sábado, 28 de abril de 2012
Crença
"São poucas as pessoas saudáveis a ponto de conseguir viver sem se atormentar com a necessidade de resolver, como se diz, o enigma da vida. Ou seja, são poucas as pessoas para quem a experiência concreta se justifica por si só, pela alegria de viver. A maioria precisa recorrer a crenças que digam por que e para o que estamos aqui."
Contardo Calligaris
Fonte:
Folha de São Paulo, quinta-feira, dia 26 de abril de 2012, página E10, Ilustrada
segunda-feira, 16 de abril de 2012
De quanta terra precisa um homem?
"Nele, um camponês rico chamado Pahom fica sabendo do fértil solo na terra dos Bashkirs, além do Volga. É gente simples, e ele conseguirá toda a terra que quiser deles sem muito problema. Quando Pahom chega à terra dos Bashkirs, dizem-lhe que por mil rublos ele pode ter tanta terra quanto nela puder andar durante um dia inteiro. Pahom, desprezando-os pela falta de sofisticação, fica exultante. Tem certeza de que poderá percorrer uma grande distância. Quase assim que se pôs a andar, contudo, avista uma paisagem atraente atrás da outra, um lago ali, ou uma faixa de terra mais adiante que seria boa para cultivar linho. Então percebe que o sol começa a se pôr. Ao compreender o risco de perder tudo, começa a correr cada vez mais depressa para fazer a tempo o percurso de volta. 'Peguei demais', diz a si mesmo. e 'arruinei tudo'. O esforço mata-o. Ele morre no posto final, e ali mesmo, é enterrado. 'Seis palmos da cabeça aos joelhos era tudo o que precisava', foi a conclusão de Tolstoi. A diferença na história, menos de sessenta anos depois, estava não apenas num único homem enterrado ali na estepe, mas em centenas de milhares de mortos por procuração"
Nota do Blog:
Trecho de texto retirado do livro Stalingrado, o Cerco Fatal, de Antony Beevor. Antony faz uma analogia entre um texto escrito por Tolstoi em 1886 - De quanta terra precisa um homem - com a megalomania de Adolf Hitler. Os milhares de mortos por procuração foram os soldados alemães que lutaram na Rússia no período de 21 de junho de 1941 até o ano de 1944. Adolf Hitler outorgou poderes para que milhares de jovens alemães lutassem e morressem em seu nome. Aos alemães mortos, se somaram milhares de russos, civis e militares, que também pereceram durante o conflito.
Dica de Leitura:
Stalingrado, o Cerco Fatal, Editora Record, Antony Beevor, 12º edição, 2011.
Fotos:
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Rousseau versus Hobbes
"O filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-78) acreditava que o homem era essencialmente "bom" quando vivia em "estado de natureza", antes da criação do Estado e da propriedade privada. Ele criticava seu antecessor britânico Thomas Hobbes (1588-1679), que defendia uma visão oposta. Para Hobbes, o homem era o lobo do homem, e só graças ao Estado essa anarquia, essa luta de todos contra todos, poderia cessar. O israelense mostra que a razão está com Hobbes. Não só em termos de teoria; a prática, o cotidiano, tem mostrado que o autor do "Leviatã" era mais realista. Um exemplo rápido: o grande problema da Somália, do Haiti ou dos morros cariocas não é o excesso de Estado, e sim a ausência do "Leviatã". Um Leviatã, um Estado de verdade, não terceiriza o monopólio da violência legítima."
FONTE:
Trecho do artigo:
GUERRA É GUERRA
Arqueólogos escavam as origens dos conflitos armados.
Ricardo Bonalume Neto.
Caderno Ilustríssima, Domingo, 8 de abril de 2012, página 06, Folha de São Paulo
Comentários ao livro do autor israelense Azar Gat War in Human Civization, Oxford University Press, 848 págs, R$ 96,00.
________________
Nota do Blog
Eu também concordo com Thomas Hobbes. Sem Estado iríamos viver em estado de guerra de todos contra todos. Sempre que há algo que tire as forças do Estado de circulação, o resultado a gente vê na forma de saques, violência, etc.
Exemplos da verdadeira natureza humana não faltam:
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Justiça
JUSTIÇA
O que a lei
não redime
é o crime
com defeito.
Se bem-feito
ou bonito,
o delito
talvez rime
com direito.
Se perfeito,
ora, o crime
é a lei.
Eugênio Bucci
Ilustríssima, Domingo, 21 de agosto de 2011, Folha de São Paulo, página 10.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Erros e um final feliz
Erros e um final feliz
No dia a dia do Fórum nos deparamos com erros alheios que podem nos prejudicar
O exemplo abaixo é elucidativo aconteceu comigo.
Na imagem 1 temos o despacho do Juízo designando data e hora de uma audiência de instrução, debates de julgamento para o dia 11 de janeiro de 2011. Esse despacho consta da folha 53 do processo.
Muito bem, até aqui tudo bem.
O problema vai aparecer agora.
No documento aqui numerado como nº 2, vemos a folha 57 na qual há dois atos praticados por um serventuário da Justiça: No primeiro, ele diz que o despacho que marcava a audiência do dia 11 de janeiro teria sido remetido para a publicação no Diário Oficial no dia 17 de dezembro de 2010. Abaixo, ele volta a carga para dizer que aquilo que ele teria remetido em 17 de dezembro de 2010 fora publicado nesse mesmo dia! Eu não consigo imaginar como isso foi feito. Que celeridade! Nunca imaginei que um jornal fosse impresso tão rápido assim. Mesmo que fosse uma publicação apenas virtual, desconfio que não seria factível fazê-la com ao ponto da remessa de algo coincidir com a sua publicação.
Mas enfim, há mais.
Não vamos entrar no mérito da celeridade improvável da publicação.
De fato, algo foi publicado em meu nome naquele dia. Mas não era nada sobre a referida audiência para a qual eu deveria ter sido intimado, inclusive, pessoalmente, e não via diário oficial.
Na publicação do dia 17/12/2010 há um despacho que nada tem a ver com a audiência, pois nele há menção a um outro fato do processo, como se vê na imagem de número 3. Tratava-se de uma intimação de um apenso que dizia respeito ao pedido de restituição de uma motocicleta que teria sido usada pelo assaltante num roubo.
Qual foi o resultado disso tudo?
A audiência aconteceu no dia 11 de janeiro de 2011. Eu, como não tinha conhecimento dela, a ela não compareci. Todavia, fui dado como ausente e o Juízo determinou que se oficiasse à OAB local comunicando que eu não havia cumprido com as minhas obrigações.
Sobre essa audiência, veja a imagem número 4
Mas o final da história foi feliz.
A respeito do feliz deslinde dela, eis que tudo ficou esclarecido. E tudo isso acontecendo e eu não sabendo de nada.
Na imagem 5 vemos o serventuário se corrigindo em parte
Na imagem 6, o Juízo, ao tomar ciência da Certidão do seu serventuário, pede que se desconsidere o envio daquele oficio à OAB local no qual constaria a minha ausência de uma audiência que eu sequer fora intimado, nem pessoalmente, nem via diário oficial.
Imagens mencionadas acima e relacionadas abaixo. Para melhor visualização, clique sobre elas (botão esquerdo do seu mouse - um clique ou duplo clique):
Imagem 1:
Imagem 3:
Imagem 5:
Imagem 6:
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Poema
PREPARANDO A CREMAÇÃO
Levanto-me. Vou ao cartório
autorizar minha cremação. Autorizar
que transformem
minhas vísceras, sonhos e sangue
em ficção.
O que pode haver
de mais radical?
Assinar este papel
tão simples
tão fatal.
Autorizar a solução final
de todos os poemas.
Faz um belo dia. Do terraço
vejo o mar:
pescadores cercam um cardume
banhistas seguem
se expondo à vida, ao sol.
Olho a trepadeira de jasmim
os vasos de begônia e gerânios
margaridas brancas e a azaleia:
– a vida continua viva dentro
e ao redor de mim.
Poetas antes e depois de Homero
tentaram cantar a morte.
(Nos consolaram).
Hamlet (cioso)
dialogou com uma caveira
de antemão.
Olho cada parte de meu corpo
que vai se desintegrar:
mexo os dedos, vejo as veias
e no espelho esse olhar
que nada mais verá.
Irei à praia daqui a pouco
mas antes passarei pelo cartório.
Há muito venho me preparando
me despedindo do sorriso da mulher, das filhas
da rua onde diariamente passo
me despregando dos livros
vizinhos e paisagens.
Não sou só eu. Minha mulher
antes de mim no mesmo cartório foi
e ainda mostrou-me o documento.
Olho-a neste terraço: lá está ela, viva!
ligada nas plantas e planos. Olho-a:
acabou de fazer um vestido novo.
Como imaginá-la no jamais?
Ao lado, o barulho de um túnel que estão cavando:
– é a nova estação do metrô.
Há um alarido de crianças na escola vizinha
e eu saio
numa esplêndida manhã de sol
para cuidar de minhas cinzas.
Tenho muito que dialogar com a morte
e a vida ainda.
O AUTOR
Nome: Affonso Romano de Sant’Anna
Idade: 74. Nascimento: Belo Horizonte
SITE OFICIAL:
http://www.affonsoromano.com.br/
Levanto-me. Vou ao cartório
autorizar minha cremação. Autorizar
que transformem
minhas vísceras, sonhos e sangue
em ficção.
O que pode haver
de mais radical?
Assinar este papel
tão simples
tão fatal.
Autorizar a solução final
de todos os poemas.
Faz um belo dia. Do terraço
vejo o mar:
pescadores cercam um cardume
banhistas seguem
se expondo à vida, ao sol.
Olho a trepadeira de jasmim
os vasos de begônia e gerânios
margaridas brancas e a azaleia:
– a vida continua viva dentro
e ao redor de mim.
Poetas antes e depois de Homero
tentaram cantar a morte.
(Nos consolaram).
Hamlet (cioso)
dialogou com uma caveira
de antemão.
Olho cada parte de meu corpo
que vai se desintegrar:
mexo os dedos, vejo as veias
e no espelho esse olhar
que nada mais verá.
Irei à praia daqui a pouco
mas antes passarei pelo cartório.
Há muito venho me preparando
me despedindo do sorriso da mulher, das filhas
da rua onde diariamente passo
me despregando dos livros
vizinhos e paisagens.
Não sou só eu. Minha mulher
antes de mim no mesmo cartório foi
e ainda mostrou-me o documento.
Olho-a neste terraço: lá está ela, viva!
ligada nas plantas e planos. Olho-a:
acabou de fazer um vestido novo.
Como imaginá-la no jamais?
Ao lado, o barulho de um túnel que estão cavando:
– é a nova estação do metrô.
Há um alarido de crianças na escola vizinha
e eu saio
numa esplêndida manhã de sol
para cuidar de minhas cinzas.
Tenho muito que dialogar com a morte
e a vida ainda.
O AUTOR
Nome: Affonso Romano de Sant’Anna
Idade: 74. Nascimento: Belo Horizonte
SITE OFICIAL:
http://www.affonsoromano.com.br/
sábado, 5 de março de 2011
Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade?
O Juramento caiu em desuso.
Alguém pode ver esse ato apenas como uma mera formalidade.
Em Juízo, num processo judicial, o juramento ainda é usado. É crime mentir em juízo como já escrevi:
http://direitomaisdireito.blogspot.com/search/label/Falso%20Testemunho
Mas quando a Religião era mais presente no dia a dia das pessoas, essa conduta de jurar em nome de Deus tinha muita importância. As pessoas juravam por temer à Deus e não à Lei Criminal
Trecho de um filme que descreve bem a ideia moral do Juramento:
"Deus aprecia mais os pensamentos do coração do que as palavras da boca?
Mas o que é o juramento senão palavras que dizemos a Deus?
Quando um homem presta juramento, está a colocar-se nas suas próprias mãos, como água.
Se abre os dedos, nega-se a esperar que se encontre consigo mesmo novamente."
Trecho retirado do filme: A Man for All Seasons (O Homem que não vendeu sua alma ou Um homem para a eternidade)
http://cinema.uol.com.br/resenha/o-homem-que-nao-vendeu-sua-alma-1966.jhtm
Pelo que eu compreendi, abrir os dedos significa deixar de cumprir com aquilo que jurou e dessa forma deixar de se encontrar consigo mesmo
Alguém pode ver esse ato apenas como uma mera formalidade.
Em Juízo, num processo judicial, o juramento ainda é usado. É crime mentir em juízo como já escrevi:
http://direitomaisdireito.blogspot.com/search/label/Falso%20Testemunho
Mas quando a Religião era mais presente no dia a dia das pessoas, essa conduta de jurar em nome de Deus tinha muita importância. As pessoas juravam por temer à Deus e não à Lei Criminal
Trecho de um filme que descreve bem a ideia moral do Juramento:
"Deus aprecia mais os pensamentos do coração do que as palavras da boca?
Mas o que é o juramento senão palavras que dizemos a Deus?
Quando um homem presta juramento, está a colocar-se nas suas próprias mãos, como água.
Se abre os dedos, nega-se a esperar que se encontre consigo mesmo novamente."
Trecho retirado do filme: A Man for All Seasons (O Homem que não vendeu sua alma ou Um homem para a eternidade)
http://cinema.uol.com.br/resenha/o-homem-que-nao-vendeu-sua-alma-1966.jhtm
Pelo que eu compreendi, abrir os dedos significa deixar de cumprir com aquilo que jurou e dessa forma deixar de se encontrar consigo mesmo
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
As artérias da pedra
AS ARTÉRIAS DA PEDRA
A pedra não filosofa.
Ela bloqueia no seu bloco
de pedra o pensamento
e a sua corda.
A pedra não acorda as coisas
nem dá corda
para metafísicas plangentes.
No seu bloco bloqueado,
a pedra dispensa a ânima
e o ânimo do fluxo líquido
das correntes.
A pedra não corre.
Ela se estaca
e se adensa
no lugar em que se assenta.
Quieta,
a pedra é menos lição
e mais experiência.
Contra ela batem coisas,
batem ventos
e batem outras pedras
diversas.
Mas ela não se move
nem se dispersa
em sua imóvel
siesta.
Nem no sono de sua siesta,
a pedra regurgita por dentro
algum pétreo
som de estômago.
Ou algum flúor
indômito
de qualquer ânsia
de vômito.
A pedra não metaboliza
nem expulsa seus alimentos
nos íntimos arcanos
de seu templo.
Ela concentra nos intestinos
de sua natureza
a cúpula fechada
e a argamassa espessa
de sua igreja.
Isto porque a pedra
mais dorme
do que come.
E o sono dela não é nem sonso
nem elétrico.
Seu sono de pedra
não é o sono épico
ou lírico
de um homem que sonha leve
e aceso.
Bem ao inverso,
seu sono,
de chumbo eterno,
é um sonho paralítico
e paquidérmico.
Tanto que,
silêncio calmo,
as artérias da pedra
são átomos
que, dentro dela,
não se explodem,
compactos que são
em seus ásperos
conformes.
Pois esta é a ciência
de seu nome: - a pedra
não tem as artérias
das árvores,
nem as artérias de nosso corpo
plantado nas veias
de nossa carne.
Dessa ciência,
a diferença nasce,
magna e plena,
entre a pedra
(com o minério esquivo
do seu todo exposto)
e a nossa carne
(com o mistério vivo
no peso de nosso corpo).
Por isso,
a diferença da ciência
da pedra
está no confronto
pronto de suas artérias.
E a diferença é esta:
- As artérias da pedra
só se fixam no todo
dos seus átomos exangues
e impávidos.
Assim inerte,
a pedra inscreve
o império
de seu monólogo fechado.
- As artérias do corpo,
ao contrário,
só se movem na carne
do nosso sangue
e seus intrépidos coágulos.
Assim ativa,
a carne aviva
o espelho
de seu diálogo sangrado.
Autor:
Mario Chamie
sábado, 18 de dezembro de 2010
AUSÊNCIA CHEIA
A CHÍCARA
Chícara posta sobre a mesa.
Ela traz em sua alça
a nostalgia dos dedos.
É preciso muita mão
para alçar
a chícara à altura dos
seus penedos.
Não que o penedo seja
alguma
montanha que se busca.
A questão não é assim
difusa.
Antes de tudo,
há a chícara em si:
é porcelana, é louça?
É plataforma de formas
sobre o pires?
É a borra de café que
pousa para a leitura
dos elixires
de alguma sorte
sem rumo?
A chícara em si é e não é
o dado bruto de um
vácuo, cujo núcleo
não é o mundo
vago de uma sede vaga
e seca.
O oco da chícara dita
outra regra
sobre a mesa:-
a regra da ausência cheia
que, vazia, se preenche
por si mesma.
Autor:
Mário Chamie.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Quando a existência torna-se expiação
"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A agiotagem explora o juro. A IGNORÂNCIA PESA SOBRE O POVO COMO UM NEVOEIRO. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. NÃO É UMA EXISTÊNCIA; É UMA EXPIAÇÃO. Diz-se por toda a parte: O país está perdido. Por isso, começamos a apontar o que podemos chamar de o progresso da decadência."
José Maria de Eça de Queiroz, 1871 (Esse texto foi extraído de uma crônica de Arnaldo Jabor, publicada no jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, em 16.11.2010, CADERNO 2, página D10
________________________________
Trata-se de um texto escrito por Eça de Queiroz no qual ele traça um panorama do que era Portugal no século XIX. Acredito que essa descrição se coaduna com o que é o Brasil de hoje.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Passarinho
Sabe que uma vez vi no chão um passarinho doente.
Estava frio e, para aquecê-lo, peguei um punhado de esterco que estava no jardim e o cobri com ela.
O passarinho melhorou e ficou tão quente e feliz que começou piar.
Então, eis que surge um gavião...que ouviu os pios e deu um rasante e abocanhou o passarinho.
Moral da estória:
Nem sempre quem te põe na merda é seu inimigo e nem sempre quem o tira é seu amigo.
E o mais importante de tudo:
Passarinho que está na merda não dá um pio.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Destino
O longo vôo das aves no inverno ultrapassa todas as dificuldades, porque as aves conhecem seu destino.
Mahatma Ghandi
Líder pacifista indiano
Líder pacifista indiano
sábado, 22 de maio de 2010
Profecia
Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, Profecias de Ivan Fiodorovich:
Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus, então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começará o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo- se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem deus.Vencendo,a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, não tem ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade...”
quarta-feira, 31 de março de 2010
DA HUMANA CONDIÇÃO

CUSTA O RICO A ENTRAR NO CÉU
(AFIRMA O POVO E NÃO ERRA).
PORÉM MUITO MAIS DIFÍCIL
É UM POBRE FICAR NA TERRA.
Mario Quintana.
Amigo

DO AMIGO
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele...Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, http://www.globaleditora.com.br/
2005, 17º edição
sábado, 27 de março de 2010
DO ETERNO MISTÉRIO

"UM OUTRO MUNDO EXISTE...UMA OUTRA VIDA..."
MAS DE QUE SERVE IRES PARA LÁ?
BEM COMO AQUI, TUA ALMA ATÔNITA E PERDIDA
NADA COMPREENDERÁ
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, seleção Fausto Cunha, editora global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 78.
sábado, 13 de março de 2010
Buliçosas.............................................................................................................

"Eu vi duas borboletas amarelas pousadas no muro da tarde.
A borboleta maior enfiou numa coisa fininha que nem tripa de lambari
na borboleta menor.
Ambas tremeram de amor durante.
Depois voaram buliçosas pelas ruas do jardim."
Manoel de Barros.
Cuiabá(MT)
Livros:
Menino do Mato
Poesia Completa
(Editora Leya)
terça-feira, 2 de março de 2010
Amor

O amor é uma demanda da terra, para que possamos atingir a calma felicidade dos animais.
(John Donne e João Cabral de Mello Neto)
"O que chamamos de amor é uma fome "celular", entranhada no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, uma reprodução ampliada da cópula primitiva entre o espermatozóide e o óvulo. Somos grandes células que querem se reunir, separadas pelo sexo que as dividiu. O resto é literatura."
(Arnaldo Jabor, trecho de texto publicado no Jornal O Estado de São Paulo, terça-feira, 2 de março de 2010, Caderno 2, página D12. O título do texto era: "Acabou o tempo do "happy end")
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Da vez primeira em que me assassinaram

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram...
Foram levando qualquer coisa minha...
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste com um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha.
Editora Global Editora, 17º edição, São Paulo, 2005, p. 26
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Dorme, meu filho.

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não ser perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuís casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
A sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
Carlos Drummond de Andrade.
A Rosa do Povo. Editora Record, 10º edição, 1991, Rio de Janeiro.
21.02.2010, 00:02
Preciso atrasar o relógio em 1 hora, pois hoje acaba o horário de verão. Mas queria atrasá-lo uns 37 anos.
ERRADOS RUMOS

A caminhada....
Amassando a terra.
Carreando pedras.
Construindo com as mãos
sangrando
a minha vida.
Deserta a longa estrada.
Mortas as mãos viris
que se estendiam às minhas.
Dentro da mata bruta
leiteando imensos vegetais,
cavalgando o negro corcel da febre,
desmontado para sempre.
Passa a falange dos mortos...
Silêncio! Os namorados dormem.
Os poetas cobriram as liras.
Flutuam véus roxos
no espaço.
Na esquina do tempo morto,
a sombra dos velhos seresteiros.
A flauta. O violão. O bandolim.
Alertas as vigilantes
barroando portas e janelas
cerradas.
Cantava de amor a mocidade.
A estrada está deserta.
Alguma sombra escassa.
Buscando o pássaro perdido
morro acima, serra abaixo.
Ninho vazio de pedras.
Eu avante na busca fatigante
de um mundo impreciso,
todo meu,
feito de sonho incorpóreo
e terra crua.
Bandeiras rotas.
Desfraldadas.
Despedaçadas.
Quebrado o mastro
na luta desigual.
Sozinha...
Nua. Espoliada. Assexuada.
Sempre caminheira.
Morro acima. Serra abaixo.
Carreando pedras.
Longa procura
de uma furna escura
fugitiva me esconder,
escondida no meu mundo.
Longe...longe...
Indefinido longe.
Nem sei onde.
O tardio encontro...
Passado o tempo
de semear o vale
de colher o fruto.
O desencontro.
Da que veio cedo e do que veio tarde.
A candeia está apagada.
E na noite gélida
eu me vesti de cinzas.
Restos, Restolhos.
Renegados os mitos.
Quebrados os ícones.
Desfeitos os altares.
Meus olhos estão cansados.
Meus olhos estão cegos.
Os caminhos estão fechados.
Perdida e só...
No clamor da noite
escuto a maldição das pedras.
Meus errados rumos.
Apagada a lâmpada votiva,
tão inútil.
Cora Coralina.
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas nasceu na cidade de Goiás, a 20 de agosto de 1889, na "Casa da Ponte". Hoje, sob o nome de Museu Casa de Cora Coralina, recebe turistas de todo o Brasil e do exterior. Morreu em Goiânia, a 10 de abril de 1985.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Preparação para a morte

A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
_ Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
Manuel Bandeira
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Mario Quintana

ENVELHECER
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas
SEMPRE
Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
Só o que está perdido é nosso para sempre.
Nós só amamos os amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente.
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meios aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, páginas 115, 101 e 69.
http://www.globaleditora.com.br/
Mario (de Miranda) Quintana nasceu em Alegrete/RS, a 30 de julho de 1906. O poeta faleceu em 1 de maio de 1994. É detentor de vários prêmios literários. Seu primeiro livro de poesia surgiu em 1940, A Rua dos Cataventos.
ESTE QUARTO

ESTE QUARTO
Para Guilhermino Cesar
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Mario Quintana
Coleção Melhores Poemas, Seleção Fausto Cunha, global editora, 17º edição, São Paulo, 2005, página 53.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
O DIA SEGUINTE AO DO AMOR

O DIA SEGUINTE AO DO AMOR
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos...E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mario Quintana.
Fonte:
http://www.globaleditora.com.br/Loader.aspx?ucontrol=bWVudUhvbWUsZmljaGFMaXZybw==&livroID=3581
página 62.
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