quinta-feira, 26 de março de 2020

Introdução Revolução Francesa Fim das Guerras Valores Aristocráticos Militarismo



PARALELO CONSTRUÍDO PELO AUTOR DO LIVRO:

O autor do livre pega duas épocas da história humana, a primeira indo de 1789 a 1790 (Revolução Francesa - Liberdade/Igualdade e Fraternidade) e a segunda indo de 1989 a 1990 (Queda do Comunismo, fim da Guerra Fria). O autor traça um paralelo entre essas duas épocas, dizendo que em ambas as pessoas acreditavam que elas marcariam o "fim das guerras". A paz viria em difusão, pois os Países Democráticos que viriam a nascer com os ideias da Revolução Francesa (1789/1790) e com o Fim das Ditaduras Comunistas e da Guerra Fria não lutariam entre si, estabelecendo assim um época de paz.

"Esta será a última guerra." (Charles François Dumouriez - 1792)
(página 13)

Mas tudo não passou de um sonho. Nem o período de 1789/1790, tampouco o período de 1989/1990 inauguraram períodos de paz. Apenas em título de exemplo, após o Queda do Muro de Berlim em 1989, tivemos vários conflitos, com Guerras no Afeganistão, no Iraque, na Síria.

22 DE MAIO DE 1789: FIM DAS GUERRAS DE CONQUISTAS:

Governo Revolucionário Francês decretou o fim das guerras de conquistas. A partir daquele momento, os exércitos só serviriam para a auto-defesa de um país. 

VALORES ARISTOCRÁTICOS:

Havia dois valores aristocráticos:

HONRA
SERVIÇO

Esses dois valores eram exercido num palco. Esse palco era a GUERRA. Os Aristocratas colocavam esses valores honra e serviço basicamente durante as guerras dais quais participavam. E isso era necessário pois era na guerra que o aristocrata estabelecida a sua Reputação. 

"Tudo está perdido, menos a honra, e tudo foi salvo." (Código de Honra Aristocrático)
(página 125)

GUERRAS PRÉ-REVOLUÇÃO FRANCESA: 

Nessas guerras os aristocratas, como já dito acima, buscavam estabelecer a sua Reputação: "autocontrole aristocrático, de estabelecer uma reputação emulando um modelo impessoal de glória."
(página 20)

MUDANÇA DE INTENSIDADE DAS GUERRAS:

O ano de 1792 marca uma separação entre o grau de intensidade das guerras. Antes de 1792, as guerras tinham um caráter limitado. Após 1792, a coisa mudou de figura, havendo uma mudança na intensidade das guerras, para mais.

"Como resultado dessas mudanças, quando a França pegou em armas em 1792, não foi para combater algo como as guerras limitadas conhecidas das potências do Antigo Regime. O que se seguiu merece o adjetivo de 'apocalíptico'. Os conflitos de 1792 a 1815 não testemunharam nenhum grande avanço da tecnologia militar, mas a Europa mesmo assim experimentou uma transformação extraordinária no escopo e na intensidade da guerra. Os números falam por si próprios. Mais de 1/5 de todas as grandes batalhas travadas na Europa entre 1490 e 1815 ocorreram exatamente nos 25 anos depois de 1790. Antes de 1790, apenas um punhado de batalhas tinha envolvido mais de 100 mil combatentes. Em 1809, a batalha de Wagram, então a maior jamais vista na era da pólvora, envolveu 300 mil combatentes. Quatro anos mais tarde, a batalha de Leipzig mobilizou 500 mil, dos quais 150 mil foram mortos ou feridos. Durante o período napoleônico, a França sozinha contabilizou quase um milhão de mortos de guerra, possivelmente uma proporção mais alta de seus jovens do que aqueles mortos na Primeira Guerra Mundial. Na Europa inteira, o número total de vítimas pode ter chegado a 5 milhões. Em um processo se precedentes, as guerras trouxeram alterações significativas no território ou no sistema político de cada um dos Estados europeus. A luta de guerrilha deixou feridas abertas em regiões da Espanha, da Itália, da Áustria, da Suíça e da própria França. Essa, portanto, foi a primeira guerra total."
(páginas 20/21)

1792 - 1815: PRIMEIRA GUERRA TOTAL:

Primeira Guerra Total significa engajamento total e abandono de limites. Você tinha que submeter, com fins militares, sociedades inteiras. 
Outros fatores que levaram à intensificação das guerras:
▶radicalismo igualitário ❎conservadorismo hierárquico: 
O conservador inglês, Edmund Burke, inimigo da Revolução Francesa, defensor do conservadorismo hierárquico, dizia que "É contra uma doutrina armada que estamos em guerra"
(página 23)
▶nacionalismo com seu novo estágio de autoconsciência das pessoas como pertencentes a uma nação:
"Agora não é o rei quem trava guerra contra o rei, nem um exército contra outro exército, mas um povo contra outro povo." (Claus Von Clausewitz)
(página 24)

MUDANÇA NA CULTURA DA GUERRA - MEADOS DO SÉCULO XVIII E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX. NASCIMENTO DO MILITARISMO:

Houve uma mudança na cultura da guerra. O autor olha menos para a ideologia e para o nacionalismo. Ele olha para a mudança implantada pelo Iluminismo, que transformou a guerra de um evento corriqueiro em algo que deveria ser encarado como uma exceção, algo à parte no curso natural da história.
Duas outras mudanças surgiram relacionada à mudança da cultura da guerra. 
- novas percepções sobre as Forças Armadas. Nasceu uma distinção clara e duradoura entre a ESFERA CIVIL e a ESFERA MILITAR. Essa distinção deu origem ao MILITARISMO.

MILITARISMO:

Pressupõe a existência de duas sociedades:

⁕ uma sociedade militar
⁕ uma sociedade civil

No militarismo, os valores da sociedade militar eram colocados sobre os valores da sociedade civil


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PRIMEIRA GUERRA TOTAL, A EUROPA DE NAPOLEÃO E O NASCIMENTO DOS CONFRONTOS INTERNACIONAIS COMO OS CONHECEMOS", DAVID A. BELL, EDITORA RECORD.

domingo, 22 de março de 2020

Rus Rurikid Moscóvia Império Russo Romanov



PODERES EM EXPANSÃO:

Século XV: Moscóvia - Expansão para o Leste
Século XVII: China reunificada sob a dinastia Qing
▶Entre a Moscóvia e a China, os mongóis e outras tribos nômades em busca de pastagens e disputando com vizinhos sedentários o monopólio de comércio e em meio a tudo isso ainda havia a disputa pela liderança supra-tribal.
Simultaneamente, na ponta ocidental da Eurásia, Soberanos se expandiam às custas de outros soberanos e para fora do continente. Como exemplo, Espanha e Grã-Bretanha lançaram-se ao Oceano.

RÚSSIA:

"Comparado com a China, a Rússia era um estado embrionário e improvável"
(página 246)

A Rússia embrionária era formada por florestas entre os rios Dnieper e Volga, região formada por uma população andarilha, dispersa e clã principescos, à qual nenhuma grande potência dava importância. Era uma vantagem ser deixado em paz, não ser ambicionado por nenhum outro poder. O nome Rússia provém de príncipes guerreiros que no século IX fundaram Kiev. Os rus (escandinavos) ligaram o Mar Báltico ao Rio Volga, o Mar Cáspio ao Rio Don, chegando ao Mar Negro e retornando ao norte pelo Rio Dnieper. Os rus enriqueceram e criaram um Estado às margens do Rio Dnieper, em Kiev. Os príncipes Rus eram chamados de Rurikids, os filhos de Rurik
Criou-se um mito fundador segundo o qual foram as tribos eslávicas que convidaram Rurik (Riurik) e seus irmãos para governar suas terras, promovendo a paz. Esse era o mito do grande líder de uma terra distante que chega para criar a manter a paz. Era um elemento da imaginação imperial da região.
Principais cidades das Terras Rus: Novgorod, Pskov, Kiev, Riazan, Suzdal, Vladimir.

RELIGIÃO NA RÚSSIA EMBRIONÁRIA:

No início, os Rus, assim como os eslavos ao seu redor, eram politeístas. Vladimir, o maior líder "Rus" (980-1015), voltou-se para o monoteísmo. Vladimir rejeitou o judaísmo por essa religião ser de um povo derrotado que tinha perdido o seu Estado. Rejeitou o Islã porque esta religião proibia o uso da bebida alcoólica. Sobraram o Cristianismo de Roma e o Cristianismo de Constantinopla. Qual religião seria escolhida por Vladimir? Vladimir optou pelo Cristianismo de Constantinopla e se casou com a filha de um Imperador Bizantino. Clérigos Bizantinos batizaram o povo de Kiev no Rio Dnieper em 988.

-O islã proibia o álcool.
-O cristianismo proibia a poligamia. Mas Vladimir tinha muitas mulheres.
-Vladimir optou então cristianismo de Constantinopla

"Os motivos de estado devem ter prevalecido, (...). Ou talvez o álcool tenha prevalecido em relação ao sexo."
(página 247)

Foi adotado o alfabeto cirílico para difundir o cristianismo oriental entre os súditos eslavos de Vladimir. Bizâncio havia abandonado a posição romana (catolicismo romano) segunda a qual somente o Latim era digno de expressar as palavras de Deus. O Cristianismo multi-linguístico adotado por Bizâncio se adequou à sua estratégia imperial.

Mas a religião sozinha não seria suficiente para a construção de um Império.

KIEV:

Era a joia da coroa. A sucessão era lateral, de irmão para irmão. Um irmão ficava com Kiev e os outros ficavam com outros principados de menor importância, rodeados por um séquito armado formado por seus seguidores (dependentes).
Sucessão Lateral: De irmão para irmão. Um irmão ficava com a joia da Coroa, Kiev, e os outros dividiam entre si os principados restantes. Cada um deles tinha um séquito armado formado por seus dependentes, clientes. Esse sistema de rotação gerava conflitos, com disputas sucessórias contínuas. Essas disputas enfraqueciam a terra dos Rurikids. Para piorar, em 1204, Bizâncio (Constantinopla), que era o maior parceiro comercial de Kiev, foi arrasada por uma Cruzada. Isso causou uma decadência na terra dos Rurikids. E a pá de cal foi a invasão dos mongóis, que conquistaram os principados Rus, finalizando com a maior conquista, em 1240, o Principado de Kiev. Em 1242, Batu, o líder mongol, foi obrigado a retornar à Mongólia para a eleição de um novo Khan. Na ausência dos mongóis, os príncipes rus voltaram a brigar entre si e contra outros inimigos externos. No norte, Alexandre Nevsky, líder das cidades do norte, Novgorod e Pskov, conseguiu impedir uma invasão sueca em 1240 e dos cavaleiros teutônicos em 1242.
Resolvidas as questões sucessórias, os Mongóis retornaram às terras do Rurikids. Batu assumiu o comando do Canato Quipchaco, renomeando-o depois para Horda Dourada.

HORDA DOURADA:

Capital: Sarai, no rio Volga.
Controlava as rotas comerciais. Exercia poder sobre Kiev, Vladimir e a futura Moscou.
Os príncipes rurikids sobreviventes tornaram-se vassalos dos Mongóis. Como vassalos, os príncipes rurikids recolhiam impostos para os mongóis e competiam entre si para ver quem seria o príncipe mais poderoso. Esses príncipes viviam numa parte da Horda Dourada (ocidental) coberta por florestas, que não despertava o interesse dos mongóis, que simplesmente repassavam a sua administração aos príncipes Rurikids locais, que administravam essas áreas em nome dos mongóis.
Sem querer, os mongóis davam uma segunda chance para o nascimento de um Império Rus, que poderia brotar nas terras que compunham a parte ocidental da Horda Dourada, sob o governo de algum desses príncipes Rurikids.
Para que um Príncipe Rus pudesse exercer a sua autoridade, ele tinha que ir à cidade de Sarai, a capital da Horda Dourada. Ali, jurava lealdade ao Khan, trazia presentes (escravos, prata, peles de animais). A subserviência não era uma escolha. Quem não era subserviente ao Khan, era executado.
Membros de famílias de príncipes Rurikids se casavam com membros da Corte do Khan. Quando um príncipe Rirukid recolhia impostos par ao Khan, era autorizado a reter uma parte para si. Uma outra concessão do poder mongol foi a autorização para que a Igreja Ortodoxa continuasse a funcionar.

MOSCOU/MOSCÓVIA:

Moscou localizava-se no ponto de convergência de três trajetórias imperiais:

-Dos Bizantinos receberam a religião
-A legitimidade do Príncipe de Moscou vinha de seus ancestrais Rus (Rurikids)
-Dos mongóis aprenderam a administrar e explorar uma população dispersa

 A DOMINAÇÃO DE MOSCOU:

Os príncipes de Moscou (século XIII) eram servos leais dos mongóis. Um servo leal a um Khan Mongol devia exercer os devidos rituais, comprar sua boa vontade e fornecer soldados para as campanhas do Khan. Os príncipes de Moscou seguiram isso e por isso superaram seus concorrentes rus pelo domínio da Rússia. 
Os príncipes de Moscou também expandiram o seu território tomando para si os territórios de outros príncipes rus (rurikids). Um território maior significava uma arrecadação de tributos maior. Moscou também usava casamentos com membros da corte do Khan e de outros príncipes Rus como forma de aumentar o seu poder.
Outra vantagem de Moscou: seus príncipes viviam muito e tinham poucos filhos, de forma que puderam romper com o hábito de dividir seus territórios entre seus filhos - um processo que havia fragmentado a elite de Kiev.

DECADÊNCIA DO DOMÍNIO MONGOL:

1395: Tamerlão destrói Sarai, a capital da Horda Dourada. A Horda Dourada então foi dividida em 4 pedaços em meados do século XV:
✔Astracã
✔Crimeia
✔Kazan
✔Canatos menores remanescentes

Em 1492, os Khan deixaram de nomear o grande príncipe de Moscou.
Com esse declínio do Império Mongol, os russos, nos séculos XV, XVI e XVII, passaram a se expandir territorialmente, criando um Império Multi-Confessional e Multi-Étnico. Nessa mesma altura, Inglaterra, Holanda, França, Portugal e Espanha participavam da expansão ultramarina. 

EXPANSÃO DE MOSCOU:

Expansão de Moscou era obstruída, ao sul, pelos Otomanos, a oeste, pelos Poloneses/Lituanos. E no norte havia os livônios, os suecos e também os poloneses. Para Moscou, no início de sua expansão, o caminho mais fácil estava no leste, penetrando na Sibéria atrás do comércio de Peles. A sudeste, descendo pelo Rio Volga, em direção à Ásia Central, com o objetivo de controlar rotas comerciais lucrativas. No ano de 1552, seguindo na direção leste, Ivan, o Terrível, conquistou a cidade de Kazan, no Rio Volga. Mais terras significavam mais arrecadação de impostos e o Rio Volga era estratégico no faturamento comercial. Mas Moscou (Moscóvia) continuaria a crescer ou desmoronaria sob o peso de rixas violentas na luta pelo poder? A mesma luta pelo poder que destruiu domínios dinásticos na Eurasia. 
O desafio de quem governava era como manter as elites leais à uma soberania dinástica. Com Moscou não seria diferente. 

"Com o tempo, os russos desenvolveram formas muito eficazes para atrelar seus intermediários ao soberano."
(página 254)

MÉTODO PARA UNIR AS ELITES AO SOBERANO:

Inovação dos Príncipes Moscovitas: Estender a prática de alianças matrimoniais às elites que integravam seu regime. Um conselho de Boiardos (eram as elites russas) assessorava o governante moscovita. O grande Príncipe Moscovita se casava com mulheres de clãs subordinados, e não com mulheres estrangeiras. 

"Essa prática enxertava famílias inteiras na dinastia, garantindo um interesse vital pelo regime."
(página 255)

Os Moscovitas também imitavam os Khans, concedendo terras às elites, em troca de lealdade absoluta regime.
O Príncipe da Moscóvia tinha a posse soberana de todos os recursos. De posse desses recursos (terras), ele os repassava, concedia-os condicionalmente. 
As elites de Moscou então ficavam atreladas ao Grão-Príncipe de Moscou por meio de:
-Casamentos
-Concessões de Terras

GRÃO-PRÍNCIPE DE MOSCÓVIA E O POVO:

A ideia era que o Grão-Príncipe de Moscóvia proporcionava proteção para o povo. Ao mesmo tempo, o cristianismo oriental ligava o povo ao Grão-Príncipe ( a religião funcionava como uma ideologia do Estado). 
A Igreja Ortodoxa Russa era como um poder oculto por trás do trono de Moscóvia. E com a queda de Constantinopla em 1453, Moscou poderia se candidatar como a nova sede da Ortodoxia. O prelado metropolitano de Moscou se tornou o Patriarca da própria Igreja Ortodoxa Oriental da Rússia. 

NARRATIVA CRIADA POR MOSCOU PARA LEGITIMAR O SEU PODER. MOSCÓVIA, A TERCEIRA ROMA.

Para fortalecer ainda mais Moscou (Moscóvia), criou-se a narrativa segundo a qual os grãos-príncipes haviam recebido sua autoridade dos Imperadores Bizantinos e que eram descendentes de Augusto César. Moscou seria a terceira Roma. Em 1547, Ivan IV, o terrível, assumiu o título de Czar, ou César, vinculando-se ao passado glorioso romano. 
A Moscóvia era uma comunidade cristã unida pela ortodoxia, conduzida por um autocrata, o Czar, e guiada pela Igreja Ortodoxa. 

IMPÉRIO RUSSO:

Amalgama do Império Bizantino com o Império Mongol. 

Do Império Bizantino os russos herdaram:
-a religião ortodoxa, 
-o título de Czar (César)
-o título de Autocrata (palavra bizantina que designava um governante completo)

Do Império Mongol, os Russos herdaram:
-Em 1550, Ivan IV convoca um conselho da terra, uma espécie de KURULTAI Mongol, para estabelecer um novo código de leis.
-Como administrar um Império extenso com um povo disperso

Ivan, IV, o terrível, era Khan, César e um servo de Deus.

PILARES QUE SUSTENTAVAM O IMPÉRIO RUSSO:

▶Clãs políticos apoiadores do Czar
▶Concessão de terras
▶A Igreja Ortodoxa fornecia uma ideologia unificadora

A Nobreza russa era dependente do Czar. Na Europa Ocidental, de forma diversa, a nobreza tentava conter a fome de poder do rei. Essa dependência da nobreza russa em relação ao Czar incluía o envolvimento no projeto imperial do Estado Russo, com sua expansão territorial e com a concessão de terras obtidas por meio dessa expansão, de forma a ter a lealdade dessa Nobreza. 
Essa expansão territorial para comprar lealdades inevitavelmente iria entrar em choque com os interesses dos países que faziam fronteira com a Rússia. Haveria choques com a Suécia, com a Polônia/Lituânia, com o Império Otomano, Canatos Mongóis e China. 

FIM DA DINASTIA RURIKID:

1598: Morre Teodoro, filho de Ivan IV,  Terrível (Groznyi: o admirável). Era o fim da Dinastia Rurikid. 
A elite, formada pelos Boiardos, escolhe Boris Godunov para ser o novo Czar. Boris era cunhado do falecido Teodoro I (sua irmã tinha se casado com Teodoro I). Mas, apesar desse parentesco, Boris não tinha sangue Rurikid, faltando-lhe então legitimidade dinástica. Esse fato fez nascer uma disputa de poder dentro da elite russa. Essa divisão na Rússia despertou a cobiça da Suécia e da Polônia/Lituânia, que viram nessa divisão uma oportunidade para diminuir o poder da Rússia.

TEMPO DE DIFICULDADES: 1584-1613):

Nasceu com a discussão sobre a ideologia da Descendência Real.
Pessoas se apresentavam dizendo-se filhos legítimos de Ivan IV, com o objetivo de obterem o trono russo. Descobriu-se depois que essas pessoas eram farsantes. Todos os filhos de Ivan IV estavam mortos. 
Depois de muitos conflitos, os Boiardos escolheram Miguel Romanov, proveniente de um clã russo relativamente menor. 

DINASTIA ROMANOV:

A Dinastia Romanov duraria até 1917. De 1613 até 1917! Em 1917, a Dinastia Romanov saiu do poder em razão da Revolução

O GOVERNANTE RUSSO COMPRAVA LEALDADES COM TERRAS E COM SERVOS:

"Tanto os czares como os nobres (boiardos) sofriam com sua incapacidade de manter as pessoas trabalhando em suas terras, porque os camponeses podiam muito bem juntar suas coisas e partir para outros territórios do Império em expansão, onde outros lhe ofereceriam trabalho de bom grado."
(página 258 )

"A restrição de mobilidade dos camponeses deu aos nobres um bom motivo para apoiar o Czar. Mas e quanto aos sacerdotes de alto escalão - os outros intermediários do Império Russo? Os Czares haviam se beneficiado muito da ideologia harmonizadora da Ortodoxia, com seus rituais de acomodação e seus esforços missionários, sem precisar lidar com a autoridade institucionalizada de um Papa romano (como acontecia com os países no Ocidente). Desde a época do protetorado Mongol, contudo, a Igreja possuía suas próprias terras , seus próprios camponeses agricultores, seus próprios Tribunais e, a partir de 1589, seus patriarcas, por vezes, indivíduos de grande importância."
(página 258) 

Em 1649, para conseguir a lealdade dos nobres, a dinastia Romanov criou uma lei proibindo os camponeses de saírem das terras onde viviam. 

UMA PITADA DE EUROPA NA RECEITA RUSSA:

1696: Pedro torna-se Czar da Rússia. 
Inovações europeias de Pedro. Alguns exemplos:
-substituição da cúpula dos Boiardos por um Senado.
-foi esse Senado que proclamou Pedro Imperador, e não a Igreja, em 1721.
-criação da academia de ciência.
-publicação do primeiro jornal da Rússia.

Pedro zombava da Igreja Russa. Queria mostrar que quem mandava era ele, que não iria dividir o seu poder com a Igreja. Substituiu o Patriarca, figura de grande poder, por um Conselho, o Santo Sínodo. A Igreja teve que se resignar ao seu inédito papel de coadjuvante na história russa. 

"Os clérigos, assim como os servidores seculares, reconheceram o poder pessoal do Imperador para proteger , recompensar e punir."
(página 261)

Czar: 
▶Proteger
▶Recompensar
▶Punir

Pedro, em vida, queria nomear seu sucessor. Mas a Nobreza russa tentava sabotar esse plano de Pedro. Era a nobreza que queria decidir quem seria o Czar ou Czarina. 

1725: MORTE DE PEDRO, O GRANDE:

O patrimonialismo (da nobreza russa) triunfou:

"Os nobres recebiam terras e força de trabalho como recompensa por sua lealdade; eles não tentavam se livrar da autocracia, mas antes lutavam para continuar próximos do Imperador ou para manter conexões com os mais altos agentes do Estado."
(página 262)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "IMPÉRIOS, UMA NOVA VISÃO DA HISTÓRIA UNIVERSAL", Jane Burbank e Frederick Cooper, Editora Crítica.

sábado, 21 de março de 2020

Conexões Eurasiáticas Império Mongol China Temujin Gengis Khan Tamerlão



IMPÉRIO MONGOL:

(Temujin) Gengis Khan torna-se líder dos Mongóis no ano de 1206. Pela primeira vez, uma família (dinastia inaugurada por Gengis Khan) unira toda a Eurasia, da China até o Mar Negro.

RELEVÂNCIA DO IMPÉRIO MONGOL:

-criaram conexões seguras ao longo da Eurasia, das quais se aproveitaram caravanas de comerciantes, missionários, etc. O ir e vir pela Eurasia tinha se tornado seguro.
-transmitiram, adaptaram e transformaram tecnologias.

AS ROTAS NA EURASIA:

Roma criou seu império mediterrâneo em quatro séculos. Gengis Khan e aqueles que lhe sucederam criaram um império muito maior na Eurasia num período de sete décadas.

CHOQUE ENTRE POVOS NÔMADES E SEDENTÁRIOS:

Povos nômades costumavam invadir e saquear comunidades sedentárias.
Os romanos também tinham problemas com os bárbaros, como exemplo Átila, o líder dos nômades Hunos, em meados do século V d.C..
Nômades não tinham cidades. Armavam e desarmavam acampamentos em busca das melhores pastagens para seus rebanhos. E de vez em quanto saqueavam, pilhavam uma tribo rival ou alguma comunidade sedentária. A tribo nômade Xiongnu davam muita dor de cabeça a China (civilização sedentária) da dinastia HAN.
Os povos nômades levavam vantagem quando se batiam contra civilizações sedentárias. Esses povos nômades (turcos, mongóis, etc) surgiram numa vasta área formada por tundra, estepes e florestas, englobando, ao norte, da Finlândia à Sibéria, descendo para o sul, onde hoje é a China.

VIDA NAS ESTEPES. MOBILIDADE ORGANIZADA:

Havia um deslocamento de forma organizada, de uma área para outra, em busca de pastagens para os rebanhos. Levantar acampamentos, montar acampamentos. Áreas eram exploradas em busca de pastagens de boa qualidade, que podiam alimentar seus animais, dos quais os Mongóis tiravam praticamente tudo do que precisavam: alimento, roupas, abrigo, transporte e bens comercializáveis. Vários animais eram explorados: cavalos, ovelhas, vacas, cabras e até camelos. Se houvesse uma emergência, um mongol poderia até beber o sangue de seus animais.O pastoreio fornecia os itens básicos para a sobrevivência desses grupos nômades. Produtos como grãos, metais, chá, tecidos finos eram encontrados nas zonas fronteiriças da Eurasia. E algumas tecnologias nascidas entre os povos sedentários foram adquiridas pelos povos nômades, como a fundição de metal.

INTERAÇÃO PACÍFICA/COMERCIAL ENTRE OS POVOS NÔMADES E OS POVOS SEDENTÁRIOS:

Na Eurásia, os povos nômades e sedentários interagiam entre si por meio de comércio, casamentos, diplomacia, além das já citadas guerras e pilhagens. Não havia novidade nisso.

UNIDADE BÁSICA DE SOBREVIVÊNCIA NO INÓSPITO MUNDO DAS ESTEPES:

Era a família.
Para sobreviver necessitavam de seus animais e da ligação com outras pessoas que pudessem subsistir num determinado espaço. Com o passar do tempo, famílias com boas conexões podiam formar uma Tribo. Em teoria, os componentes de uma Tribo tinham origem num único ancestral, mas na prática havia ali agregados de todos os tipos. Juramentos de lealdade/amizade (irmandade jurada) eram comuns nas estepes. E por meio deles alguém poderia ser aceito numa tribo. Esses juramentos permitiram a construção de alianças que foram além do parentesco sanguíneo. Havia juramentos de lealdade/amizade entre duas pessoas somente, que se tornavam irmãos sem serem parentes. Mas esses juramentos podiam abranger algo maior, como no caso de Tribos inteiras que aceitassem se sujeitar a uma outra Tribo, por acharem conveniente, ou por terem sido derrotados numa batalha. Essa união entre tribos poderia redundar na criação de Confederações Multitribais de grande alcance e poder.

EM BUSCA DE UM LÍDER, DE UM KHAN:

O Termo Khan significa Governante Supremo. Povos turcos no interior da Eurásia usavam Khagan.
Quem seria aceito para comandar uma poderosa Confederação Multi-Tribal, capaz de empreender campanhas contra poderes estrangeiros, obtendo assim pilhagens para satisfazer todos os seus componentes? O líder era escolhido sendo analisados os seguintes critérios:
-linhagem
-habilidades de guerra
Quando o líder morria, o círculo de contendores incluía seus filhos e irmãos que precisavam lutar e negociar (tanistry). O sistema dava azo ao fraticidio mas também poderia dar espaço para que o membro da família mais apto (melhor guerreiro, melhor negociador) assumisse o poder. Alguém para se tornar líder então precisava:
-pertencer à família do grande chefe falecido
-vencer a disputa dentro da família
-ser confirmado como líder numa assembleia tribal (Kurultai), na qual votariam líderes de outras tribos.

RELIGIÃO. SEM RELIGIÃO INSTITUCIONALIZADA. MONGÓIS NÃO TINHAM PAPAS, PATRIARCAS.

O reinado do Khan era um mandato de Tengri, o Deus chefe dos céus e dos nômades que viviam sob ele. Tengri era a divindade superior. Os pontos mais elevados eram sagrados por estarem perto do paraíso. O mundo estava repleto de espíritos humanos e os xamãs tinham poderes para contactá-los.
Os líderes das estepes não estavam manietados pela existência de uma Igreja institucionalizada, como acontecia na zona do Mediterrâneo.

CHINA;

A China sempre foi alvo de invasões de tribos nômades da estepes. Os canatos Turcomanos controlavam a rota da seda (séculos VI a VIII). Com a sua desintegração no século VIII, grupos turcos migraram para o oeste em direção à Constantinopla.No lugar dos Turcomanos entraram os Uigures para ajudar os chineses em troca de seda. Durante a dinastia Song (século X), a China se expandiu. Diversificou suas rotas comerciais, usando seus portos para exportar para o sudeste asiático. Mas o comércio transcontinental continuou sendo usado, agora sob a proteção de um povo oriundo da Manchúria, os Kitanos. Os Kitanos protegiam a rota da seda, daí o porquê dos ocidentais os confundirem com os chineses, chamando estes de Cathay.
Outro poder localizado no norte da China era representado pelos Jurched (jurchens), que viviam na Manchúria. Da Manchúria também vieram os mongóis, que depois marcharam para o Oeste, para a atual Mongólia.

ORDOS:

Os Kitanos adicionaram ao dicionário eurasiático a palavra Ordos, que era uma espécie de acampamento móvel do Soberano.

MODO DE GUERREAR DOS MONGÓIS:

Os mongóis copiaram o modo de guerrear dos Kitanos e dos Jurchens. A unidade mínima de combate era composta por 10 homens. As maiores respeitavam a ordem decimal: 100, 1000, etc. Membros de tribos diferentes compunham as unidades e cada soldado era responsável por todos os soldados de seu grupo.

"A vida nômade permitia que toda a sociedade fosse mobilizada para a guerra. As mulheres seguiam as campanhas carregando suprimentos, e às vezes lutando ao lado dos homens. Voltar para a casa não era um objetivo - a motivação para a guerra eram os saques, as pilhagens e as partilhas, para então seguir em frente e conseguir mais"
(página 138)

Quando Gengis Khan morreu, seu exército contava com 130 mil homens, entre 1/3 e 1/4 do exército romano em seu auge. Mas Gengis Khan controlava a metade dos cavalos que existiam na época.

CONSTRUÇÃO IMPERIAL AO ESTILO MONGOL:

1167: Nasce Temujin, que viria se tornar Gengis Khan. Seu pai era um "anda", isto é, um irmão jurado de Togrul, líder da poderosa Confederação Tribal Keirat. Após a morte de seu pai, Temujin se viu abandonado pelo clã de seu pai, tendo ao seu lado sua mãe e seus irmãos.
1️⃣Temujin, com a ajuda de seu irmão mais novo, assassinou o irmão de ambos.
2️⃣Temujin foi capturado e feito escravo por um clã rival
3️⃣Temujin conseguiu fugir do cativeiro, casou-se com Borte e buscou ajuda com o "anda" de seu pai, o poderoso Togrul

Togrul era líder dos Keirat, que falavam turco e que tinham budistas e cristãos entre seus seguidores. Prestando serviço a Togrul, Temujin reuniu em torno de si seguidores fiéis. Temujin também era acompanhado por Jamuka, que era seu irmão jurado (anda) e que também tinha o seu séquito.

TEMUJIN VERSUS JAMUKA:

Jamuka (Jamuqa) e Temujin acabaram se tornando chefes rivais na estepe. Os antigos irmãos jurados agora eram inimigos. Nessa disputa quem levou a melhor foi Temujin. 

TEMUJIN TORNA-SE GENGIS KHAN:

Em 1206, num Kurultai, Temujin torna-se Gengis Khan. Gengis (Genghis) eram os espíritos que mandavam na terra. Gengis Khan era o Senhor do Mundo.
Gengis Khan cultivava o poder em torno de si por meio de irmandade por juramento (anda), casamento exógamo, serviço e recompensa, obrigação de vingança. 

OBRIGAÇÃO DE VINGANÇA:

Era um dos tipos da Política das Estepes usada por Gengis Khan na condução de seu Império. Para explicar, daremos um caso concreto: a mãe de Temujin foi sequestrada pelo seu próprio pai. ela estava prometida para um membro da tribo Merkid. Mas aquele que viria ser o pai de Temujin sequestrou a noiva, que por sua vez viria se tornar a mãe de Temujin. Anos depois, a tribo Merkid se vingou de Temujin, sequestrando a sua noiva, Borte. Não importava quanto tempo passasse, não importava que Temujin pagava pelos pecados de seu pai, o que importava era se vingar.

LEALDADE PESSOAL EM DETRIMENTO DOS LAÇOS DE SANGUE:

Gengis Khan nunca esqueceu quando foi abandonado pelo seu Clã, quando da morte de seu pai. Por esse motivo, ele não acreditava em laços de sangue, de forma que revolveu se deixar cercar por pessoas que comprovassem sua lealdade a ele. Quem era leal e fazia o serviço para o qual fora designado recebia a sua recompensa. Gengis gostava de dizer que comia a mesma comida, vestia as mesmas roupas que os criadores de cavalos. Gengis tratava seus guerreiros como se fossem seus irmãos.

AS CONQUISTAS, AS PILHAGENS NÃO PODIAM PARAR:

A lealdade pessoal não vinha de graça. O que mantinha o séquito de um líder reunido em torno dele era a distribuição de pilhagens obtidas por meio de guerras. Se um líder não obtivesse essas pilhagens/recompensas, ele seria abandonado. 

MAIOR TROFÉU PARA SER PILHADO: A CHINA:

A China, com as suas riquezas, era um objetivo óbvio para Gengis Khan. Havia muita coisa a ser pilhada na China: seda, grãos, ouro, algodão, cetim, etc. A China daquela época era governada por duas dinastias: uma no norte, os Jin. Outra no sul, os Song (século XIII). Mas antes de ir saquear a China, Gengis Khan olhou para as regiões pelas quais passava a Rota da Seda. Havia áreas problemáticas no entorno de Gengis Khan (tribos na Sibéria, turcos, império tangut). 
Com os problemas resolvidos, Gengis Khan partiu para a o norte da China, onde governava a Dinastia Jin. A capital Zhongdu foi conquistada em 1215. Os saques foram valiosos e Gengis Khan ainda casou-se com uma esposa da dinastia Jin.

PRÓXIMO ALVO: REGIÃO DA CORÁSMIA:

Região que abrange a margem oriental do Mar Cáspio, atual Usbequistão, Bukhara, Mar de Aral, margem do rio Volga (cidade de Sarai) até o Indo. Gengis Khan,  inicialmente, queria cooperar com o Xá da Corásmia na defesa da Rota da Seda. pois para ele da defesa da prosperidade dos comerciantes dependia o futuro do mundo. Mas o Xá fez pouco caso e não deu importância à Gengis Khan. 
Gengis Khan reagiu a essa afronta atacando a Corásmia, até chegar ao Indo (Paquistão) - 1221.

MORTE DE GENGIS KHAN:

Gengis Khan morre em 1227.

PAX MONGÓLICA:

A Pax Mongólica pode ser vista no final do século XIII, época de florescimento comercial na Eurasia.
Gengis Khan escolheu seu filho Ogodei para sucedê-lo, e assim foi feito, com a confirmação de Ogodei como Khan em 1229. 
O resto da família de Gengis Khan recebeu territórios (ulus) para governar.
Pela tradição eurasiática, o filho primogênito herdava pastagens mais afastadas daquelas pertencentes a seu pai. Na época de Gengis, pastagens mais distantes era aquelas localizadas a oeste por onde cavalgaram os cavalos mongóis. Essas terras ficariam para o seu filho primogênito Jochi. Jochi morreu e em seu lugar assumiu seu filho, Batu. A Ulus de Batu ficava a oeste do Rio Volga.

MAIS CONQUISTAS MONGÓIS:

1️⃣1234: Conquista definitiva do norte da China
2️⃣1250: Parte do Tibete anexada
3️⃣1279: Kublai Khan, neto de Gengis Khan, conquista a parte sul da China (dinastia Song), fundando a Dinastia Yuan
4️⃣1236: Batu, neto de Gengis Khan, conduz seu exército para além dos Urais. Batu foi além, alcançando Polônia, Ucrânia e Hungria, Dalmácia (Mar Adriático). Deteve-se às portas da Áustria, quando foi obrigado a voltar à Mongólia após receber a notícia da morte do Khan Ogodei.
5️⃣Por fim, Batu se estabelece e cria a Horda Dourada (Quipchaco) nas estepes que englobavam o Rio  Volga, a sua capital em Sarai, Moscou, Kiev, etc.
6️⃣Hulegu, irmão de Mongke, o novo Khan, avança para o Sudoeste e conquista Bagdá. Hulegu estabeleceu a dinastia Il-Khans (atuais Irã e Iraque).

A MANEIRA MONGOL DE CONQUISTAR E GOVERNAR:

1º Fase: Conquista/Saque
2º Fase: Reconstrução/Administrar o que foi conquistado, fazendo uso de intermediários locais

"O Império Mongol foi criado no lombo de um cavalo, mas não pode ser governado do lombo de um cavalo" (Frase atribuída ao Khan Ogodei)
(páginas 147/148)

Os mongóis se adaptavam às circunstâncias e podiam até aderir ao repertório de poder eurasiático. Na China mesmo Kublai Khan tornou-se Imperador da Dinastia Yuan (origem do cosmos), para desviar a atenção do fato dos mongóis não serem originários de nenhuma região chinesa.
No que dizia respeito à Religião, os Mongóis eram tolerantes. Essa tolerância vinha das condições encontradas pelos Mongóis durante a sua expansão pela Eurásia. 
-era necessário fazer alianças por meio de casamentos. exemplo: Tolui, o filho mais jovem de Gengis, casou-se com uma mulher cristã
-grande variedade de religiões encontradas
-a existência de conselheiros espirituais - xamãs
Com o tempo, chefes mongóis se converteram para diferentes religiões. O Il-Khan do Ilkhanato (Iraque/Irã) teve várias religiões: budista,, islã, cristianismo). Kublai Khan se tornou budista. 

ROTA DA SEDA:

1️⃣Comércio
2️⃣Envio de Mensagens
3️⃣Passagem de Diplomatas
4️⃣Estações construídas a cada 50, 40km. Serviam para a troca de cavalos de mensageiros, taxação de mercadorias. Para frequentar essa rota, era necessário usar uma espécie de passaporte, o paizi.

O sistema mongol ligava o Oceano Pacífico ao Mar Báltico e ao Mar Mediterrâneo, possibilitando o tráfego de ideias, técnicas e pestes (peste bubônica).

CIDADES ITALIANAS SE BENEFICIARAM DA PAX MONGÓLICA:

Veneza e Gênova se beneficiaram da rede comercial e da pax mongólica criadas pelos mongóis. A partir de portos no Mar Negro, o comércio chegava ao Mar Mediterrâneo (séculos XIII e XIV).

COLAPSO E RECUPERAÇÃO:

O Império Mongol sob uma dinastia teve vida curta (a vida de Gengis Khan), mas ajudou no intercâmbio de tecnologias que deram novas formas às estruturas política, cultural e econômica em vários lugares. A sua decadência se deu pela mesma razão que, lá atrás, a fez expandir por quase toda a Eurásia. A necessidade de expansão, de conquista para obter pilhagens para distribuí-las entre seus súditos, levou ao fim do poder mongol. A sua divisão em Canatos (Il-Khan), terras de Chagatai, Horda Dourada e o Ilkhanato, ou ainda a Dinastia Yuan na China,  acelerou a queda. Os Canatos brigavam entre si. Os mongóis agora eram desunidos. 

PRIMEIRO CANATO A MORRER: IL-KHAN:

Durou de 1256 a 1335. Seu último líder morreu sem descendentes e na luta pelo poder que se seguiu à sua morte, nenhum contendor conseguiu se impor de forma a trazer para si todo o poder do Canato, que acabou se esfarelando, se desmantelando em vários fragmentos de poder.
Os Yuan duraram até 1365. Eles tinham unificado o sul, o centro e o norte da China. No fim, porém, um chinês da Corte traiu a dinastia e estabeleceu a sua própria dinastia, a Ming, expulsando os mongóis de Pequim.
A Horda Dourada passou a se fragmentar a partir de 1438. Os fragmentos de poder eram Canatos menores ao longo do Rio Volga e ao norte do Mar Negro. Esses pequenos Canatos acabariam por ser engolidos por impérios emergentes, como por exemplo, a Rússia.
As terras de Chagatai na Ásia Central (Usbequistão, etc) foram divididas em 2 partes:
-Transoxiniana
-Mogulistão
Na sequência desses acontecimentos, o poder se fragmentou mais ainda. 

A IMPORTÂNCIA DOS MONGÓIS:

▶fizeram da Eurásia um local seguro para o comércio de ideias, mercadorias, tecnologias. forneceram estabilidade à região
▶herdeiros das práticas mongóis criaram os impérios Russo, Chinês e Otomano
▶respeito à religião local. tolerância religiosa
▶uso de administradores locais para os governos


TAMERLÃO:

O enfraquecimento do Império Mongol deu ensejo ao aparecimento de outro conquistador, que se dizia de linhagem mongol. Estamos falando de Tamerlão - Final do Século XIV. Tamerlão era muçulmano de berço e mongol de origem. Falante de turco, conquistou boa parte da Eurásia, ainda que por um curto período de tempo. A capital de Tamerlão ficava em Samarcanda, atual Usbequistão.
Tamerlão ainda conquistaria territórios nos atuais Irã e Afeganistão; conquistaria ainda territórios no Cáucaso, na Horda Dourada e no norte da Índia. Em 1380, Tamerlão já tinha conquistado a Ulus de Chagatai. Tamerlão ainda capturaria Bagdá em 1393. Tamerlão ainda derrotaria os otomanos na Anatólia. Deli, na Índia, cairia em 1398. Sarai, na Horda Dourada, foi saqueada em 1396.

1405: MORRE TAMERLÃO:

Um dos descendentes de Tamerlão fundaria um Império com práticas mongóis na Índia, em 1525 - sob Babur, que duraria 250 anos.
Após a morte de Tamerlão, seu império desmoronou. Seu estilo pessoal de governar consistia em misturar integrantes de tribos diversas. Dividir para governar. Um líder tribal era transferido para longe de seu território para comandar uma tropa integradas por membros de tribos diversas. A ideia era padronizar, desenraizar esses elementos, separando-os de seu passado, de forma que eles, agora, fossem fiéis apenas a Tamerlão.
Sem Tamerlão para manter isso, o sistema desmoronou. O que prevaleceu foram as políticas locais de alianças instáveis. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "IMPÉRIOS, UMA NOVA VISÃO DA HISTÓRIA UNIVERSAL", DE JANE BURBANK E FREDERICK COOPER, EDITORA CRÍTICA, PÁGINAS 131/158

quinta-feira, 19 de março de 2020

Paradoxos da Liberdade Senhores e Servos A Grande Emancipação Fome na Europa Thomas Malthus




A GRANDE EMANCIPAÇÃO:

Rússia: De 1826 a 1840: Foram verificadas 2 mil agitações camponesas.
Rússia: De 1857 a 1861: Tropas requisitadas em 903 ocasiões diferentes para debelar revoltas camponesas.

"A primeira coisa a fazer é emancipar os servos pois este é o nó que ata todas as coisa más na Rússia." (Mikhail Gorchakov)
(página 144)

FORMAS PELAS QUAIS OS SERVOS DEMONSTRAVAM SEU DESCONTENTAMENTO:

Havia revoltas violentas. Faziam um serviço com má vontade. Havia lentidão na execução do serviço. Servos entregavam ao Senhor animais decrépitos para o trabalho na terra deste. Havia fugas constantes. Entrega de alimentos de baixa qualidade.
A Servidão obstava o desenvolvimento da agricultura. 

"O sistema de campo aberto em que grandes campos eram divididos em faixas, cada uma cultivada por uma família de servos, dificultava a economia de escala pela consolidação das terras."
(página 144)

1856: Tratado de Paris: Fim da Guerra da Crimeia (1854/55), travada entre Grã-Bretanha, França, Rússia, Império Otomano. A Grã-Bretanha aproveitou esse tratado por exigir o fim da servidão nos Principados do Danúbio (Valáquia e Moldávia)
1850: Prússia: Lei pôs fim aos últimos vestígios da servidão no reino prussiano.
Ao acabar com a servidão, o Estado negociava compensação com os senhores, que se viam, de uma hora para outra, sem as rendas e sem o trabalho gratuito de seus servos. Ao servo concedia-se liberdade. Eram declarados homens livres. 

SERVO LIVRE. CÁLCULO PARA COMPENSAR O SEU ANTIGO PROPRIETÁRIO:

Exemplo de cálculo para se chegar ao valor devido pela perda se sua propriedade (seu servo). O valor da compensação devido ao Senhor era calculado da seguinte forma: "na monarquia habsburgo o valor do trabalho servil foi definido em um terço do valor do trabalho assalariado; uma indicação do pouco esforço que se pensava que os servos dedicavam ao seu trabalho."
(página 147)

VENCEDORES E VENCIDOS:

Os senhores perderam o poder judicial (tribunais senhoriais) sobre os seus camponeses; agora esse poder foi atribuído ao conselho de aldeões ou aos tribunais locais.
De forma geral, os LATIFUNDIÁRIOS se deram bem, principalmente aqueles que produziam cereais em grande quantidade. E com a compensação que receberam em razão da emancipação dos servos, aumentaram suas propriedades, adquirindo pequenas áreas de pequenos agricultores empobrecidos. Na Áustria e na Boêmia, os latifundiários investiram no cultivo da Beterraba, pois não podiam competir com os cereais da Hungria.
No campesinato, alguns camponeses se saíram bem, porque encontravam mercado para a sua produção. Outros quebraram a cara e tiveram que pedir trabalho para seus antigos senhores. Outros camponeses conseguiram apenas subsistir em suas pequenas propriedades. Camponeses faliam em razão das dívidas contraídas na compensação de seu senhor, no pagamento de impostos, etc.
O camponês falido tinha que vender a sua terra. 

"Na Prússia, a leste do Elba, cerca de 7 mil grandes propriedades e mais de 14 mil pequenas terras foram compradas pelos latifundiários entre 1816 e 1859, estimulando a criação de um proletariado rural sem terra."
(página 152)

A agricultura integrava-se ao capitalismo. Cada vez mais, o camponês, que tinha sido emancipado e que depois tinha perdido a sua terra por dívidas ou por dela não poder tirar nem o suficiente para a sua subsistência, só tinha a sua força de trabalho para vender.
E para piorar, os trabalhadores agrícolas não gozavam dos mesmos direitos dos trabalhadores urbanos, que naquela época já eram poucos. Na Prússia havia a permissão para o uso de castigos corporais nos trabalhadores agrícolas.

REVOLTAS CAMPONESAS:

Rússia:

Camponeses russos, indignados com as compensações (quantia paga aos senhores pela libertação dos servos) devidas aos seus antigos senhores, diziam em tom de galhofa:

"somos (camponeses) deles (senhores), mas a terra é nossa"
(página 153)

Na Rússia ainda era verificado, nas zonas mais férteis, o aumento do número de famílias sem que fosse acompanhado pelo aumento da quantidade de terra.

"Nem as galinhas tinham sítio para se empoleirar."
(página 154)

E para piorar, após a emancipação, os camponeses foram proibidos de entrar nos prados e nas florestas dos senhores. Verificou-se nessa altura, por causa dessa proibição, o aumento dos casos de furtos de madeira.
1905: No Oceano Pacífico, Rússia perde guerra para o Japão. A insatisfação popular que estava reprimida, explode com a notícia da derrota. Greves, protestos, comícios. No Volga e na Ucrânia (terras férteis) os camponeses invadiam e saqueavam as casas senhoriais. A revolta durou até 1907. O governo acabou com a revolta, usando concessões e repressão. Uma das concessões foi o fim do pagamento pelas emancipações. O governo russo ainda buscou flexibilizar a compra e a venda de terras fora das comunas camponesas, onde o cultivo da terra era coletivo (método coletivo de exploração da terra). Essa medida flexibilizadora deu origem à figura do Kulak.

Romênia:

"a miséria em que vive a maioria do campesinato romeno está para além de qualquer descrição."
(página 156)

Estado romeno e latifundiários estavam conluiados contra os camponeses.

"As terras dos camponeses eram geralmente muito pequenas."
(página 156)

Em 1907 ocorreu a última grande revolta camponesa (jacquerie) justamente na Romênia (Moldávia e Valáquia). A repressão do governo foi brutal (torturas, prisões, mortes). 11 mil pessoas morreram.

HISTÓRIA DA SERVIDÃO EM OUTROS PAÍSES:

Portugal:

A servidão deixou de ser adotada na idade média, mas os senhores de Terra ainda mantinham direitos e privilégios senhoriais. Os camponeses tinham que pagar tributos aos latifundiários (pagamento em vinho, pão e fruta). Em 1846 houve reformas liberais, com a privatização das terras comuns. Os camponeses rendeiros tinham uma vida de dificuldades. Essas reformas desencadearam uma revolta camponesa. A revolta foi esmagada com a ajuda dos britânicos.
Em meados dos anos 30 do século XIX, a Igreja possuía 6.000 terras e monopólios de moinhos, lagares de azeite e celeiros.

Espanha:

O fim das obrigações feudais na década de 30 do século XIX deu mais poder aos latifundiários que trabalhavam com parceria rural. A parceria rural era um contrato por meio do qual o dono da terra deixava uma família trabalhando nela. O pagamento era feito na forma de uma parte da produção. Houve na Espanha sublevações com a participação de camponeses (1822/1823 e 1827)
Primeira Guerra Carlista (1832/1839): Carlos protestava contra seu irmão Fernando, que fez de sua filha, Isabel (Isabel II), rainha da Espanha. O descontentamento dos camponeses embarcou nesse conflito. Houve ainda mais duas revoltas carlistas, em 1847 e 1872/1876.

"O carlismo visava, acima de tudo, a revogação das reformas agrárias dos liberais."
(página 160)

No sul da Espanha, a rivalidade entre latifundiários e camponeses miseráveis deu espaço para a entrada de ideias anarquistas. O Estado só causava problemas aos camponeses. Havia o serviço militar, havia o apoio do Estado aos latifundiários, havia os impostos. O Estado tinha que ser eliminado e, com ele, todo o peso suportado pelos camponeses. Na década de 60 do século XIX havia no sul da Espanha banditismo, roubo de colheitas, incêndios. 95 rebeldes foram executados na repressão estatal.

Itália:

Também havia contratos de parceria rural entre camponeses e donos de terras. Na Toscana, as famílias camponesas conseguiam somente subsistir com seu trabalho. Os donos de Terras ainda exerciam outros controles sobre os meeiros: com quem podiam casar, por exemplo; supervisionavam a conduta moral, etc. Poderia haver quebra de contrato se o meeiro deixasse a propriedade sem autorização do dona da terra.

"Podiam ser despedidos ou expulsos apenas por desobedecerem às ordens do proprietário."
(página 161)

"A parte da colheita a que o meeiro tinha direito servia para a subsistência da sua família."
(página 161)

"Nos anos de más colheitas, os meeiros tinham de pedir empréstimos ao proprietário, o que lhes aprofundava ainda mais a dependência."
(página 161)

Os camponeses também se revoltaram porque com a emancipação a "terra comum" foi atribuída aos senhores de terras, de forma que a terra deixou de ser comum.

"os documentos legais e os seus autores, os instrumentos da sua desapropriação, eram visados na crença de que o direito natural à terra comum valia mais do que a letra da lei que a atribuíra aos antigos senhores feudais como sua propriedade privada."
(página 164)

Ilha da Sicília:

Revolta dos Fasci Sicilianos: O nome Fasci vem de Feixes. Qualquer pessoa podia quebrar um pau, mas não um feixe inteiro, composto por vários paus.
Havia 300 mil meeiros e pequenos agricultores.
Os Fasci protestavam contra o preço da comida, o aumento das rendas, os contratos leoninos de parceria rural e os impostos. O Estado italiano agiu com rigor. Vários rebeldes foram presos e mortos. Os contratos de parceria rural não resultavam numa agricultura eficiente. Os meeiros trabalhavam em troca de sua subsistência.

"Os alvos das suas reuniões e procissões de protesto eram o aumento das rendas e dos preços da comida, os impostos altos e os contratos discriminatórios de parceria rural. Os camponeses começaram a ocupar as terras e os escritórios do fisco, queimando moinhos e edifícios do governo. O governo italiano reagiu, declarando o estado de sítio e alistando 40 mil soldados. Centenas de rebeldes foram mortos ou sujeitos a execuções sumárias, mil deles foram enviados para uma colônia penal sem julgamento, e muitos outros foram presos."
(página 165)

"Os grandes proprietários de terras reagiram a estas crises mudando para culturas mais rentáveis, como a beterraba, e mecanizando a produção para reduzir os custos de mão de obra."
(página 165)

"A parceira rural passou a ser substituída por uma "mão de obra assalariada mais moderna." (página 166)
O empregado assalariado tinha incentivo para trabalhar com mais afinco. Podia ser demitido ou contratado sem burocracia e de acordo com a necessidade da produção agrícola. Mas mesmos esses trabalhadores assalariados viviam em condições ruins.

"Quase 3/4 de seus rendimentos eram gastos em comida."
(página 166)

"a pobreza e a exploração já tinham levado centenas de milhares de pessoas a emigrar para o Novo Mundo." 
(página 166)

ALIMENTAÇÃO:

"A emancipação dos servos e as suas consequências, bem como o declínio do sistema de parceria rural, tiveram uma importância enorme na Europa do século XIX, sobretudo porque, durante todo o século, a esmagadora maioria das pessoas vivia da terra e dependia desta para a sua sobrevivência. Quase por toda a parte, as cidades eram poucas e distantes entre si, como ilhas urbanas num mar rural."
(página 167)

"Durante grande parte do século, o europeu típico era um camponês que vivia na terra e da terra"
(página 167)

Em 1850, viviam nas cidades:

Itália: 20%
França 15%
Alemanha 11%
Espanha 17%
Polônia 9%

"velhos padrões de povoamento"
(página 167)

Na Grã-Bretanha, os números eram totalmente diferentes. 50% das pessoas viviam nas cidades. Era a Revolução Industrial em marcha acelerada.

REVERENDO THOMAS MALTHUS (1766-1834):

"numa sociedade agrária, a população tenderia a aumentar além da capacidade da terra para a sustentar."
(página 169)

Pelo pensamento de Thomas Malthus, o resultado seria a penúria e a morte. Mas a Grã-Bretanha desmentia Malthus com sua maior eficiência agrícola, com o fim dos direitos sobre os cereais (1846) e importando alimentos com o dinheiro das exportações de sua Revolução Industrial.
Por toda a Europa buscava-se aumentar a eficiência agrícola, aumentando a produção de alimentos.
Melhor utilização da terra e busca por lucros contribuíram para o aumento da produção agrícola. A motivação pela busca de lucros só se efetivou com a emancipação dos servos.
Algumas inovações agrícolas:
- consolidação dos terrenos: abandono do sistema de campos divididos em faixas.
- mudança de cultura agrícola numa área de um ano para o outro, evitando o esgotamento do solo, reduzindo a quantidade de terra em pousio
- uso de fertilizantes pelas grandes fazendas para recompor o solo exaurido.

PRIMEIRO FERTILIZANTE USADO PELOS EUROPEUS VINHA DO PERU:

O primeiro fertilizante usado pelos europeus era importado do Peru. Era o Guano, que eram fezes de pássaros acumuladas por milênios, formando montanhas na ilha de Chincha, no litoral peruano.

AS PREVISÕES DE MALTHUS NÃO SE CONCRETIZARAM:

As previsões sombrias de Malthus não se concretizaram.

VIDA CAMPONESA NA PEQUENA PROPRIEDADE:

Poucos produziam para o mercado. A maioria produzia para si mesmo - autossuficientes.
Raramente iam às cidades comprar ou vender algo. Aumentava o número de pessoas e diminuía o número de terras. Vida de pobreza mesmo em tempos normais.

"mesmo em tempos normais, a pobreza e a miséria nunca estavam fora do horizonte."
(página 172)

"não havia subsídios do Estado, nem segurança social, nem apoio no desemprego, nem lares para a terceira idade."
(página 173)

"A assistência aos pobres dependia tradicionalmente da Igreja."
(página 173)

Particulares abriram casas de beneficência - sociedades filantrópicas. Em alguns lugares da Europa (Baviera), o Estado tentou criar algum tipo de rede de proteção para cuidar dos miseráveis.
Alguns europeus atribuíam o crescimento da pobreza à ociosidade. Ainda achavam que a Igreja, ao ajudar os pobres, fomentava a ociosidade.

EUROPEUS TINHAM QUE LIDAR COM A POBREZA: 

Na Grã-Bretanha havia a lei dos pobres, que dava emprego aos capazes de trabalhar e prendia (ou açoitava) aqueles que, mesmo capazes para o trabalho, se recusavam a trabalhar.
Esta lei também tentava cuidar dos pobres por meio de autoridades locais. Mas o custo para manter esse programa começou a pesar no bolso de quem o pagava. Mas mesmo assim o número de pobres aumentava na Grã-Bretanha. A política de cercar pastagens para rebanhos expulsava os camponeses de seus locais de trabalho (política de encerramento).
Ao mesmo tempo, Malthus criticava a leis dos pobres, que dava subsídios na forma de pães mais baratos para famílias com filhos pequenos.

"o chamado sistema de Speenhamland encorajava a procriação irresponsável e queriam que a antiga Lei dos Pobres fosse abolida."
(página 175)

A Lei dos Pobres...

"propagava a pobreza e a improvidência, como se queixou um comentador em 1831."
(página 175)

A OCIOSIDADE DE UMA PESSOA ERA A CULPADA PELA SUA POBREZA:

Em 1834, a Grã-Bretanha aprovou uma nova lei dos pobres para obrigar os fisicamente aptos a trabalharem. O ingleses criaram as Workhouse, nas quais ficava explicita a ideia segundo a qual a ociosidade de uma pessoa era a culpada pela sua pobreza.

MENTALIDADE DA ÉPOCA:

O sujeito capaz era pobre por causa de sua ociosidade. A ideia da Workhouse se sustentava nessa certeza. O sujeito capaz querendo apoio vai à essa casa do trabalho. Nela será submetido a condições tão duras de trabalho, alimentação, higiene, acomodação e pagamento que resolvia deixar de vez a sua indolência de lado, usando todas as suas energias na busca de um trabalho de verdade, pago.

"Cada tostão dado que tenda a tornar a condição do pobre mais elegível do que a do trabalhador independente, é um prêmio atribuído ao vício e à indolência."
(página 176)

A nova lei dos pobres ia além: órfãos, doentes e velhos deveriam ser cuidados por seus parentes. No fim, até os inaptos para um trabalho pago, que não encontravam auxílio em outro lugar, eram levados para a Workhouse.
A Workhouse vem descrita no romance Oliver Twist, de Charles Dickens.

"Para a economia política e para os seus seguidores, não havia motivo para alguém morrer à fome, exceto nos casos mais extremos de doença e decrepitude: se uma pessoa fisicamente apta era pobre, isso devia-se ao fato de ser ociosa."
(página 177)

A FOME NOS ANOS 40 DO SÉCULO XIX:

Novas culturas desenvolvidas na Europa:

-Girassol
-Beterraba (refino de açúcar)
-Batata
-Milho
-Tomate
-Tabaco

Dessas culturas, a mais importante foi a batata.

A BATATA E A FOME NA IRLANDA:

A batata se revelou um alimento indispensável na ausência de abastecimento adequado de cereais. Não tinha cereal, ia batata mesmo. Na Irlanda, a batata ocupava 1/3 da área cultivável e era a base da alimentação dos camponeses.
1845-1849: Fungo atinge o cultivo de Batata na Europa, principalmente na Irlanda. De acordo com a nova Lei dos Pobres, adotada na Grã-Bretanha, a pessoa só podia ser auxiliada se trabalhasse.

"pior do que permitir que as pessoas morram à fome, é deixar que se habituem a depender da caridade pública."
(Sir Charles Trevelyan - Ministro das Finanças Britânico)
(página 181)

Essa fome foi muito problemática na Europa, mas foi pior na Irlanda. Na Grã-Bretanha havia obstáculos políticos para ajudar os esfomeados na Irlanda. Havia as Leis do Milho, que facilitavam as exportações de cereais e limitava a sua importação. Essas Leis do Milho foram feitas para proteger os Aristocratas produtores de cereais.
Durante a crise, as mortes aumentaram 330% na Irlanda. A abolição das Leis do Milho só veio em 1849, quando o estrago já estava feito na Irlanda.

"Subjacente à crise na Irlanda estava um sentimento generalizado da elite política e social britânicas de que os irlandeses tinham o que mereciam por serem preguiçosos e terem demasiados filhos (exatamente a crítica feita por Malthus em relação aos supostos efeitos da antiga lei dos pobres)."
(página 183)

Thomas Malthus (1766/1834) dizia que a antiga Lei dos Pobres, por meio de seu sistema de subsídios aos pobres, encorajava a procriação irresponsável.

"mas o aspecto das crianças era o mais doloroso de todos - atrofiadas, amareladas, enrugadas, como se fossem pequenos adultos."
(página 184)

"no total, a fome da batata irlandesa matou um milhão de pessoas, ou seja, cerca de 1/5 de toda a população da ilha."
(página 184)

Outras crises de fome registradas na Europa:

-Finlândia (que pertencia ao Império Russo) - 1856/1868
"Havia um rapaz à beira da estrada a comer estrume de cavalo."
(página 186)

O governo russo demorava a agir, preocupado que estava com seu equilíbrio orçamentário. Mas no fim foi obrigado a importar cereal do estrangeiro.
Nos finais dos anos 70 do século XIX, o melhoramento dos transportes e uma atenção maior por parte do Estado, mitigaram as consequências de más colheitas, evitando assim que as idiossincrasias do clima provocassem tantas mortes.
Mas a fome continuava a assolar a Europa, em suas áreas de difícil acesso, não atendidas por transportes eficientes. Exemplo: Província espanhola de Leão em 1897.
Jornal espanhol local noticiou:

"a agricultura é quase a única fonte de riqueza, ...e os habitantes estão à beira da fome, quase todos os seus rebanhos morreram de doença ou de falta de comida."
(página 187)

A fome ainda ajudava na proliferação de doenças. Organismos mal alimentados eram mais suscetíveis a ficarem doentes. O tifo era um exemplo disso. Aglomeração de pessoas nas cidades em busca de ajuda também ajudava na proliferação das enfermidades.

Causas da Fome na Rússia:
-más colheitas causadas pelo clima
-substituição do gado pela plantação de milho. Com isso os camponeses se viram privados do esterco de seus animais, que era usado como fertilizante.
-governo russo queria fazer de sua moeda conversível em ouro, daí teve que estimular as exportações de cereais e aumentar os impostos.
-falta de transportes para áreas afetadas pela fome
-preconceito do governo russo em relação aos seus camponeses

Ministro das Finanças russo comentou sobre os camponeses russos (Sergei Witte):

"parece totalmente incapaz de se precaver para o futuro, e basta-lhe uma má colheita para cair no abismo da miséria do qual só pode ser salvo graças à ajuda externa."
(página 189/190)

TRANSPORTES PRECÁRIOS:

Transportes precários ajudavam na piora da fome. Havendo uma má colheita numa região, a quantidade de alimentos diminuía bruscamente. Os transportes eram precários e ineficientes, de forma que não era possível você trazer alimentos de um região que teve uma boa colheita para socorrer uma outra região que teve uma péssima colheita. Então onde houve a má colheita, os preços subiam; as pessoas tinham que gastar mais para comprar a mesma quantidade de alimentos, de forma que deixavam de comprar outras coisas, como utensílios e outros bens manufaturados. Esse fato desestimulava a industrialização (proto-industria) naquela área onde a colheita foi ruim. Sem pessoas para comprarem seus produtos, a Indústria ia embora.

"Pelo menos em algumas zonas, como na Flandres, a crise aprofundou-se devido á combinação do colapso simultâneo da agricultura e da proto-industria, a velha e a nova economia: tal como acontecera periodicamente durante séculos, uma má colheita conduziu ao aumento do preço dos cereais, de maneira que as pessoas do campo e das cidades tiveram de usar grande parte dos seus rendimentos para pagar o pão e outros alimentos, reduzindo assim a procura por roupas, utensílios, e outros bens manufaturados. Isto provocou uma crise nas fábricas e oficinas urbanas, que tiveram de despedir os seus trabalhadores, atirando-os para a pobreza na altura em que mais necessitavam de dinheiro para sobreviver. Nos anos 40 do século XIX, porém, estava a surgir uma nova dimensão destas crises sob a forma da propagação da produção industrial moderna  em toda a Europa, com início na Grã-Bretanha."
(página 190)

O autor do livro estava se referindo á indústria têxtil. A revolução Téxtil.

FIM DA FOME:

"Em 1914, a fome fora banida de grande parte do continente europeu."
(página 190)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER", Europa 1815-1914, de Richard J. Evans, editora Edições 70.

Os paradoxos da Liberdade Senhores e Servos



SENHORES E SERVOS:

O Sistema da Servidão: 
Imposições e Obrigações impostas ao Camponês. 
Exemplo trazido pelo autor de um Servo russo, que vivia numa aldeia russa durante o Século XIX
Sayva Dmitrievich vivia numa aldeia na Rússia central. A aldeia pertencia a uma pequena propriedade de um tenente-coronel. A propriedade tinha terra arável, uma floresta e prado e pasto.
O proprietário não ia à aldeia. Esta ficava sob as ordens de um administrador, que pegava para si grandes partes dos rendimentos. A maioria dos camponeses da Aldeia era composta por analfabetos. Havia 1300 aldeões que pagavam uma renda anual ao senhor. O dinheiro para pagar essa renda anual vinha do cultivo do linho e de outros produtos, que depois eram vendidos no mercado. O aldeão também trabalhava para cultivar produtos que serviriam para a sua subsistência. As pessoas viviam de aveia, nabos e ervilhas. Leite, ovos, carne de vaca eram vendidos por necessidade. Também faziam artesanatos. 
Numa ocasião, o proprietário emitiu uma ordem, que foi lida na Assembleia da Aldeia. Ele queria 4 homens, jovens e altos, para ficarem de pé na traseira de sua carruagem. Queria ainda 4 belas moças de 18 anos sem especificar os fins para que se destinavam. O proprietário faleceu em 1817. Sua filha herda a propriedade e exige 200 mil rublos como adiantamento da renda dos próximos 10 anos. Os camponeses recusaram pagar essa soma. A proprietária então hipoteca a aldeia como garantia de um empréstimo por 25 anos. E os juros teriam que ser pagos pelos camponeses: 30 mil rublos ao ano mais a renda anual de 20 mil rublos. Quem não pagasse sua parte seria conscrito no exército ou levado para a Sibéria para trabalhar na propriedade de seus senhores. Os aldeões se sentiram impotentes diante dessa exigência senhorial.
Um novo administrador alemão foi contratado e se revelou mais severo que o anterior. Açoitava quem lhe desobedecia; interferia nos casamentos e obrigava os aldeões a trabalharem na fábrica têxtil dos senhores. Se os aldeões se queixavam, o administrador pedia ajuda de tropas do governo.
Entre os anos de 1800 e 1868, a Rússia contava com o maior contingente de servos na Europa. Naquela altura já havia Estados que, influenciados pela Revolução Francesa, não tinha mais servidão: Baden, Baviera, Dinamarca, França, Países Baixos, Schleswig/Holstein, Suíça e Pomerânia Sueca.
Na Prússia, a servidão durou, numa forma debilitada, até 1848. Na Rússia e na Polônia a servidão durou até 1860.

"Os servos não eram escravos (ainda que houvesse escravos na Europa, nomeadamente os ciganos da Romênia, que eram tratados como bens móveis e vendidos no mercado até à sua emancipação pela Igreja Católica em 1848; os servos tinham direitos e deveres, mas não eram agentes livres."
(página 137)

A servidão dependia dos costumes locais onde era adotada, razão pela qual havia muitos tipos de servidão. Em termos gerais, a Servidão pode ser descrita dessa forma:
-o camponês era obrigado a trabalhar, sem pagamento, em certas tarefas e por alguns dias da semana na propriedade do aristocrata local, o senhor, e a cumprir em outros deveres, como ajudar nas caças, etc.
Em alguns lugares, o Estado impunha outras obrigações aos servos, como a manutenção de estradas e pontes locais, fornecer cavalos aos mensageiros e aos mais jovens prestar serviço militar. A mulher do servo poderia trabalhar na casa do Senhor, assim como seus filhos.
Na Aldeia de Velikoe, onde trabalhava Sayva Dmitrievich, muitas das obrigações foram convertidas para o pagamento de uma renda anual. Mas eram obrigados a trabalhar na fábrica têxtil da propriedade e estavam sujeitos a castigos corporais, a terem que pedir permissão ao administrador para casar com determinada pessoa.
No leste da Europa, o camponês precisava de autorização do seu senhor para sair da aldeia e, se quisessem se mudar, teria que pagar uma taxa.
Na Europa Ocidental o serviço era geralmente pago em dinheiro. A terra passava para os filhos mas era preciso pagar taxas (dinheiro ou taxas) nas transmissões da propriedade por venda ou herança.
Alguns Senhores impunham outros deveres aos servos, que só podiam comprar certos produtos (sal, tabaco, álcool) com seus senhores. Em alguns lugares os servos só podiam moer seus grãos no moinho do Senhor, numa espécie de monopólio. 
Só o senhor poderia caçar. Isso causava prejuízos para o servo, que se via privado de carne e couro, e peles para seu vestuário.
Em alguns lugares da Europa, o senhor detinha o monopólio da pesca nos rios e ribeirões que passavam no interior da propriedade.
Se o Senhor vende a sua terra, os servos vão juntos com a Terra.
Na Rússia no ano de 1841, era possível vender o servo desacompanhado da terra. Mas havia condições: não podia ser separado de filhos não casados.

SERVIDÃO NO IMPÉRIO HABSBURGO:

Um servo retirava de seus rendimentos para pagar:
-17% ao Estado
-24% ao Senhor Local, na forma de dinheiro, produtos, trabalho ou cedendo cavalos para arar o campo do Senhor.
Uma família de camponeses na silésia austríaca funcionava da seguinte forma: Servos com 17 hectares de terra devia fornecer ao senhor local anualmente 2 animais durante 144 dias para arar o campo.

TRIBUNAIS SENHORIAIS:

Eram sancionados pelo Estado. A polícia era formada por servos do senhor. Nesses tribunais eram julgados casos envolvendo servos e senhores. 

"Como se pode esperar que o camponês obtenha justiça quando só dá ao juiz um ovo, enquanto nós (senhores aristocratas) lhe damos um rublo de prata?" (declaração de um rico aristocrata russo em 1840)
(página 140)

O SERVO TINHA DIREITOS:

Tinha o direito de ser julgado num Tribunal Senhorial, por mais pequenas que fossem a sua chance de vitória. O Senhor deveria cuidar do servo nos tempos difíceis. Trataria os doentes. Trataria os idosos e os débeis, na hipótese da família não puder cuidar deles. Alimentar animais dos servos, enquanto trabalhassem para ele, para o senhor. O servo ainda podia colher o restolho das terras do Senhor.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914, RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.