílios de Niceia e Calcedônia



MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SÉCULO IV d.C.; SURGIMENTO DOS HUNOS; ONDAS MIGRATÓRIAS BATIAM ÀS PORTAS DO IMPÉRIO ROMANO E DO IMPÉRIO PERSA:

Mudanças climáticas já aconteciam no passado. No século IV d.C. mudanças climáticas acarretaram problemas no território chinês e no território sogdiano (atual Usbequistão). Fomes generalizadas pela quebra de safras agrícolas resultam em saques nas cidades. Os lucros auferidos pela Rota da Seda caem. A vida nas estepes ficou ainda mais difícil. O que já era ruim, piorou. 
Mas houve uma tribo que vivia nas estepes que soube se aproveitar dos problemas causados por essas mudanças climáticas, conseguindo consolidar seu poder sobre as outras tribos existentes na Mongólia. Essa tribo era conhecida no ocidente como os HUNOS. Na Ásia eram chamados de Xiongnu.
O fortalecimento e a decorrente expansão dos Hunos resultou na expulsão de outras comunidades para o oeste, que fugiam deles. Estamos falando de um período compreendido entre 350 e 360 d.C..
Essas migrações não eram causadas apenas pela violência dos Hunos, como também pelas mudanças climáticas. 
O impacto dessas migrações ( vindas do norte, das margens do Mar Negro e das estepes asiáticas) foi sentida do norte do atual Afeganistão (Báctria) à fronteira romana no rio Danúbio. Essa ondas migratórias, formadas por pessoas que fugiam dos Hunos ou das mudanças climáticas, forçavam a entrada no Império Romano. 
Na Trácia, no ano de 378 d.C., uma dessas ondas migratórias derrotou um exército romano.
E não era só o Império Romano que sofria com esse repentino deslocamento populacional. O Império Persa também via suas fronteiras sendo forçadas por essas ondas migratórias. Hordas de bárbaros, vindos do atual Turcomenistão, ameaçavam a cidade Persa de Merv. A situação era tão amedrontadora que o Império Persa construiu um muro no Cáucaso para tentar conter o avanço dos bárbaros que vinham do norte . 

ALIANÇA ENTRE O IMPÉRIO ROMANO E O IMPÉRIO PERSA PARA CONTER AS ONDAS MIGRATÓRIAS:

A situação desse deslocamento populacional era tão urgente que forçou a uma aliança inédita entre os Impérios Romano e Persa. Assim, Roma chegou a contribuir financeiramente para a construção do Muro no Cáucaso.

"Mas era tarde demais no que se refere a Roma."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 69)

ALARICO, LÍDER DOS VISIGODOS, INVADE ROMA E A SAQUEOU:

Era tarde demais para Roma. Em 410 d.C., Alarico, o líder dos Visigodos, invadiu Roma e a saqueou. Os Visigodos fugiam do avanço dos Hunos. O Império Romano desmoronava-se. Alanos, vindos de uma área compreendida entre o norte do Mar Negro e o Mar Cáspio, invadiam a província romana da Espanha. Os Vândalo chegaram ao norte da África romana. 

CHEGADA DOS HUNOS:

Os Hunos, que vinham atrás desse deslocamento populacional, empurrando-o para o oeste, finalmente chegaram ao Império Romano. Os Hunos viviam montados em seus cavalos. Os cavalos lhes davam asas. Os cavalos eram suas casas. Os Hunos não eram agricultores. Os Hunos só tinham um interesse: Saquear/Pilhar. Eram comandados por Átila, o flagelo de Deus (século V d.C.).
Os Hunos só seriam detidos no ano de 451, na Batalha dos Campos Cataláunicos (atualmente é o centro da França). 

RESULTADO DAS DEVASTAÇÕES DO SÉCULO V d.C.:

As invasões do Século V d.C. fizeram a economia da Europa Ocidental retroceder. 

"os níveis de alfabetização despencaram; as construções em pedra praticamente cessaram."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 71)

Os mercados de longa distância foram substituídos pelos mercados locais (bens de pequeno valor). 

"Por que Deus nos permite ser mais fracos e miseráveis do que todos esses povos tribais, lamentava-se Salviano, escritor cristão do século V."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 72)

Os cristão eram levados a acreditar que toda aquela tragédia acontecia porque Deus os punia pelos seus pecados. Os romanos pecaram e Deus os punia.

QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO OCIDENTAL, COM SEDE EM ROMA. CONSEQUÊNCIAS NO IMPÉRIO PERSA E PARA OS CRISTÃOS QUE ALI MORAVAM:

Com a queda de Roma, os Persas não viam mais o cristianismo como uma ameaça ao seu império. Agora quem a ameaçava eram as tribos vindas das estepes asiáticas (século V d.C.). Por esse motivo, o Império Persa deixou de perseguir os cristãos e passou a tolerá-lo como uma ameaça menor. 

UNIFORMIZAÇÃO DA DOUTRINA E PRÁTICA CRISTÃS:

Colocar todos os cristãos pensando da mesma forma sobre a doutrina e prática cristãs seria um trabalho árduo (e impossível de concretizá-lo). Mas foi tentado. Reuniões foram feitas com esse objetivo.
Exemplo:
Concílio de Niceia (325 d.C.) 
O Império Romano do Ocidente ainda existia. Constantino era o seu Imperador. Esse concílio foi convocado por Constantino com o objetivo de uniformizar o entendimento sobre várias questões sobre doutrina e prática cristãs. Uma das discussões girava em torno das relações existentes entre o Deus Pai e o Deus Filho. Qual era a natureza de Jesus Cristo? Jesus Cristo era somente humano, um homem como nós, como entendiam os Arianos, seguidores de Ário de Alexandria (um clérigo egípcio) ou ele era simultaneamente Humano e Divino? Concluiu-se que Jesus Cristo era simultaneamente humano e divino: Jesus Cristo é Um em Substância com Deus (seu pai). Dessa reunião em Niceia nasceu o Credo de Niceia, que é usada ainda hoje, quando se diz em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (santíssima trindade). 
Mas as divisões persistiam. A divisão agora se dava entre:
Cirilo, Patriarca de Alexandria (Egito)
Nestório (Patriarca de Constantinopla).
Tanto Cirilo e Nestório concordavam que Jesus Cristo possuía duas naturezas, a humana e a divina. O problema era dizer como é que essas naturezas se relacionavam, se posicionavam na figura de Jesus Cristo.
Para Nestório, as naturezas divina e humana em Jesus Cristo deviam ser vistas separadas. Separadas e distintas. Para visualizar isso, imagine um copo com água e óleo. Água e óleo estão separados, mas estão dentro de um mesmo recipiente. Com Jesus Cristo seria a mesma coisa
Já para Cirilo, as naturezas divina e humana de Jesus Cristo não deviam ser entendidas como se estivessem separadas. Elas deviam ser entendidas como estando misturadas, coexistindo sem nenhuma separação. Para melhor visualizar essa ideia, imagine um copo onde são colocados água e vinho. Água e vinho se combinam perfeitamente, misturam-se de forma a não deixar nenhuma separação visível.

Havia ainda outras discussões que mantinham os cristão separados:

1) Status da Virgem Maria. Havia a distinção entre Maria Theotokos (Maria deu á Luz Deus) e Maria Christotokos (Maria deu à Luz Jesus, trazendo ao mundo apenas um humano, não um ser divino)
2) Jesus seria a criação de Deus e portanto subordinado e este ou era a manifestação de Deus sem qualquer relação de subordinação, sendo portanto coigual e coeterno?

CONCÍLIO DA CALCEDÔNIA (451 d.C.) MAIS UMA TENTATIVA DE PACIFICAR OS ENTENDIMENTO DE DOUTRINA E PRÁTICA CRISTÃS:

A Igreja do Oriente não concordou com as conclusões tiradas do Concílio da Calcedônia e reagiu com fúria. Seria impossível uniformizar a doutrina e a prática cristãs. A Igreja do Oriente defendia que as naturezas divina e humana de Jesus Cristo estavam separadas, como naquele exemplo de um copo com água e óleo. 
O Imperador Romano reagiu a essa rebeldia fechando a escola de Edessa (atual Turquia) de onde surgiam os escritos doutrinários da Igreja do Oriente. Estudiosos da Igreja do Oriente foram expulsos do Império Romano e foram buscar refúgio na Pérsia. 


SÉCULOS V E VI: O IMPÉRIO PERSA VIVENCIA UM PERÍODO DE PROSPERIDADE:

Os Persas viviam no apogeu. O Império Persa mantinha ligações comerciais com a Índia, com a China e com o Mediterrâneo Oriental. As estepes estavam tranquilas. O Império Bizantino estava concentrado em recuperar províncias romanas no ocidente. Prosperidade e paz trazem consigo tolerância religiosa. Os cristãos que viviam no Império Persa se beneficiaram dessa tolerância religiosa.

IGREJA CRISTÃ DO ORIENTE E A EVANGELIZAÇÃO DA ÁSIA:

A Igreja Cristão do Oriente se beneficiou do período de prosperidade experimentado pelo Império Persa nos séculos V e VI. Com a prosperidade veio a tolerância religiosa.
Aproveitando esse momento, a Igreja Cristã do Oriente buscou se expandir pelo leste. Em meados do século VII era fácil prever o futuro do cristianismo, que marchava pelo leste, competindo com outras religiões como o budismo, o zoroastrismo e o judaísmo.
O então Rei do Iêmen se tornou cristão. Tribos das estepes foram alcançados pelo cristianismo. O cristianismo chegou à China. Basra, Tikrit e Mosul, hoje no atual Iraque, tinham populações cristãs. 
Samarcanda, Bucara (Bukhara), no atual Usbequistão, tinham populações formadas por cristãos.

"Em 635 d.C., missionários cristãos  na China foram capazes de convencer o Imperador a retirar a oposição à fé cristã e reconhecê-la como uma religião legítima..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 83)

"A sua expansão deve muito à tolerância e à habilidade dos governantes sassânidas da Pérsia, capazes de favorecer políticas inclusivas nas épocas em que a aristocracia e os sacerdotes do Zoroastrismo estavam pacificados."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 77)

"Cidades como Merv (Ásia Central), Gundeshapur e até Kashgar, a cidade-oásis na porta de entrada da China, tiveram Arcebispados bem antes de Canterbury."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 77)

Mas nem tudo eram flores. Na sua expansão para o Leste, a Igreja Cristã do Oriente teve que enfrentar o judaísmo, o budismo e o zoroastrismo.

EURASIA, O CENTRO DO MUNDO E PALCO DE DISPUTA ENTRE RELIGIÕES PELAS MENTES E CORAÇÕES DAS PESSOAS:

A Eurasia era o centro do mundo. Tudo fluía pelas rotas comerciais e pela Rota da Seda: mercadorias, ideias, tecnologias, etc. Religiões disputavam fiéis. Mas essas mesmas religiões também trocavam informações entre si. Uma religião poderia compartilhar ideias usadas por ela com outras religiões. Um exemplo disso é o símbolo do HALO, que ilustra a ligação com o divino, sinal de luminosidade que foi adotada por várias religiões.
Mas esse encontro de religiões também gerava conflitos. Elas competiam entre si para ver qual iria se sobressair sobre as outras, qual delas iria converter um determinado Soberano, qual delas iria atrair mais fiéis.
Os cristãos temiam perder fiéis para o judaísmo, cujos cultos, em suas sinagogas, eram mais atraentes.
Os judeus, por sua vez, desdenhavam os cristãos que se convertiam aos judaísmo.

"Não acredite num prosélito, até que tenham se passado 24 gerações, porque o mal inerente ainda estará com ele." (Hiyya, o Grande Rabino)
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)

Mas havia judeus que também temiam que o cristianismo ocupasse o lugar do judaísmo. Por esse motivo, os judeus buscavam fazer pouco caso do cristianismo, faziam joça das crenças dos cristãos:

"O nascimento a partir de uma virgem, por exemplo, é alvo de sátiras e zombarias..."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 80)

No reino de Himyar, no sudoeste da Península Arábica, judeus perseguiam cristãos. Ali, nos séculos IV e V, instalou-se um reino que fez do judaísmo a religião oficial de seu Estado.

"cristãos eram regularmente martirizados em razão de suas crenças,... depois de condenados por um conselho de rabinos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição, página 81)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição


sábado, 7 de março de 2020

Rota da Seda Eurasia Alexandre o Grande Budismo Zoroastrismo Cristianismo Sogdianos Sassânidas



AS CONQUISTAS DE ALEXANDRE, O GRANDE, AJUDARAM A AUMENTAR O INTERCÂMBIO (TRÂNSITO) DAS IDEIAS PELA EURASIA:

Alexandre, o Grande, na esteira de suas conquistas militares, incrementou a transmissão de ideias pela Eurasia. Alexandre levou consigo o pensamento grego. Ideias fluíam em ambas as direções: leste para oeste e oeste para leste. 
De leste para oeste houve a influência do Budismo no Egito, dando origem à seita Therapeutai. A seita Therapeutai (terapeutas) "floresceu em Alexandria no Egito por vários séculos, tem similaridades inequívocas com o budismo...o desapego da noção do eu, a fim de encontrar a paz interior." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 49)
Com efeito, as ideias se misturavam, ganhavam nova roupagem, uma religião pegava para si ideias extraídas de uma outra religião.
De oeste para leste temos o exemplo da influência da cultura grega sobre o budismo, na região de Gandara (região atualmente localizada entre Afeganistão e Paquistão). O budismo não permitia a representação de Buda. Com a influência da cultura grega, que se fazia presente em Gandara (colonos gregos instalados nessa área na esteira das conquistas de Alexandre), Província pertencente ao Reino de Báctria (Ásia Central/Afeganistão), passou-se a permitir que Buda fosse representado em esculturas. Estamos falando do Século II a.C.
O Reino da Báctria era governado por Menandro, herdeiro da tradição trazida por Alexandre, o Grande.

FÉS EM DISPUTA:

A Eurasia era um campo no qual várias religiões disputavam entre si a preferência dos soberanos locais.

1) Religiões oriundas da Índia: Budismo, Hinduísmo e Jainismo
2) Religiões oriundas da Pérsia: Zoroastrismo e Maniqueísmo
3) Religiões com raízes no Oeste: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo

Para sair vencedora, a religião tinha que vencer no campo de batalha, na negociação política. Tinha que demonstrar ser culturalmente superior e fazer crer que, ao adotá-la, a bênção divina recairia sobre o povo que a adotou, tornando-o poderoso e bem-sucedido.
A religião também era uma forma do Governante para ordenar o funcionamento de sua sociedade, valendo-se da influência dos sacerdotes sobre as pessoas que viviam em seu reino.
Nesse sentido, o Reino Cuchana (Kushan - abrangia o norte da Índia e a maior parte da Ásia Central - primeiros séculos d.C.) fortaleceu-se com a adoção do Budismo. Formado por membros da Tribo Yuezhi, que saíram da China para o leste da Pérsia. Dali foram para o Reino de Báctria, que tinha sido formado na esteira das conquistas de Alexandre. Os gregos foram expulsos. Com o tempo, os Yuezhi, que não eram nativos da região (atuais Tadjiquistão, Afeganistão e Paquistão), precisavam buscar ideias que legitimassem o seu poder (justificar a sua preeminência sobre o resto da população autóctone). A solução foi fazer uma união entre o Budismo e as ideias gregas. A religião era usada por um governante para justificar seu poder sobre seus súditos.
Uma inscrição encontrada em Taxila (Punjab) registra essa necessidade de criar um link entre o poder terreno/temporal e o poder divino: "O governando Cuchana era Grande Rei, Rei dos Reis e FILHO DE DEUS." (página 51)

"Os Cuchana definiram um culto à liderança que invocava uma relação direta com o divino e criava distância entre o governante e o súdito."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 51)

Com a ascensão de seus vizinhos Sassânidas, no atual Irã, os Cuchana tiveram que se submeter, tornando-se vassalos dos iranianos.

SOGDIANOS:

Povo originário da Ásia Central (atual Usbequistão/Tadjiquistão). Não construíram um reino. Viviam em cidades-estados, rivais entre si. Não era um povo guerreiro. Subdividiam-se em agricultores e comerciantes. No exercício do comércio, tiveram uma grande importância, pois transitavam pela Rota da Seda, ligando a China ao vale do Indo. Os Sogdianos dominavam as rotas comerciais de longa distância. 

EXPANSÃO DO BUDISMO PELA ROTA DA SEDA:

O Budismo nasceu na Índia. Seu grande impulso veio do apoio dado por um grande soberano da época, Osaka. No século III a.C., Osaka adotou o budismo. Osaka tinha criado um grande império na Índia, por meio de guerras incessantes contra seus vizinhos. Mas ele causou de derramar sangue em busca de poder. Ao conhecer os ensinamentos do budismo (uma filosofia pragmática mais do que uma religião), Osaka passou a refletir sobre o horror que era a guerra. O budismo se aproveitou do apoio de Osaka e deitou raízes na Índia, antes de sair pelo mundo.
O Budismo expandia-se na esteira das caravanas que transitavam pela Rota da Seda. Ao lado das mercadorias, eram transportadas ideias/fés, dentre elas, o budismo.

ASCENSÃO E QUEDA DAS RELIGIÕES:

"As religiões surgiam e desapareciam em difusão pela Eurasia, disputando entre si as plateias, a lealdade e a autoridade moral."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 54)

"A equação era tão simples quanto poderosa: uma sociedade protegida e favorecida pelo Deus certo ou pelos Deuses certos prosperaria; as que cultuavam falsos ídolos e faziam promessas vãs, sofriam." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 50)

ASCENSÃO DA DINASTIA SASSÂNIDA NA PÉRSIA E A ADOÇÃO DO ZOROASTRISMO (224 d.C.):

Artaxes I, soberano Sassânida, desejava reforçar a identidade persa. Para tanto, ele pretendia expulsar os budistas de seu reino. Queria relacionar a sua dinastia ao glorioso império persa do milênio anterior, representado pela Dinastia Aquemênida de Ciro e Dario. Os Sassânidas expandiram o império Persa, para lugares como Peshawar (atual Paquistão), Balkh (atual Afeganistão) e Merv (atual Turcomenistão).
Como todo governante, os Sassânidas usaram a religião para reforçar o seu poder político. Apostaram no Zoroastrismo, religião/cosmologia difundida por Zoroastro, que se baseava na ideia de que o mundo era um palco no qual forças do Bem e forças do Mal se digladiavam. 

"Zaratustra (Zoroastro), profeta persa que viveu por volta de 1.000 a.C.,  que pregou que o universo estava dividido em dois princípios, Ahura Mazda (sabedoria iluminadora) e sua antítese, Angra Mainyu (espírito hostil), que viviam em constante conflito."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 55)

Os crentes de Zoroastro acreditavam que a purificação era alcançada por meio do fogo. Essa era a Cosmologia adotada sob a dinastia Sassânida, que a usou para fortalecer o seu poder.
Como dito acima, com a expansão do poder Sassânida, deu-se poder ao Zoroastrismo, que era vista como uma religião que poderia aumentar o poder do Estado. Dessa forma, passou-se a perseguir outras religiões presentes no Irã, como os budistas, os judeus, os cristãos, etc.

CRISTIANISMO:


Um religião nascida no oriente que seria adotada pelo Império Romano. Não apenas as mercadorias que transitavam durante no Mundo Antigo. As ideias também transitavam. 

"E entre as (ideias) mais poderosas estavam as que diziam respeito ao divino."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 49)

Apesar de associado à Europa Ocidental, o cristianismo nasceu e se desenvolveu primeiramente na Ásia (atual Palestina).

"Mas, na realidade, o primeiro cristianismo era oriental em todos os sentidos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 57)

"Seu ponto focal geográfico era, obviamente, Jerusalém, ao lado dos demais locais ligados ao nascimento de Jesus, à sua vida e crucifixão; sua língua original era o aramaico, do grupo semítico de línguas nativas do Oriente Próximo; seu fundo teológico e cenário espiritual era o judaísmo, formado em Israel e durante o exílio no Egito e na Babilônia; suas histórias eram moldadas por desertos, inundações, secas e ondas de fome, pouco familiares na Europa." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 57)

No início do Cristianismo, seus seguidores foram tolerados e depois perseguidos pelo Império Romano. A perseguição recrudesceu durante o século II d.C. .
Mas antes de seguir para o Ocidente, o Cristianismo seguiu para o Leste, para a Mesopotâmia (atual Iraque), para Edessa (atual Turquia). Por volta do século III d.C., o cristianismo chegou à costa do atual Bahrein. Cristãos poderiam ser encontrados no atual Afeganistão e no atual Irã.

SÉCULO IV. CONVERSÃO DO IMPERADOR ROMANO CONSTANTINO AO CRISTIANISMO:

Constantino, Imperador Romano, converteu-se ao Cristianismo.

"Se Roma e Constantinopla eram os centros administrativos do Império, Jerusalém seria seu núcleo espiritual."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 63)

A conversão do Império Romano piorou a situação dos cristãos que viviam no Império Persa, pois os Persas passaram a ver os cristãos que vivem em suas terras como uma espécie de quinta-coluna, agentes a serviço de Roma. Dessa forma, a perseguição aos cristãos se acentuou no Império Persa. A ação dos Persas contra os cristãos que viviam em seu território foi estimulada pela retórica de Constantino, o Imperador Romano, que dizia que Roma deveria agir para proteger os cristãos onde quer que eles estivessem. Agindo dessa forma, Constantino teve o mérito de propagar e enraizar o Cristianismo no Ocidente, mas o prejudicou no Oriente.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO: Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A Criação da Rota da Seda Império Persa e Alexandre, o Grande China Império Romano Globalização Constantinopla



CRESCENTE FÉRTIL:

Crescente Fértil é o nome que se dá a uma área que abrange do Golfo Pérsico ao Mar Mediterrâneo. Foi nessa área que a Agricultura primeiro se desenvolveu. Ali ficava a Mesopotâmia, atual Iraque, berço das primeiras cidades.

"Desde os primórdios do tempos, o Centro da Ásia é onde os impérios foram criados."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 21)

"As terras baixas de aluvião da Mesopotâmia, alimentadas pelos rios Eufrates e Tigre, forneceram a base da própria civilização, pois foi nessa região que as primeiras aldeias e cidades se formaram."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 21)



IMPÉRIO PERSA (período Aquemênida - 550-330 a.C.):

O maior de todos os Impérios surgidos nessa área foi o Persa. Partindo do sul do atual Irã, estendeu-se a oeste pelo Mar Egeu. 

"O Império Persa era uma terra de abundância que ligava o Mediterrâneo ao coração da Ásia."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 22)

Tomando a direção leste, chegou ao Himalaia. Ainda tomando a direção oeste, chegou ao rico Egito, no ano de 525 a.C. Estradas foram construídas para manter esse grande império conectado. Essas estradas ligavam o litoral da Ásia Menor (atual Turquia) às distantes cidades da Babilônia, de Persépolis e Susa. Uma distância de 2.500 km era vencida num período de uma semana.
As cidades do Império Persa cresciam com o acesso a alimentos, que eram produzidos em áreas próximas aos rios Nilo (Egito), Tigre/Eufrates (atual Iraque) e Oxus (Amu Darya)/Jaxartes (Syr Darya), esses dois últimos rios da Ásia Central, que desaguam no Mar de Aral.
O Império Persa procurava governar seus súditos com Justiça. As minorias eram respeitadas, como por exemplo, os judeus, que foram libertados de seu cativeiro na Babilônia.

"A tolerância com as minorias era lendária: um dos governantes persas foi chamado de Messias." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 22)

O comércio floresceu na Pérsia, onde palácios foram construídos em várias cidades, como Persépolis, Susa, Babilônia e Pasárgada.

INIMIGOS DO IMPÉRIO PERSA:

A fronteira norte do Império Persa sofria pressão das tribos nômades vindas das estepes (norte do Mar Negro, Ásia Central, Mongólia - estepes eram pastagens semi-áridas, savanas). Os nômades das estepes eram ferozes e imprevisíveis. Apesar disso, em alguns casos, era possível ter uma relação civilizada com eles, comerciando com eles. Os Persas tinham interesse nos cavalos criados por essa tribos nômades.
No Oeste, havia os gregos. A Pérsia ambicionava um dia dominar a Grécia. Mas esse sentimento era recíproco. Esse sentimento grego em relação à Pérsia concretizado por um Macedônio, Alexandre, o Grande.

ALEXANDRE, O GRANDE:

Ao assumir o Trono na Macedônia (336 a.C.), Alexandre, o Grande, dirige seu olhar para o Leste, para a Pérsia. E não podia ser diferente, pois no tempo de Alexandre a riqueza estava no leste, na Ásia, não na Europa Ocidental.

"Em nenhum momento voltou seus olhos para a Europa, que não oferecia nada: nem cidades, nem cultura, nem prestígio, nem recompensas." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 23)

A riqueza estava na Ásia. Os olhos de Alexandre miravam o Leste, fonte de cultura, riqueza e de ameaças. Os Persas representavam tudo isso no imaginário helênico (gregos e macedônios). Alexandre então partiu para conquistar o Império Persa. Houve uma série de batalhas. A Província pérsia do Egito caiu (331 a.C.) sob o domínio de Alexandre. Na sequência, houve a batalha de GAUGAMELA, localizada perto da atual cidade de Erbil (norte do Iraque - região do Curdistão). A vitória de Alexandre em Gaugamela abriu para ele as portas do Império Persa. Alexandre seguiu na direção leste. As cidades iam caindo em seu Poder. Dário III, o soberano Persa, tinha fugido. Babilônia caiu sob o domínio de Alexandre.


ALEXANDRE, O TOLERANTE:

Alexandre era tolerante com as crença locais. Quando Dário III morreu, a ele foi dado um enterro condizente com seu status. Alexandre cooptava elites locais para consolidar seu poder sobre regiões recém-conquistadas. Alexandre dizia:

"se queremos não só passar pela Ásia, mas ocupá-la, devemos mostrar clemência por essas pessoas; é a lealdade delas que irá tornar o nosso império estável e permanente." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 25)

No seu avanço pelo Leste, Alexandre foi criando cidades, como Herat (Alexandria na Satrapia) e Kandahar (Alexandria Aracosia), no atual Afeganistão. Bagram foi criada no Cáucaso. As cidades eram fortificadas como forma de defesa contra a incursões dos povos das estepes, os mesmos que atormentavam a fronteira oriental do finado Império Persa. Os povos das estepes, segundo entendimento dos chineses da época, que também sofriam com eles, representavam o contrário daquilo que era entendido como civilização (huaxia = mundo civilizado). Alexandre ainda contornou o Indo-Kush (indocuche), uma cadeia montanhosa, penetrando em seguida naquilo que hoje é a Índia.

FIM DA AVENTURA DE ALEXANDRE, O GRANDE. SEU LEGADO CULTURAL PARA A ÁSIA

Alexandre morreu em 323 a.C. Mais importante do que seu feito militar, foi a herança cultural grega que Alexandre deixou na Ásia Central. O grego era ouvido e lido do Mediterrâneo ao Himalaia. Esse foi o grande legado de Alexandre. Na cidade de Ai Khanoum (fundada por Seleuco), no norte do atual Afeganistão, às margens do rio Oxus (Amu Darya), um monumento trazia essa inscrição, retirada de um templo grego, em DELFOS:

"Quando criança, comporte-se bem. 
Quando jovem, tenha autocontrole. 
Quando adulto, seja justo. 
Quando idoso, seja sábio. 
Quando moribundo, evite a dor."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"A vitalidade do intercâmbio cultural à medida que a Europa e a Ásia colidiam era impressionante." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

Outro exemplo de como a cultura trazida por Alexandre à Ásia iria impactar a cultura local: O Budismo, no seu começo, não permitia que a figura de Buda (o desperto) fosse representada. Com a influência da cultura grega, trazida por Alexandre, essa prática mudou. Buda passou a ser representado, pois temia-se a concorrência de outras religiões, como por exemplo o culto grego a Apolo. Esse encontro de culturas se deu na província de Gandara, localizada no Reino de Báctria (criado pelos sucessores de Alexandre).

"Estátuas de Buda começaram a aparecer apenas depois que o culto a Apolo se firmou no Vale do Ghandare (Gundara) e no oeste da Índia. Os budistas sentiam-se ameaçados pelo sucesso de novas práticas religiosas e começaram a criar suas próprias imagens."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"até então os budistas haviam ativamente evitado representações visuais" 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"As décadas posteriores à morte de Alexandre viram um programa gradual e inconfundível de helenização conforme as ideias, temas e símbolos da Grécia antiga eram introduzidas no oriente."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 26)

COM A MORTE DE ALEXANDRE, SEU IMPÉRIO FOI FRAGMENTADO:

O Império criado por Alexandre, após a sua morte, é fragmentado. Sua parte oriental, estendendo-se do Tigre ao Indo, ficou para um macedônio, um ex-oficial do exército de Alexandre, de nome Seleuco, que fundou a Dinastia Selêucida, que subsistiria por 300 anos.
A dinastia Selêucida foi superada pela emergência de um novo poder representado pelos Arsácidas (247 a.C. -224 d.C.). A história dos Arsácidas está cheia de lacunas. Sabe-se que esse Estado foi iniciado pela Tribo Nômade Parni (Partas) ou Aparni, pertencente aos povos iranianos. A ascensão dos Arsácidas foi o resultado de migrações vindas da Ásia Central em busca de terras agricultáveis. No Século III a.C. lograram êxito na ocupação de territórios ao longo do Rio Atrek e da cordilheira Kopet Dagh. 
No fim, os Arsácidas também foram superados por uma nova dinastia, os Sassânidas.
No início do Século III d.C., quando o Estado Arsacid lutava com o Império Romano, em meio a querelas dinásticas, houve uma mudança de poder no Irã. Uma nova dinastia sobe ao poder, os Sassânidas, depois que Ardashir derrotou e matou Ardawan IV.
Ardashir I assumiu o título de rei dos reis (shahan shah) e empreendeu a conquista de um território que viria a ser conhecido como Erãnshahr (Terra dos arianos/iranianos).
Ardashir foi coroado Rei dos Reis em 226 d.C. na capital real de Ctesifonte, cidade que atualmente encontra-se localizada no Iraque. Uma nova fase na história iraniana começava. 

EXPANSÃO CHINESA:

Enquanto Macedônios Gregos expandiam-se para leste, a China da dinastia Han (206 a.C. -220 d.C.) expandia-se na direção contrária, para o Oeste, para a atual Xinjiang. Os chineses tiveram que se expandir para o oeste para fazer frente aos ataques das tribos nômades vindas das estepes. Esses ataques impediam o intercâmbio da China com o resto do mundo. E esse avanço da China para o oeste foi o responsável pela criação da Rota da Seda.
Província Xiyu, significando Província a oeste. Hoje é conhecida como Xinjiang (nova terra da fronteira).

"Ela (Xinjiang) ficava depois do corredor Gansu, uma rota de 965 km ligando o interior chinês à cidade oásis Dunhuang, um entroncamento à beira do deserto de Taklamakan." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28).

"Nesse ponto, havia a opção de uma rota para o norte e outra para o sul, e ambas podiam ser traiçoeiras, convergindo em Kashgar, localizada no ponto de junção das montanhas do Himalaia com as montanhas Pamir (leste do atual Tadjiquistão e nordeste do atual Afeganistão), a serra de Tien Shan e o Indocuche (Indo-Kush)." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28)

"A expansão (para o oeste) dos horizontes da China uniu a Ásia." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28)

Essas redes de comunicação/comércio tinham sido bloqueadas pelos nômades das estepes. Eram uma preocupação constante. Oscilavam entre a belicosidade e a paz. Quando havia paz, as tribos nômades das estepes até comerciavam, vendendo seus valiosos cavalos para os chineses. Esses cavalos eram oriundos do vale do Fergana (localizado no lado mais distante das Montanhas Pamir).
Um exemplos desses povos nômades é o povo Xiongnu. Eles viviam nas estepes da Mongólia e nos pastos do norte da China. Os chineses os viam como bárbaros, pois dentre outros costumes, comiam carne crua e bebiam sangue de seus animais.
Para preservar suas cidades de ataques desses povos, por vezes o Imperador chinês pagava tributos a eles, na forma de envio de arroz, seda, etc. Para as tribos das estepes a seda (tecido) era um símbolo de status social, contrapondo na sociedade aqueles que mandavam daqueles que obedeciam.

"Em 1 a.C., por exemplo, os xiongnu receberam 30 mil rolos de seda e uma quantia similar de matéria-prima, além de 370 peças de roupa."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 30)

A dinastia Han decidiu dar um basta nessa prática, tomando a decisão de enfrentar as tribos nômades, avançando pelo oeste, ocupando o corredor Gansu (final do século II a.C.). Mais a oeste ficavam as Montanhas Pamir, Transpostas estas, abria-se um novo mundo, que seria explorando pela Rota da Seda.
A China exercia um controle sobre o comércio. Havia controle alfandegário. Entradas e saídas de pessoas e mercadorias eram controladas por funcionários do Estado Chinês.

ROTA DA SEDA:

Tendo que passar por uma área perigosa, a Rota da Seda só se viabilizava economicamente transportando produtos de Luxo. Só se trabalhava com lucros altos, caso contrário não valia a pena se arriscar.

"Nessas circunstâncias difíceis, as recompensas tinham que ser altas para contrabalançar os riscos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 31)

E o produto mais importante da Rota da Seda era justamente a Seda, que tinha várias utilidades: indicativa do status social de quem a vestia; servia como moeda; servia como moeda internacional; era um produto de luxo.

"O comércio entre a China e o mundo mais distante desenvolveu-se lentamente. Encontrar as melhores rotas ao longo da orla do deserto de Gobi não era fácil, especialmente a partir do Portão de Jade, o posto de fronteira depois do qual as caravanas de comerciantes seguiriam seu caminho para o oeste."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 31)

Pelo caminho da Rota da Seda ainda havia obstáculos naturais (montanhas Pamir, Tien Shan e deserto do Taklamakan). E pelo caminho ainda havia ataques de tribos nômades e assaltantes.

GLOBALIZAÇÃO:

"Vemos a Globalização como um fenômeno exclusivo da modernidade. mas há 2 mil anos já era um fato, e oferecia oportunidades, criava problemas e estimulava avanços tecnológicos." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 32)

ROMA. MERCADO PARA OS PRODUTOS DE LUXO EXPORTADOS PELA ROTA DA SEDA

Roma era um poder militarista, que subjugava outros povos como meio de aumentar a sua riqueza. Roma foi construída sobre seu exército. Um soldado romano deveria marchar 32 quilômetros em 5 horas, carregando consigo todo seu equipamento militar.

"A espinha dorsal do poder romano era o exército."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 33)

Quem comprava os produtos de luxo? O Império Romano era um mercado para os produtos asiáticos.
As conquistas romanas a enriqueceram (Gália em 52 a.C., atual França, países baixos e Alemanha Ocidental, por exemplo).
O que tornava um Império forte era contar com com cidades produtoras de Rendas Tributáveis. Também eram bem vindas cidades que tivessem artesãos talentosos, criadores de novos produtos.
Havia poucas cidades assim na Europa, de forma que o Império Romano teve que voltar seus olhos para a Ásia. A Riqueza residia na Ásia, mais precisamente no Império Persa. Era preciso seguir o dinheiro. Ainda no século I a.C. Roma conquistou o Egito. A conquista se deu no ano de 30 a.C (batalha de Accio). por obra de Otaviano, que se tornou Imperador e ganhou o título de Augusto.
Com a conquista do Egito, Roma passou a prospectar a Ásia, enviando expedições ao sul e ao leste. Ao sul para o Reino de Axum, atual Etiópia. Roma também queria informações sobre o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico e sobre as rotas terrestres que levavam à Ásia Centra através da Pérsia. A conquista do Egito abriu o Mar Vermelho para os romanos. De posse do litoral do Mar Vermelho, os romanos começaram a fazer comércio com a Índia, por via marítima. Por ano 120 barcos romanos saiam do Mar Vermelho em direção à Índia. 

"Os cidadãos mais abastados de Roma podiam agora se permitir os gostos mais exóticos e extravagantes."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 37)

Os gastos dos romanos endinheirados beiravam o obsceno. Os romanos queriam o luxo da Ásia em suas residências (especiárias, sedas, etc).

EXPANSÃO ROMANA PARA A ÁSIA:

A primeira conquista de Roma foi o Egito, que era governado pelos descendentes de Ptolomeu, um dos homens de Alexandre, o grande. Graças ao Rio Nilo, o Egito era um verdadeiro celeiro de grãos.
A conquista do Egito enriqueceu ainda mais Roma. O preço dos grãos despencou. Roma cobrava tributos dos egípcios. Os métodos de apropriação de riqueza adotado no Egito seria repetido em outras áreas conquistadas por Roma. Na Judeia mesmo chegou-se ao requinte de se fazer um censo para que a cobrança dos impostos fosse feita com a maior precisão possível. A conquista do Egito ainda abriu aos romanos os portos do Mar Vermelho, que por sua vez conectaram o Império Romano com a Índia, por meio do comércio marítimo.

"poucos anos após a ocupação do Egito, 120 barcos romanos partiam para a Índia a cada ano do porto de Myos Hormos, no Mar Vermelho." 
(Página 36, Estrabão, citado por Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica)

O Mar Vermelho era o ponto de ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico.

IMPÉRIO ROMANO ESBANJANDO SEU DINHEIRO COM PRODUTOS DE LUXO:

No Império Romano, quem tinha posses as usava com esbanjamento, gastando muito dinheiro na aquisição de produtos de luxos vindos da Ásia. Era literalmente dinheiro romano sendo continuamente mandando para fora de suas fronteiras.

"Essa soma impressionante representava quase metade da produção anual de moedas do império e mais de 10% do orçamento de cada ano." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 38)

IMPÉRIO ROMANO DE OLHOS VOLTADOS PARA A PÉRSIA:

A riqueza estava na Ásia e por isso era para lá que os Romanos queriam ir. A Pérsia ficou rica por se localizar no meio das Rotas Comerciais que cruzavam a Ásia. Em 113 d.C., o Imperador Romano Trajano liderou uma força militar que marchou sobre a Pérsia. Cidades persas foram capturadas: Babilônia, Ctesifonte, Basra (atual Iraque). Para comemorar essa conquista, os Romanos passaram a cunhar moedas com os seguintes dizeres: "Persia Capta" (a Pérsia foi capturada).
Com a Pérsia capturada, os Romanos queriam mais: queriam a China e a Índia. Mas ficaram só querendo, pois o limite de expansão romana era a Pérsia. E mesmo a Pérsia não tinha sido totalmente conquistada por Roma. A Pérsia não era uma presa fácil. Mesmo assim os Imperadores romanos continuavam insistindo no domínio da Persa. Em 260 d.C., um Imperador Romano, Valeriano, foi morto num dessas tentativas.

"Em 260 d.C., por exemplo, o Imperador Valeriano foi humilhado depois de ser feito prisioneiro e mantido na abjeta forma de escravidão: usado como banquinho humano pelo governante persa, tendo que curvar as costas para erguer o rei quando este montava seu cavalo....teve seu corpo esfolado e sua pele arrancada da carne, foi tingida com vermelhão...ele foi empalhado para que todos pudessem ver a vergonha e a estupidez de Roma."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 42)

A pressão exercida sobre o Império Persa levou que a dinastia que então a governava, a Sassânida (220 d.C.), se fortalecesse, usando o inimigo externo romano para internamente concentrar o poder estatal. Assim, a Pérsia desenvolveu-se administrativamente, fiscalizando o comércio que era feito em sua área, e expandindo-se para o leste. 

CONTRA-ATAQUE PERSA:

"Á medida que a Pérsia se fortalecia, Roma vacilava." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 43)

De caçadora, Roma passou a ser a caça. Estamos no ano 300 d.C.. O Império Romano não se expandia mais, de forma que não havia novos ganhos tributáveis. Saia mais dinheiro do que entrava. Era preciso gastar com a vigilância das fronteiras, sempre ameaçadas por incursões bárbaras. O Império Romano gastava mais do que arrecadava. A conta não fechava. Havia um déficit fiscal crescente.

"...por volta de 300 d.C. toda a extensão da fronteira leste do Império Romano, que ia do Mar do Norte ao Mar Negro, do Cáucaso ao extremo sul do Iêmen, estava sob pressão. O império havia sido construído por meio de expansões e estava protegido por um exército bem treinado. Quando o crescimento territorial cessou - ao alcançar os limites naturais dos rios Danúbio e Reno e as cadeias montanhosas Taurus e Anti-Taurus no leste da Ásia Menor - , Roma tornou-se uma vítima clássica do próprio sucesso: agora era alvo daqueles que viviam além de suas fronteiras."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 43)

IMPERADOR CONSTANTINO:

O Império Romano teria que ser salvo. Havia os bárbaros na Europa. Havia a Pérsia na Ásia. Para salvar Roma, o novo Imperador Romano, Constantino, resolveu construir uma nova cidade. Ele escolheu uma localidade chamada Bizâncio, uma antiga colônia pesqueira grega. Ali seria construída Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), no entrocamento entre o Ocidente e o Oriente. A ideia era realocar o centro de poder romano: tirá-lo de Roma (Itália) e colocá-lo em Constantinopla, ficando mais perto da Ásia. A riqueza estava na Ásia e era para lá que Roma concentrar seus recursos.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO: Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição



sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Reinos Desaparecidos Uma História de uma Europa Quase Esquecida Reino da Galícia Lodoméria



REINO DA GALÍCIA E LODOMÉRIA OU KRONLAND

CRIAÇÃO: 1773
EXTINÇÃO: 1918

KRONLAND: Terra da Coroa do Império. O Império era o Habsburgo, que compreendia ainda, dentre outros territórios, a Áustria, a Hungria, a Boêmia. A máxima, a divisa do Império Habsburgo dizia: 

VIRIBUS UNITIS (Força na União).

Composição populacional no século XVIII:

- Poloneses Católicos
- Rutenos Uniatas (falavam a língua ruski - ucraniano antigo)
A Igreja Católica Grega (Uniata) dava-se bem com o sentimento antirrusso dos Habsburgos, mas era mal vista pelos ortodoxos russos. A Igreja Uniata mantinha muito da liturgia bizantina, mas reconhecia a supremacia do Papa de Roma.
- Judeus

GALÍCIA OCIDENTAL: Região da Pequena Polônia. Englobava a parte superior do Vale do Vístula e a cadeia Montanhosa dos Cárpatos. Principal cidade: Cracóvia. Poloneses e judeus viviam lado a lado
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Rio San serve de linha divisória entre essa duas Galícias. A cidade de Przemysl localiza-se exatamente nessa linha divisória. 
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GALÍCIA ORIENTAL: Localizava-se além do Rio San. Principal cidade: Lvov (ou Lviv ou Lemberg). Nobres poloneses viviam em grandes propriedades. Os rutenos viviam como camponeses e os Judeus viviam isolados, em Shtelm.

O Reino da Galícia era pobre. Era o "Reino dos Nus e dos Famintos." O Império Habsburgo construiu uma linha férrea entre Viena e Lemberg (Lvov ou Lviv). Saindo de Viena, a capital do Império Habsburgo, o viajante rumava sentido nordeste, passando pela Morávia e pela Silésia Austríaca (Auschwitz), deixando o vale do rio Vístula e rumando para o rio San, atravessando-o e percorrendo a última parte da viagem até chegar a Lemberg.
Esse caminho era conhecido como "meio caminho para a Ásia." Dizia-se sobre quem embarcava nessa viagem: "quem não morrer de tédio, morrerá de fome."

HALICH: 

Cidade localizada ao sul de Lemberg (Lvov/Lviv) - Galícia Oriental. No Século XIII foi governada por Daniel Halitsky. Foi coroado pelo emissário do Papa Inocêncio IV.

Halich, assim como a Ucrânia oriental, passou pelas mãos de muitos senhores:

- no século X, era dominada pelos Rus de Kiev
- século XII, passou para o domínio da Hungria
- século XIII: governada por Daniel Halitsky e depois invadida pelos Mongóis
- século XIV: domínio da Polônia
- século XVIII: passa para o domínio do Império Habsburgo
- 1918: República Popular da Ucrânia Ocidental
- 1919/1939: Domínio da Polônia
- 1945/1991: Domínio da URSS
- 1991 até agora: Ucrânia Independente.

SERVIDÃO:

A Galícia era pobre, notadamente a sua parte oriental. Camponeses viviam na miséria. Em 1846, houve uma revolta. Nobres donos de terras foram chacinados. O fim do regime de servidão chegou em 1848.

Regime da Servidão:

Servo:
- segurança na posse de um lote de terra
- dependência do senhor da terra

Fim da servidão:
Quem era servo e deixou de sê-lo, viu-se independente mas sem a segurança que tinha no passado. Com o fim da servidão, o camponês se viu livre MAS sem ter para onde ir...se ficassem na terra onde tinham trabalhado, cairiam num contrato de arrendamento que os condenariam ao pagamento de uma dívida impagável. 


Fonte:
Anotações extraídas da Leitura do Livro "Reinos Desaparecidos, Uma História de uma Europa quase esquecida, de Norman Davies, Editora 70, página 515/559