segunda-feira, 23 de abril de 2018
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Judeu sem religião BADENHEIM 1939
O fato de ser um judeu sem religião não era suficiente para se livrar da perseguição nazista. Era suficiente que seus pais fossem batizados como judeus para você ser considerado judeu, mesmo que você não praticasse a religião. O que justificava esse tipo de pensamento era que, para os nazistas, não era a religião que importava, era a raça. Nesse sentido, também não adiantava um judeu buscar a conversão ao cristianismo para fugir da perseguição nazista. O trecho extraído do livro BADENHEIM 1939 exemplifica o pensamento nazista:
sábado, 17 de março de 2018
sexta-feira, 16 de março de 2018
JUNKER ESTADO DUAL BRANDEMBURGO E PRÚSSIA HOHENZOLLERN
Clique sobre a figura abaixo para melhor visualizar as características relacionadas à figura história alemã do Junker
domingo, 7 de julho de 2013
Inteira Ausência
O CLARO RIO REFLETE MAIS DE MIL SALGUEIROS.
PASSARAM SOB A VELHA PONTE OS ANOS, VINTE;
A PONTE À DESPEDIDA, A BELEZA PARTIDA,
SEM MAIS NOTÍCIA AO TEMPO IDO, A INTEIRA AUSÊNCIA.
por Liu Yuxi
tradução Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao
FOLHA DE SÃO PAULO, domingo, 7 de julho de 2013
Caderno ILUSTRÍSSIMA, página 8
ACERVO FOLHA:
http://acervo.folha.com.br/
terça-feira, 30 de abril de 2013
Radovan Ivsic
DE TUDO QUE SEI
E QUE SEI QUE SABES
DE TUDO QUE VEJO
E QUE SEI QUE TU VÊS
DE TUDO QUE OUÇO
QUANDO ESCUTO TEU CORAÇÃO
DE TUDO QUE ME DIZES
E QUE TANTO AMO
DE TUDO QUE SE PASSA
QUANDO FECHAS OS OLHOS
DE TODOS OS SONHOS
DE TODAS AS ESTRELAS
DE TODAS AS NUVENS
DE TUDO ISSO SABES
O QUE ME ALEGRA AINDA MAIS?
DE TUDO ISSO QUE ME ALEGRA AINDA MAIS
E QUE SEI QUE SABES
PORQUE TU SABES E EU TAMBÉM
TU SABES QUE ME AMA
E EU SEI QUE TE AMO
tradução: eclair antonio almeida filho
Jornal Folha de São Paulo, caderno ilustríssima, domingo, 21 de abril de 2013.
http://acervo.folha.com.br/
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Leis deste viver
"Ah, se Deus nos deixasse, Amor, interceder
para apagar as tristes Leis desse Viver,
somente obedecendo à voz do Coração,
que Livro diferente iríamos escrever!"
Rubáyát
memória de Omar Khayyám
Editora Unesp. Tradução, notas e apresentação: Luiz Antônio de Figueiredo.
http://www.editoraunesp.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=1441
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Argila
Meu lábio degustou a sagrada Bebida
num Caneco de Argila, para entender a Vida.
Argila aconselhou: - "Contente-se em Beber,
não haverá mais vinho após a despedida.
Umar Ibn Ibráhim Al Khayyámi, Matemático Persa.
Rubáyát
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Coisas
"É fácil dizer que tanto faz, 'deixa para lá, o passado está na gente, na nossa lembrança.' Fácil e um pouco falso: nossa identidade é sempre dispersa aos quatro ventos. Ela está nas pedras, nas coisas e nos outros."
Trecho de um texto - As coisas, os outros e os escombros - publicado no Jornal Folha de São Paulo - quinta-feira, 7 de junho de 2012, página E10
sábado, 28 de abril de 2012
Crença
"São poucas as pessoas saudáveis a ponto de conseguir viver sem se atormentar com a necessidade de resolver, como se diz, o enigma da vida. Ou seja, são poucas as pessoas para quem a experiência concreta se justifica por si só, pela alegria de viver. A maioria precisa recorrer a crenças que digam por que e para o que estamos aqui."
Contardo Calligaris
Fonte:
Folha de São Paulo, quinta-feira, dia 26 de abril de 2012, página E10, Ilustrada
segunda-feira, 16 de abril de 2012
De quanta terra precisa um homem?
"Nele, um camponês rico chamado Pahom fica sabendo do fértil solo na terra dos Bashkirs, além do Volga. É gente simples, e ele conseguirá toda a terra que quiser deles sem muito problema. Quando Pahom chega à terra dos Bashkirs, dizem-lhe que por mil rublos ele pode ter tanta terra quanto nela puder andar durante um dia inteiro. Pahom, desprezando-os pela falta de sofisticação, fica exultante. Tem certeza de que poderá percorrer uma grande distância. Quase assim que se pôs a andar, contudo, avista uma paisagem atraente atrás da outra, um lago ali, ou uma faixa de terra mais adiante que seria boa para cultivar linho. Então percebe que o sol começa a se pôr. Ao compreender o risco de perder tudo, começa a correr cada vez mais depressa para fazer a tempo o percurso de volta. 'Peguei demais', diz a si mesmo. e 'arruinei tudo'. O esforço mata-o. Ele morre no posto final, e ali mesmo, é enterrado. 'Seis palmos da cabeça aos joelhos era tudo o que precisava', foi a conclusão de Tolstoi. A diferença na história, menos de sessenta anos depois, estava não apenas num único homem enterrado ali na estepe, mas em centenas de milhares de mortos por procuração"
Nota do Blog:
Trecho de texto retirado do livro Stalingrado, o Cerco Fatal, de Antony Beevor. Antony faz uma analogia entre um texto escrito por Tolstoi em 1886 - De quanta terra precisa um homem - com a megalomania de Adolf Hitler. Os milhares de mortos por procuração foram os soldados alemães que lutaram na Rússia no período de 21 de junho de 1941 até o ano de 1944. Adolf Hitler outorgou poderes para que milhares de jovens alemães lutassem e morressem em seu nome. Aos alemães mortos, se somaram milhares de russos, civis e militares, que também pereceram durante o conflito.
Dica de Leitura:
Stalingrado, o Cerco Fatal, Editora Record, Antony Beevor, 12º edição, 2011.
Fotos:
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Rousseau versus Hobbes
"O filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-78) acreditava que o homem era essencialmente "bom" quando vivia em "estado de natureza", antes da criação do Estado e da propriedade privada. Ele criticava seu antecessor britânico Thomas Hobbes (1588-1679), que defendia uma visão oposta. Para Hobbes, o homem era o lobo do homem, e só graças ao Estado essa anarquia, essa luta de todos contra todos, poderia cessar. O israelense mostra que a razão está com Hobbes. Não só em termos de teoria; a prática, o cotidiano, tem mostrado que o autor do "Leviatã" era mais realista. Um exemplo rápido: o grande problema da Somália, do Haiti ou dos morros cariocas não é o excesso de Estado, e sim a ausência do "Leviatã". Um Leviatã, um Estado de verdade, não terceiriza o monopólio da violência legítima."
FONTE:
Trecho do artigo:
GUERRA É GUERRA
Arqueólogos escavam as origens dos conflitos armados.
Ricardo Bonalume Neto.
Caderno Ilustríssima, Domingo, 8 de abril de 2012, página 06, Folha de São Paulo
Comentários ao livro do autor israelense Azar Gat War in Human Civization, Oxford University Press, 848 págs, R$ 96,00.
________________
Nota do Blog
Eu também concordo com Thomas Hobbes. Sem Estado iríamos viver em estado de guerra de todos contra todos. Sempre que há algo que tire as forças do Estado de circulação, o resultado a gente vê na forma de saques, violência, etc.
Exemplos da verdadeira natureza humana não faltam:
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Justiça
JUSTIÇA
O que a lei
não redime
é o crime
com defeito.
Se bem-feito
ou bonito,
o delito
talvez rime
com direito.
Se perfeito,
ora, o crime
é a lei.
Eugênio Bucci
Ilustríssima, Domingo, 21 de agosto de 2011, Folha de São Paulo, página 10.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
As artérias da pedra
AS ARTÉRIAS DA PEDRA
A pedra não filosofa.
Ela bloqueia no seu bloco
de pedra o pensamento
e a sua corda.
A pedra não acorda as coisas
nem dá corda
para metafísicas plangentes.
No seu bloco bloqueado,
a pedra dispensa a ânima
e o ânimo do fluxo líquido
das correntes.
A pedra não corre.
Ela se estaca
e se adensa
no lugar em que se assenta.
Quieta,
a pedra é menos lição
e mais experiência.
Contra ela batem coisas,
batem ventos
e batem outras pedras
diversas.
Mas ela não se move
nem se dispersa
em sua imóvel
siesta.
Nem no sono de sua siesta,
a pedra regurgita por dentro
algum pétreo
som de estômago.
Ou algum flúor
indômito
de qualquer ânsia
de vômito.
A pedra não metaboliza
nem expulsa seus alimentos
nos íntimos arcanos
de seu templo.
Ela concentra nos intestinos
de sua natureza
a cúpula fechada
e a argamassa espessa
de sua igreja.
Isto porque a pedra
mais dorme
do que come.
E o sono dela não é nem sonso
nem elétrico.
Seu sono de pedra
não é o sono épico
ou lírico
de um homem que sonha leve
e aceso.
Bem ao inverso,
seu sono,
de chumbo eterno,
é um sonho paralítico
e paquidérmico.
Tanto que,
silêncio calmo,
as artérias da pedra
são átomos
que, dentro dela,
não se explodem,
compactos que são
em seus ásperos
conformes.
Pois esta é a ciência
de seu nome: - a pedra
não tem as artérias
das árvores,
nem as artérias de nosso corpo
plantado nas veias
de nossa carne.
Dessa ciência,
a diferença nasce,
magna e plena,
entre a pedra
(com o minério esquivo
do seu todo exposto)
e a nossa carne
(com o mistério vivo
no peso de nosso corpo).
Por isso,
a diferença da ciência
da pedra
está no confronto
pronto de suas artérias.
E a diferença é esta:
- As artérias da pedra
só se fixam no todo
dos seus átomos exangues
e impávidos.
Assim inerte,
a pedra inscreve
o império
de seu monólogo fechado.
- As artérias do corpo,
ao contrário,
só se movem na carne
do nosso sangue
e seus intrépidos coágulos.
Assim ativa,
a carne aviva
o espelho
de seu diálogo sangrado.
Autor:
Mario Chamie
sábado, 18 de dezembro de 2010
AUSÊNCIA CHEIA
A CHÍCARA
Chícara posta sobre a mesa.
Ela traz em sua alça
a nostalgia dos dedos.
É preciso muita mão
para alçar
a chícara à altura dos
seus penedos.
Não que o penedo seja
alguma
montanha que se busca.
A questão não é assim
difusa.
Antes de tudo,
há a chícara em si:
é porcelana, é louça?
É plataforma de formas
sobre o pires?
É a borra de café que
pousa para a leitura
dos elixires
de alguma sorte
sem rumo?
A chícara em si é e não é
o dado bruto de um
vácuo, cujo núcleo
não é o mundo
vago de uma sede vaga
e seca.
O oco da chícara dita
outra regra
sobre a mesa:-
a regra da ausência cheia
que, vazia, se preenche
por si mesma.
Autor:
Mário Chamie.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Quando a existência torna-se expiação
"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A agiotagem explora o juro. A IGNORÂNCIA PESA SOBRE O POVO COMO UM NEVOEIRO. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. NÃO É UMA EXISTÊNCIA; É UMA EXPIAÇÃO. Diz-se por toda a parte: O país está perdido. Por isso, começamos a apontar o que podemos chamar de o progresso da decadência."
José Maria de Eça de Queiroz, 1871 (Esse texto foi extraído de uma crônica de Arnaldo Jabor, publicada no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, em 16.11.2010, CADERNO 2, página D10
________________________________
Trata-se de um texto escrito por Eça de Queiroz no qual ele traça um panorama do que era Portugal no século XIX. Acredito que essa descrição se coaduna com o que é o Brasil de hoje.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Passarinho
Sabe que uma vez vi no chão um passarinho doente.
Estava frio e, para aquecê-lo, peguei um punhado de esterco que estava no jardim e o cobri com ela.
O passarinho melhorou e ficou tão quente e feliz que começou piar.
Então, eis que surge um gavião...que ouviu os pios e deu um rasante e abocanhou o passarinho.
Moral da estória:
Nem sempre quem te põe na merda é seu inimigo e nem sempre quem o tira é seu amigo.
E o mais importante de tudo:
Passarinho que está na merda não dá um pio.
sábado, 22 de maio de 2010
Profecia
Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, Profecias de Ivan Fiodorovich:
Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus, então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começará o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo- se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem deus.Vencendo,a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, não tem ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade...”
quarta-feira, 31 de março de 2010
DA HUMANA CONDIÇÃO
CUSTA O RICO A ENTRAR NO CÉU
(AFIRMA O POVO E NÃO ERRA).
PORÉM MUITO MAIS DIFÍCIL
É UM POBRE FICAR NA TERRA.
Mario Quintana.
Amigo
DO AMIGO
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele...Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, http://www.globaleditora.com.br/
2005, 17º edição
sábado, 27 de março de 2010
DO ETERNO MISTÉRIO
"UM OUTRO MUNDO EXISTE...UMA OUTRA VIDA..."
MAS DE QUE SERVE IRES PARA LÁ?
BEM COMO AQUI, TUA ALMA ATÔNITA E PERDIDA
NADA COMPREENDERÁ
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, seleção Fausto Cunha, editora global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 78.
sábado, 13 de março de 2010
Buliçosas.............................................................................................................
"Eu vi duas borboletas amarelas pousadas no muro da tarde.
A borboleta maior enfiou numa coisa fininha que nem tripa de lambari
na borboleta menor.
Ambas tremeram de amor durante.
Depois voaram buliçosas pelas ruas do jardim."
Manoel de Barros.
Cuiabá(MT)
Livros:
Menino do Mato
Poesia Completa
(Editora Leya)
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Da vez primeira em que me assassinaram
Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram...
Foram levando qualquer coisa minha...
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste com um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha.
Editora Global Editora, 17º edição, São Paulo, 2005, p. 26
sábado, 20 de fevereiro de 2010
ERRADOS RUMOS
A caminhada....
Amassando a terra.
Carreando pedras.
Construindo com as mãos
sangrando
a minha vida.
Deserta a longa estrada.
Mortas as mãos viris
que se estendiam às minhas.
Dentro da mata bruta
leiteando imensos vegetais,
cavalgando o negro corcel da febre,
desmontado para sempre.
Passa a falange dos mortos...
Silêncio! Os namorados dormem.
Os poetas cobriram as liras.
Flutuam véus roxos
no espaço.
Na esquina do tempo morto,
a sombra dos velhos seresteiros.
A flauta. O violão. O bandolim.
Alertas as vigilantes
barroando portas e janelas
cerradas.
Cantava de amor a mocidade.
A estrada está deserta.
Alguma sombra escassa.
Buscando o pássaro perdido
morro acima, serra abaixo.
Ninho vazio de pedras.
Eu avante na busca fatigante
de um mundo impreciso,
todo meu,
feito de sonho incorpóreo
e terra crua.
Bandeiras rotas.
Desfraldadas.
Despedaçadas.
Quebrado o mastro
na luta desigual.
Sozinha...
Nua. Espoliada. Assexuada.
Sempre caminheira.
Morro acima. Serra abaixo.
Carreando pedras.
Longa procura
de uma furna escura
fugitiva me esconder,
escondida no meu mundo.
Longe...longe...
Indefinido longe.
Nem sei onde.
O tardio encontro...
Passado o tempo
de semear o vale
de colher o fruto.
O desencontro.
Da que veio cedo e do que veio tarde.
A candeia está apagada.
E na noite gélida
eu me vesti de cinzas.
Restos, Restolhos.
Renegados os mitos.
Quebrados os ícones.
Desfeitos os altares.
Meus olhos estão cansados.
Meus olhos estão cegos.
Os caminhos estão fechados.
Perdida e só...
No clamor da noite
escuto a maldição das pedras.
Meus errados rumos.
Apagada a lâmpada votiva,
tão inútil.
Cora Coralina.
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas nasceu na cidade de Goiás, a 20 de agosto de 1889, na "Casa da Ponte". Hoje, sob o nome de Museu Casa de Cora Coralina, recebe turistas de todo o Brasil e do exterior. Morreu em Goiânia, a 10 de abril de 1985.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Mario Quintana
ENVELHECER
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas
SEMPRE
Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
Só o que está perdido é nosso para sempre.
Nós só amamos os amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente.
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meios aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, páginas 115, 101 e 69.
http://www.globaleditora.com.br/
Mario (de Miranda) Quintana nasceu em Alegrete/RS, a 30 de julho de 1906. O poeta faleceu em 1 de maio de 1994. É detentor de vários prêmios literários. Seu primeiro livro de poesia surgiu em 1940, A Rua dos Cataventos.
ESTE QUARTO
ESTE QUARTO
Para Guilhermino Cesar
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 53.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
O DIA SEGUINTE AO DO AMOR
O DIA SEGUINTE AO DO AMOR
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
página 62.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Prefiro Rosas
PREFIRO ROSAS, meu amor, à pátria,
E antes magnólia amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre.
Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva
Fernando Pessoa
Coleção Melhores Poemas - Seleção Tereza Rita Lopes
Global editora.12º edição, São Paulo, 2004, página 137
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Sermos
The very fact that we are proves all.
O próprio fato de sermos prova tudo.
Fernando Pessoa, Aforismos e Afins.
Editora Companhia das Letras.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
E lá fora o Luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim
NA NOITE TERRÍVEL, substância natural de todas as noites,
Na noite da insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado - esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido -
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso - e foi afinal o melhor de mim - é que nem os Deuses fazem viver...
Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora , no meio-sono, elaboro -
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser para que outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.
Fernando Pessoa
Coleção Melhores Poemas, global editora, páginas 113/114, São Paulo, 12º edição, 2004, Seleção Tereza Rita Lopes.
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