segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A Criação da Rota da Seda Império Persa e Alexandre, o Grande China Império Romano Globalização Constantinopla



CRESCENTE FÉRTIL:

Crescente Fértil é o nome que se dá a uma área que abrange do Golfo Pérsico ao Mar Mediterrâneo. Foi nessa área que a Agricultura primeiro se desenvolveu. Ali ficava a Mesopotâmia, atual Iraque, berço das primeiras cidades.

"Desde os primórdios do tempos, o Centro da Ásia é onde os impérios foram criados."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 21)

"As terras baixas de aluvião da Mesopotâmia, alimentadas pelos rios Eufrates e Tigre, forneceram a base da própria civilização, pois foi nessa região que as primeiras aldeias e cidades se formaram."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 21)



IMPÉRIO PERSA (período Aquemênida - 550-330 a.C.):

O maior de todos os Impérios surgidos nessa área foi o Persa. Partindo do sul do atual Irã, estendeu-se a oeste pelo Mar Egeu. 

"O Império Persa era uma terra de abundância que ligava o Mediterrâneo ao coração da Ásia."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 22)

Tomando a direção leste, chegou ao Himalaia. Ainda tomando a direção oeste, chegou ao rico Egito, no ano de 525 a.C. Estradas foram construídas para manter esse grande império conectado. Essas estradas ligavam o litoral da Ásia Menor (atual Turquia) às distantes cidades da Babilônia, de Persépolis e Susa. Uma distância de 2.500 km era vencida num período de uma semana.
As cidades do Império Persa cresciam com o acesso a alimentos, que eram produzidos em áreas próximas aos rios Nilo (Egito), Tigre/Eufrates (atual Iraque) e Oxus (Amu Darya)/Jaxartes (Syr Darya), esses dois últimos rios da Ásia Central, que desaguam no Mar de Aral.
O Império Persa procurava governar seus súditos com Justiça. As minorias eram respeitadas, como por exemplo, os judeus, que foram libertados de seu cativeiro na Babilônia.

"A tolerância com as minorias era lendária: um dos governantes persas foi chamado de Messias." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 22)

O comércio floresceu na Pérsia, onde palácios foram construídos em várias cidades, como Persépolis, Susa, Babilônia e Pasárgada.

INIMIGOS DO IMPÉRIO PERSA:

A fronteira norte do Império Persa sofria pressão das tribos nômades vindas das estepes (norte do Mar Negro, Ásia Central, Mongólia - estepes eram pastagens semi-áridas, savanas). Os nômades das estepes eram ferozes e imprevisíveis. Apesar disso, em alguns casos, era possível ter uma relação civilizada com eles, comerciando com eles. Os Persas tinham interesse nos cavalos criados por essa tribos nômades.
No Oeste, havia os gregos. A Pérsia ambicionava um dia dominar a Grécia. Mas esse sentimento era recíproco. Esse sentimento grego em relação à Pérsia concretizado por um Macedônio, Alexandre, o Grande.

ALEXANDRE, O GRANDE:

Ao assumir o Trono na Macedônia (336 a.C.), Alexandre, o Grande, dirige seu olhar para o Leste, para a Pérsia. E não podia ser diferente, pois no tempo de Alexandre a riqueza estava no leste, na Ásia, não na Europa Ocidental.

"Em nenhum momento voltou seus olhos para a Europa, que não oferecia nada: nem cidades, nem cultura, nem prestígio, nem recompensas." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 23)

A riqueza estava na Ásia. Os olhos de Alexandre miravam o Leste, fonte de cultura, riqueza e de ameaças. Os Persas representavam tudo isso no imaginário helênico (gregos e macedônios). Alexandre então partiu para conquistar o Império Persa. Houve uma série de batalhas. A Província pérsia do Egito caiu (331 a.C.) sob o domínio de Alexandre. Na sequência, houve a batalha de GAUGAMELA, localizada perto da atual cidade de Erbil (norte do Iraque - região do Curdistão). A vitória de Alexandre em Gaugamela abriu para ele as portas do Império Persa. Alexandre seguiu na direção leste. As cidades iam caindo em seu Poder. Dário III, o soberano Persa, tinha fugido. Babilônia caiu sob o domínio de Alexandre.


ALEXANDRE, O TOLERANTE:

Alexandre era tolerante com as crença locais. Quando Dário III morreu, a ele foi dado um enterro condizente com seu status. Alexandre cooptava elites locais para consolidar seu poder sobre regiões recém-conquistadas. Alexandre dizia:

"se queremos não só passar pela Ásia, mas ocupá-la, devemos mostrar clemência por essas pessoas; é a lealdade delas que irá tornar o nosso império estável e permanente." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 25)

No seu avanço pelo Leste, Alexandre foi criando cidades, como Herat (Alexandria na Satrapia) e Kandahar (Alexandria Aracosia), no atual Afeganistão. Bagram foi criada no Cáucaso. As cidades eram fortificadas como forma de defesa contra a incursões dos povos das estepes, os mesmos que atormentavam a fronteira oriental do finado Império Persa. Os povos das estepes, segundo entendimento dos chineses da época, que também sofriam com eles, representavam o contrário daquilo que era entendido como civilização (huaxia = mundo civilizado). Alexandre ainda contornou o Indo-Kush (indocuche), uma cadeia montanhosa, penetrando em seguida naquilo que hoje é a Índia.

FIM DA AVENTURA DE ALEXANDRE, O GRANDE. SEU LEGADO CULTURAL PARA A ÁSIA

Alexandre morreu em 323 a.C. Mais importante do que seu feito militar, foi a herança cultural grega que Alexandre deixou na Ásia Central. O grego era ouvido e lido do Mediterrâneo ao Himalaia. Esse foi o grande legado de Alexandre. Na cidade de Ai Khanoum (fundada por Seleuco), no norte do atual Afeganistão, às margens do rio Oxus (Amu Darya), um monumento trazia essa inscrição, retirada de um templo grego, em DELFOS:

"Quando criança, comporte-se bem. 
Quando jovem, tenha autocontrole. 
Quando adulto, seja justo. 
Quando idoso, seja sábio. 
Quando moribundo, evite a dor."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"A vitalidade do intercâmbio cultural à medida que a Europa e a Ásia colidiam era impressionante." (Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

Outro exemplo de como a cultura trazida por Alexandre à Ásia iria impactar a cultura local: O Budismo, no seu começo, não permitia que a figura de Buda (o desperto) fosse representada. Com a influência da cultura grega, trazida por Alexandre, essa prática mudou. Buda passou a ser representado, pois temia-se a concorrência de outras religiões, como por exemplo o culto grego a Apolo. Esse encontro de culturas se deu na província de Gandara, localizada no Reino de Báctria (criado pelos sucessores de Alexandre).

"Estátuas de Buda começaram a aparecer apenas depois que o culto a Apolo se firmou no Vale do Ghandare (Gundara) e no oeste da Índia. Os budistas sentiam-se ameaçados pelo sucesso de novas práticas religiosas e começaram a criar suas próprias imagens."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"até então os budistas haviam ativamente evitado representações visuais" 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 27)

"As décadas posteriores à morte de Alexandre viram um programa gradual e inconfundível de helenização conforme as ideias, temas e símbolos da Grécia antiga eram introduzidas no oriente."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 26)

COM A MORTE DE ALEXANDRE, SEU IMPÉRIO FOI FRAGMENTADO:

O Império criado por Alexandre, após a sua morte, é fragmentado. Sua parte oriental, estendendo-se do Tigre ao Indo, ficou para um macedônio, um ex-oficial do exército de Alexandre, de nome Seleuco, que fundou a Dinastia Selêucida, que subsistiria por 300 anos.
A dinastia Selêucida foi superada pela emergência de um novo poder representado pelos Arsácidas (247 a.C. -224 d.C.). A história dos Arsácidas está cheia de lacunas. Sabe-se que esse Estado foi iniciado pela Tribo Nômade Parni (Partas) ou Aparni, pertencente aos povos iranianos. A ascensão dos Arsácidas foi o resultado de migrações vindas da Ásia Central em busca de terras agricultáveis. No Século III a.C. lograram êxito na ocupação de territórios ao longo do Rio Atrek e da cordilheira Kopet Dagh. 
No fim, os Arsácidas também foram superados por uma nova dinastia, os Sassânidas.
No início do Século III d.C., quando o Estado Arsacid lutava com o Império Romano, em meio a querelas dinásticas, houve uma mudança de poder no Irã. Uma nova dinastia sobe ao poder, os Sassânidas, depois que Ardashir derrotou e matou Ardawan IV.
Ardashir I assumiu o título de rei dos reis (shahan shah) e empreendeu a conquista de um território que viria a ser conhecido como Erãnshahr (Terra dos arianos/iranianos).
Ardashir foi coroado Rei dos Reis em 226 d.C. na capital real de Ctesifonte, cidade que atualmente encontra-se localizada no Iraque. Uma nova fase na história iraniana começava. 

EXPANSÃO CHINESA:

Enquanto Macedônios Gregos expandiam-se para leste, a China da dinastia Han (206 a.C. -220 d.C.) expandia-se na direção contrária, para o Oeste, para a atual Xinjiang. Os chineses tiveram que se expandir para o oeste para fazer frente aos ataques das tribos nômades vindas das estepes. Esses ataques impediam o intercâmbio da China com o resto do mundo. E esse avanço da China para o oeste foi o responsável pela criação da Rota da Seda.
Província Xiyu, significando Província a oeste. Hoje é conhecida como Xinjiang (nova terra da fronteira).

"Ela (Xinjiang) ficava depois do corredor Gansu, uma rota de 965 km ligando o interior chinês à cidade oásis Dunhuang, um entroncamento à beira do deserto de Taklamakan." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28).

"Nesse ponto, havia a opção de uma rota para o norte e outra para o sul, e ambas podiam ser traiçoeiras, convergindo em Kashgar, localizada no ponto de junção das montanhas do Himalaia com as montanhas Pamir (leste do atual Tadjiquistão e nordeste do atual Afeganistão), a serra de Tien Shan e o Indocuche (Indo-Kush)." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28)

"A expansão (para o oeste) dos horizontes da China uniu a Ásia." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 28)

Essas redes de comunicação/comércio tinham sido bloqueadas pelos nômades das estepes. Eram uma preocupação constante. Oscilavam entre a belicosidade e a paz. Quando havia paz, as tribos nômades das estepes até comerciavam, vendendo seus valiosos cavalos para os chineses. Esses cavalos eram oriundos do vale do Fergana (localizado no lado mais distante das Montanhas Pamir).
Um exemplos desses povos nômades é o povo Xiongnu. Eles viviam nas estepes da Mongólia e nos pastos do norte da China. Os chineses os viam como bárbaros, pois dentre outros costumes, comiam carne crua e bebiam sangue de seus animais.
Para preservar suas cidades de ataques desses povos, por vezes o Imperador chinês pagava tributos a eles, na forma de envio de arroz, seda, etc. Para as tribos das estepes a seda (tecido) era um símbolo de status social, contrapondo na sociedade aqueles que mandavam daqueles que obedeciam.

"Em 1 a.C., por exemplo, os xiongnu receberam 30 mil rolos de seda e uma quantia similar de matéria-prima, além de 370 peças de roupa."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 30)

A dinastia Han decidiu dar um basta nessa prática, tomando a decisão de enfrentar as tribos nômades, avançando pelo oeste, ocupando o corredor Gansu (final do século II a.C.). Mais a oeste ficavam as Montanhas Pamir, Transpostas estas, abria-se um novo mundo, que seria explorando pela Rota da Seda.
A China exercia um controle sobre o comércio. Havia controle alfandegário. Entradas e saídas de pessoas e mercadorias eram controladas por funcionários do Estado Chinês.

ROTA DA SEDA:

Tendo que passar por uma área perigosa, a Rota da Seda só se viabilizava economicamente transportando produtos de Luxo. Só se trabalhava com lucros altos, caso contrário não valia a pena se arriscar.

"Nessas circunstâncias difíceis, as recompensas tinham que ser altas para contrabalançar os riscos."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 31)

E o produto mais importante da Rota da Seda era justamente a Seda, que tinha várias utilidades: indicativa do status social de quem a vestia; servia como moeda; servia como moeda internacional; era um produto de luxo.

"O comércio entre a China e o mundo mais distante desenvolveu-se lentamente. Encontrar as melhores rotas ao longo da orla do deserto de Gobi não era fácil, especialmente a partir do Portão de Jade, o posto de fronteira depois do qual as caravanas de comerciantes seguiriam seu caminho para o oeste."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 31)

Pelo caminho da Rota da Seda ainda havia obstáculos naturais (montanhas Pamir, Tien Shan e deserto do Taklamakan). E pelo caminho ainda havia ataques de tribos nômades e assaltantes.

GLOBALIZAÇÃO:

"Vemos a Globalização como um fenômeno exclusivo da modernidade. mas há 2 mil anos já era um fato, e oferecia oportunidades, criava problemas e estimulava avanços tecnológicos." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 32)

ROMA. MERCADO PARA OS PRODUTOS DE LUXO EXPORTADOS PELA ROTA DA SEDA

Roma era um poder militarista, que subjugava outros povos como meio de aumentar a sua riqueza. Roma foi construída sobre seu exército. Um soldado romano deveria marchar 32 quilômetros em 5 horas, carregando consigo todo seu equipamento militar.

"A espinha dorsal do poder romano era o exército."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 33)

Quem comprava os produtos de luxo? O Império Romano era um mercado para os produtos asiáticos.
As conquistas romanas a enriqueceram (Gália em 52 a.C., atual França, países baixos e Alemanha Ocidental, por exemplo).
O que tornava um Império forte era contar com com cidades produtoras de Rendas Tributáveis. Também eram bem vindas cidades que tivessem artesãos talentosos, criadores de novos produtos.
Havia poucas cidades assim na Europa, de forma que o Império Romano teve que voltar seus olhos para a Ásia. A Riqueza residia na Ásia, mais precisamente no Império Persa. Era preciso seguir o dinheiro. Ainda no século I a.C. Roma conquistou o Egito. A conquista se deu no ano de 30 a.C (batalha de Accio). por obra de Otaviano, que se tornou Imperador e ganhou o título de Augusto.
Com a conquista do Egito, Roma passou a prospectar a Ásia, enviando expedições ao sul e ao leste. Ao sul para o Reino de Axum, atual Etiópia. Roma também queria informações sobre o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico e sobre as rotas terrestres que levavam à Ásia Centra através da Pérsia. A conquista do Egito abriu o Mar Vermelho para os romanos. De posse do litoral do Mar Vermelho, os romanos começaram a fazer comércio com a Índia, por via marítima. Por ano 120 barcos romanos saiam do Mar Vermelho em direção à Índia. 

"Os cidadãos mais abastados de Roma podiam agora se permitir os gostos mais exóticos e extravagantes."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 37)

Os gastos dos romanos endinheirados beiravam o obsceno. Os romanos queriam o luxo da Ásia em suas residências (especiárias, sedas, etc).

EXPANSÃO ROMANA PARA A ÁSIA:

A primeira conquista de Roma foi o Egito, que era governado pelos descendentes de Ptolomeu, um dos homens de Alexandre, o grande. Graças ao Rio Nilo, o Egito era um verdadeiro celeiro de grãos.
A conquista do Egito enriqueceu ainda mais Roma. O preço dos grãos despencou. Roma cobrava tributos dos egípcios. Os métodos de apropriação de riqueza adotado no Egito seria repetido em outras áreas conquistadas por Roma. Na Judeia mesmo chegou-se ao requinte de se fazer um censo para que a cobrança dos impostos fosse feita com a maior precisão possível. A conquista do Egito ainda abriu aos romanos os portos do Mar Vermelho, que por sua vez conectaram o Império Romano com a Índia, por meio do comércio marítimo.

"poucos anos após a ocupação do Egito, 120 barcos romanos partiam para a Índia a cada ano do porto de Myos Hormos, no Mar Vermelho." 
(Página 36, Estrabão, citado por Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica)

O Mar Vermelho era o ponto de ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico.

IMPÉRIO ROMANO ESBANJANDO SEU DINHEIRO COM PRODUTOS DE LUXO:

No Império Romano, quem tinha posses as usava com esbanjamento, gastando muito dinheiro na aquisição de produtos de luxos vindos da Ásia. Era literalmente dinheiro romano sendo continuamente mandando para fora de suas fronteiras.

"Essa soma impressionante representava quase metade da produção anual de moedas do império e mais de 10% do orçamento de cada ano." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 38)

IMPÉRIO ROMANO DE OLHOS VOLTADOS PARA A PÉRSIA:

A riqueza estava na Ásia e por isso era para lá que os Romanos queriam ir. A Pérsia ficou rica por se localizar no meio das Rotas Comerciais que cruzavam a Ásia. Em 113 d.C., o Imperador Romano Trajano liderou uma força militar que marchou sobre a Pérsia. Cidades persas foram capturadas: Babilônia, Ctesifonte, Basra (atual Iraque). Para comemorar essa conquista, os Romanos passaram a cunhar moedas com os seguintes dizeres: "Persia Capta" (a Pérsia foi capturada).
Com a Pérsia capturada, os Romanos queriam mais: queriam a China e a Índia. Mas ficaram só querendo, pois o limite de expansão romana era a Pérsia. E mesmo a Pérsia não tinha sido totalmente conquistada por Roma. A Pérsia não era uma presa fácil. Mesmo assim os Imperadores romanos continuavam insistindo no domínio da Persa. Em 260 d.C., um Imperador Romano, Valeriano, foi morto num dessas tentativas.

"Em 260 d.C., por exemplo, o Imperador Valeriano foi humilhado depois de ser feito prisioneiro e mantido na abjeta forma de escravidão: usado como banquinho humano pelo governante persa, tendo que curvar as costas para erguer o rei quando este montava seu cavalo....teve seu corpo esfolado e sua pele arrancada da carne, foi tingida com vermelhão...ele foi empalhado para que todos pudessem ver a vergonha e a estupidez de Roma."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 42)

A pressão exercida sobre o Império Persa levou que a dinastia que então a governava, a Sassânida (220 d.C.), se fortalecesse, usando o inimigo externo romano para internamente concentrar o poder estatal. Assim, a Pérsia desenvolveu-se administrativamente, fiscalizando o comércio que era feito em sua área, e expandindo-se para o leste. 

CONTRA-ATAQUE PERSA:

"Á medida que a Pérsia se fortalecia, Roma vacilava." 
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 43)

De caçadora, Roma passou a ser a caça. Estamos no ano 300 d.C.. O Império Romano não se expandia mais, de forma que não havia novos ganhos tributáveis. Saia mais dinheiro do que entrava. Era preciso gastar com a vigilância das fronteiras, sempre ameaçadas por incursões bárbaras. O Império Romano gastava mais do que arrecadava. A conta não fechava. Havia um déficit fiscal crescente.

"...por volta de 300 d.C. toda a extensão da fronteira leste do Império Romano, que ia do Mar do Norte ao Mar Negro, do Cáucaso ao extremo sul do Iêmen, estava sob pressão. O império havia sido construído por meio de expansões e estava protegido por um exército bem treinado. Quando o crescimento territorial cessou - ao alcançar os limites naturais dos rios Danúbio e Reno e as cadeias montanhosas Taurus e Anti-Taurus no leste da Ásia Menor - , Roma tornou-se uma vítima clássica do próprio sucesso: agora era alvo daqueles que viviam além de suas fronteiras."
(Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, 1º Edição, Editora Crítica, página 43)

IMPERADOR CONSTANTINO:

O Império Romano teria que ser salvo. Havia os bárbaros na Europa. Havia a Pérsia na Ásia. Para salvar Roma, o novo Imperador Romano, Constantino, resolveu construir uma nova cidade. Ele escolheu uma localidade chamada Bizâncio, uma antiga colônia pesqueira grega. Ali seria construída Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), no entrocamento entre o Ocidente e o Oriente. A ideia era realocar o centro de poder romano: tirá-lo de Roma (Itália) e colocá-lo em Constantinopla, ficando mais perto da Ásia. A riqueza estava na Ásia e era para lá que Roma concentrar seus recursos.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO: Rota da Seda, O Coração do Mundo, autor Peter Frankopan, Editora Crítica, 1º Edição



sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Reinos Desaparecidos Uma História de uma Europa Quase Esquecida Reino da Galícia Lodoméria



REINO DA GALÍCIA E LODOMÉRIA OU KRONLAND

CRIAÇÃO: 1773
EXTINÇÃO: 1918

KRONLAND: Terra da Coroa do Império. O Império era o Habsburgo, que compreendia ainda, dentre outros territórios, a Áustria, a Hungria, a Boêmia. A máxima, a divisa do Império Habsburgo dizia: 

VIRIBUS UNITIS (Força na União).

Composição populacional no século XVIII:

- Poloneses Católicos
- Rutenos Uniatas (falavam a língua ruski - ucraniano antigo)
A Igreja Católica Grega (Uniata) dava-se bem com o sentimento antirrusso dos Habsburgos, mas era mal vista pelos ortodoxos russos. A Igreja Uniata mantinha muito da liturgia bizantina, mas reconhecia a supremacia do Papa de Roma.
- Judeus

GALÍCIA OCIDENTAL: Região da Pequena Polônia. Englobava a parte superior do Vale do Vístula e a cadeia Montanhosa dos Cárpatos. Principal cidade: Cracóvia. Poloneses e judeus viviam lado a lado
.
Rio San serve de linha divisória entre essa duas Galícias. A cidade de Przemysl localiza-se exatamente nessa linha divisória. 
.
GALÍCIA ORIENTAL: Localizava-se além do Rio San. Principal cidade: Lvov (ou Lviv ou Lemberg). Nobres poloneses viviam em grandes propriedades. Os rutenos viviam como camponeses e os Judeus viviam isolados, em Shtelm.

O Reino da Galícia era pobre. Era o "Reino dos Nus e dos Famintos." O Império Habsburgo construiu uma linha férrea entre Viena e Lemberg (Lvov ou Lviv). Saindo de Viena, a capital do Império Habsburgo, o viajante rumava sentido nordeste, passando pela Morávia e pela Silésia Austríaca (Auschwitz), deixando o vale do rio Vístula e rumando para o rio San, atravessando-o e percorrendo a última parte da viagem até chegar a Lemberg.
Esse caminho era conhecido como "meio caminho para a Ásia." Dizia-se sobre quem embarcava nessa viagem: "quem não morrer de tédio, morrerá de fome."

HALICH: 

Cidade localizada ao sul de Lemberg (Lvov/Lviv) - Galícia Oriental. No Século XIII foi governada por Daniel Halitsky. Foi coroado pelo emissário do Papa Inocêncio IV.

Halich, assim como a Ucrânia oriental, passou pelas mãos de muitos senhores:

- no século X, era dominada pelos Rus de Kiev
- século XII, passou para o domínio da Hungria
- século XIII: governada por Daniel Halitsky e depois invadida pelos Mongóis
- século XIV: domínio da Polônia
- século XVIII: passa para o domínio do Império Habsburgo
- 1918: República Popular da Ucrânia Ocidental
- 1919/1939: Domínio da Polônia
- 1945/1991: Domínio da URSS
- 1991 até agora: Ucrânia Independente.

SERVIDÃO:

A Galícia era pobre, notadamente a sua parte oriental. Camponeses viviam na miséria. Em 1846, houve uma revolta. Nobres donos de terras foram chacinados. O fim do regime de servidão chegou em 1848.

Regime da Servidão:

Servo:
- segurança na posse de um lote de terra
- dependência do senhor da terra

Fim da servidão:
Quem era servo e deixou de sê-lo, viu-se independente mas sem a segurança que tinha no passado. Com o fim da servidão, o camponês se viu livre MAS sem ter para onde ir...se ficassem na terra onde tinham trabalhado, cairiam num contrato de arrendamento que os condenariam ao pagamento de uma dívida impagável. 


Fonte:
Anotações extraídas da Leitura do Livro "Reinos Desaparecidos, Uma História de uma Europa quase esquecida, de Norman Davies, Editora 70, página 515/559

sábado, 12 de outubro de 2019

Piratininga João Ramalho Tupinambás Antropofagia A Vida é Combate que os Fracos abate



PIRATININGA:

JOÃO RAMALHO CHEGOU AO BRASIL À BORDO DE UMA CARAVELA. OS ÍNDIOS, AO VÊ-LO CHEGAR SECO À TERRA, VINDO DO MAR, DERAM-LHE O NOME DE PIRATININGA:>> Pirá-Tininga -> Peixe Seco
NO INÍCIO VINHAM AO BRASIL EXILADOS, CRIMINOSOS E AMOTINADOS. O CRIMINOSO TINHA A OPÇÃO DE TROCAR UMA PRISÃO IMUNDA EM PORTUGAL POR UM LUGAR INÓSPITO COMO O BRASIL. NO BRASIL ELE ENCONTRARIA ÍNDIOS BELICOSOS E UMA FLORESTA TROPICAL CERRADA.
JOÃO RAMALHO TEVE UMA SORTE MELHOR. FUGIU OU FOI ABANDONADO POR UM NAVIO NO LITORAL DE SÃO VICENTE (ILHA NO LITORAL DO ATUAL ESTADO DE SÃO PAULO). JOÃO RAMALHO FOI RECEPCIONADO POR UMA TRIBO INDÍGENA DE NOME GAIANAZES, CUJOS MEMBROS ANDAVAM NUS E ERAM POUCO AMISTOSOS. DE ONDE ESTAVA, JOÃO RAMALHO PODIA AVISTAR A SERRA DO MAR, DENOMINADA PELOS INDÍGENAS DE PARANAPIACABA (lugar de onde se vê o mar). TRANSPOSTA A SERRA DO MAR, ENCONTRAVA O PLANALTO QUE SE ESTENDIA PARA O INTERIOR.

JOÃO RAMALHO,TIBIRIÇA E PLANALTO DE PIRATININGA

VENCIDA A SERRA DO MAR, JOÃO RAMALHO SE VÊ NO PLANALTO (QUE SERIA NOMEADO COM SEU NOME INDÍGENA), SENDO LEVADO AO ENCONTRO DO CHEFE INDÍGENA TIBIRIÇA. 
TIBIRIÇA SIGNIFICA "o principal da terra". JOÃO RAMALHO PASSARIA O RESTO DE SUA VIDA NA ALDEIA DO CHEFE TIBIRIÇA, CASARIA E TERIA VÁRIOS FILHOS COM VÁRIAS MULHERES. JOÃO RAMALHO, UM HEREGE IRREMEDIÁVEL, EMULOU O ESTILO DE VIDA DOS INDÍGENAS, O QUE CAUSOU ESPANTO E OJERIZA POR PARTE DOS JESUÍTAS, MAS ELE ERA NECESSÁRIO PARA A ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA.

NOMES INICIAIS DAQUILO QUE VIRIA A SE TORNAR O BRASIL:

PINDORAMA
ILHA DO PARAÍSO
TERRA DE SANTA CRUZ
VERA CRUZ
TERRA DOS PAPAGAIOS

ÍNDIOS ENCONTRADOS PELOS PORTUGUESES:

ERAM ORIGINÁRIOS DE ONDAS MIGRATÓRIAS VIDAS DO ALASCA NO FINAL DO PRIMEIRO MILÊNIO:

TUPINAMBÁS
GUARANIS
TAPUIA

TUPINAMBÁS:
TUPINAMBÁS SIGNIFICA FILHOS DO PAI SUPREMO OU GERAÇÃO DO PROGENITOR). ENCONTRADOS NO SUL DA BACIA AMAZÔNICA E SEUS AFLUENTES DA MARGEM DIREITA, ALÉM DE TODA A COSTA ATLÂNTICA, DO FOZ DO RIO AMAZONAS À CANANEIA (ATUAL REGIÃO SUDESTE). NÃO SABIAM CONTAR, NÃO USAVAM LINGUAGEM ESCRITA. ERAM AGRICULTORES, ESTABELECIDOS EM ALDEIAS DE FORMA SEDENTÁRIA. USAVAM O FOGO, ASSAVAM USANDO UMA ESPÉCIE DE GRELHA, O MOQUÉM. TUPINAMBÁS SÃO UM RAMO DOS TUPIS, QUE TAMBÉM DERAM ORIGEM AOS CAETÉS, AOS POTIGUARES, AOS TIMBIRAS, AOS TUPINIQUINS. 
GUARANI: 
ENCONTRADOS A PARTIR DE CANANEIA, DESCENDO PARA O RIO DA PRATA, PENETRANDO NO INTERIOR, ACOMPANHANDO OS RIOS URUGUAI, PARAGUAI E PARANÁ.
TAPUIAS: 
NA LÍNGUA TUPI, TAPUIA SIGNIFICA ESCRAVA, SERVO.  ERA NÔMADES, VIVENDO DA CAÇA, DA COLETA E DA PESCA. VIVIAM DAQUILO QUE A TERRA FORNECIA, NÃO A CULTIVAVAM. NECESSITAVAM DE UM GRANDE ESPAÇO PARA OBTEREM SEU SUSTENTO POR MEIO DA SIMPLES COLETA. DORMIAM SOB AS ÁRVORES, NÃO VIVIAM EM MALOCAS. ERAM TEMIDOS POR SEREM GRANDES GUERREIROS, TANTO PELOS TUPINAMBÁS QUANTO PELOS PORTUGUESES. TAPUIAS ERAM, DENTRE OUTROS, OS AIMORÉS, OS GOITACAZES, OS CARIRIS.

GUERRAS ENTRE INDÍGENAS:

QUANDO OS PORTUGUESES CHEGARAM AO BRASIL, OS TUPINAMBÁS TINHAM ACABADO DE EXPULSAR OS TUPINIQUINS DA BAÍA DA GUANABARA. TUPINAMBÁS E TUPINIQUINS, AO INVÉS DE FAZER CAUSA COMUM CONTRA OS PORTUGUESES E OS FRANCESES, SEUS VERDADEIROS INIMIGOS, USAVAM ELES COMO ALIADOS EM SUAS GUERRAS. 

"OS ÍNDIOS GUERREAVAM O TEMPO TODO, NÃO APENAS PARA PROTEGER O SEU TERRITÓRIO, MAS COMO UM MODO DE VIDA." (página 41)

A GUERRA AJUDAVA A MANTER O AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO, ISTO É, EVITAVA A SUPERPOPULAÇÃO. O CONTROLE DA POPULAÇÃO ERA ALCANÇADO POR MEIO DAS GUERRAS.

ANTROPOFAGIA:

SOMENTE A CARNE DE PRISIONEIROS DE GUERRA ERAM CONSUMIDAS EM MEIO A RITUAIS. A PESSOA PRECISAVA MOSTRAR VALOR PARA SER DEVORADA. 

"DEVORANDO OS INIMIGOS VALOROSOS, OS TUPINAMBÁS ACREDITAVAM QUE SE ALIMENTAVAM TAMBÉM DA SUA BRAVURA. PELA MESMA RAZÃO, NÃO COMIAM A CARNE DAQUELES QUE CONSIDERAVAM COVARDES, ASSIM COMO DE BICHOS DE QUE NÃO GOSTAVAM, COMO A PREGUIÇA, POR ACREDITAREM QUE FICARIAM LENTOS EM COMBATE."(página 50)

ELIMINAÇÃO DE CRIANÇAS QUE NASCIAM COM ALGUMA DEFICIÊNCIA FÍSICA:

SE UMA CRIANÇA NASCESSE COM ALGUM PROBLEMA QUE FIZESSE DELA UM FARDO PARA O GRUPO AO QUAL PERTENCIA, ELA SERIA ELIMINADA, MORTA.NA CONCEPÇÃO DOS ÍNDIOS, A VIDA ERA PARA OS FORTES, PARA OS CAPAZES. 

"NÃO CHORES, MEU FILHO, NÃO CHORES QUE A VIDA É LUTA RENHIDA, VIVER É LUTAR; A VIDA É COMBATE QUE OS FRACOS ABATE, QUE OS FORTES, OS BRAVOS, SÓ PODEM EXALTAR." - Canção do Tamoio, Gonçalves Dias. (página 51)


Anotações retiradas da leitura do Livro "A Conquista do Brasil, 1500 - 1600, de Thales Guaracy, Editora Planeta, páginas 29/51


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

História da Polônia: Povo Terra Coroa Adam Zamoyski



1) Origens da Polônia:

As origens da Polônia eram um mistério mesmo para seus vizinhos. Tribos eslavas viviam na área que hoje fazem parte da Polônia, da Eslováquia, da República Tcheca e do leste da Alemanha.
Eram povos pacíficos, que praticavam a agricultura (século I d.C.) 
Povos Eslavos:
Norte: Pomeranos. Pomorzanie - Povo do Litoral
Oeste: Lusácios e Slezanos da Silésia (guerreavam e comerciavam com saxões e alemães)
Sul: Vislanie do Alto Vístula (alternadamente, atacados e evangelizados pelos Morávios, praticantes da fé cristã)
Gniezno/Grande Polônia/Wielkopolska: Polanos
Os mais numerosos destes povos derivavam seu nome da atividade que exerciam: Povo do Campo: POLANIE (Polanos).
No Século VI d.C., os Sármatas, um povo oriundo das estepes do Mar Negro, invadiram o que hoje é a Polônia, constituindo uma nova classe governante sobre os Polanie/Povo do Campo.
Esses eslavos acima descritos compartilhavam com outros povos eslavos (tchecos, boêmios e a sudoeste os eslavos orientais da Rus) uma língua ligeiramente diferente.
A religião desses povos era composta por divindades que habitavam rios, árvores, pedras, etc.
O que separava os polanos (polanie) de seus povos irmãos eram os seus governantes da Dinastia Piast, que serão tratados a seguir.

2) Dinastia Piast:

Os Polanos eram governados pela Dinastia Piast, fundada em Gniezno (século IX). Essa dinastia expandiu seu poder durante os séculos IX e X. Em meados do século X, já reinavam por uma área considerável. Seu líder, Príncipe Mieszko, tinha estabelecido uma rede de castelos, um sistema fiscal e um exército de 3 mil cavaleiros.
Enquanto os Polanos se organizavam sob a Dinastia Piast, os alemães, sob a dinastia de Otão I, expandia-se pela sua fronteira oriental, edificando pelo caminho Bastiões/ Províncias, conhecidas como Marcas. Em seguida, atravessou o rio Elba, avançando para o sul, espantando pequenos grupos de eslavos até ser obstado por um exército, justamente o exército dos Polanos, sob o comando do Príncipe polano Mieszko (955).

"Chegara ao fim o período de isolamento dos Polonos; o príncipe Mieszko não podia continuar a ignorar o mundo exterior."
(página 17)

Otão, o adversário de Mieszko, tinha sido coroado Imperador do Sacro Império Romano Germânico no ano de 962 (século X). A conversão ao cristianismo trazia dividendo políticos, e Mieszko, sabedor disso, se converteu ao cristianismo.

"Somente adotando o cristianismo conseguiria evitar uma guerra com o Imperador (Sacro Império Romano Germânico) e, ao mesmo tempo, dotar-se de um instrumento político útil."
(página 17)

3) Cristianismo na Polônia:

Mieszko não poderia ignorar os benefícios de uma conversão ao Cristianismo. Em 962 Otão fora coroado Imperador pelo Papa.
Em 966, Mieszko e sua corte foram batizados, tornando o Ducado da Polônia parte do mundo cristão. Antes disso, em 965, Mieszko tinha se casado com Dobrava, uma princesa cristã da Boêmia. 
Mieszko queria expandir mais seu território. Foi atrás da Pomerânia e, ao fazê-lo, entrou em conflito com o Margrave da Marca Alemã do Norte, que também a desejava. O Margrave  da Marca Alemã do Norte era subordinado ao Sacro Império Romano Germânico. Em 972, Mieszko derrotou os alemães da Marca (em Cedynia). Em 976, Mieszko chegou ao estuário do Rio Oder.

4) Expansão da Polônia:

Ao conquistar a Pomerânia, Mieszko entrou em conflito com o 
Margrave da Marca alemã do Norte, que pediu auxílio ao seu senhor, Otão II, Imperador do Sacro Império Romano Germânico, que veio ajudá-lo. Na guerra que se seguiu entre alemães e poloneses, estes venceram, anexando o resto da Pomerânia, só parando o avanço ao se depararem com o avanço da Dinamarca em sentido contrário. No fim, Poloneses e dinamarqueses estabeleceram um acordo de paz (Mieszko deu a sua filha em casamento para o rei Érico da Suécia e da Dinamarca, para selar a paz). 
Nos anos de 989 e 990, os poloneses avançaram para a Silésia. 

5) Boleslau, o Bravo:

Boleslau, o Bravo,  sucedeu Mieszko no trono polonês. Em 999, o Papa elevou o status da Polônia, tornando-a independente da Diocese alemã de Magdeburgo. O Papa ainda criou o Arcebispado de Gniezno e os bispados de Woclaw (Breslau) e Cracóvia. 

"Para todos os efeitos, esta medida criou uma província eclesiástica polaca independente da sua diocese alemã tutelar, Magdeburgo, e fortaleceu o Estado polaco, dado que as redes eclesiásticas eram instrumentos privilegiados de comunicação e controle."
(página 19)

Enquanto isso, na Alemanha, Otão III era sucedido no trono alemão por Henrique II (ano 1.014). Henrique II não aceitava um Estado Polaco forte na fronteira alemã, de forma que desencadeou uma ofensiva contra os poloneses, contando com a ajuda dos Boêmios pelo sul. 

"Não havia razão de Estado alemã ou boêmia que contemplasse a ideia de um Estado Polaco forte..."
(página 21)

Na guerra que se seguiu, Boleslau, o Bravo, derrotou o Imperador Henrique II e o duque da Boêmia (Batalha de Psie Pole, perto de Woclaw - 1109). Os derrotador tiveram que ceder a Morávia e o território ao longo do Elba (1018 - Tratado de Bautzen)
O território da Polônia, em 1025, contava com áreas de Gdansk (Danzig), Silésia (Legnica, Opole), Cracóvia, toda a extensão do rio Vístula, Lublin, Chelmno, Plock, Poznan, Gniezno, etc). Boleslau ainda conquistaria territórios entre os Rios Bug e San (fronteira polaca com o oriente).

6) Mieszko II:

Com a morte de Boleslau, o Bravo, subiu ao trono polonês seu filho Mieszko II (1025). Mieszko II se deparou com uma Polônia que crescera rapidamente, não dando tempo para se estabelecer uma organização estatal centralizada, de forma que pressões regionalistas se impuseram diante da fraqueza do poder central. De um lado, havia o rei, que se empenhava para manter a coesão de seu reino intacta, trazendo para si a maior parte das atribuições governamentais; enquanto isso, uma outra forma atuava na direção contrária, buscando repartir esse poder entre senhores regionais. 
Ao morrer, em 1034, Mieszko II deixou uma Polônia dividida. 

7) Casimiro I:

Casimiro I sucedeu Mieszko II no Trono Polonês, mas teve que fugir após a eclosão de uma guerra civil, da qual se aproveitou o rei da Boêmia, Bretislau, que invadiu a Polônia e apoderou-se de Gniezno, pondo em risco a independência polaca. Aqui é preciso explicar que no século XI o conceito de nacionalidade encontrava-se em gestação e as fronteiras eram fluídas, mudando conforme a vitória deste ou daquele senhor de guerra (rei - um magnata, um senhor que dispunha de um exército). Assim, alemães brigavam com alemães, eslavos brigavam com eslavos. Quando os alemães avançaram em direção ao Rio Oder (Brandemburgo), houve uma mistura de alemães com poloneses locais. O mesmo aconteceu em Mecklemburgo, onde a elite eslava local tornou-se a nova aristocracia alemã. Enfim, as distinções étnicas e culturais não eram bem definidas. 

"Isto coloca a questão de saber o que queremos dizer com termos como Polônia; neste ponto da história, já para não falar em Polacos;, Alemães; ou Tchecos. As fronteiras, as que existiam, eram fluidas, mudando de cada vez que este ou aquele governante afirmava os seus direitos pela força. As diferenças étnicas não impunham nenhuma lealdade e os alemães combatiam uns contra os outros com mais frequência do que contra os eslavos, os quais, por sua vez, guerreavam constantemente entre si. E as distinções étnicas não eram bem definidas. Quando os alemães ocuparam as terras até ao Oder, absorveram tanto sangue eslavo que a população do futuro Brandemburgo, berço dos mitos raciais alemães, se tornou consideravelmente mista."
(página 22)

8) Cracóvia, a Nova Capital da Polônia:

Ao reconquistar sua posição na Polônia, Casimiro I fez de Cracóvia a nova capital da Polônia. A Polônia tinha duas regiões: Grande Polônia (Wielkopolska, com seu centro em Gniezno) e a Pequena Polônia (Malopolska com centro em Cracóvia). 

9) A Polônia e o Sacro Império Romano:

Nesse cenário fluído, o que importava na briga entre polacos, tchecos (Boêmia) e o Império Sacro Romano Germânico era a posição da Polônia no mundo cristão. De um lado, o Sacro Império Romano queria que a Polônia fosse seu estado Vassalo. A Polônia queria ser independente. 

"A questão subjacente ao confronto entre Polacos e a Boêmia e o Império era a posição da Polônia no mundo cristão. Durante século e meio, desde que Otão III sancionara ambições reais de Boleslau, o Bravo, o estatuto da Polônia permaneceu incerto, com o Império Sacro Romano Germânico a tentar repetidamente colocá-la na posição de Estado Vassalo e a Polônia a lutar para preservar a sua soberania. A fluidez dessa contenda reflete-se no modo como o monarca polaco é diversamente intitulado DUX, PRINCEPS ou REX nas fontes ocidentais contemporâneas. Apesar das suas dissensões e guerras internas, o Império era, em teoria, o árbitro em tais questões. O monarca polaco podia reforçar a sua posição aumentando o seu poder, procurando o apoio de outros países e aliando-se ao Papa contra o Imperador. "
(páginas 23/24)

10) A Polônia volta-se para o Leste

A Polônia voltou-se para o Leste. Sua capital não ficava mais em Gniezno. Agora estava em Cracóvia. Casimiro I, o soberano Polonês, casou-se com a irmã do Soberano de Kiev. Seu filho, Boleslau II, já tinha intervindo em Kiev por duas vezes em socorro ao seu tio. Cracóvia era o novo centro de poder polonês e ficava mais próximo da região que hoje é a Ucrânia e a Hungria. A Hungria, em especial, se tornava um ator importante na luta do Papa contra o Sacro Império Romano. Polônia, Hungria e Espanha se uniram ao Papado na luta deste contra o Sacro Império Romano.

11) 1079:

Boleslau II foi coroado rei em 1076 (foi coroado pelo Papa). No ano de 1079 Boleslau II foi alvo de uma rebelião tramada pelos magnatas, senhores regionais poloneses. Boleslau agiu contra os rebeldes e dentre os mortos encontrava-se o Bispo de Cracóvia, Estanislau. O assassinato do Bispo de Cracóvia gerou uma grande indignação naquele mundo cristão europeu, obrigando Boleslau II a abandonar o trono polonês em favor de seu irmão Ladislau Herman. Essa assassinato do Bispo de Cracóvia minou o prestígio da Dinastia polaca, levando a que Henrique IV (Imperador do Sacro Império Romano Germânico), em 1085, deixasse o duque da Boêmia coroar-se Rei da Boêmia e da Polônia. O título de Rei da Polônia dado ao duque da Boêmia era apenas simbólico, mas era uma uma afronta a Ladislau. E para piorar a vida de Ladislau, ele não conseguia conter as ambições dos poderes polacos regionais.
Em 1102, Ladislau Herman morreu. Em seu lugar, assume seu filho Ladislau Boca Torta. Ladislau obteve vitórias significativas contra a Boêmia e o Sacro Império Romano Germânico. Em 1109, Ladislau invadiu a Pomerânia, indo além do Oder, até a ilha de Rugen. Conquistou territórios onde havia penetração gradual de alemães.
O território de Ladislau Boca Torta abrangia, a oeste, Szczecin (Stettin/Estetino), no rio Oder, a leste, Gdansk. Abrangia ainda cidades como Cracóvia, Lublin, Gniezno, Plock e áreas como a Silésia.

12) Tentativa de conciliar a centralização do poder com a sua descentralização:

A Polônia foi dividida em Ducados (1138). Cada um deles seria governado por um dos filhos de Ladislau (ou Boleslau - o livro traz as duas grafias - páginas 24/25) Boca Torta, soberano polonês falecido em 1138. A Pomerânia virou um Ducado. O filho mais velho de Ladislau Boca Torta exerceria uma espécie de Suserania sobre os demais ducados. Todavia, com o passar do tempo, essa suserania se tornou algo simbólico, nominal, pois cada ducado estabeleceu seu próprio ramo da dinastia Piast. Cada ducado estabelecia uma dinastia própria e, para fragmentar ainda mais o mapa político polonês, os detentores desses ducados, para atender aos seus filhos, dividiam seus ducados entre eles. 
A Polônia era dividida em várias entidades: 
Grande Polônia (Gniezno); 
Mazóvia/Cujávia (Plock, Chelmno); 
Pequena Polônia
Sandomierz (Lublin); 
Silésia (Legnica, Opole, Wroclaw); 
Pomerânia (Szczecin, Gdansk, Kolobrzeg).
Cracóvia.
13) Elementos unificadores da Polônia:

Mesmo com a Polônia repartida em ducados, havia elementos que mantinham um sentimento de uniformidade e de união. Um deles era a Dinastia Piast e o outro era a Igreja. A igreja polonesa disseminou cultura, tecnologia e educação.
A Dinastia Piast fundou mais de 80 cidades com castelos; estimulou o comércio, proporcionando proteção para as rotas comerciais e estimulando o uso de sua moeda.

14) A luta entre os defensores da centralização do poder e os defensores da sua fragmentação não cessava:

Senhores poloneses regionais e cidades maiores sonhavam com a autonomia. De outro lado, Ladislau da Grande Polônia e duque de Cracóvia, conhecido como Pernalta, tentou reafirmar o seu poder. Nessa queda de braço, os defensores da fragmentação do poder levaram a melhor. Em 1228, os senhores regionais poloneses conseguiram fazer Ladislau, o Pernalta,  assinar o PRIVILÉGIO DE CIENIA, uma espécie de Magna Carta, assinada alguns anos antes, em 2015, por um rei inglês.

"Ladislau da Grande Polônia, conhecido por Pernalta, devido às suas pernas ossudas, tentou valentemente reafirmar a sua autoridade como duque da Cracóvia, mas os barões obrigaram-no a conceder-lhes prerrogativas substanciais pelo Privilégio de Cienia, em 1228, treze anos depois de um documento similar, a Magna Carta, ter sido extorquido ao rei inglês."
(página 27)

15) Diferença entre Inglaterra, França e Polônia:

Barões franceses e ingleses eram Vassalos do Rei francês e do Rei Inglês, respectivamente. Esses barões recebiam o poder do Rei. Já na Polônia, esse sistema feudal francês/inglês nunca foi adotado. O rei Polonês não conseguia impor a sua vontade aos senhores locais. Dessa forma, inexistindo canais de Vassalagem, o rei Polonês não tinha como impor o seu poder. Por conseguinte, ao contrário do que acontecia no resto da Europa Ocidental, o controle exercido pelo Rei não dependia de um Vassalo local, mas sim de um funcionário dele. Era o Castelão (Kasztelan) e exercia a sua função a partir de um Castelo. Mas com a descentralização do poder perderam espaço para os ministros dos duques, os Voivodas. 
De qualquer forma, a Polônia, mesmo tendo seu poder fragmentando entre vários senhores, ela era independente, não prestando Suserania a um poder Estrangeiro.

16) Classes na Polônia:

(a) Nobreza (Szlachta): Herdava Estatuto e Terras. Em suas terras eram magistrados independentes e prestavam serviço militar ao rei. "Defendiam leis consuetudinárias do país, o ius polonicum, inteiramente baseado no precedente, e resistiam às tentativas de imposição de práticas jurídicas estrangeiras por parte da Coroa."
(página 27)

(b) Cavaleiros: Sem estatuto de nobreza

(c) Panosze: Eram proprietários rurais

(d) Camponeses: em sua maioria, eram livres e podiam melhorar as terras que cultivavam. Essas terras pertenciam ao Soberano (eram pertença). Os camponeses tinham direitos bem definidos. 

"Um pequeno número de camponeses labutava em servidão, mas durante a primeira metade do século XIII foram adquirindo mais liberdade e nunca estiveram tão presos à terra como na Europa Ocidental."
(página 27)

17) Cidades na Polônia:

As cidades literalmente faziam suas próprias leis. Cercadas por muralhas, administrativamente e legislativamente (comércio, civil e criminal) eram um país diferente em relação à área exterior. 

A Polônia e as Cruzadas:

"A Igreja pouco podia fazer face a uma falta de zelo generalizada e amplamente ilustrada pela resposta polaca ao apelo à Cruzada por parte de Roma....Numa longa carta ao Papa, o duque Leszek, o Branco, explicou que nem ele nem nenhum cavaleiro polaco que se prezasse seria induzido a deslocar-se à Terra Santa, onde, ao que tinham sido informados, não havia nem vinho, nem carne e nem sequer cerveja. Havia outras razões para ficarem em casa, dada a existência de pagãos incômodos nas próprias fronteiras da Polônia, os prussianos e lituanos."
(página 26)

Ademais, o que fazia que regiões da Europa aderissem às Cruzadas era a excesso populacional. Na Polônia esse excesso demográfico não se fazia presente, tanto que acolhiam imigrantes judeus, boêmios, alemães que prestavam serviços úteis.


(Fonte: Anotações retiradas da Leitura do livro "História da Polônia", de Adam Zamoyski, Editora Edições 70, Capítulo 1, Povo, Terra e Coroa, páginas 15/29)

Propagação das ideias Niall Ferguson Guerra Santa Nacionalismo Árabe



Por que algumas ideias (vírus contagioso) se propagam, tornando-se realidade enquanto que outras não se realizam no mundo? A eficácia de uma ideia dependerá da forma pela qual ela foi comunicada, pela eficiência da rede pela qual ela foi transmitida
PRIMEIRA INICIATIVA - No início do Século XX, durante a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha idealizava criar uma Jihad (Guerra Santa) com a ajuda do Império Otomano, para sublevar os súditos muçulmanos dos Impérios Inglês e Francês. Se desse certo, Grã-Bretanha e França teriam que tirar exércitos da Europa para contar sublevações muçulmanas em suas colônias, abrindo assim o caminho para uma vitória alemã na Europa. Para o azar da Alemanha, essa ideia de criar uma Guerra Santa entre os súditos muçulmanos dos Impérios Inglês e Francês não deu certo. Os muçulmanos no norte da África, na Índia, no Egito, no Afeganistão não lutaram contra os ingleses e contra os franceses. 
SEGUNDA INICIATIVA - Uma outra ideia, propagada no mesmo teatro de operações (oriente médio), surtiu efeito. A Grã-Bretanha propagou e estimulou o movimento do NACIONALISMO ÁRABE contra o domínio do Império Otomano. Os mesmos árabes muçulmanos que não compraram a ideia da Guerra Santa estimulada pelos Alemães e pelo Império Otomano, compraram a ideia do Nacionalismo Árabe, a criação de um estado árabe no Oriente Médio, formado pela Península arábica, pela Síria e pelo Iraque. Assim, os árabes se aliaram à Grã-Bretanha na luta contra os alemães e seus aliados otomanos.
TERCEIRA INICIATIVA - Em 1917 a ideia do Marxismo, criada pelos Bolcheviques russos, não ficou apenas na imaginação de seus propagadores. Ela derrubou o Império Czarista, que governava a Rússia há séculos. Derrubou a dinastia Romanov, que governava a Rússia desde o século XVII. Essa propagação do Marxismo bolchevique contou com a ajuda dos alemães, que facilitaram e patrocinaram a ida de Lênin da Suíça para a Rússia. A ajuda alemã não foi de graça. A Alemanha esperava que o líder dos Marxistas bolcheviques, Lênin, sublevasse a Rússia, tirando-a da Guerra. Sem a Rússia na guerra, a Alemanha poderia tirar suas tropas do Leste e enviá-las para o Oeste, para combater os inglese e os franceses. Mas a história foi irônica com a Alemanha, pois o movimento revolucionário que tirou a Rússia da Guerra, se voltou contra ela, Alemanha, sublevando-a internamente, acabando com a união do país em torno do esforço de guerra, derrubando o Kaiser Guilherme II e obrigando a Alemanha a se render aos Ingleses e aos Franceses. O tiro acabou saindo pela culatra. O governo alemão  estimulou uma Revolução na Rússia em 1917 que acabou se voltando contra ele no decorrer do ano de 1918.

(Minhas anotações da leitura do Livro "A Praça e a Torre, de Niall Ferguson)
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"PARA ENTENDER POR QUE ESSA PRIMEIRA INICIATIVA FALHOU ENQUANTO A SEGUNDA OBTEVE ÊXITO E A TERCEIRA DEU CERTO PARA ENTÃO SAIR PELA CULATRA, PRECISAMOS ENTENDER QUE AS ESTRUTURAS DE REDE SÃO TÃO IMPORTANTES QUANTO OS VÍRUS NA DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE E EXTENSÃO DO CONTÁGIO." (página 231)
(A Praça e a Torre, redes, hierarquias e a luta pelo poder global, Niall Ferguson, Editora Crítica) 

domingo, 4 de agosto de 2019

Sacro Império Romano Germânico França Religião e a Reforma de Martinho Lutero Protestantes versus Católicos Revolução Inglesa de 1642



1517: Martinho Lutero e suas 95 Teses na Igreja de Wuttenberg:

A Reforma desencadeada por Martinho Lutero tinha duas faces:
a) Revolta Teológica
b) Revolta contra a desordem interna e contra as intrusões externa do Império

A Reforma trazia oportunidades:
a)Para os Senhores, para os Príncipes: Emancipação em relação ao Imperador e aumento do controle sobre seus súditos.
b)Para os Camponeses: Participação no Reich. Emancipação em relação aos seus senhores.

A Religião e as Fronteiras Geográficas:
A Religião podia servir para acentuar ainda mais as fronteiras geográficas entre países, mas igualmente, em alguns casos, não as transcendia. Exemplo: o ódio francês à Casa Habsburgo era tão grande que os franceses católicos apoiavam os Otomanos muçulmanos e os príncipes alemães protestantes contra os católicos Habsburgos (detentores da Coroa do Sacro Império Romano Germânico). 
A Religião do Imperador e a Guerra Civil inglesa de 1642 
A Religião do Imperador do Sacro Império Romano Germânico era um assunto de extrema importância. Em 1618 (ano de início da Guerra dos 30 anos), a Nobreza Boêmia escolhe o eleitor protestante do Palatinado para ser seu rei. Também sonhavam fazê-lo imperador. 
A Nobreza Boêmia não realizou seu sonho e o Imperador eleito foi Fernando da Estíria, um Habsburgo, que logo derrotou os Boêmios na Batalha da Montanha Branca, em 1620. Na sequência, tropas espanholas ocuparam o Palatinado, que foi absorvido pela católica Baviera. Essas notícias geraram descontentamento na Inglaterra protestante. Mas o Rei Inglês, Carlos I, não agia, não intervinha no conflito europeu, para ajudar os Protestantes holandeses e alemães contra o avanço dos católicos sob o comando do Imperador Habsburgo na Alemanha e na Holanda. A segurança da Inglaterra protestante dependia da Alemanha não cair nas mãos dos Católicos. E se a Alemanha caísse, Holanda, a primeira linha de deseja inglesa, também cairia.

"Em suma, a grande Rebelião contra Carlos I foi na sua essência uma revolta contra a política externa dos Stuart." (página 58)

1642: Guerra Civil Inglesa
1646: O rei inglês Carlos I é derrotado
1649: O rei é executado e a Monarquia cede lugar a um Protetorado sob Oliver Cromwell

"No fim das contas, foi porque nos vinte anos anteriores não tinham entrado em guerra eficazmente em favor da causa protestante na Europa que os ingleses entraram em guerra uns com os outros em 1642." (página 58)

Fonte: 
Anotações extraídas da leitura do Livro: "Europa, a Luta pela Supremacia, de 1453 aos Nossos Dias", Brendan Simms, Editora Edições 70

sábado, 15 de junho de 2019

Gengis Khan Temujin Nascimento Família Hunos Burkhan Khaldun


Nascimento:
Temujin, que viria a se tornar Gengis Khan, nasceu em 1162, nas proximidades da Montanha Burkhan Khaldun, próximo ao rio onon, onde hoje se localiza a atual Mongólia.
Família (pai e mãe):
Temujin era filho de Hoelun, da tribo Merkid, que tinha sido raptada por aquele que viria se tornar o seu pai, Yesugei. 
Yesugei era oriundo de um grupo pequeno que um dia seria conhecido como os mongóis, mas nessa época era apenas membro do clã Borijin. Yesugei na época em que raptou Hoelun já era casado e tinha filhos
Geografia da Mongólia da época de Temujin:
A Mongólia poderia ser dividida em três partes: a parte norte, fazendo fronteira com a atual Rússia (Sibéria), havia montanhas, dentre elas a venerada Burkhan Khaldun. No centro havia estepes e ao sul havia o Deserto de Gobi, fazendo fronteira com a região que hoje é a China. O grupo de Temujin localizava-se no nordeste do que hoje é a Mongólia, numa área onde terminava a estepe e começava a Montanha Burkhan Khaldun. Ali havia poucos rebanhos, viviam da caça, competiam com os lobos pela caça, raptavam esposas de outras tribos e roubavam animais dos habitantes das estepes.
Mongóis e seus parentes próximos:
Os mongóis eram nômades. Seu parentes próximos eram os tártaros e os Khitan (leste). Mais a leste ainda havia os Manchu. A oeste havia tribos túrquicas (Ásia Central). Esses grupos compartilhavam uma herança cultural e linguística com as tribos da Sibéria.
Geralmente as tribos túrquicas e os tártaros se uniam em Confederações Tribais. Já os Mongóis viviam em pequenos bandos, liderados por um chefe, o Khan. Geralmente as pessoas que integravam esses bandos possuíam laços de parentesco. 
Mongóis e Hunos:
Os Mongóis se declaravam descendentes dos Hunos. "Hun" é a palavra mongol para "Ser Humano". Os Hunos foram os primeiros fundadores de um Império na Estepe, no século III d.C. Os mongóis chamavam seus ancestrais Hunos de "O Povo do Sol"(Hunnu).
Origem do nome Temujin:
O nome "Temujin" foi tirado de um guerreiro tártaro que tinha sido morto pelo próprio pai de Temujin.


Fonte: Anotações extraídas da Leitura do Livro Gengis Khan e Formação do Mundo Moderno, Jack Weatherford, editora Bertrand Brasil, páginas 46/64

Religião dos Mongóis, Seguidores de Gengis Khan


Os Mongóis eram animistas. Cultuavam o "Eterno Céu Azul", a "Luz Dourada do Sol". Cultuavam Montanhas, como a Burkhan Khaldun.
Para os Mongóis a alma estava presente nas essências em movimento: sangue, respiração, olfato. De forma análoga, a alma da Terra estava nos rios.
Os Mongóis acreditavam que Deus era o "eterno céu azul", que se estendia de horizonte a horizonte, não podendo ser confinado numa casa de pedra, fosse ela uma mesquita ou uma igreja cristã. Tampouco as palavras de Deus poderiam ser capturadas e colocadas num livro (bíblia, corão). 

Fonte: Anotações extraídas da leitura do Livro "Gengis Khan", e a formação do Mundo Moderno, Jack Weatherford, editora Bertrand Brasil, página 51 e 87/88)

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Chernobyl Tchernóbil



"Você não deve se esquecer de que isso que está na sua frente não é mais o seu marido, a pessoa que você ama, mas um elemento radioativo com alto poder de contaminação. Não seja suicida. Recobre a sensatez."
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
(Conselho dado a Liúcienka, esposa de um bombeiro (Vássia) contaminado pela radioatividade proveniente da explosão do reator 4 da Usina de Chernobyl/Tchernóbil. Vássia estava internado num hospital em Moscou e sua esposa, que o visitava, era orientada para que não o abraçasse, não o beijasse, sob pena dela ser contaminada )

(Fonte: Vozes de Tchernóbil, a história oral do desastre nuclear, Svetlana Aleksiévitch, Editora Companhia das Letras, página 28)

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Alta Idade Média O Sonho da Monarquia Universal e a Disputa pela Alemanha.



ALTA IDADE MÉDIA NA EUROPA CENTRAL E OCIDENTAL: 
Havia uma identidade comum na figura do chefe espiritual representado pelo Papa, chefe da Igreja Católica, em Oposição ao Islã, que avançava no Sudeste (Conquista de Constantinopla em 1453) e que recuava na Península Ibérica.
O COTIDIANO DAS PESSOAS COMUNS:
A vida das pessoas girava em torno da Igreja, para a qual pagavam um dízimo. Essas pessoas comuns ainda dependiam da proteção de um Senhor Feudal, para o qual pagavam tributos.
GEOGRAFIA EUROPEIA
O homem europeu se via na margem de um mundo cujo centro localizava-se na Terra Santa, em Jerusalém. Quando os Portugueses se lançaram na exploração da Costa Ocidental africana (conquista de Ceuta em 1415), objetivavam flanquear os islâmicos no Oriente. "A Europa expandiu-se, por assim dizer, em legítima defesa." (página 35)
SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO:
Germânico a partir de 1450. Sacro Império foi o sucessor do Império Romano do Ocidente. Naquela altura, encontrava-se enfraquecido, mal conseguindo organizar a defesa comum. Muitas línguas eram faladas no interior do Sacro Império: italiano, alemão, tcheco, holandês, francês.
MEADOS DO SÉCULO XV:
Dois eventos devem ser destacados: queda de Constantinopla nas mãos do Otomanos e queda dos Ingleses na França. Com o fim do perigo inglês, os Franceses voltaram suas atenções para o Sacro Império Romano Germânico.
SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO CERCADO:
Em meados do século XV, o Sacro Império viu-se cercado por duas potências em ascensão: a oeste, pela França e a leste, pelo Império Otomano. 
MONARQUIA UNIVERSAL:
O Habsburgo Carlos V, detentor da Coroa de Sacro Imperador Romano Germânico, acalentava a ambição de tornar Universal o seu Império. O sonho de uma Monarquia Universal não era exclusividade de Carlos V. No Leste, os Otomanos, inebriados com a Conquista de Constantinopla em 1453, desejavam tornar seu Império Universal, reivindicando para si a herança do Império Romano. Solimão, o Magnífico, buscava expandir o poder Otomano pelo Mar Mediterrâneo e pela Europa Central. Os Otomanos forçariam a entrada na Europa, sendo detidos duas vezes às portas de Viena (1529 e 1683).
HABSBURGOS, PROTETORES DA CRISTANDADE:
Os Habsburgos se vendiam como os Protetores da Cristandade Ocidental contra o avanço islâmicos otomano. Em 1519, Carlos V, um Habsburgo, seria eleito Sacro Imperador Romano Germânico. Naquela altura, Carlos V governava Nápoles, Áustria, Boêmia, Novo Mundo nas Américas e Países Baixos. Era chamado de "Rei dos Romanos e Imperador do Mundo" (página 42)
O SONHO DE UMA MONARQUIA UNIVERSAL CAI POR TERRA:
O Sonho de Carlos V de erigir uma Monarquia Universal caiu por terra ao ser derrotado por suecos, príncipes alemães, França e Inglaterra. Carlos V teve que dividir sua herança entre um ramo austríaco e um ramo espanhol dos Habsburgos.
DESUNIÃO DO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO
Carlos V era tinha a Coroa do Sacro Império mas não tinha a união de que precisava para erigir seu Império Universal. Dentro do Sacro Império Romano Germânico havia muitos senhores (príncipes alemães, cidades livres e o Imperador). Essa desunião era explorada pelos inimigos. Era uma desunião que enfraquecia e dificultava a estratégia de defesa de uma área central da Europa (atual Alemanha)
FRANÇA E A NECESSIDADE DE ROMPER O CERCO HABSBURGO
A França via-se cercada pela Dinastia Habsburgo. No sul, havia a Espanha, governada por um Habsburgo. O mesmo acontecia no norte (Flandres) e no Leste. A França teria que lutar para romper esse cerco e assim o fez. A política francesa, em relação ao Sacro Império Romano Germânico, consistia em colocar os príncipes alemães contra o Imperador. Se os príncipes alemães se unissem em torno do Imperador Habsburgo, a França pouco poderia fazer para obstar uma invasão alemã ao seu território.
HOLANDA TAMBÉM DEPENDIA DA DESUNIÃO NO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO PARA SOBREVIVER.
O que acontecia na Alemanha também era vital para a existência da Holanda. Os holandeses se libertaram dos espanhóis no final do século XVI. Dessa forma, a Holanda torcia para que os príncipes alemães não se unissem ao Imperador Habsburgo. A dinastia Habsburgo detinha a coroa do Sacro Império, a coroa Espanhola e a coroa Austríaca.
GRÃ-BRETANHA
A Grã-Bretanha, apesar de ser uma ilha, não podia ficar indiferente ao que acontecia no continente, principalmente na Alemanha, pois sua primeira defesa seria nos Países Baixos, de forma que a independência holandesa era de seu interesse estratégico.
SUÉCIA
A Suécia também via o destino da Alemanha com preocupação. Ela temia que o Imperador Habsburgo unisse os príncipes alemães numa frente para a criação de uma Monarquia Universal Católica. Foi por esse motivo que o rei sueco, Gustavo Adolfo, interviu na Guerra dos Trinta Anos (1618 -1648). A Suécia, um reino protestante, não poderia permitir que o Imperador Católico Habsburgo penetrasse na Alemanha, aproximando-se de sua fronteira.
SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO ERA COBIÇADO POR TODOS.
"Quem dominasse a Alemanha poderia subjugar outros reinos." (página 49)
O Sacro Império, que abrange em grande parte a atual Alemanha, tinha recursos inexplorados. Possuía 15 milhões de habitantes. A coroa do Sacro Império Romano Germânico era obtida por meio de uma eleição. Em teoria, o Sacro Imperador estaria acima de todos os outros monarcas europeus. Isso acarretou uma campanha pela Coroa entre os Monarcas Europeus. Henrique VIII, rei da Inglaterra, queria ser eleito. Havia subornos para conseguir se eleger. Carlos V, em 1519, valeu-se de suborno para se eleger Imperador, mas não conseguiu que seu filho Filipe, rei da Espanha, lhe sucedesse como Rei dos Romanos. A Coroa de Imperador acabou indo para o ramo austríaco da Família Habsburgo.


Fonte: Anotações extraídas da leitura do Livro: Europa, a Luta pela Supremacia, de 1453 aos Nossos Dias, Brendan Simms, Editora Edições 70

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Pecado Original Agostinho Massa Damnata



Agostinho de Hipona associava o desejo sexual com o cometimento de pecados. Segundo ele, haveria uma relação natural e inevitável entre o desejo sexual e o cometimento de pecados.
Antes disso, no século II d.C., Tertuliano de Cartago cunhou a expressão PECADO ORIGINAL, dizendo que ele era o primeiro pecado praticado, ainda no Jardim do Éden.
Agostinho se apropriou dessa ideia do Pecado Original, dizendo que a Luxúria seria um veículo para se chegar nele. Agostinho dizia que o nascimento de qualquer pessoa estava ligado ao Pecado Original, pois qualquer processo de concepção de um ser não pode ser feita sem a presença da Luxúria.
Para Agostinho, Adão e Eva poderiam ter feito sexo sem luxúria, mas escolheram fazê-lo com lascívia. Adão e Eva, com efeito, como seres humanos que são, só são livres para pecar.
Para Agostinha, Deus é bom, mas todos nós nascemos maus. Somos frutos de um Pecado Original. 
Mesmo que você faça o bem, o fará pela Graça de Deus. Todas as demais pessoas são uma MASSA DAMNATA (Massa de Condenados).
Deus, à sua maneira inescrutável, escolherá um pequeno grupo de pessoas para ser salvo. 
Para Agostinho, a justificativa para a existência da Escravidão poderia ser erigida sobre a concepção segundo a qual há nesse mundo pessoas boas e pessoas más. As boas poderiam escravizar as pessoas pecadoras.
Agostinho extraía a sua autoridade de Deus, de forma que muito do que escrevia por vezes poderia contrariar a Bíblia sem que com isso se visse repreendido ou contestado. 
Santo Agostinho foi influenciado por uma Seita Cristã denominada MANIQUEUS.
Os Maniqueus viam o Mundo como uma luta entre a Escuridão e a Luz. A alma seria uma partícula de luz aprisionada pelo mundo físico, pelo corpo, daí o desprezo dessa seita pelos desejos físicos, pelo sexo.
O desejo sexual era apenas mais um estímulo externo que fazia com que o ser humano, cego pelo desejo carnal, virasse as costas para Deus, afastando-se dele. 

ANOTAÇÕES extraídas do Livro CASOS FILOSÓFICOS, de Martin Cohen, Editora Civilização Brasileira, páginas 96/100

sábado, 8 de junho de 2019

Balaclava A Carga da Brigada Ligeira Guerra da Crimeia


Balaclava é uma enseada localizada na Península da Crimeia, atual Rússia.
Ela serviu de porto para o Britânicos, que o utilizaram como local de desembarque de suprimentos para tropas inglesas que sitiavam a cidade de Sebastopol.
O nome Balaclava deriva de Bella Clava (belo porto), que no passado foi usado pelos genoveses, até serem expulsos pelos Otomanos no século XV.
Balaclava ficou conhecida em razão de uma batalha que aconteceu ali no dia 25 de outubro de 1854, no contexto da Guerra da Crimeia (guerra travada pela Rússia contra uma aliança formada pelo Império Otomano, Grã-Bretanha, França e Piemonte, durantes os anos 1854/1855)
Como dito acima, os Britânicos utilizavam Balaclava como um Porto para o escoamento de suprimentos de sua tropas que sitiavam Sebastopol.
Em 25 de outubro de 1854 os Russos resolveram atacá-lo. O ataque fracassou, Balaclava continuou na posse dos Britânicos, mas o que ficou para a história foi uma carga da cavalaria ligeira britânica contra redutos russos protegidos por baterias de artilharia, cavalaria e infantaria russas.
No início do ataque, os Russos tomaram 4 redutos no Monte Causeway, que eram guarnecidos por tunisianos (a Tunísia fazia parte do Império Otomano) e por canhões de fabricação britânica. Os tunisianos, mal treinados, fugiram, em direção ao porto, deixando para trás os canhões britânicos. Na sequência, o ataque russo foi obstado pela ação dos Highlanders e pela Cavalaria pesada britânica. Os russos então deram início a uma retirada, levando consigo os canhões britânicos, apreendidos no início da batalha.
O problema foi a saída dos Russos levando consigo os canhões britânicos, pois isso violava uma tradição militar britânica, derivada da história do Duque de Wellington, que nunca deixou uma peça de artilharia britânica ser capturada pelo inimigo.
O comandante das Forças Britânicas na Crimeia, Lord Raglan, temia que canhões britânicos fossem usados como troféus pelos russos, de forma que ele ordenou que a cavalaria ligeira britânica, sob o comando de Lorde Lucan, efetuasse uma carga para retomá-las.
O problema é que a ordem emitida por Lord Raglan era genérica, não especificando quais peças de artilharia deveriam ser capturadas, se eram as russas ou se eram as britânicas. 
Para piorar, a cavalaria ligeira teria que atravessar 2 mil metros de extensão num vale, tendo à sua frente, forças russas formadas por artilharia, cavalaria e infantaria, tendo à sua esquerda o monte Causeway, guarnecidas pelos russos com os canhões britânicos capturados e ainda tendo à direita no fundo do vale outro grupo de russos. Se a ordem do ataque fosse direcionada para retomar as peças de artilharia britânicas localizadas no Monte Causeway, seria factível cumpri-la, mas se fossem as russas, a carga da cavalaria ligeira seria praticamente submetida a uma ação suicida, indo ao fundo do vale, percorrendo 2 quilômetros em meio a uma saraivada de projéteis vindos de canhões e carabinas.
Ao final de tudo, Lord Lucan, na dúvida sobre qual caminho seguir, com uma ordem genérica e erroneamente transmitida para ser cumprida, com seus comandados exigindo uma ação que justificasse a fama da cavalaria ligeira britânica como a melhor do mundo, resolveu tomar o caminho mais difícil, atravessando os 2 mil metros de extensão do vale, em meio a um bombardeio, alvejado pela frente e pelos flancos direito e esquerdo, indo ao fundo do vale, em direção à principal força russa. 
"Dos 661 homens que iniciaram a carga, 113 foram mortos, 134 feridos e 45 feitos prisioneiros, 362 cavalos foram perdidos ou mortos" (página 274)
Essa batalha resultou no poema de Alfred Tennyson, intitulado "A Carga da Brigada Ligeira"

"Avante brigada ligeira!
Havia algum homem abatido?
Não, embora os soldados soubessem
Alguém havia falhado:
Não cabia a eles retrucar,
Nem a eles questionar,
A eles apenas agir e morrer;
Para o vale da Morte
Cavalgaram os seiscentos."
(página 275)

Fonte: Crimeia, a história da guerra que redesenhou o mapa da Europa no século XIX, Orlando Figes, Editora Record, páginas 265/275