"Translatio Imperii Romani" - Mudança do Império Romano para o Império Carolíngio comandado por Carlos Magno - ano 800 d.C.
A coroação de Carlos Magno, no ano 800 d.C., como Imperador do Sacro-Império Romano, foi vista pelos contemporâneos como um ato de Deus. Não foi um mero ato do Papa; não foi um ato do Rei dos Francos; não foi um ato dos habitantes de Roma. Foi um ato de Deus.
O processo que culminou com a Coroação de Carlos Magno foi lento. Aos poucos, Papado e o Reino dos Francos foram se retirando da influência do Império Romano.
O Papado tinha muitas razões para se afastar da órbita de influência do Império Romano:
a) Ineficácia do Poder Imperial na Itália. Invasões de Bárbaros. Ex.: Alarico, rei dos Visigodos, em 410 d.C, invade a Itália.
b) Concílio da Calcedônia: Concluiu contra a cristologia monofisista (451 d.C.) Houve uma interrupção da comunhão entre Roma e Constantinopla. Imperador Zenão (474/491 d.C.) tentou apaziguar, procurando um ponto de acordo entre as diferentes doutrinas religiosas. Essa intervenção do Imperador em assuntos religiosos foi contraproducente, pois ao invés de apaziguar os ânimos, enfureceu o Papado, pois aquele estava se imiscuindo sobre assuntos relacionados à jurisdição espiritual. Como reação a essa intervenção de um governante temporal em assuntos espirituais, o Papa Gelásio I escreve aquilo que viria a ser conhecida como a MAGNA CARTA DA LIBERDADE MEDIEVAL DA IGREJA. Com efeito, Gelásio I desenvolveu o princípio da separação entre o Poder Espiritual (Papado) e o Poder Temporal (Reis, Imperadores).
Em 476 d.C., o Império Romano do Ocidente é derrubado pelo Bárbaro Odroaco.
Em 751 d.C., o poder Bizantino estava praticamente derrotado. Com efeito, os poderes administrativo, político e militar exercidos por Constantinopla na Itália diminuíam. O Papa começava a exercer o papel de Príncipe Temporal no Ocidente, chegando cuidar da administração da cidade de Roma. O Papado se via cercado por inimigos: pelos Lombardos e pelo Imperador Bizantino, com suas interferências nos assuntos da Igreja.
Foi nesse contexto que se deu a aproximação do Papado com o Reino Franco. Antes de seguir, é preciso ter em mente que o ano de 476 d.C., data da deposição de Rômulo Augusto pelo bárbaro Odroaco, não assinalava o fim do Império Ocidental, porque do ponto de vista legal, O IMPÉRIO ROMANO ERA UM SÓ.
Após 476 d.C., as províncias ocidentais estavam sob o comando de Constantinopla. A transição para um novo poder imperial foi lenta, tendo início em 395 d.C., com a infiltração dos Bárbaros. O império fragilizado de então se relacionava com os Bárbaros por meio da concessão de títulos, etc. Em troca, o Império mantinha sua soberania sobre as províncias exteriores.
Em 739 d.C., o Papa Gregório III escreve ao rei dos Francos, Carlos Martel, pedindo Proteção contra os Lombardos.
Em 754 d.C., o Papa Estevão II conferiu o título de PATRICIUS ROMANORUM ao rei Franco Pepino, o breve. O Rei Franco assumiu a condição de defensor do Papado. Era uma nova realidade, pois nem o Papa poderia conferir um título para um rei de uma Tribo Bárbara e nem o rei Franco poderia doar terras (províncias imperiais) ao Papado, como fez.
O ápice dessa relação entre o Papado e o Reino Franco se deu no Natal do ano 800 d.C., com a Coroação de Carlos Magno como Imperador.
Nascia um novo Império no Ocidente. Essa comunidade cristã tinha duas cabeças: uma Temporal, com Carlos Magno, e outra Espiritual, na figura do Papa.
A Monarquia Carolíngia evoluiu no sentido teocrático, na medida em que a organização da igreja se integrou à hierarquia administrativa da Monarquia. O rei interferia nos assuntos da Igreja. A organização eclesiástica assumiu a forma de igreja territorial - Landeskirche. A Monarquia Franca se valeu da organização civilizacional superior da Igreja para poder adquirir estatura política e histórica. A administração Carolíngia dependia da ajuda de recursos humanos emprestados pela Igreja.
Bases Teóricas do Império do Ocidente: Para legitimar o Poder desse novo Império do Ocidente, foi evocado o Corpo de Cristo, cujos membros têm funções diferentes, conforme a Teoria Paulina. Sob Cristo, o rei-sacerdote se apresenta como pessoa sacerdotal (persona sacerdotalis) e pessoa régia (persona regalis).
No Império do Ocidente, não há distinção entre Estado e Igreja, porque leigos e clero representam, respectivamente, as pessoas régias e sacerdotais, que são os membros do Corpo de Cristo.
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(Fonte: Anotações extraídas da Leitura do Livro "Idade Média até Tomás de Aquino, História das Ideias Políticas, Volume II, Eric Voegelin, Coleção Filosofia Atual, editora É Realizações)