quinta-feira, 21 de maio de 2020

Estilicão Visigodos Alarico Roma Saqueada 410 Cidade de Deus Agostinho Deficit nas contas de Roma Ricímero Gália Séculos V e VI Mundo Pós Romano



PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS DIVIDIDAS EM ÉPOCAS:

Até o ano 425:
Estilicão
Godos (Visigodos): mataram um general romano no interior do Império Romano, na batalha de Adrianópolis, no ano de 378
Autor Chris Wickham compara o saque de Alarico a Roma (410) com os ataques do 11 de setembro aos EUA

Estilicão, comandante militar dos exércitos ocidentais e homem forte do início do século V. Estilicão enfrentou Alarico, o chefe guerreiro dos Godos, que procurava um lugar para assentar seu povo no interior do Império Romano. Os Godos entraram pela primeira vez no Império Romano no ano de 376. Venceram um exército romano em Adrianópolis (atual Edirne, na Turquia), em 378. 
Os Godos foram deixados em paz no ano de 380, na Ilíria e na Trácia (Bálcãs). Os Godos chegaram a lutar ao lado dos romanos, em 394 
Mas o acordo entre romanos e godos (visigodos) chegou ao fim, de forma que estes voltaram a atacar, invadindo a Grécia. Em 401, os godos entraram na Itália Setentrional (norte da Itália). Estilicão os derrotou e os empurrou de volta à Ilíria, em 402. 
Mas os Visigodos iriam voltar em 408. Nessa mesma época, outros grupos bárbaros forçavam as fronteiras do Império Romano do Ocidente. Vândalos atravessaram o Rio Reno em 406. Outras crises ainda aconteciam. Estilicão, após um motim, é executado em 408. 
Em 410, Alarico, chefe guerreiro dos Visigodos, saqueou Roma, ..."um evento que chocou o mundo romano da mesma forma que o 11 de setembro de 2001 chocou os EUA..."
(página 136)

Mas esse saque não teve outras repercussões e os visigodos continuaram buscando um assentamento definitivo. No fim, os visigodos estabeleceram-se nas proximidades da cidade de Toulouse (atual França), em 418, criando o Reino de Tolosa. 

QUATRO IMPERADORES EM 411:

A maioria desses imperadores era protegida por grupos bárbaros rivais. Até que finalmente surgiu Constâncio, que pôs fim à balbúrdia, unindo o exército em torno de si e derrotando todos os 4 pretendentes a imperador.

O ORIENTE ROMANO NO SÉCULO V:

O Oriente enfrentou menos traumas durante o século V. Os Bálcãs eram visitados normalmente por invasores 'bárbaros', inclusive pelos hunos, mas Constantinopla, em sua borda, estava muito bem protegida; ademais, a riqueza do Império Romano do Oriente não estava nos Bálcãs, mas no Egito e no Levante, distantes portanto do tumulto causado pelas incursões dos 'bárbaros'.

"Acima de tudo, a Pérsia sassânida, tradicional inimiga dos romanos no oriente, estava em paz com o Império por quase todo o século V..."
(página 137)

Naquele momento, havia uma relação mais estreita entre poder secular e espiritual no Oriente do que no Ocidente. A maioria dos chefes políticos no oriente era composta por civis e não por militares. esses chefes "governavam em nome de Arcádio e de seu igualmente inativo filho Teodósio II (408-450). Em 381 o Patriarcado foi estabelecido no Império Romano do Oriente e desde já buscava protagonismo nas políticas seculares do Império, de uma maneira que o Papa, no Ocidente, ainda não era capaz de fazer.

"A relação Igreja-Estado também permaneceria muito mais íntima no Oriente no futuro exceto, muito tempo depois, durante o período carolíngio."
(página 138)

Em 425 (século V), o Oriente era estável  e experimentava um situação econômica confortável, que iria permanecer até o início do século VII. 

O OCIDENTE ROMANO NO SÉCULO V:

A maioria das fronteiras ainda era guardada por tropas romanas. Havia grupos bárbaros assentados no interior do Império Romano do Ocidente, dissociados da hierarquia militar romana. Esses grupos eram constituídos pelos Visigodos, em Toulouse (atual França), remanescente da horda Vândala, no oeste da Espanha, os suevos no norte, etc. Todos esses grupos tinham sido derrotados pelos romanos e os visigodos estavam numa aliança federativa com os romanos (federação com Roma). A situação era instável nas províncias setentrionais (norte) do oeste, ao norte do Rio Loire. A fronteira mais ao norte da Gália foi cada vez mais povoada por francos, vindos da outra margem do Rio Reno. A Britânia (atual Grã-Bretanha), foi abandonada pelos romanos em 410.

ESPERANÇA ROMANA: BÁRBAROS TROCARIAM AS ESPADAS PELOS ARADOS. A CIDADE DE DEUS DE AGOSTINHO, ESCRITA EM REAÇÃO AO SAQUE DE ALARICO A ROMA, EM 410. 

A esperança expressada por alguns romanos (Orósio, ano 417, página 138) residia na ideia de que os bárbaros, com o tempo, abandonariam a espada e passariam a adotar o arado. Deixariam de lado a guerra e passariam a ser pacíficos agricultores. Os bárbaros ainda passariam a ver os romanos como amigos.

"Nesse mesmo período, entre 413 e 425, para ser exato, Agostinho escreveu sua monumental obra A Cidade de Deus, inicialmente como reação ao saque de Roma. Agostinho foi, de fato, cuidadoso em não atribuir demasiada importância ou longevidade ao grande experimento imperial romano, pois a cidade celestial é separada das formas políticas terrenas."
(página 138/139)

Agostinho acreditava que o mundo acabaria em breve. Mesmo assim, Chris Wickham esclarece que "não há indicações aqui de que qualquer pessoa esperasse ou temesse o fim do Império."
(página 139)

GERAÇÃO SEGUINTE: ANO 455 (SÉCULO V):

No Império Romano do Oriente a política ia bem, sem sobressaltos, exceto pelas incursões do Hunos nos Bálcãs. O Imperador do Oriente, Teodósio, realizou a compilação das leis orientais e ocidentais sob o Código Teodosiano no ano de 438. Sob seu governo, dois grandes concílios eclesiásticos foram realizados, em Éfeso (431) e na Calcedônia (451).
No Ocidente (Império Romano do Ocidente) a situação era diversa.

"O ocidente conheceu mais problemas."
(página 139)

Aécio, então governante do ocidente (magister militum ou magister militium - há duas grafia no livro) - 433/454, tinha seus interesses mais concentrados na Gália.

"A responsabilidade por deixar os Vândalos tomarem Cartago é essencialmente dele."
(página 139)

Aécio, de fato, preocupava-se mais em manter a Gália estável. Aécio tinha pacificado os Visigodos em 439. Ainda na Gália, outros grupos bárbaros também foram cooptados pelos romanos: alanos e os burgúndios, que foram assentados pelo próprio Aécio no vale do Baixo Loire e no Alto Ródano (anos 442/443).
A Itália, naquela altura, estava segura. A África tinha sido perdida para os Vândalos. A Espanha também tinha sido perdida para os Vândalos e depois para os Suevos.

DEFICIT NAS CONTAS DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE:

A tributação então existente já não conseguia arrecadar dinheiro para sustentar o exército romano. A solução seria aumentar os impostos.

"Por volta de 440, Salviano de Marselha escreveu um longo e inflamado sermão chamado "Sobre o Governo de Deus', que atribuía os fracassos do romanos contra os (obviamente inferiores) bárbaros aos seus próprios pecados: notadamente a injusta e excessiva taxação, o entretenimento público e a permissividade sexual."
(página 140)

"Esse é o tipo de coisa que os pregadores cristãos extremistas sempre disseram (e ainda dizem), e seus detalhes não podem ser levados muito a sério. Não podemos concluir, por exemplo, que as províncias ocidentais realmente estavam destruídas pela alta tributação, e seria melhor ver a obra de Salviano como uma prova da contínua eficácia do sistema fiscal. Porém, é sem dúvida verdade que a visão que Salviano tinha do Ocidente agora incluía os bárbaros como agente políticos estáveis, alternativas ao domínio romano... Salviano pensava que os romanos muitas vezes escolhiam ser governados por bárbaros a fim de escapar das injustiças do Estado romano. Isso provavelmente não era comum no anos 440, mas já era possível imaginar uma coisa dessas. No Oriente (Império Romano do Oriente), o historiador Prisco, ao discutir acerca dos hunos, nessa mesma época, escreveu algo parecido."
(página 140)

O Hunos, mencionados pelo historiador Prisco, na década de 420, tinham se assentado fora do Império Romano, no meio do que hoje é a Hungria, numa época na qual Átila ainda não tinha surgido (435-453)

INVASÃO DOS HUNOS:

Em 440, Ostrogodos e Gépidas se uniram aos Hunos. Com isso, os Hunos invadiram a Gália (451) e a Itália (452). Mas Aécio, com a ajuda dos Visigodos, os derrotou na Gália. Átila morreu em 453 e a disputa pelo seu legado  (entre seus filhos e e entre os povos subjugados) destruiu o poder huno (454/455)
Aécio, que tinha derrotado os Hunos no campo de batalha, foi assassinado por aquele que iria se tornar o próximo Imperador, Valentiniano III, que morreu um ano depois.

DÉCADA DE 450 (SÉCULO V):

"...ainda conheceu um certo nível de estabilidade no no Ocidente. Ele agora continha 6 governos bárbaros, com os quais qualquer chefe romano teria de lidar, embora ainda mantendo uma posição de força."
(página 141)

Com a morte de Valentiniano III, Ávito, um ex-general de Aécio e Senador em Auvérnia, no centro de Gália, assume o cargo de Imperador. E quem o persuadiu a tomar o poder foi um bárbaro, Teodorico II, rei dos Visigodos.

DÉCADA DE 460-470:

Ávito é derrotado pelo exército italiano de Majoriano e Ricímero. Com a queda de Ávito, Majoriano torna-se Imperador. Majoriano acaba sendo assassinador pelo seu Magister Militum, Ricímero. Ricímero governará até 472, por meio de Imperadores "praticamente todos fantoches" (página 142)

Em 468, Antêmio, um dos Imperadores Fantoches de Ricímero, ao lado do general oriental Basilisco (cunhado do Imperador Leão I do Império Romano do Oriente), empreendeu um ataque aos Vândalos no norte da África, que resultou em um fracasso total. Essa ação de Ricímero foi uma exceção, pois ele preferia concentrar suas forças na Itália e no sudeste da Gália. Buscava defender essas áreas, contando com a ajuda do Príncipe Burgúndio Gundobaldo (476-493).
O interesse de Ricímero apenas pela Itália e pelo sudeste da Gália "é um sinal claro que os horizontes imperiais estavam encolhendo." (página 142)

ODOACRO. NOS PRIMEIROS ANOS QUE SE SEGUIRAM À RUÍNA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE, A ITÁLIA FOI PRESERVADA DE INVASÕES:

Era o chefe na Itália. Não era mais visto como Imperador do Ocidente. Era um chefe militar. Era o chefe militar supremo da Itália. Odoacro tampouco quis nomear um Imperador para o Ocidente. O Senado disse que um Imperador seria o suficiente para aquele momento, razão pela qual fez chegar ao Imperador do Oriente, Zenão, o desejo para que ele assumisse a governação da parte ocidental.
Odoacro então "governou a Itália em nome de Zenão, como patrício (patricius). Mas mesmo assim, na Itália, Odoacro se autointitulava Rex, rei." (página 143)

"O ano de 476 é a data tradicional para o fim do Império do Ocidente, com a derrubada, na Itália, do último Imperador, Rômulo Augústulo, embora seja possível considerar o ano de 480, pois Julio Nepos, o predecessor de Rômulo, governou a Dalmácia até então. Mas a Itália é, na verdade, a região do Império Ocidental que viveu menos alterações nos anos 470, já que Odoacro governava ao modo de Ricímero à frente de um exército regular. A Itália não experimentou nenhuma invasão ou conquista até 489-493, com a chegada de Teodorico Amalo e seus Ostrogodos, porém Teodorico governou da maneira mais romana possível (489/526). O fim do Império foi experimentada de maneira mais direta na Gália."
(página 143)

FIM DO IMPÉRIO ROMANO NA GÁLIA:

"O fim do Império foi experimentada de maneira mais direta na Gália."
(página 143)

Na Gália houve o avanço dos Visigodos. Eles já ocupavam a região em torno da cidade de Toulouse (Reino de Tolosa). Mas eles queriam mais. Além da Gália, foram ainda para a Espanha. Em seu avanço pela Gália, cercaram a cidade de Clermont, na Auvérnia (471/475). Em Clermont vivia Sidônio Apolinário (bispo e senador romano), que vivenciou e relatou as mudanças políticas de sua época. Sidônio, vendo a Gália sendo abandonada pelo Império Ocidental, lamentava "...agora que os antigos graus de hierarquia oficiais foram varridos...o único símbolo de nobreza passará a ser o conhecimento das letras." (página 144)

"...a hierarquia oficial tinha desaparecido, apenas a cultura tradicional romana sobreviverá."
(página 144)

Ainda na Gália, Burgúndios e Visigodos no Vale do Ródano, na Provença. Ainda surgiriam os Ostrogodos.
No norte da Gália havia ainda exércitos que ainda defendiam a autoridade de Roma, sob a liderança de Egídio, um general bretão.
Ainda no norte da Gália, um novo personagem surgia: Clóvis de Tournai (481-511). Clóvis iria se tornar o líder dos Francos, no início de um processo que resultaria no domínio da Gália pelos Francos.
O norte da Gália, ao norte do rio Loire, era um terreno mais difícil para o enraizamento da cultura romana. Havia, por exemplo, poucas Villae, ricas residências rurais de aristocratas (elites civis) que cultivavam as tradições culturais romanas.
No sul da Gália, reis burgúndios e visigodos governavam suas áreas, valendo-se de civis romanos e até de generais romanos.

"Mas, em todos os lugares da Gália, as últimas duas décadas do século V foram definitivamente pós-imperiais, no sentido de que meia dúzia de governantes se enfrentou sem nenhuma mediação, nenhuma hegemonia distante  baseada em Roma/Ravena na qual se espelhar."
(página 145)

REGIÕES PÓS-ROMANAS ANO 500 d.C.:

- GÁLIA: Burgúndios, Visigodos e Francos
- ÁFRICA: Vândalos
- ITÁLIA
- NORICUM: Atual Áustria. Os bárbaros da área, os rúgios, não atravessaram o rio Danúbio, mas saqueavam e cobravam tributos dos indefesos romanos que viviam na margem oposta do Danúbio (anos 470). A vida em Noricum era miserável. Os bárbaros percorriam livremente os campos enquanto os romanos ficavam nas cidades e em fortificações. Não havia mais uma liderança política vinda de Roma. Essa terra de ninguém também poderia ser encontrada em áreas como a Gália do norte, na Britânia e em partes da Espanha.

"Mas a maior parte do ocidente estava, apesar de tudo, sob o controle de sistema de governo mais estáveis (e mais romanos), sejam eles gótico, burgúndio ou vândalo."
(página 146)

A unidade do Império Romano sobreviveu apenas no Oriente (Constantinopla).

IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE - CONSTANTINOPLA - FINAL DO SÉCULO V:

Godos forçavam as fronteiras do Império Romano do Oriente na região dos Bálcãs. Mas nada que alterasse a estabilidade do Império. Imperador Anastácio (419-518) estabeleceu um governo virtuoso, que tirou as finanças do Império do negativo.

SECULO VI:

No Oriente a estabilidade era mantida. No Ocidente havia mudanças, "mas ainda havia elementos de estabilidade." (página 147)

Na Itália, o 'bárbaro' Teodorico governava a Itália desde a cidade de Ravena, adotando uma tradicional administração romana. O 'bárbaro' Teodorico era respeitoso com o Senado Romano e com a cidade de Roma, visitando-a formalmente. Sob Teodorico, os sistemas fiscal e administrativo pouco tinham mudado.

"Os mesmos proprietários de terra tradicionais dominavam a política, ao lado de uma nova (mas parcialmente romanizada) elite militar goda ou ostrogoda."
(página 147)

Contemporâneos de Teodorico, havia o Reino Visigótico no sul da Gália e na Espanha, com centro em Toulouse, sob o governo de Alarico II (484/507).
Esses Godos (Visigodos) eram cristãos arianos (não católicos) e e figuras militares, "mas em outros aspectos, estavam adquirindo os valores romanos rapidamente." (página 147)

Vândalos, na África, e Burgúndios iam na mesma direção dos Visigodos.

"De certa forma, a Gothia realmente tinha substituído a Romania, mas o fizera, em grande parte, imitando os romanos."
(página 148)

ANO 500 - FRONTEIRAS APROXIMADAS:

REINO VISIGODO: Cidades de Toledo (centro da atual Espanha), Mérida (atual Espanha), Toulouse e Narbonne, Clermont, Arles, Tours - Rio Loire - (atual França).

DOMÍNIO OSTROGODO: Península Itálica : Roma, Ravena, Milão, Dalmácia (atual Croácia).

DOMÍNIO VÂNDALO: Norte da África, Cartago, atual Tunísia.

SUEVOS: Noroeste da Península Ibérica; cidade de Braga; atuais Espanha e Portugal.

BASCOS: norte da atual Espanha e parte sudoeste da atual França

BURGÚNDIOS: Lyon, atual França, Suíça.

REINO FRANCO: Paris, Tournai (atual França); Colônia (atual Alemanha).

BRETONS: Bretanha, atual França

ATUAIS GRÃ-BRETANHA E IRLANDA: Pictos (atual Escócia), Anglo-Saxões no leste British/Welsh no oeste (atual País de Gales). Na irlanda, os Irish.

VALE DO RIO ELBA: Norte - viviam os Saxões.

DANES: atual Dinamarca.

IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE - EAST ROMAN EMPIRE: Ficaria conhecido como Império Bizantino, com capital em Constantinopla. Possuía a Grécia, os Bálcãs, a atual Albânia, Palestina, Ásia Menor (atual Turquia), etc.

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000, CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP, IMPRENSA OFICIAL, GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, capítulo 3, Crise e Continuidade, 400-550.


segunda-feira, 11 de maio de 2020

Queda do Império Romano Nada Mudou Mas Tudo Mudou Primeiro autor a datar a ruína do Império Romano em 476 A queda do Império Romano do Ocidente poderia ter sido evitada



BÁRBAROS NO PODER IMITAVAM A GOVERNAÇÃO ROMANA:

No ano de 484, Hunerico, rei dos Vândalos, no Norte da África, onde antes havia uma Província Romana, agia como os romanos.
Ele era ariano e considerava as práticas católicas dos romanos como heresia. Para os arianos como Hunerico, Jesus Cristo foi somente um homem. Era apenas humano, sem dimensão divina, como acreditavam os cristãos católicos.
O que importa aqui é que Hunerico emulava o comportamento dos Imperadores Romanos, que desencadeavam processos de heresia contra qualquer um que viesse a desafiar o entendimento esposado pelo catolicismo.
No passado, sob o Império Romano, os católicos estavam na posição de acusadores, perseguidores. Os romanos católicos queriam impor o cristianismo católico para todosExemplo: disputa entre donatistas e católicos, em 411 (século V). Agora, sob o reinado de Hunerico, eram os católicos que estavam na posição de perseguidos e heréticos. Os vândalos queriam impor o arianismo para todos, perseguindo quem pensasse de forma diversa.

"Assim, é possível ver os vândalos como uma versão dos próprios romanos."
(página 133)

"Hunerico gostava de ser um Imperador romano no modo de perseguir..."
(página 132)

Como dissemos acima, Hunerico era o chefe/rei dos Vândalos. 

"O uso moderno de seu nome mostra a má reputação que eles já tinham..."
(página 132)

Os vândalos eram acusados de crueldade e opressão; chegada violenta à África em 429; estilo de vida luxurioso. Genserico (428/477), pai de Hunerico, levou os Vândalos da Espanha para a Numídia (província romana no norte da África). Conquistaram Cartago. Pilharam a Sicília, conquistaram a Sardenha e saquearam Roma em 455.
Apesar de perseguirem os cristãos católicos, "há evidências que mostram que os vândalos acreditavam ser muito romanos." (página 132)

"A administração vândala parece ter sido quase idêntica à administração romana da província da África e composta por africanos..."
(página 133)

"...a moeda era uma adaptação criativa de moedas romanas."
(página 133)

PERDER A ÁFRICA DO NORTE PARA OS VÂNDALOS OCASIONOU UM GRAVE PREJUÍZO PARA O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE:

Os Vândalos governavam a África como uma aristocracia militar fundiária, etnicamente distinta. As terras que pertenciam os romanos foram expropriadas.
A presença dos Vândalos no norte da África impactaram Roma de forma grave. A principal área exportadora de alimentos para o Império Romano do Ocidente caiu nas mãos dos 'bárbaros'. O corte desse fornecimento de alimentos ocasionou a diminuição da população romana. O comércio que havia entre Cartago e Roma caiu por terra. Roma passou a enfrentar uma crise fiscal, quando mais precisava de dinheiro para manter seu exército. 

"Não ter previsto que Genserico tomaria Cartago, apesar de um tratado afirmado em 435, é indiscutivelmente o principal erro estratégico do governo imperial no século V."
(página 134)

Cartago só voltaria a ser romana (Império Romano do Oriente - Império Bizantino) em 533/534.

SÉCULO V. NAS RUÍNAS DAQUILO QUE TINHA SIDO O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE. MUNDO PÓS-ROMANO:

Frase de Impacto sobre a Queda do Império Romano:
"nada mudou, mas tudo mudou." (páginas 134/135)

A queda do Império Romano do Ocidente foi algo que poderia ter sido evitado: "Os acontecimentos do século V não eram inevitáveis, e não foram percebidos como tal pelas pessoas que os vivenciaram.." (página 134/135)


Com a queda do Império Romano do Ocidente, nada mudou, mas tudo mudou
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"...repetidas vezes os exércitos 'bárbaros' ocuparam províncias romanas, as quais eles administravam de maneiras romanas; nada mudou, mas tudo mudou. No ano 400, os Impérios Romanos Ocidental e Oriental eram gêmeos, governados por irmãos (Honório e Arcádio, os dois filhos de Teodósio I, que governaram entre 395 e 423 e 395 e 408, respectivamente), com pouca diferença estrutural entre eles...Em 500, o Oriente quase não tinha sido afetado (na verdade, ele estava passando por um boom econômico), mas o Ocidente se encontraria dividido em meia dúzia de grandes seções."
(páginas 134/135)

Divisões daquilo que tinha sido o Império Romano do Ocidente:

⏩África Vândala
⏩Espanha Visigótica e Sudoeste da Gália
⏩Burgúndia (Sudeste da Gália)
⏩Norte Franco da Gália
⏩Itália Ostrogótica (incluindo a região dos Alpes)
⏩Outras regiões menores

"Os maiores sistemas políticos ocidentais eram todos regidos por uma tradição romana, embora fossem mais militarizados, suas estruturas fiscais estivessem mais fracas, tivessem menos relações inter-econômicas..."
(páginas 134/135)

"Uma grande mudança havia ocorrido sem que ninguém, em particular, a planejasse."
(páginas 134/135)

O primeiro autor a falar que o Império Romano do Ocidente havia ruído no ano de 476: Marcelino Comes, residente em Constantinopla, escrevendo no ano de 518:
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"Os acontecimentos do século V não eram inevitáveis, e não foram percebidos como tal pelas pessoas que os vivenciaram. Nesse período, ninguém via que o Império do Ocidente estava 'caindo'. O primeiro autor a especificamente datar seu fim (em 476) foi um cronista residente em Constantinopla, Marcelino Comes, que escreveu por volta de 518."
(páginas 134/135)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O LEGADO DE ROMA, ILUMINANDO A IDADE DAS TREVAS, 400-1000, CHRIS WICKHAM, EDITORA UNICAMP, IMPRENSA OFICIAL, GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, capítulo 3, Crise e Continuidade, 400-550.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Lebensraum Espaço Vital Timothy Snyder Ideia Judaico-Bolchevique



SEGURANÇA ALIMENTAR:

Hitler queria buscar uma reserva regular de alimentos. Essa reserva proporcionaria segurança e controle para o regime. Hitler sabia das consequências da fome causada pelo Bloqueio Marítimo Britânico. A fome causada pelo bloqueio naval britânico "forçara alemães da classe média a desrespeitar a lei para conseguir alimentos de que necessitavam ou que achavam que necessitavam, causando insegurança no âmbito pessoal e desconfiança em relação às autoridades." (página 27)


O IMPÉRIO BRITÂNICO CONTROLAVA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS:

Durante a Primeira Guerra Mundial, a Força Naval Britânica estrangulou o Império Alemão, impedindo o seu acesso a alimentos. Hitler não se esquecia disso. Para Hitler, o Livre Comércio propagandeado pelo Império Britânico era uma falácia, pois ele era usado como um disfarce, atrás do qual se escondia domínio britânico dos mares. Esse controle dos ingleses das rotas marítimas dava a eles o poder de controlar o abastecimento de alimentos no mundo todo. Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos violaram o Livre Comércio tão defendido por eles, estabelecendo um bloqueio que impedia que qualquer país vendesse alimentos para o Império Alemão.

"A capacidade de prover alimentos e de negá-los, enfatizava Hitler, era uma forma de poder. Hitler chamava essa falta de segurança alimentar para todos menos para os britânicos, de "guerra econômica pacífica'." 
(página 28)

Essa hegemonia britânica só seria quebrada se a Alemanha expandisse se território de forma a adquirir áreas que a tornasse autossuficiente na produção de alimentos.

"...na visão de Hitler, pela conquista de um império territorial que equilibrasse a balança entre Londres e Berlim."
(página 28)

Obtido esse equilíbrio, a Alemanha então poderia se igualar à Grã-Bretanha.
Nas décadas de 20 e 30, a Alemanha poderia alimentar sua população com alimentos extraídos de seu território somente , mas isso, na visão de Hitler, seria feito em detrimento de parte de sua indústria, de suas exportações e de suas reservas em moeda estrangeira.

EXPANSÃO TERRITORIAL ALEMÃ, EM BUSCA DE ÁREAS AGRICULTÁVEIS. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS:

A expansão territorial alemã deveria ser feita de modo a não despertar a oposição britânica.

"A ideia era se infiltrar em sua rede de poder sem força-los a reagir. Tomar terras de outros não ameaçaria o grande império marítimo (britânico), ou assim imaginava Hitler. No longo prazo, ele esperava fazer a paz com a Grã-Bretanha na base da divisão do mundo." 
(página 28)

Hitler via nos britânicos 'parentes raciais', que mereciam respeito pelo grande Império que tinham criado.
A expansão territorial sonhada por Hitler encontrava sua fonte inspiradora no exemplo dos Estados Unidos da América (EUA). Durante o século XIX, os EUA se expandiram para o oeste, passando por cima dos povos indígenas que habitavam essa área da América do Norte.

"Para gerações de alemães imperialistas e para o próprio Hitler, o império território exemplar eram os EUA."
(página 29)

"Os americanos ensinaram a Hitler que a necessidade se confunde com o desejo, e que o desejo nasce da comparação." 
(página 29)

O desejo alemão de obter um espaço vital, no qual sua segurança alimentar estaria assegurada, para nunca mais sofrer com as agruras da fome, como experimentado durante o Bloqueio Naval Britânico na Primeira Guerra Mundial, nascia com a comparação com o exemplo dos EUA, que obtiveram um enorme espaço territorial expandindo a Oeste

SONHO AMERICANO DE HITLER:

Num mundo no qual as informações corriam de forma mais rápida, um alemão poderia comparar a sua vida com a de um americano. E dessa comparação, nasceria o desejo de ter um padrão de vida semelhante ao do americano. E se esse desejo não se concretizasse, poderia nascer daí uma frustração e descontentamento com a ordem vigente.
Mas para alcançar um padrão de vida americano, era necessário ter acesso aos mesmos recursos que os americanos tinham. No caso da Alemanha, esses recursos viriam por meio de sua expansão para o Leste, conquistando o seu Lebensraum, o seu espaço vital. Os alemães, portanto, só alcançariam o padrão de vida americano se obtivessem êxito em sua expansão para o leste.

A VARIÁVEL ERA A QUANTIDADE DE TERRA:

"A presença inevitável dos Estados Unidos na mente germânica foi a razão definitiva pela qual para Hitler, a ciência não resolveria o problema do sustento. Mesmo que as inovações melhorassem a produtividade agrícola, a Alemanha não poderia se manter no ritmo dos americanos, valendo-se apenas delas. O progresso tecnológico certamente se daria nos dois lados; a variável era a quantidade de terra agricultável. Portanto, a Alemanha precisaria de tanta terra e de tanta tecnologia quanto os americanos. Hitler proclamava que a luta permanente pela Terra era um desejo natural, mas sabia que o desejo de aumentar o conforto relativo também era capaz de gerar um moto-perpétuo."
(página 30)

VISÃO SOMBRIA DE HITLER QUANTO AO FUTURO DA ALEMANHA:

A visão de Hitler quanto ao futuro da Alemanha era sombria. Para ele, o território alemão, mesmo que acrescido daquilo que tinha perdido com o Tratado de Versalhes, ainda assim seria insuficiente para dar aos alemães uma vida comparável aos dos americanos.

LEBENSRAUM - ESPAÇO VITAL:

Lebensraum, o espaço vital, não foi um termo criado por Hitler. Hitler se apropria dele para seus próprios fins. Para Hitler, o Lebensraum comportava a ideia subjetiva de se obter um alto padrão de vida para os alemães, conjugada com a luta racial incessante pela sobrevivência física. Esse Lebensraum de Hitler era justificado como uma luta natural. Era algo natural, extraído da própria natureza, fazendo parte do processo natural da vida, consubstanciado pelo desejo de uma vida melhor, confortável, ao lado de uma luta racial incessante pela sobrevivência física.

"O termo Lebensraum entrou para a língua alemã como equivalente da palavra francesa 'biotope', ou 'habitat'. Num conceito mais social que biológico, ela pode significar algo além: conforto doméstico, algo próximo a 'sala de estar'. A convergência desses dois significados numa única palavra ampliou a ideia circular de Hitler: a natureza não era nada além de sociedade, a sociedade não era nada além de natureza. Portanto, não havia diferença entre a luta dos animais pela existência física e a preferência das famílias por uma vida melhor. Tudo era sempre lebensraum."
(páginas 30/31)

Outras definições de Lebensraum. Mas todas elas apontam para uma mesma direção: luta racial pela sobrevivência física e busca de conforto material:

Robert Ley, um dos primeiros companheiros nazistas de Hitler:

"...lebensraum é mais cultura, mais beleza - coisas que a raça deve ter, ou perecerá."

Joseph Goebbels, marqueteiro de Hitler, definiu assim o propósito da guerra de extermínio:

"...como um bom desjejum, um bom almoço e um bom jantar"
(páginas 30/31)

"Dezenas de milhões de pessoas passariam fome, mas não para que os alemães pudessem sobreviver no sentido físico da palavra. Dezenas de milhões de pessoas passariam fome para que os alemães pudessem lutar por um padrão de vida sem igual."
(página 31)

ONDE ESTARIA O LEBENSRAUM ALEMÃO? NA ÁFRICA? NA EUROPA?:

Quando a Alemanha finalmente se uniu, em 1871, num Império sob o comando da Prússia, o processo de colonização já estava praticamente finalizados. A Alemanha chegou atrasada à festa. As melhores colônias já tinham sido repartidas entre França, Grã-Bretanha, Bélgica, Holanda, etc. E para piorar, quando perdeu a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha se viu sem suas poucas colônias africanas: o Sudoeste da África, Sudoeste Africano Alemão (Namíbia) e a África Oriental Alemã: Burundi, Ruanda, Tanzânia e parte de Moçambique. Enfim, a Alemanha tinha somente seu território europeu, e ainda sem os territórios que lhe foram tirados pelo Tratado de Versalhes.
Nesse cenário, onde então a Alemanha iria buscar seu espaço vital? O Lebensraum alemão seria buscado no Leste Europeu: Polônia, Países Bálticos, URSS. Mas obviamente havia um problema: esse leste sonhado pela Alemanha era habitado por russos, ucranianos, letões, lituanos, estonianos, judeus, poloneses, bielorrussos, etc. Para driblar esse problema, os nazistas iriam construir uma narrativa para justificar a tomada de terras que já estavam ocupadas por outros povos. E essa narrativa seria o Racismo.

RACISMO - JUSTIFICATIVA PARA COLONIZAR ÁREAS POVOADAS:

O Racismo seria a ideia que iria transformar áreas habitadas como a URSS, a Polônia, os países bálticos em áreas passíveis de serem colonizadas.

"E a ideia que transformava terras habitadas em colônias em potencial era o racismo; e a fonte de mitologias para os racistas nasceu da recente colonização da América do Norte e da África. A conquista desses continentes plasmou a imaginação literária dos europeus da geração de Hitler."
(página 31)

Hitler era um entusiasta das histórias literárias sobre o Velho Oeste americano. A luta do homem branco contra o índio malvado.
Na cabeça de Adolf Hitler, os povos do leste da Europa (poloneses, ucranianos, russos, etc) deveriam ter o mesmo destino que os índios tiveram nos EUA; ou ainda o mesmo destino que os povos asiáticos e africanos tiveram nas mãos dos colonizadores ingleses, holandeses, franceses, belgas, etc.

O RACISMO DE HITLER DIFERIA DO RACISMO DE OUTROS POVOS COLONIZADORES:

O racismo de Hitler era diverso daquele que justificava que ingleses e franceses, por exemplo, colonizassem áreas na África e na Ásia. O racismo de Hitler ia além, pois "Ele via o mundo todo como uma África e todos, inclusive os europeus, em termos raciais. Nisso, como ocorre com frequência, ele era mais coerente que outros. O racismo, afinal, era uma tentativa de julgar quem seria plenamente humano. Dessa forma, as ideias sobre superioridade e inferioridade derivadas da raça podiam ser aplicadas à vontade e segundo as conveniências. Mesmo sociedade vizinhas, que não pareciam muito diferentes da alemã, eram definidas racialmente diversas."
(página 32)

No livro Minha Luta, Hitler deixa claro que era na Europa que a Alemanha deveria procurar áreas para colonizar. A África estava fora de cogitação.

EXPERIÊNCIAS ALEMÃ NA COLONIZAÇÃO:

⏩ No continente africano:

A Alemanha teve colônias africanas:

(a) África Oriental Alemã: atuais Ruanda, Burundi, Tanzânia e parte de Moçambique
(b) Sudoeste Africano Alemão: atual Namíbia

Os alemães procuravam adotar em suas colônias africanas aquilo que eles viam os americanos, nos EUA, fazendo com seus índios. Alemães diziam que os nativos deviam abrir passagem. Miravam-se no exemplo dos EUA, na forma como estes tratavam seus indígenas (extermínio ou confinando-os em reservas).

⏩No continente europeu:

A Alemanha já tinha experiência em lidar com colônias no leste da Europa. Com as partilhas da Comunidade Polônia/Lituânia no século XVIII, uma parte desta coube à Prússia. Em 1871, com a Prússia liderando a unificação alemã sob a dinastia Hohenzollern, essa parte da Polônia foi anexada ao Império alemão. Os alemães já viam esses poloneses como sendo inferiores a eles. Uma parte da literatura alemã os tratava como 'pretos'. Bismarck tentou submetê-los, por meio da Kulturkampf, uma campanha contra a Igreja Católica, cujo principal alvo era pôr fim à identidade polonesa. Houve ainda campanhas de colonização subsidiadas pelo Estado.

OS ALEMÃES JÁ TINHAM SENTIDO O GOSTO DE TER UMA EXPANSÃO PARA O LESTE:

Com o Tratado de Brest-Litovsk, assinado entre a Alemanha e os bolcheviques, a Alemanha teve grandes ganhos territoriais no leste. Com esse tratado, as áreas de influência ou ocupação da Alemanha e das Potências centrais abrangiam os países bálticos, a Ucrânia, a Bielorrússia e a Polônia. Odessa, Kiev, Varsóvia, Riga, Vilnius, Tallinn/Reval, Minsk, Crimeia, etc, estavam ocupadas ou sob influência alemã e das Potências Centrais.
A Ucrânia iria fornecer alimentos para o esforço de guerra alemão (Paz do Pão, de 1918). Pelo menos esse era o desejo alemão, que não final não se concretizou, em razão da oposição exercida pelos camponeses ucranianos e pelos políticos ucranianos, que agora governavam a recém-criada República Nacional da Ucrânia, que ficava na zona de influência alemã.
Com o fim da guerra e a derrota para os Ingleses/Franceses/Americanos, a Alemanha e as Potências Centrais tiveram que devolver todos os territórios que tinham ganhado com o Tratado de Brest-Litovsk. Mas esse ganho territorial no Leste ficaria na memória dos alemães. E mais: os alemães não tinham sido derrotados no leste.

"Assim, os alemães puderam pensar que esse novo reino no leste europeu foi abandonado sem nunca ter sido perdido de fato."
(página 33)

OS PRETOS DE ADOLF HITLER SERIAM OS ESLAVOS:

O Lebensraum de Hitler não estava na África, estava no Leste Europeu: Polônia, Rússia, Ucrânia.

Adolf Hitler disse:
👇
"Nosso Mississippi deve ser o Volga (rio russo), não o Níger (rio africano)"
(página 36)

Traduzindo esse pensamento de Hitler:
A Alemanha deveria buscar seu Espaço Vital na Europa Oriental, não mais na África. 
O Rio Volga, na Rússia, seria o limite da expansão alemã no Leste. A referência ao rio Níger, localizado na África, era para dizer que a colonização realizada na África seria transplantada para o Leste Europeu. A referência ao rio Mississippi explica-se pelo fato dele dividir os EUA pelo meio, de norte a sul. Para Thomas Jefferson, um dos pais fundadores do EUA e ex-presidente, os índios americanos teriam que ser expulsos para além do rio Mississippi. Hitler queria fazer o mesmo, mas com os eslavos (eslavos), que seriam expulsos para além do Rio Volga, abrindo espaço para a colonização alemã.
Hitler ainda dizia, sobre os índios americanos:

" 'Quem', pergunta Hitler, 'se lembra dos peles vermelhas?' "
(página 37)

Se os índios americanos peles vermelhas tinham sido esquecidos, os ucranianos, poloneses, russos também poderiam, no futuro, serem esquecidos. 

ÁFRICA, COMO LUGAR, TERIA QUE SER ESQUECIDA. MAS A ÁFRICA, COMO MODO DE PENSAR, SERIA TRANSPLANTADA PARA O LESTE EUROPEU.
👇
A Alemanha não iria colonizar mais a África, mas iria transplantar o racismo, que fundamentou a colonização africana, para o Leste Europeu. Os eslavos do Leste Europeu seriam os novos 'pretos'. 

"...(Hitler) apresentou como inferiores raciais os integrantes do maior grupo cultural da Europa, seus vizinhos do leste, os eslavos."
(página 34)

UCRANIANOS/RUSSOS/POLONESES/BIELORRUSSOS - OS NOVOS 'PRETOS' DE HITLER:

" 'Preciso da Ucrânia', afirmava Hitler, 'para que ninguém mais seja capaz de nos fazer passar fome como na última guerra' "
(página 34)

Hitler ainda dizia:

"Tratava-se de uma questão de justiça natural: É inconcebível que um povo superior (o alemão) deva existir em penúria num solo estreito demais para ele, enquanto massas amorfas que em nada contribuem para a civilização (ucranianos, russos, poloneses, bielorrussos) ocupam infinitas porções de solo que é dos mais ricos do mundo."
(página 35)

Enfim, os eslavos do leste europeu, russos, ucranianos, poloneses, bielorrussos, eram os novos 'pretos' ou 'índios' de Hitler

AO COLONIZAR O LESTE EUROPEU, HITLER IRIA SE DEPARAR COM UM PROBLEMA QUE OS COLONIZADORES NA ÁFRICA NÃO ENCONTRARAM:
Estados que se equivaliam aos da Alemanha, da Grã-Bretanha
   Mas Hitler tinha uma explicação para isso: Esses Estados eram uma farsa, pois os eslavos, inferiores como eram, não podiam governar a si mesmo, de forma que seus Estados eram uma farsa, cuja governação se dava por elementos de fora, os judeus.

O Colonialismo na Europa oriental iria exigir um esforço redobrado por parte dos alemães, pois ao contrário do que aconteceu na África, os alemães iriam se deparar "com entidades políticos muito semelhantes ao Estado alemão. A preocupação de Hitler com a luta racial pela natureza encobria tanto as nações como seus governos. Sempre era legítimo destruir Estados; se fossem destruídos, é porque tinham de sê-lo."
(página 35)

De toda forma, Hitler se negava a ver nos Estados do Leste Europeu entidades que pudessem ser comparadas com a Alemanha, com a Grã-Bretanha.

Para Hitler:

"As raças inferiores em incapazes de construir um Estado."
(página 35)

Índios (Peles Vermelhas, Sioux, Dakota, etc) nos EUA não criaram Estados; tribos africanos não criaram Estados como o da Alemanha. Os eslavos, que eram igualmente inferiores, também não poderiam criar Estados como os da Alemanha, dos EUA, etc.

Dessa forma, pensava Hitler:

"...o que passava por governo era ilusório - uma fachada para o poderio judaico."
(página 35)

"Hitler afirmava que os eslavos nunca governaram a si mesmos. As terras a leste da Alemanha sempre tinham sido governadas por 'elementos de fora'."
(página 35)

Hitler pensava:

"O Império Russo fora criação de uma 'classe superior de uma intelligentsia essencialmente alemã'. Sem essa tradição alemã, 'os russos ainda estariam vivendo como coelhos'."
(página 35)

Para Hitler, a URSS era uma ficção judaica, uma expressão da visão do mundo judaica, que contrariava a ordem natural das coisas. "A ideia do comunismo era simplesmente um embuste que fazia com que os eslavos aceitassem sua nova liderança judaica." (página 35)

Resumindo a narrativa Nazista: os povos do Leste Europeu eram como os pretos da África ou os Índios dos EUA. Eram racialmente inferiores, de forma que não podiam se organizar, não podiam se governar, não podiam criar um Estado para si. Assim, os Estados que existiam no Leste Europeu, como a URSS, eram ficções (gigantes de pé de barro; castelo de cartas), eram uma farsa, pois quem os governava de verdade eram elementos de fora, os judeus.
Destruídos os judeus, os Estados do Leste, vistos por Hitler como "uma frágil colônia judaica" (página 36), seriam facilmente conquistados, pois sobrariam apenas os 'índios' ou 'pretos' (eslavos), que seriam facilmente subjugados, dando acesso ao seu imenso território. A Alemanha então criaria uma nova América (EUA) no leste europeu.

"Derrubando os judeus, que eram os verdadeiros governantes da URSS, sobrariam apenas os eslavos, que seriam enxotados da mesma forma que os índios da América do Norte foram enxotados. Na ecologia de Hitler, o planeta tinha sido espoliado pela presença dos judeus que desafiavam as leis da natureza introduzindo suas ideias corrompedoras."
(página 43)

COMUNISMO:

"O Comunismo era o exemplo mais imediato da afirmação Hitlerista de que todas as ideias universais eram judaicas e todos os judeus estavam a serviço das ideias universais. A proclamada identidade dos judeus com o comunismo - o Mito Judaico-Bolchevista - era para Hitler a prova definitiva da força e da fraqueza dos judeus."
(página 36)

As ideias universais judaica que contrariavam a natureza, como o comunismo, poderiam se tornar destrutivas, caso as massas as adotassem.

MITO JUDAICO-BOLCHEVISTA:

Segundo esse mito, todo judeu era comunista e todo comunista era judeu. 
O Mito Judaico-Bolchevista não foi criado por Hitler.
"A ideia judaico-bolchevista tem uma origem histórica específica: uma extensão do antissemitismo da Rússia oficial, uma adaptação das visões cristãs apocalípticas aos tempos de crise, uma explicação para o colapso da velha ordem (Império Russo), um grito de guerra durante uma guerra civil (Guerra Civil Russa) e uma forma de consolo depois da derrota (tomada bolchevique do poder na Rússia)"
(página 43/44)

A ideia judaico-bolchevique surgiu no decorrer da Primeira Guerra Mundial. A primeira contribuição - involuntária - veio da Alemanha. Como é sabido, a Alemanha iria lutar em duas frentes: frente oeste contra a França/Grã-Bretanha/EUA e frente leste contra o Império Russo. Para vencer a guerra, a Alemanha teria que romper esse cerco. Para tanto, ela teria que se livrar de um dessas frentes (front) de forma rápida, de forma a poder cuidar na sequência de um só inimigo. A Alemanha tentou fazer isso com a França, achando que iria vencer a guerra no oeste de forma rápida, para depois cuidar do Império Russo. Mas a Alemanha ficou atolada nas trincheiras. A França não foi derrotada. Com seu plano fracassado no oeste, a Alemanha se virou para o leste, trabalhando para levar a Revolução para a Rússia. Alemanha transportou o revolucionário russo Lênin da Suíça para a Rússia. Em novembro de 1917, com a sua promessa de Paz e Pão, Lênin tirou a Russia da Primeira Guerra Mundial. De início, isso pareceu uma grande vitória para a Alemanha. O futuro mostraria que não.
Voltando no tempo, a Rússia, de antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, era habitada por um grande número de judeus. Havia mais judeus vivendo no Império Russo do que em qualquer outra parte do mundo. Mas isso não significava que os russos fossem tolerantes, muito pelo contrário. O antissemitismo era a regra no Império Russo. Os judeus eram vítimas de preconceito oficial e de pogroms. Os judeus viviam ali por falta de opção. O judeu que via uma chance de emigrar, o fazia. Esses judeus russos viviam na parte ocidental do Império, justamente na área na qual seriam travados os combates durante a Primeira Guerra Mundial. E quando as tropas russas entraram no Império Habsburgo, se depararam com judeus proprietários de terras, que foram prontamente expropriadas.
Quando os Russos começaram a perder a guerra, começaram a sofrer reveses no enfrentamento dos Alemães e do Império Habsburgo, culparam os judeus por sabotagem. Em épocas de crise, as minorias sempre sofrem.

"Naquele mês (janeiro de 1915), o exército imperial russo expulsou centenas de milhares de judeus de quarenta cidades próximas de Varsóvia. Poloneses locais tomaram as propriedades dos judeus e ficaram com elas."
(página 40)

Conforme o exército alemão avançava para o leste, mais o Império Russo jogava a culpa nos judeus. Russos culpavam uma certa 'oligarquia judaica internacional' pelas derrotas russas no campo de batalha. 500 mil judeus foram expulsos de suas casas, sendo deportados sob a acusação serem potenciais colaboradores dos invasores alemães.
Quando veio a Revolução de 1917, num primeiro momento, em fevereiro de 1917, os judeus "foram formalmente emancipados e tornaram-se cidadãos." (página 40)

Em novembro de 1917, com a tomada de poder pelos Bolcheviques, grande parte dos judeus se uniu ao movimento liderado por Lênin.

"A partir de novembro de 1917, os judeus de repente passaram a ser membros de pleno direito de um novo Estado revolucionário, e não mais uma minoria religiosa reprimida num império."
(página 40)

Mas nem tudo eram flores para os judeus na Russa revolucionária. O preconceito contra os judeus era muito arraigado entre o povo russo. Judeus que tentavam retomar seus bens expropriados pelo Império Russo não conseguiam fazê-lo, pois os novos ocupantes desses bens não devolviam o que tinham ganho ou tomado. De toda forma, a ideologia internacionalista do movimento revolucionário fazia esforço para deter o antissemitismo russo.
Em meio à guerra civil que se seguiu à tomada de poder pelos Bolcheviques, os contrarrevolucionários (exército branco) passaram a usar o antissemitismo russo como bandeira contra os bolcheviques. Foi aqui que o mito Judaico-Bolchevique foi criado, num processo de amálgama entre o natural antissemitismo do povo russo com a ideia de que os ateus comunistas/bolcheviques eram a representação do Satã Moderno.
A ideia Judaico-Bolchevique chegou à Alemanha, a Hitler, por meio de Erwin Scheubner Richter e Alfred Rosenberg. Scheubner Richter e Alfred Rosenberg tinham morado na região do Báltico, durante o domínio do Império Russo. Com a queda do Império Russo, eles emigraram para a Alemanha.

"O mito judaico-bolchevique era a peça que faltava para completar o esquema de Hitler, unindo o regional ao planetário, aliando a promessa de uma guerra colonial vitoriosa contra os eslavos a uma gloriosa guerra anticolonial contra os judeus."
(página 44)
observação: dizia-se 'guerra anticolonial contra os judeus' porque na cabeça dos nazistas os governos do leste europeu, como por exemplo, a URSS, estariam nas mãos dos judeus. Esse pensamento nascia do preconceito em relação ao povo eslavo que, por ser considerado racialmente inferior, não teria capacidade para governar a si mesmo. Esse pensamento ainda nascia da ideia da existência de um poder judeu, que se fazia presente por meio do poder financeiro espoliador, das ideias universais/corrompedoras (comunismo) criadas por ele.

"Algumas ideias (dos defensores do mito judaico-bolchevique) foram tirados do livro 'Os Protocolos dos Sábios do Sião'. Aparentemente, a suposta existência de uma potência global judaica explicava a dupla catástrofe da revolução (comunista) e da derrota militar (derrota do Império Russo na Primeira Guerra Mundial)
(página 41)

Dessa forma, tentou-se passar a ideia de que a derrota do Império Russo, a queda da Dinastia Romanov, que governava a Rússia desde o início do século XVII, e a subsequente Revolução Comunista eram obras de um grupo identificável que deveria ser punido. Esse grupo eram os judeus.

Resumo do Capítulo:

Busca da Segurança Alimentar, de um maior conforto para as famílias alemãs e da luta racial incessante pela sobrevivência física ⏩ Lebensraum Espaço Vital Busca por Extensas Áreas Agricultáveis no Leste Europeu ⏩Leste Europeu habitado por eslavos, considerados pelos nazistas como racialmente inferiores. Os eslavos, para os nazistas, era como 'pretos' africanos e 'índios' americanos ⏩Estados Eslavos (URSS) eram uma farsa, pois povos inferiores não podiam governar a si mesmos, de forma que eram governados por elementos de fora, os judeus ⏩Ideia Judaico Bolchevique A visão do judaísmo como um poder criador de ideias universais, como o comunismo, e força colonizadora de áreas no leste europeu⏩Para conquistar a URSS, bastaria derrotar os judeus, que o Estado comunista cairia como um castelo de cartas. O Leste europeu seria a construção de um novo 'oeste americano' na Europa


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "TERRA NEGRA, O HOLOCAUSTO COMO HISTÓRIA E ADVERTÊNCIA, TIMOTHY SNYDER, EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS, capítulo 1, Espaço Vital, páginas 27/45

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Egito A África e o Mundo Antigo



A ÁFRICA E O MUNDO ANTIGO
Terra dos Faraós:

Rei Narmer: União do Baixo e do Alto Egito

1º Dinastia Narmer
Eixo Norte Sul. Partindo-se da costa sul do Mar Mediterrâneo, no Delta do Rio Nilo. Na sequência, há o Baixo Egito (local de origem de cidades como Cairo, Mênfis, Saqqara, Gizé, Heliópolis, Heracleópolis, etc). Seguindo a sul, temos o Alto Egito (Tebas). Na sequência, descendo mais para o sul, a 1º Catarata do Rio Nilo (Elefantina/Assuã). Nessa área, havia uma fortaleza para proteger a fronteira sul dessa Primeira Dinastia Narmer, que uniu o Baixo e o Alto Egito.
Fronteira sul do Reino da Dinastia Narmer: 
Seguindo para o sul, temos a Baixa Núbia. Mais para o sul, temos a Alta Núbia, onde se localiza a 3º Catarata do Rio Nilo. Seguindo para o sul, encontramos a 5º catarata do Nilo, onde este recebe as águas do Rio Atbara, vindo de leste. Na sequência, o Rio Nilo continua se caminho  dito indo a oeste, em direção a Cartum, passando antes por Menroe e pela 6º Catarata. Finalmente, o Rio Nilo encontra seus dois rios formadores, o Nilo Azul e o Nilo Branco. 

ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO:

Havia toda uma burocracia direcionada para a governação. Governadores provinciais, funcionários para coletar impostos. Camponeses davam uma parte de sua produção para o Faraó ou tinham que trabalhar em projetos reais. Havia oficinas reais cujas vendas geravam receitas para o Estado.

FARAÓ:

O Faraó era o Deus vivo, visto como a manifestação do divino, encarnação terrena de Hórus, a divindade suprema. Era o símbolo de estabilidade e prosperidade. A soberania divina estava arraigada na mente dos egípcios. Grande parte da riqueza dos Faraós foi direcionada para a construção de túmulos grandiosos para garantir uma boa vida após a morte.

TERCEIRA DINASTIA:

A terceira dinastia deu origem à era das Pirâmides. A busca pela vida eterna era uma preocupação constante.

QUARTA DINASTIA:

Rei Queóps queria uma Pirâmide que superasse a de seus antecessores. Seria o local de seu sepultamento. Estamos falando de 4.500 a.C. .
Quéfren, filho de Queóps, construiu para si uma pirâmide e uma enorme estátua que hoje é conhecida como a Esfinge. A construção desses monumentos acarretava uma sangria nos recursos do Estado.

DEUSES EGÍPCIOS:

Hórus, Rá, o Deus Sol. Com o passar do tempo, o culto a Rá tornous-e o mais importante. Outro Deus importante para os egípcios era Osíris, o rei da Terra dos Mortos - o submundo.

SEXTA DINASTIA:

Após a sexta dinastia, o Egito enfraqueceu. O poder central cedeu terreno para os poderes locais, que se engalfinhavam numa guerra civil (Antigo Império).

MÉDIO IMPÉRIO:

Século XXI: O Poder Egípcio volta a ser centralizado. A situação econômica melhora. Uso da irrigação permitiu o uso de mais terras para a produção. Expedições comerciais para o Levante e ao Punt (terra africana no extremo sul do Mar Vermelho. O Médio Império duraria 400 anos. O fundador do Médio Império era o vencedor da Guerra Civil. Era proveniente de Tebas, no Alto Egito. Seu nome era Mentuhotep II. Tebas tornou-se a nova capital.

A ALMA PARA OS EGÍPCIOS:

A ideia de alma para os egípcios, antes atribuída apenas ao rei (apenas o rei tinha alma), passou a ser entendida como extensiva às pessoas comuns - Ba - força espiritual que trazia as características únicas de um indivíduo e que sobrevivia à morte.

CULTO AOS DEUSES:

Antes restrito aos faraós, o culto aos deuses passou a ser realizado pelas pessoas comuns. Osíris tornou-se o Deus Universal que representava a luta do bem contra o mal e que prometia vida após a morte.

EXPANSÃO DO EGITO:

No Século XX a.C,. na Décima Segunda Dinastia, o Egito expandiu-se para o sul, para a Baixa Núbia.

HICSOS - SECULO XVII a.C.:

Povo originário do Levante. Invade o Baixo Egito e captura Mênfis. Um Egito residual sobrevive em Tebas. Os Hicsos tinham pontas de lança, flechas e machados forjados a Bronze.

NOVO IMPÉRIO:

Guerra de Libertação contra o domínio estrangeiro (hicsos). Décima oitava dinastia, sob Amósis I, expulsa os Hicsos e reconquista a Baixa Núbia. O Egito tornou-se um Império, abrangendo terras no Eufrates, na Síria, e o Alto Nilo, na Núbia.
O Egito agora contava com um exército profissional, com tecnologia copiada dos Hicsos.

EGITO AVANÇA PARA A ALTA NÚBIA:

1492 a.C. : Egito avança para a Alta Núbia, para o Reino de Kush, que torna-se uma colônia egípcia. Essa colônia enviava escravos, ouro, marfim e gado para o Egito.
1458 a.C. : Egípcios dominam Canaã e Síria. Havia ainda empreitadas comerciais com os africanos no Punt. Egípcios ainda frequentavam o Mar Vermelho, de onde rotas comercias eram exploradas, em busca de peles, marfim, incenso, etc.

UNIÃO DE DOIS DEUSES:

Em Tebas, dois deuses se fundem: Amon + Rá = Amon-Rá.

SOCIEDADE EGÍPCIA:

A Elite era formada pelos oficiais do exército, funcionários do Estado, sacerdotes e prefeitos. Não importava a posição ou status: TODOS OS EGÍPCIOS SE PREOCUPAVAM COM A VIDA APÓS A MORTE. Havia no Egito um Livro dos Mortos ou Livro para Sair à Luz do Dia. Era um Manual que explicava ao recém-falecido o caminho para se atravessar o DUAT (submundo), entrando na vida após a morte.
Acreditava-se que ao morrer o espírito da pessoa abandonava o corpo do defunto e começava uma jornada em busca da vida após a morte. Essa jornada incluía vários obstáculos que o Livro dos Mortos buscava ensinar a maneira correta de transpô-los. Ao final dessa jornada, havia um julgamento para ver se aquela alma seria aceita na vida após a morte ou não.

FARAÓ AKHENATON:

Esse Faraó, em busca do poder total, tentou emplacar o monoteísmo no Egito. O único Deus seria Aton (divindade solar) e Akhenaton seria seu filho. Depois de sua morte, seus sucessores buscaram desfazer o seu trabalho, retornando ao politeísmo.

INÍCIO DO SÉCULO XIII a.C.:

O Egito era um Império; os Faraós eram vistos como reis divinos de quem o bem estar da população dependia.

RAMSÉS II:

Governou por 67 anos - 1279-1213 a.C. Construiu uma nova capital dinástica. Depois de Ramsés II, a economia começou a vacilar, sob o peso das grandes obras (palácios, santuários, templos, etc) e do custo da manutenção do exército. Um período de baixas cheias do Nilo piorou a situação. No Levante, o Império Egípcio começou a colapsar.

"O reinado de Ramsés II marcou um pico na história do Egito. Nunca mais os faraós alcançaram tal prestígio e autoridade. Seus sucessores foram assolados por conspirações palacianas e rivalidades destrutivas. A economia, sobrecarregada por despesas militares e pelo custo dos grandes projetos, começou a vacilar. Um período de baixas cheias do Nilo piorou a situação. As fronteiras do Egito eram ameaçadas por incursões vindas da Líbia e por ataques de exércitos saqueadores dos Povos do Mar chegando pelo Mediterrâneo oriental."
(página 36)

O império egípcio no Levante entrou em colapso.

"Tebas foi atingida por um surto de greves, distúrbios civis e roubos de tumbas."
(página 36)

GUERRA CIVIL - 1069 a.C.:

Egito dividido novamente por uma guerra civil. O Novo Império chegou ao fim.

"Quando Ramsés XI morreu, em 1069 a.C., o Novo Império chegou ao fim em meio ao caos e à desordem, com o Egito dividido em dois e vulnerável à invasão de predadores estrangeiros."
(página 37)

DECADÊNCIA DOS TIRANOS E DE SEUS IMPÉRIOS:

Toda glória é passageira. Os Faraós experimentaram o apogeu do poder. No fim, tudo caiu por terra. O que sobrou disso tudo foram estátuas desses Faraós imersas na areia:

Encontrei um viajante de uma terra antiga
Que disse:
'Duas pernas de pedra imensas e sem corpo
Jazem no deserto. Perto delas, na areia
Reside, metade afundado, um rosto partido, cujo cenho
lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor compreendeu bem aquelas paixões
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes
A mão que delas zombou e o coração que as alimentava
E no pedestal aparecem estas palavras':
'Meu nome é Ozimândias, rei dos reis
Olhem minhas obras, ó poderosos e desesperem-se!'
Nada mais resta
Em torno da decadência
Da ruína colossal, nuas e sem limite
As areias solitárias e planas se estendem ao infinito.
(Poeta inglês Percy Bysshe Shelley, 1817)
(página 37)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O DESTINO DA ÁFRICA, CINCO MIL ANOS DE RIQUEZAS, GANÂNCIA E DESAFIOS", MARTIN MEREDITH, EDITORA ZAHAR, páginas 23/37

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Rota para o Céu Cruzadas Cidades Estados italianas Comércio e Religião Saladino Chifres de Hattin 1187



ROTA PARA O CÉU:
↪ Conquista de Jerusalém:

Como resultado da Primeira Cruzada, Jerusalém caiu nas mãos dos cruzados cristãos, em 15 de julho de 1099. Essa conquista foi feita com grande derramamento de sangue. Os cristãos não foram misericordiosos.

"Nem as mulheres ou as crianças foram poupadas"
(página 161)

A conquista de Jerusalém inundou a Europa ocidental de otimismo e autoconfiança. Poderia a Europa ocidental vir a dominar o mundo? O Oriente próximo, agora com cidades governadas pelos cristãos, como Antioquia, Jerusalém, Tiro, Trípoli, seria o trampolim de uma expansão europeia ainda maior? Mas os sonhos europeus de dominar o mundo não se concretizaram. O que houve foi um esforço apenas para manter o que foi conquistado. O trabalho dos cruzados foi facilitado pelo fato do mundo muçulmano estar dividido entre Fatímidas (Cairo) e Abássidas (Bagdá). Ambos, Fatímidas e Abássidas, ficaram inertes. Naquele momento, era menos ruim ver cristãos dominando Jerusalém do que ver muçulmanos rivais mandando ali.

CONSTANTINOPLA TRAÍDA PELOS CRUZADOS CRISTÃOS:

Ao passarem por Constantinopla, a caminho da Terra Santa, os Cruzados prometeram que as cidades reconquistadas aos muçulmanos seriam entregues ao Império Bizantino. Mas no decorrer da expedição, os cruzados mudaram de ideia. Boemundo, um normando e um dos heróis da primeira cruzada, não queria devolver a cidade de Antioquia (atual Turquia) para o Imperador Bizantino Aleixo I. Antioquia, originalmente, pertencia à Constantinopla, tendo sido conquistada pelos islâmicos. Mas ninguém convenceria Boemundo do contrário. Boemundo ficou com Antioquia.

"Juramos sobre a cruz do Senhor, sobre a coroa de espinhos e muitas outras relíquias sagradas de que não ficaríamos sem o consentimento do Imperador com nenhuma cidade ou castelo de seus domínios." - Juramento de Raimundo de Toulouse, um dos nobres líderes da Primeira Cruzada.
(página 164)

Boemundo ficou com os domínios do Imperador bizantino pois via neles uma plataforma, a partir da qual poderia alçar voos mais altos, conquistando mais riquezas no leste asiático. O comportamento de Boemundo mostra que as Cruzadas eram um caldeirão no qual eram colocados sentimentos religiosos, desejos por riqueza e poder político.

"A Cruzada talvez seja mais lembrada como uma guerra de religião, mas foi também um trampolim para a aquisição de grande riqueza e poder."
(página 164)

NOBRES EUROPEUS QUE NÃO SE ENTUSIASMAVAM COM AS CRUZADAS:

Havia nobres europeus que não se entusiasmavam com as cruzadas. Um deles era Rogério da Sicília que, ao ouvir sobre as cruzadas, levantou sua perna e soltou um peido, demonstrando seu desprezo pela empreitada. Rogério temia que as Cruzadas causassem um declínio do comércio.

DOMÍNIO DO MEDITERRÂNEO - MUÇULMANOS E CIDADES-ESTADOS ITALIANAS:

Nos séculos X e XI, o Mar Mediterrâneo era dominado pelos muçulmanos. Com as Cruzadas, os muçulmanos ganharam rivais cristãos vindos das Cidades-Estados italianas de Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi. Veneza já se aventurava pelo comércio antes de 1090, com pontos de apoio na Dalmácia (atual Croácia), fazendo seu comércio de escravos e outras commodities. Ao contrário do nobre Rogério da Sicília, as Cidades-Estados da Itália viam nas Cruzadas uma oportunidade para ganhar dinheiro. Essas Cidades-Estados italianas eram motivadas por religião e cobiça. Em troca de ajudar os Cruzados, ganhavam vantagens materiais. Venezianos ajudaram na conquista da cidade de Acre (1100), enquanto Gênova ajudou os Cruzados no cerco a Cesareia (1101). Em 1104, Balduíno, Rei de Jerusalém, premiou Gênova com isenções de impostos, receitas, etc. Em troca disso, os genoveses tinham que dar suporte militar nas campanhas realizadas pelos cruzados.
As Cidades-Estados italianas disputavam entre si a posição de maior poder. Em 1099, frotas venezianas afundaram vinte e oito navios de Pisa.


FUSÃO DO ESPIRITUAL COM O MATERIAL:

Os séculos das cruzadas (séculos XI-XII-XIII) foram marcados por uma profunda religiosidade.

"Mas a religião tinha que abrir caminho pela real politik e pelas preocupações financeiras."
(página 169)

Exemplo de união entre o Material e o Espiritual: Quando Edessa (atual Turquia) foi tomada pelos muçulmanos em 1144, a Europa buscou recrutar cristãos para retomar a cidade. Além da promessa do perdão dos pecados e da salvação eterna, foi oferecida a oportunidade de negócios comerciais.

"Para aqueles entre vocês que são mercadores, homens rápidos para achar uma barganha, permitam´me enfatizar as vantagens dessa grande oportunidade. Não deixem de aproveitá-la." (Bernardo de Clairvaux - Carta aberta para recrutar Cruzados)
(página 169)

Apesar do discurso religioso, as Cruzadas tinham um objetivo comercial bem acentuado. Subjacente ao apelo religioso, havia interesses materiais, no sentido de conectar a Europa Ocidental ao mercado asiático. Na Quarta Cruzada, aquela que redundaria na conquista de Constantinopla, o primeiro alvo a ser atingido era o Egito, que era famoso por sua riqueza. Jerusalém só viria depois. E não foi a primeira vez que tentaram deixar Jerusalém em segundo plano. Nas Cruzadas de 1189/1192, que foi um fiasco, um de seus líderes, Ricardo I da Inglaterra (Coração de Leão), em dado momento da campanha, quis desviá-la de seu destino original, Jerusalém, para o rico e milionário Egito. E nessa mesma Cruzada, a atenção dos cavaleiros voltou-se para a cidade de Saint Jean d' Acre (Acre), "principal empório do Levante, sem qualquer valor do ponto de vista bíblico ou religioso." (página 179)

SÉCULO XII NA ITÁLIA:

A Itália experimentava um período de prosperidade, tudo causado pelo comércio desempenhado pelas Cidades-Estados de Gênova, Pisa e Veneza. Mercados se expandiam, classes médias se formavam. Valiam-se das posições privilegiadas conquistadas nos Estados Cruzados (na Terra Santa) e em Constantinopla.
O comércio com o leste fez a Europa prosperar no século XII. Havia comércio com os muçulmanos, no interior mesmo dos Estados Cruzados, na Terra Santa. 

"A demanda por seda, algodão, linho e tecidos produzidos no Mediterrâneo oriental, no meio da Ásia ou na China, era enorme..."
(página 172)

"As especiárias também começaram a fluir do Oriente para a Europa em volumes cada vez maiores."
(página 173)

CERTO GRAU DE ESTABILIDADE ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS:

A prosperidade comercial era possível graças à existência de um certo grau de estabilidade que existiam entre muçulmanos e cristãos, apesar das Cruzadas. O que política e religião desuniam, o comércio unia.

"É impressionante ver, escreveu Ibn J., que o fogo da discórdia arde entre cristãos e muçulmanos quando se trata de política e luta, mas, quando se trata de comércio, os viajantes podem ir e vir sem interferências." (Ibn J., visitante muçulmano da Espanha)
(página 176)

"Mercadores podiam contar com segurança onde quer que fossem, não importava sua fé ou se eram tempos de guerra ou de paz."
(página 176)

Mas essa prosperidade acabou causando uma disputa ainda mais acirrada entre as Cidades-Estado italianas pelo controle do comércio no Mediterrâneo, no final do século XII. Essas cidades brigavam entre si e contra Constantinopla. Era a cobiça pela riqueza que falava mais alto, causando uma divisão entre os cristãos, que seria utilizada por Saladino, em sua campanha para a reconquista da Terra Santa para os muçulmanos.

SALADINO E A DIVISÃO ENTRE OS CRISTÃOS:

Saladino, líder dos muçulmanos, se aproveitou da disputa dos cristãos pelo comércio. Ele soube explorar essa divisão entre os cristãos. Ele ainda procurou criar mais animosidade entre Constantinopla e o ocidente. Era dividir para conquistar. Ao final da década de 1180, o Imperador Bizantino Isaac II trocou cartas com Saladino, então Sultão no Egito. O sentimento antiocidental crescia em Constantinopla, em meados do século XII. Bizantino viam nos cristãos ocidentais apenas cobiça. A análise negativa dos habitantes de Constantinopla sobre os cristãos ocidentais estava correta. Em 1204, quando uma cruzada devastou e saqueou Constantinopla, os piores pesadelos dos bizantinos se materializaram. Os venezianos, que participaram da Cruzada de 1204, viam na conquista de Constantinopla uma oportunidade de ouro, uma porta escancarada para o comércio com o oriente. Escadas, aríetes e catapultas foram usadas pelos cristãos do ocidente para transporem os muros que guarneciam a cidade de Constantinopla. Dentro de Constantinopla, os cristãos saquearam, mataram, pilharam e profanaram as igrejas. Os clérigos cristãos colocavam mais lenha na fogueira, de forma a colocarem os cruzados contra os bizantinos, dizendo que estes faziam pouco caso das leis emanadas de Roma. "Os bizantinos, segundo os cruzados haviam sido informados, eram piores que os judeus; eles são os inimigos de Deus." (página 180)

"Para uma testemunha ocular bizantina, os cruzados nada mais eram do que os precursores do anticristo."
(página 180)

"Era uma visão que encontrava eco na própria Terra Santa, onde os cavaleiros agiam com tamanha violência e irresponsabilidade que era quase como se tivessem um desejo de morte."
(página 175)

Aos poucos Saladino ia cercando os cristãos na Terra Santa. Reinaldo de Châtillon tentou reverter esse cerco com um ataque a Aqaba, no Mar Vermelho. Esse ataque de Reinaldo acirrou ainda mais os muçulmanos, pois eles começaram a temer um ataque cristão a Meca e a Medina, o que os mobilizou ainda mais em torno de Saladino, que naquele momento incorporava a figura principal dos muçulmanos na luta contra os cristãos.

CHIFRES DE HATTIN - JULHO DE 1187:

Cristãos e Muçulmanos entram em combate. Os muçulmanos, tendo Saladino no comando, vencem os cristãos. Reinaldo de Châtillon foi decapitado. Dois meses depois, Jerusalém rendeu-se pacificamente. O Papa da época, Urbano II, caiu morto ao saber da queda de Jerusalém nas mãos dos infiéis. Na sequências, esforços (1189/1192) foram despendidos para recuperar Jerusalém. Todos eles sem sucesso.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O CORAÇÃO DO MUNDO, UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL A PARTIR DA ROTA DA SEDA: O ENCONTRO DO ORIENTE COM O OCIDENTE, PETER FRANKOPAN, EDITORA CRÍTICA, capítulo 8, A Rota para o Céu, páginas 161/183.