domingo, 13 de outubro de 2024

Historia da China em Quadrinhos



A FAMÍLIA CHINESA:

Uma família composta por 4 pessoas: pai, Secretário Li, a mãe Xiao Tao e os filhos Xiao Li e Meimei. A história dessa família é usada como pano de fundo para a história da China

CHINA, 1950:

A China, com a ajuda dos EUA, da URSS e da Inglaterra, tinha derrotado os japoneses em 1945. Agora, em 1950, os comunistas chineses, sob a liderança de Mao Tse Tung, expulsaram os nacionalistas republicanos ( Kuomintang - capitalistas e aliados das potências ocidentais), comandados por Chiang Kai-Shek, que tiveram que se refugiar na ilha de Taiwan.



Por essa época, Secretário Li, funcionário do Partido Comunista chinês, viajava pelo interior da China, pregando a favor do regime. Assim ele acabou conhecendo Xiao Tao, que viria a ser sua esposa e mãe de seus dois filhos.

O GRANDE SALTO ADIANTE:

O governo comunista chinês organizou o país em Comunas Populares. Na zona rural da família do Secretário Li, o toque do sino organizava a vida das pessoas. Os cidadãos iam juntos para o campo e retornavam juntos. Comiam juntos. Uma parte da vida privada havia desaparecido. A China queria superar as potências ocidentais (EUA, Inglaterra, etc). Para tanto, implementou uma política para aumentar a produção de aço. Todos os cidadãos foram chamados a colaborar. Qualquer objeto que contivesse ferro/aço deveria ser entregado ao governo, que depois iria fundi-los nos milhares de altos-fornos espalhados pelo país. Nesse processo, começou a faltar carvão para alimentar esses altos-fornos. Era preciso achar uma outra fonte de combustível. E ela foi encontrada nas árvores, que foram derrubadas. Mas daí o solo começou a ficar infértil. Começou a falta comida. A imprensa, censurada pelo governo, procurava esconder a escassez. Nas escolas, as crianças eram doutrinadas. Amar o Presidente Mao Tse Tung era mais importante do que amar os próprios pais. O governo chinês arranjava desculpas para a escassez de alimentos. Campanhas foram feitas para eliminar 4 pragas, que acreditava-se serem as responsáveis pela baixa produtividade da agricultura. Moscas, Pardais, Mosquistos e roedores começaram a ser caçados. Nas escolas, os alunos tinham que cumprir metas, matando a maior quantidade possível desses animais. Eram as "ações de massa". O governo martelava sua propaganda, dizendo que a União fazia a força. "Tínhamos conseguido fazer da China uma terra estéril, sem árvores, sem insetos, sem roedores, sem pássaros." (Xiao Li). A fome só cessou quando, em 1962, o programa governamental Grande Salto Adiante acabou.

LEI FENG:



Na sequência, o governo comunista criou uma nova propaganda. Inventaram um personagem, Lei Feng. Lei Feng seria um herói, um exemplo de cidadão, que se colocava a serviço do povo, esquendo-se de si mesmo. Feng varria o pátio dos vizinhos, ajudava os necessitados, etc etc. Lei Feng incutia na mente dos jovens chineses a propaganda do Partido Comunista Chinês, como a necessidade da Luta de Classes, a infalibilidade do grande timoneiro Mao Tse Tung.

GRANDE REVOLUÇÃO CULTURAL:

Agora, o governo chinês criava a narrativa segundo a qual os inimigos internos e externos da China tinham se unido em torno do objetivo de destruir a China. Apenas a Revolução Cultural poderia salvar a China. Foram distribuídos livros com citações do Presidente Mao Tse Tung (o livro vermelho  - Maozhuxi Yulu). Uma das citações era:

"CADA COMUNISTA DEVE ASSIMILAR A VERDADE DE QUE O PODER ESTÁ NA PONTA DO FUZIL".

Os estudantes deviam ler o Livro. Aliás, deveriam decorá-lo. Concursos foram criados para averiguar a capacidade dos alunos na recitação dos trechos do Livro Vermelho. Segundo o Livro Vermelho, as três pragas deviam ser combatidas: o capitalismo, o feudalismo e o revisionismo. Pessoas eram obrigadas a mudar de nome. Logradouros mudavam de nome. Os nomes deviam ser adequados ao sistema comunista. Assim, somente nomes revolucionários seriam aceitos: "Pequeno Soldado", "Rumo ao Leste", etc. Qualquer hábito burguês remanescente da antiga China tinha que ser erradicado. Nos restaurantes, foram proibidos pratos sofisticados. Era preciso comer aquilo que os trabalhadores comiam. 

Em 1966, a Revolução Cultural atingiu o seu auge. A Revolução espalhou-se por toda a China. Era preciso limpar as quatro velharias: os velhos pensamentos, os hábitos, a cultura e os costumes. Livros contábeis foram destruídos por serem um instrumento de exploração do povo pelos proprietários de terras. Foram criadas assembleias de autocritica, nas quais todos deveriam, em público, prestar contas de seus atos passados e presentes. Era preciso averiguar com precisão quem realmente era um revolucionário raiz. Delações eram feitas. A família de Xiao Li foi vítima de uma delas. Seu pai foi acusado de ter entepassados burgueses. O pai de Xiao Li acabou sendo detido num centro de reeducação, onde acabou morrendo. O denuncismo era estimulado pelo governo.

Em 1979, o governo chinês declarou que a Revolução Cultural deveria ser dissociada da Revolução. Ela teria sido desencadeada por engano por Mao Tse Tung. 

Xiao Li acabou entrando para o Exército Vermelho. 



"Sou um soldado 

Amo a nação 

Amo o povo 

Forjado nas Provações da Revolução

Sou Mais resoluto em muitas ações"

(Canção Militar)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDA DA LEITURA DO LIVRO EM QUADRINHOS "UMA VIDA CHINESA VOLUME 1 O TEMPO DO PAI, P. ÔTIÉ e LI KUNWU, EDITORA MARTINS FONTES.



segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Direitos dos Animais de Estimação ou Direito do Homem a um Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado



Por que os animais devem ser protegidos, evitando que sejam maltratados ou mortos?

Há duas visões sobre esse tema

Uma visão antropocêntrica e outra biocêntrica

VISÃO ANTROPOCÊNTRICA:

De acordo com a visão antropocêntrica, os animais devem ser protegidos porque a Constituição Federal, no ser artigo 225, estabelece o seguinte:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

Atente para o seguinte fato: Com base no artigo 225 da Constituição Federal, os animais são protegidos não em atendimento a um direito titularizado por eles, mas em atendimento a um direito titularizado por nós, seres humanos, de ter um ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à (NOSSA) sadia qualidade de vida.

Nesse sentido, a conduta de abusar, maltratar ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, prevista no artigo 32 da Lei 9605/1998, é punida em atendimento a um direito pertencente ao ser humano e não aos animais. E a pena ainda pode ser maior, na hipótese abaixo:

§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda.     (Incluído pela Lei nº 14.064, de 2020)

De fato, seu animal de estimação não pode titularizar direitos e deveres no nosso ordenamento jurídico, porque ele é visto como objeto de direito e não sujeito de direito.

Nesse sentido, diz o Código Civil brasileiro:

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

De acordo com o artigo 82 do Código Civil, portanto, temos que os animais são meros objetos (res), meros bem móveis suscetíveis de movimento próprio. 

VISÃO BIOCÊNTRICA:

De acordo com a visão biocêntrica, os animais são vistos como titulares de direitos fundamentais, de forma que seu direito à vida, por exemplo, deve ser resguardado em razão de um direito titularizado por ele, e não por causa de um direito pertencente ao homem. A visão biocêntrica não permite a coisificação da vida que não seja humana. O importante, aqui, é ressaltar a característica do animal de ser senciente, isto é, a capacidade do animal sentir dor ou alegria, perceber pelos sentidos, etc. Ser racional ou irracional não é a questão de deve ser relevada, e sim a fato do animal ser senciente. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

História do Direito Família A Solidariedade Familiar Fundação Calouste Gulbenkian



Na história da Europa Ocidental, a família sempre foi patriarcal, não havendo quaisquer traços de matriarcado. A autoridade, dessa forma, é exercida pelo pai, ou mesmo pelo avô.

A família aparece sob dois aspectos, em sentido lato e em sentido restrito.

Família no Sentido Lato:

Ela compreende todos os que sentem entre si uma relação de parentesco. Estamos falando do Clã, chamado Gens entre os Romanos e Sippe entre os Germânicos e linhagem durante a Idade Média. Ela desempenhava um papel de suma importância na organização social e jurídica nas sociedades primitivas e também nas sociedades de tipo feudal. 

Os efeitos desse parentesco estendido eram consideráveis. Todos os parentes estavam ligados por solidariedade ativa e passiva. A solidariedade familiar obriga todos os parentes a participar na vingança privada (faida, vendetta); quando um membro da família é lesado todos os outros o devem ajudar a vingar-se do mal recebido.

Na Baixa Idade Média, a guerra privada devia ser conduzida pela própria vítima. Caso ela não pudesse agir (morreu ou estava enferma), o parente varão mais próximo tomaria o seu lugar na liderança da guerra. 

No polo passivo, todos os membros de uma família podem ser responsabilizados ou hostilizados por qualquer malefício cometido por um deles. Assim, eles devem contribuir para pagar a composição, a menos que expulsem o culpado do grupo familiar por um complexo processo de abandono. 

"A solidariedade familiar manifesta-se ainda em outros domínios. É assim que todos os parentes se devem mutuamente assistência em justiça: se um deles tem que prestar juramento de inocência, todos são obrigados a co-jurar." (página 563, Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian)

As guerras privadas entre famílias eram muitos frequentes nos séculos XIII e XIV. O Estado, ainda incipiente naquela época, não dava contra de reprimir esse costume. Somente depois, com o fortalecimento do Estado, este conseguir trazer para si o poder para reprimir as infrações ocorridas na sociedade. 

"A medida que o Estado se consolida e consegue assegurar a ordem pública, a solidariedade familiar desfaz-se e torna-se inútil. Quando a autoridade se desenvolve, a solidariedade diminui." (página 564, Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian)

Família no sentido restrito:

É aquela que compreende o pai, a mãe e os filhos que vivem sob o mesmo teto. É casa, a "domus" romana. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian)

domingo, 11 de agosto de 2024

Atenas Antiga Ostracismo



O CAMINHO PARA CHEGAR A ATENAS:

O viajante começaria por Termópilas, sítio de uma das batalhas mais famosas das Guerras Pérsicas. Ali estão sepultados Leônidas e seus 300 heróis espartanos. Descendo para o sul, o viajante chega no Monte Parnaso, onde vive o deus Apolo, que fala por meio de suas profetisas de Delfos, dentre elas, a Pitonisa. O oráculo de Delfos não revela nem oculta a verdade. Indica a forma de descobri-la. Isso criava confusões, como por exemplo, um fato envolvendo o rei da Lídia, Creso. Creso perguntou para o oráculo se devia atacar os persas. O oráculo respondeu que o fizesse, pois isso iria causar a queda de um grande império. Creso achou que se tratava do Império Persa. Mas o império que caiu foi o dele. 

Máximas Délficas:

Conhece-te a ti mesmo

Nada em excesso

POLÍTICA ATENIENSE:

Os atenienses são jônios, um grupo de gregos descendentes do rei Íon. Os jônios afirmavam ser mais cosmopolitas e inteligentes do que os dórios, dos quais os espartanos são o principal exemplo. 

Os atenienses adoravam discutir política. Política, palavra formada por Pólis e ética. Pólis era a cidade na qual os atenienses viviam. Ética, por sua vez, era o modo de ser, o modo de se comportar. Política, portanto, então era o modo de se discutir e decidir sobre algum assunto atinente à cidade (usar o dinheiro da cidade para construir navios ou para construir uma ponte, etc)

Em Atenas, a opinião pública/política encontrava-se, em linhas gerais, dividida entre democratas e oligarcas. Os oligarcas eram aqueles que lutavam pelos privilégios dos ricos e dos aristocratas. Os democratas são aqueles que lutavam pelas pessoas comuns. 

OSTRACISMO:

Atenas tinha uma instituição política única, chamada de Ostracismo. Os atenienses se reuniam todos os anos para deliberar se algum membro da governação estava ficando arrogante ao ponto de constituir uma ameaça à democracia. Uma votação era realizada para decidir se aquela pessoa deveria ou não ser expulsa da cidade. No dia marcado, entregavam seus votos numa peça de cerâmica (ostraka) e o "vencedor" dessa eleição invertida era convidado a ficar 10 anos fora da cidade. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "ATENAS ANTIGA, POR CINCO DRACMAS POR DIA", PHILIP MATYSZAK, EDITORA BIZÂNCIO.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Origens Históricas Contrato Stipulation Consensualismo Autonomia da Vontade Liberalismo Individualismo Fundação Calouste Gulbenkian



DIREITO ROMANO:

Aqui, vigorava a ideia dos pactos nus e vestidos, segundo a qual o simples concurso de vontades, isto é, o pactum, não bastaria para perfazer um contrato.

No Direito Romano, a formação do contrato se dava pela stipulatio. Era um contrato formal. Para que não houvesse nulidade, era necessário a troca solene de determinadas palavras entre o credor e o devedor, como por exemplo: "Spondesne" (Prometes?) "Spondeo" (Prometo!). O formalismo, portanto, era indispensável. Stipulatio era a forma pela qual alguém se obrigava. A stipulatio poderia dar a forma a qualquer contrato. Certos contratos, os reais, exigiam algo mais: a entrega da coisa por um dos contratantes ao outro (empréstimo de coisa consumível - mutuum; empréstimo de uso - commadatum).

No Direito Romano ainda havia contratos puramente consensuais - venda, locação e sociedade. Mas o consensualismo era uma exceção. No geral, na falta da stipulatio ou da re (contrato real), as partes não realizavam um contrato, mas um simples pacto (pactum nudum pactum). O pacto nu não gera ação.

DIREITO GERMÂNICO:

No Direito Germânico os contratos eram raros, em virtude da ausência quase completa da atividade comercial e da importância dos laços que resultavam da solidariedade familiar. No seio da família germânica, o detentor do mundium (autoridade, ter a última palavra sobre determinado assunto), assegurava a execução dos deveres dos membros daquele grupo social. Entre famílias as obrigações nasciam da prática de delitos. Quem causou mal a outrem devia repará-lo. Toda a sua família estava solidariamente obrigada a essa reparação, sob risco de se expor a uma vingança privada (vendetta, faida). Numa sociedade sem moeda, a transação usual era a troca.

 DIREITO FRANCO

Havia dois tipos de contratos:

a) A fides facta (fé dada). Contrato formal pelo qual uma parte qui fidem fecerit (que dá fé) compromete-se em relação a outra cui fidem facta est (a que a fé é dada). As partes pronunciam certas palavras e faziam certos gestos. O devedor devia ainda entregar uma festuca (palhinha ou ramo de palha ao credor).

b) A res prestita (coisa emprestada). Era um contrato real por meio do qual uma coisa foi entregue por uma pessoa a outra, obrigando-se esta última a devolvê-la

Um formalismo simbólico dominou os contratos francos. Exigiam-se palavras, gestos e a entrega de um objeto (palha, ramo, faca, etc)

Por fim, pode ser dito que a Stipulatio romana e a fides facta do direito franco defendiam a utilização de formas que, por sua vez, davam força executória a qualquer compromisso.

ÉPOCA FEUDAL:

Séculos X a XIII. Contratos eram reais ou formais. Na maioria das vezes, o contrato se formava, ficavam perfeitos, tornavam-se efetivos, pela entrega da coisa vendida (compra e venda - pagamento total ou parcial do preço combinado e entrega da coisa; doação - coisa doada). Havia o adágio "não se pode dar e ficar com as coisas."

O simbolismo era importante: entrega da coisa ou preço feito por meio da entrega de um objeto cujo valor podia ser quase nulo.

Símbolos que transformavam contratos reais em formais. O ato simbólico lembra o elemento reail.

a) dinheiro de deus (denarius dei) Moeda de baixo valor entregue por uma parte a outra e destinada a um uso piedoso. Não era um princípio de pagamento.

b) vinho do mercado: As duas partes contratantes entram numa taberna e bebem juntas, muitas vezes se fazem acompanhar de testemunhas, que também participam da festa. 

c) a palmada: as partes apertam as mãos ou uma delas dá um tapinha na face do vendedor. A palmada significa a entrega da coisa.

No mundo feudal ainda havia contratos puramente formais, como o contrato feudo-vassálico, por meio do qual o vassalo dava a fé ao seu senhor, ao mesmo tempo que lhe prestava uma homenagem.

O juramento presta-se a um papel a um papel similar. Numerosos contratos eram feitos juntando uma forma leiga e outra religiosa (per fidem et juramentum) Era o juramento promissório (prometer fazer ou não fazer certa coisa.

Não confundir com juramento probatório (prova de um fato). A Igreja organizou o formalismo do juramento - recitação de uma fórmula pela qual se toma Deus como testemunha e certos gestos, como pôr a mão sobre a Bíblia.

ORIGEM DE DESENVOLVIMENTO DO CONSENSUALISMO :

Entenda-se: origem da ideia de que o consentimento das partes basta para formar o contrato. Tal ideia foi retirada, por exemplo, do Direito Canônico. Desde cedo a Igreja mostrou-se favorável  ao respeito da palavra dada. Era preciso manter a promessa feita por simples enunciação ou por juramento. O decretista Johannes Teutonicus, em 1212, afirmou:

Ex nudo pacto, actio oritur (uma ação pode nascer de um pacto nu). Assim, era subvertida a regra do Direito Romano, que recusava qualquer ação para a execução de simples pactos (ex nudo pacto, actio non oritur).

Gregório IX, em 1234, estabeleceu o mesmo princípio pela lei canônica  Pacta quantum que nuda servantur (qualquer pacto, mesmo os nus, deve ser mantido).

Além do Direito Canônico, os costumes também deram força à ideia do consensualismo. Era preciso ter respeito pela palavra dada (concepção moral do respeito da promessa). Nos séculos XI e XII, no sul da França, aparece a CONVENIENTIA, do latim CONVENIRE (estar de acordo), que dará no francês CONVENANCE, que em português é a nossa Convenção, convenciona-se algo, pactua-se algo. Era um contrato em que a vontade bastava para obrigar, sem necessidade de gestos, tampouco declarações formalistas. Os negócios (convenances) ficam firmes logo que celebrado pelo acordo das partes, todo o prometido é devido, todos os acordos devem ser cumpridos. 

CONSENSUALISMO, INDIVIDUALISMO E AUTONOMIA DA VONTADE:

A partir do século XVI temos o humanismo e a Reforma Religiosa. O consensualismo é tanto mais admitido a partir do fim da Idade Média quanto é certo que o individualismo suplanta a concepção comunitária do direito. Na Idade Média, os interesses da comunidade familiar, religiosa e econômica (Guldas, Corporações de Ofício), ultrapassam os dos indivíduos que a compõem. Com o fim da Idade Média, é o individualismo que passa a dominar. O homem agora é visto enquanto indivíduo isolado, livre, com a capacidade de dispor da sua pessoa e dos seus bens, que constitui o sujeito de direito.

Nos contratos, esse individualismo é traduzido pela Autonomia da Vontade. Cada indivíduo, enquanto sujeito de direito, goza da liberdade de se obrigar ou não, sendo pela sua vontade consciente que ele se obriga.

Ut emin boves funibus visialiter ligantur, sic homines verbis ligantur intellectualiter: (LIGAM-SE OS BOIS PELOS CORNOS E OS HOMENS PELAS PALAVRAS, TANTO VALENDO UMA SIMPLES PROMESSA  OU UMA CONVENÇÃO COMO AS STIPULATIONES DO DIREITO ROMANO. Fonte: LOISEL)

ESCOLA JUSNATURALISTA SÉCULO XVII:

Direito Natural é a ideia segundo a qual existe um direito inerente à própria natureza do homem.

É a Escola Jusnaturalista que confere autoridade à autonomia da vontade. É o início da laicização do Direito. Concepção universal e racional do Direito. 

Jurista holandês Grócio/Grotius (Hugo de Groot, 1583-1645: A vontade é soberana. O respeito da palavra dada é uma regra do direito natural. Pacta Sunt Servanda é um princípio que deve ser aplicado não somente entre os indivíduos, mas mesmo entre as nações (direito das gentes - os tratados devem ser respeitados). A expressão "direito das gentes" foi extraída de uma distinção que existia no Direito Romano, que separava o ius civile (o direito civil, isto é, o direito dos cidadãos romanos) e o ius gentium (o direito das pessoas que não gozavam do estatuto de cidadão romano). Estes últimos estavam submetidos às regras que decorrem da própria natureza das coisas, isto é, o direito natural. A ideia era a de que, já que não existia um diploma legal regulando a coexistência dos Estados, que eles fossem regulados pelo Direito Natural. Nesse sentido mesmo, em 1609, Grotius escrever o livro "De mare libero", que pretendia defender a liberdade dos mares.

"As guerras de religião e as conquistas coloniais foram outro fator de desenvolvimento do direito natural laico; para encontrar regras jurídicas comuns a todos os beligerantes, era preciso procurá-las na própria natureza do homem cujo respeito se impunha a todos." (página 364, Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian)

Jurista alemão Pufendorf (1637) O Homem é a origem da autoridade e do Direito. 

Descartes: Penso, logo existo. Os juristas pegam essa ideia e a transformam, dizendo: "Quero, logo obrigo-me". "Quero, logo tenho direitos." 

No século XVIII, essas ideias foram cooptadas pela Filosofia Política e Social. A sociedade passou a ser vista como formada por um conjunto de homens livres e autônomos, que não se ligam entre eles senão pela vontade. 

SÉCULO XIX: LIBERALISMO E INDIVIDUALISMO:

As fórmulas Laissez Faire, Laissez Passer e a Lei da Oferta e da Procura repousam na liberdade contratual. 

"É a idade de ouro da liberdade absoluta das convenções entre compradores e vendedores, entre patrões e operários, entre senhorios e inquilinos, etc., com a consequência da obrigação de as executar, mesmo se elas se revelassem injustas ou socialmente graves ou perigosas. Pois, então, estava-se convencido de que todo o compromisso livremente querido era justo." (páginas 738/739, Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian)

REAÇÕES CONTRA O CONSENSUALISMO E A AUTONOMIA DA VONTADE:

Estamos no final do século XIX e início do século XX. Os abusos da liberdade contratual são apontados por socialistas como Karl Marx e Saint-Simon. Há uma total ausência de proteção aos fracos. Os trabalhadores nas indústrias encontravam-se na situação de ter que aceitar um contrato imposto, de fato, pelo patrão. Esse proletariado só iria encontrar proteção na formação de grupos de pressão, os sindicatos.

Por volta de 1900, algumas leis surgem para regulamentar contratos de trabalho. 

O indíviduo começa a ver sua liberdade mais limitada. Ex.: Contratos de Adesão, onde as cláusulas já vêm prontas, é pegar ou largar. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO Introdução Histórica do Direito, 8º Edição, John Gilissen, Fundação Calouste Gulbenkian




sexta-feira, 19 de julho de 2024

A Istambul do Sultão Constantinopla Capital do Império Otomano.



BREVE HISTÓRIA DE ISTAMBUL:

Tradicionalmente fundada por Bizas, no ano 660 a.C., a cidade contava com uma excelente localização defensiva, entre o mar de Mármara e o Corno de Ouro, com vista para o Bósforo. A cidade de Bizâncio beneficiou-se imenso de todo o comércio por terra entre a Europa e a Ásia, e da navegação pelo Bósforo até o Mar Negro.

Numa cerimônia no dia 11 de maio de 330, o Imperador Romano Constantino declarou que a cidade era a nova capital do Império Romano. A cidade então passou de Bizâncio para Constantinopla, tendo como religião o cristianismo e como língua o grego.

Durante mil anos, o Império Bizantino (Império Romano do Oriente) foi a maior e mais rica potência no mundo mediterrâneo. Em 1453, após um cerco de seis semanas, o exército dos Turcos Otomanos, liderados por Mehmed II, o Conquistador, assaltou e conquistou a cidade. Durante o século XVI, sob o domínio de Solimão, o Magnífico, o Império Otomano foi o maior do mundo. Desde o fracasso do cerco a Viena, em 1683, o Império Otomano entrou em declínio.

O SULTÃO:

O Sultão é o governante supremo do Império Otomano, tanto nos assuntos laicos (seculares) como nos religiosos. Todos os seus súditos lhe devem obediência. Todas as leis emanam do Sultão. O Sultão é o califa, de forma que ele é o chefe religioso supremo. É ainda o comandando do exército. 

REGRAS DE SUCESSÃO:

"PASSE O SULTANATO PARA QUE FILHO MEU PASSAR, É JUSTO QUE MATE OS SEUS IRMÃOS, A BEM DA ORDEM DO MUNDO." (MEHMED, O CONQUISTADOR)

Como não havia direito de primogenitura, qualquer filho do Sultão poderia sucedê-lo. Mehmed, o Conquistador, introduziu a lei do Fraticídio, segundo a qual qualquer novo Sultão pode ordenar imediatamente a execução de todos os irmãos, por estrangulamento, a fim de evitar o derramamento de sangue real (evitar golpes).

O Sultão tinha filhos com suas concubinas. Seu Harém tinha várias mulheres, todas elas infiéis convertidas ao islão.

O Harém era um viveiro de intrigas, com todas as mulheres lutando para garantir que quem sucedia ao Sultão era seu filho. 

Quando Ahmed I tornou-se Sultão em 1603, a lei do fraticídio foi substituída pelo encarceramento nos aposentos do Topkapi conhecidos pelo nome de Gaiolas. 

DEIXEM-ME COMER AS MINHAS CASTANHAS ANTES DE ME ESTRANGULAREM" (Um dos filhos de Murad III, que tinha 20 filhos, 19 dos quais executados após a sua morte; o outro, Mehmed III, ordenou as execuções após aceder ao trono.)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A INSTAMBUL DO SULTÃO POR CINCO KURUS POR DIA", CHARLES FITZROY, EDITORA BIZÂNCIO



quinta-feira, 11 de julho de 2024

História em Quadrinhos do Irã Pérsia Guerra Irã Iraque Revolução Islâmica 1979 Persépolis

HISTÓRIA DO IRÃ EM QUADRINHOS. A VIDA DE E DE SUA FAMÍLIA COMO PANO DE FUNDO DA HISTÓRIA DO IRÃ

ORIGENS DO IRÃ. SÍNTESE HISTÓRICA:



A origem gloriosa do Irã está no Império Persa do período Aquemênida (550-330 a.C.). O Império Persa era uma terra em abundância,que ligava o Mediterrâneo ao coração da Ásia. Conquistou áreas que hoje correspondem ao atual Irã, Iraque, Síria, Jordânia, Israel, Turquia, Egito, Usbequistão, Paquistão e Afeganistão. Seu primeiro grande líder foi Ciro. Com a morte de Ciro, o Império Persa foi dividido entre seus filhos Cambises e Bardiya. Cambises tornou-se Faraó do Egito. Na sequência, os persas foram governados por Dario. O Império Persa seria derrotado pelos macedôneos, sob o comando de Alexandre, o Grande. Com a morte de Alexandre, em 323 a.C., seu império recentemente conquistado foi dividido. Sua parte oriental, que ia do rio Tigre ao rio Indo, englobando o atual Irã, ficou na posse de um ex-oficial do exército de Alexandre, Seleuco, daí o nome da dinastia, Selêucidas. Os Selêucidas seriam superados pelos Arsácidas e, depois, pelos Sassânidas. 

Na sequência, no século VII, no ano de 642, os árabes invadiram a Pérsia. Uma só batalha foi o suficiente para conquistarem o país. Derrotados, os persas adotaram o Islã, mas um islã de vencidos, um islã subterrâneo, esotérico e revolucionário, o xiismo. Com a morte de Maomé em 632, sua família foi afastada do poder, em benefício dos companheiros do profeta. Um genro e primo de Maomé, Ali, e o filho de Ali, Hussein, que tinha se casado com uma princesa pérsia da derrotada dinastia sassânida, foram assassinados um após o outro. Desse conflito, nasceu a separação do islã entre os sunitas, vencedores desse embate inicial, e os xiitas, seguidores de Ali e Hussein. 

A fidelidade aos derrotados Ali e Hussein representa também a fidelidade à linhagem sassânida do passado glorioso da Pérsia. 

No século X, a Pérsia foi dominada pelos ghaznávidas. No século XI, vieram os seljúcidas, seguidos pelos khwarazimitas, que foram sucedidos pelos mongóis nos séculos XII até o XIV, com a fundação do Ilkhan. No século XIV, chegou Tamerlão. Mesmo sob diversos senhores, a Pérsia manteve a sua cultura e a sua língua. Depois dos mongóis, vieram os safávidas (dinastia turcomena). Em 1795, outra tribo turcomena fundou a dinastia Qadjar. A Pérsia, então, nos séculos vindouros, viria-se alvo da cobiça da Rússia, da Inglaterra e dos EUA. Com a descoberta do Petróleo, a Pérsia se tornou ainda mais atraente para esse predadores externos. Em 1925, um oficial, Rezah Khan, tomou o poder e expulsou a dinastia Qadjar. ELE DEU OFICIALMENTE O NOME DE IRÃ AO PAÍS. A ocidentalização do país foi acelerada, para grande ira dos religiosos. Na Segunda Guerra Mundial, o norte do país foi ocupado pelos soviéticos, e o sul pelos ingleses. Em 1953, a CIA, órgão de inteligência dos EUA, organizou um golpe de estado no Irã, derrubando o então chefe de governo, Mossadeq, que contestava a divisão de lucros proveniente da exploração de petróleo por empresas estrangeiras. Mohammad Rezah assumiu o trono iraniano. Ficaria no poder até 1979, quando foi derrubado pela Revolução Islâmica comandada pelo Aitolá Khomeini. Essa é basicamente a história do Irã, herdada por Marjane e pelos seus país. A história de Marjane serve de pano de fundo para a história do Irã, da Revolução Islâmica de 1979 aos dias de hoje.

TEMPOS DE REVOLUÇÃO:


Marjane

Marjane era filha única. Sua mãe, dona de casa, enquanto seu pai trabalhava para o governo. Eram tempos de revolução. Os ídolos de Marjane eram Che Guevara, Fidel, Trotski. Ela sabia tudo sobre as crianças palestinas. Torcia pelos vietnamitas que lutavam contra os EUA. Protestos aconteciam no Irã. Queriam a queda do rei Mohammad Rezah. Na escola, os livros de Marjane diziam que Mohammad Rezah havia sido escolhido por Deus. 

Mas seu pai disse-lhe que era tudo mentira. A verdade é que 50 anos atrás, o pai do atual rei (ou Xá, como era chamado), que era soldado,tramou um golpe de estado para derrubar o governante da época e instaurar uma república. As potências ocidentais ficaram interessadas no plano. Apoiariam o golpe em troca do Petróleo iraniano. O golpe foi bem sucedido. Deus, enfim, não teve nada a ver com a ascensão de Mohammad Rezah ao poder. O governo de Mohammad Rezah sempre foi um ditadura, apoiada pelos EUA, Inglaterra. Opositores do regime eram presos, torturados, mortos. O fim do regime estava próximo. O povo queria que ele fosse embora. E, assim, Mohammad Rezah, sem ter mais apoio, abandonou o Irã. O povo do Irã comemorava a liberdade. Mas foi por pouco tempo. Uma outra ditadura viria para substituir a ditadura derrubada.

REVOLUÇÃO ISLÂMICA:

O pai de Marjane não se conformava e dizia: "A Revolução é de esquerda, mas querem que a República seja Islâmica." 

E foi examente assim que aconteceu. A população do Irã, a maioria, era analfabeta, de forma que não dava para reunir ela em torno do materialismo de Marx. A única coisa que unia aquelas pessoas era o nacionalismo, o ódio ao ocidente predador. Outra coisa que as unia era a religião. No fim, as pessoas votaram a favor da República Islâmica.

Muitos iranianos buscaram fugir do Irã. A maioria ia para os EUA. Enquanto isso, a repressão do novo regime começava, na forma de prisões e assassinatos. O tio de Marjane, pelo fato de ter morado na URSS por algum tempo, foi considerado comunista e, por essa razão, acabou morto na prisão. 



A República Islâmica buscava impor suas ideias à sociedade. Era preciso rever os livros e o sistema educacional. Era preciso acabar com a imoralidade vinda do ocidente, mantendo os jovens no caminho do islã. Para as mulheres, o véu passou a ser obrigatório. O código de roupas definia as pessoas. Uma mulher fundamentalista, usava devia cobrir todo o seu cabelo e corpo. Uma mulher moderna, deixaria à vista algumas mechas de seu cabelo. Um homem fundamentalista devia usar barba e as camisas para fora de sua calça. Já o homem progressista andaria barbeado ou com apenas um bigode e camisa para dentro da calça. Homens não deviam usar gravata, visto como um símbolo do ocidente. Mulher sem véu corria o risco de ser presa, pois o cabelo feminino era visto como algo que poderia excitar os homens. Para os homens, camisas de mangas curtas estavam proibidas, pois achava-se que os braços masculinos excitavam as mulheres.

GUERRA IRÃ IRAQUE:

Em 1980, começou a Guerra entre Irã e Iraque. A guerra piorou ainda mais a vida das pessoas que moravam no Irã. Supermercados quase vazios. Aumento do preço do combustível. Bombardeios do Iraque em cidades iranianas. Jornais iranianos saiam com páginas e páginas com os nomes dos mártires, jovens que tinham morrido na guerra. Meninos iam para a guerra, sob a promessa de, caso fossem mortos em combate, iriam ao paraíso. Para reforçar essa ideia, quando eram convocados, recebiam uma chave de plástico dourada. Caso tivessem a sorte de morrer em combate, essa chave abriria o Paraíso para eles. Geralmente eram meninos pobres, atraídos pela ideia de um Paraíso cheio de delícias, coisas que nunca tinham tido a chance de experimentar em vida. 

A CHAVE DO PARAÍSO ERA PARA OS POBRES. COM A PROMESSA DE UMA VIDA MELHOR,, MILHARES DE JOVENS IRANIANOS, COM A CHAVE PENDURADA NO PESCOÇO, EXPLODIRAM NOS CAMPOS MINADOS.

FINAL

Na escola, Marjane era rebelde, Durante as aulas, buscava contestar as mentiras que os professores contavam sobre o Regime Islâmico. Era uma atitude perigosa. Preocupados de que algo de muito ruim poderia acontecer com sua filha, os país de Marjane a mandaram para a Europa, onde ficou por 4 anos. Não foi uma experiência positiva para ela, tanto que seu viu obrigada a voltar para o Irã.

Ao retornar ao Irã, andando pelas ruas da capital, Teerã, se deu conta que a maioria das ruas contava com novos nomes. Eram os nomes dos soldados que tinha morrido na Guerra, já encerrada. Marjane ficou com a impressão de caminhar sobre um cemitério. Marjane, acabou entrando na Escola de Belas Artes. Mas Marjane não conseguia se readaptar à sociedade iraniana. Antes de partir, em 1994, a mãe de Marjane disse-lhe: "Desta vez você vai para sempre. Você é uma mulher livre. O Irã de hoje não é para você. Te proibo de voltar." 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO PERSÉPOLIS, MARJANE SATRAPI, QUADRINHOS NA CIA.