quinta-feira, 19 de março de 2020

Período Pós-Napoleônico Independência Grega Revolução de Julho de 1930 na França Classe Média



IMPÉRIO OTOMANO E A INDEPENDÊNCIA GREGA

No decorrer do Século XIX o Império Otomano foi se tornando mais descentralizado. Istambul, a capital do Império, tinha cada vez mais dificuldade em impor a sua autoridade. Como consequência dessa dificuldade, Istambul nomeava líderes locais para administrar uma determinada região do Império.Um desses líderes locais, que nos interessa nessa momento, era o Paxá de Tepelene, um albanês de origem ao qual cabia administrar o que seria a Grécia atualmente, acrescida da Albânia e da Macedônia. 
O Paxá de Tepelene extrapolava as suas prerrogativas, cobrando impostos por sua conta, governando por meio de extorsão e violência. Isto levou o Sultão Mamude II a intervir  para limitar a autonomia de Tepelene. Em 1820 são enviados 20 mil soldados que cercam o quartel-general de Tepelene, que por sua vez foi buscar aliados na Sociedade de Amigos , uma organização fundada em 1814 por mercadores gregos, que visava a libertação da Grécia do domínio otomano.
O presidente dessa Sociedade de Amigos era Alexander Ypsilantis. Ypsilantis era um oficial do exército russo. Com uma soma em dinheiro arrecadada pela Sociedade de Ammigos, Ypsilantis organizou uma força armada que invadiu os principados danubianos da Valáquia (atula Romênia) e da Moldávia. O objetivo de Ypsilantis era, com essa invasão, desencadear algo maior, isto é, uma guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, na esteira da qual a Grécia obteria a sua tão sonhada independência.
A iniciativa de Ypsilantis fracassou, pois Alexandre I, o Czar da Rússia, não veio em seu apoio. Manteve-se fora dos principados danubianos, que pertenciam ao Império Otomano. Vendo-se abandonado, Ypsilantis fugiu para a Áustria, mas sua ação serviu para desencadear uma rebelião no Peloponeso (atual Grécia). A revolta acabou se espalhando entre os habitantes das ilhas no Mar Egeu. 
Abril de 1821: 15 mil dos 40 mil turcos que habitavam o Peloponeso haviam sido mortos pelos rebeldes gregos.
Janeiro de 1822: Uma declaração de uma autodenominada Assembleia Nacional grega proclamou que a Grécia tinha se libertado do Império Otomano. Gregos matavam mulheres e crianças muçulmanas. A reação do Império Otomano não foi menos cruel: o Patriarca Ortodoxo que residia em Istambul foi enforcado; gregos habitantes da ilha de Quios foram massacrados pelos Otomanos. Entre 25 a 30 mil cristãos foram mortos. 
A opinião pública ocidental ficou ao lado dos gregos. Mas isso não deteu a fúria dos Otomanos, que enviaram um forte contingente de tropas egípcias, fornecidas pelo seu vassalo nominal Muhammad Ali, que receberia como pagamento a Síria, que seria acrescentada ao Egito.
O avanço das tropas egípcias deixou atrás de si um rastro de sangue. Sangue cristão. Lembrem-se que, no início da crise, com Ypsilantis invadindo os principados danubianos, os russos, sob Alexandre I, um dos fiadores da Santa Aliança, não intervieram, pois os principados danubianos pertenciam ao Império Otomano e Alexandre I tinha se comprometido em manter o status quo europeu. Mais isso mudou após a sua morte e com a ascensão ao Trono russo de Nicolau I. Nicolau I não se via manietado pelos acordos assinados por Alexandre I.
1826: Em Istambul eclode um distúrbio entre os Janízaros e o Sultão. Ao tomar conhecimento dessa crise em Istambul, a Rússia pede que os turcos se retirem dos Principados do Danúbio. Simultaneamente a isso, Rússia, Grã-Bretanha e França se unem e resolver exigir um armísticio entre o Império Otomano e a Grécia.
1827: Batalha de Navarino. Frota comandada pelo vice-almirante inglês Sir Edward Codrington destrói a frota naval otomana. Mesmo após essa derrota, o sultão otomano continuou perseguindo os gregos e não retirou suas tropas dos principados danubianos. Em resposta à intransigência otomana, a Rússia declara guerra ao Império Otomano. Em 1829, o exército russo está nas portas de Istambul. 
1830: Realização de uma Conferência em Londres, onde ficou acertado a criação de um pequeno Estado Grego independente, que seria administrado por meio de uma Monarquia Constitucional. Em 1832, Grã-Bretanha, França e Rússia impõem o príncipe Bávaro Otto Von Wittelsbach como rei grego. Os principados danubianos passariam a ter uma ingerência vinda da Rússia. Ao mesmo tempo, a Rússia se comprometeu a respeitar a integridade territorial dos otomanos nos Balcãs.

A REVOLUÇÃO DE JULHO DE 1830 NA FRANÇA:

Uma revolução derruba o Rei Carlos X. Em seu lugar assume seu primo, Luís Filipe. 
Carlos X não entrava em acordo com os liberais franceses. Para ganhar apoio popular, Carlos X embarcou numa conquista colonial no norte da África, na Argélia. Carlos X emulava Napoleão: conquistas militares no exterior para ganhar apoio em casa. 
Quando a notícia da expedição colonial francesa chegou a Paris, Carlos X aproveitou para tornar seu regime mais reacionário, adotando a censura estrita, fechando a Assembleia e restringindo o número de pessoas que podiam votar: somente os 25% mais ricos poderiam votar. Com esse eleitorado restrito, convocou novas eleições. Mas o público reagiu. Impressores prejudicados pela nova lei de imprensa, estudantes, veteranos do exército de Napoleão e trabalhadores revoltados com 3 anos de preços altos (pão, cereais, colheiras ruins), foram às ruas protestar. Carlos X colocou tropas nas ruas, mas a revolta já não era um motim, era uma Revolução. O povo nas ruas se protegia atrás de barricadas. Soldados do regime se viam cercados nas ruas, sendo alvejados do alto dos prédios com todos os tipos de objetos numa guerra de penicos. Desmoralizados e em menor número, cercados, guardas do governo começaram a debandar para o lado dos revolucionários. Já sem sustentação militar, Carlos X foi obrigado a abdicar do Trono francês. No lugar de Carlos X, assumiu seu primo, Luís Filipe de Orleães, que havia adquirido uma reputação de liberal, por causa de seu pai, cujas simpatias pela Revolução Francesa de 1789 lhe valerá o apelido de Philippe Égalité. Com a queda de Carlos X, o velho ramo da Casa dos Bourbons deixou de reinar.  
Resultado da Revolução de 1830 em Paris:
- abolição da censura.
- o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado para ser a religião da maioria dos franceses.
- as exigências para uma pessoa ser eleitora e elegível para um cargo foram afrouxadas, mas mesmo assim só 5% da população masculina adulta podia votar
- remoção da parte do preâmbulo onde constava que a Soberania residia apenas no Monarca
- o rei não podia mais suspender ou bloquear leis.
- Luís Filipe adotou a bandeira tricolor da Revolução Francesa.
- Luís Filipe era agora o REI DOS FRANCESES e não LUÍS XIX ou Filipe VII, Rei de França. 
- a Monarquia sob Luís Filipe havia mudado, tentando emular a Monarquia Constitucional Inglesa

REVOLTAS APÓS A REVOLUÇÃO DE JULHO NA FRANÇA:

- Problemas causados pela Revolução Industrial afetavam o novo regime:

Exemplo: Em Lyon eclodiu uma revolta do tecelões contra as mudanças econômicas acarretadas pela introdução do Tear de Jacquard
O prefeito de Lyon tentou atenuar a crise, estabelecendo um preço mínimo para a produção vinda dos tecelões. Acabou demitido. Sucedeu-se uma revolta na cidade, que resultou em mortos e feridos. O governo central teve que intervir para restaurar a ordem. 
Três anos depois, outra revolta eclodiu, novamente com os tecelões não aceitando a redução de seus ganhos. O governo novamente teve que agir, ocupando a cidade e prendendo os revoltosos. 
A instabilidade marcou o reinado de Luís Filipe. Foi alvo de vários atentados contra a sua vida. Os republicanos franceses tramavam contra ele. 
Luís Napoleão Bonaparte, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, tentou dar dois golpes no regime, ambos fracassados (1835 e 1840).
A Revolução de Julho durou 17 anos. Mas os conflitos entre republicanos, orleanistas, bonapartistas e legitimistas continuavam a lutar entre si pelo direito de governar a França.

REPERCUSSÕES DA REVOLUÇÃO DE JULHO NA FRANÇA NO RESTO DA EUROPA:

As grandes potências reconheciam Luís Filipe, mesmo diante da violação do sagrado princípio da LEGITIMIDADE MONÁRQUICA, pelo qual a luta contra Napoleão Bonaparte foi empreendida (entre outros motivos). Era um fato consumado. Mas havia medo que o exemplo francês se alastrasse pelo resto da Europa, encontrando receptividade entre pessoas (liberais instruídos) que tinham sido influenciadas pelas ideias da Revolução Francesa, como o constitucionalismo e a autodeterminação nacional.

BÉLGICA:

25 de agosto de 1830: Bruxelas. Após a apresentação de uma Ópera, seu público sai à rua, entusiasmada com a música AMOUR SACRÉ DE LA PATRIE (Amor Sagrado da Pátria). Isso foi apenas o estopim que levou multidões às ruas, compostas de artesão descontentes, etc. Mais uma criação do Congresso de Viena ameaça ruim. A União do Reino dos Países Baixos com o antigo território austríaco no sul (onde ficava Bruxelas), na forma de um Estado-Tampão para conter qualquer nova aventura expansionista francesa, estava com os seus dias contados. 
Guilherme I era o Rei dos Países Baixos. Ele queria tornar o seu Estado coerente e uniforme, de forma que empreendeu discriminação contra os católicos, que eram maioria em Bruxelas e noutras partes. Obrigava-os a pagarem mais impostos. 
Em 1815, durante o Congresso de Viena, quando o mapa da Europa era redesenhado pelos Políticos, ninguém perguntou para os habitantes de Bruxelas se elas queriam ser governadas pela Holanda. Uma união imposta de cima para baixo não poderia perdurar. E não perdurou. A revolta propagou-se  para Antuérpia. Guilherme I ordenou o bombardeamento da cidade. Cidadãos de Antuérpia, alguns deles protestantes e flamengos, indignados com o bombardeamento, acabaram aderindo à causa de Bruxelas. 
4 de Outubro de 1930: Declaração de Independência Belga. As grandes potências reagem. A Rússia, que era a garantidora da ordem europeia, mobilizou tropas e fez declarações ameaçadoras endereçadas aos belgas. A França, por sua vez, seguiria a Grã-Bretanha.
Uma Conferência em novembro de 1830, em Londres, resolveu a questão belga. Foi escolhido um príncipe alemão para ser o rei da Bélgica, Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gota. Leopoldo passou parte de sua vida como oficial do exército russo. Chegou, nessa posição, a enfrentar as forças napoleônicas em 1813. Ele ainda era casado com a filha legítima e única do príncipe regente inglês, Princesa Carlota, numa aliança que lhe conferiu a cidadania britânica e o pertencimento à família real inglesa, com o título de Alteza Real. Era sem dúvida uma pessoa bem relacionada. Carlota morreu em 1817. Em 1831, Leopoldo tornou-se Rei da Bélgica. Na sequência, ele se casaria com Luísa Maria, filha do Rei Francês Luís Filipe. Foi um casamento arranjado, com o objetivo de tranquilizar os franceses, que sempre desejaram anexar a Bélgica ao seu território. 
A Holanda só resolveria suas pendências com a Bélgica somente em 1839. Nesse meio tempo, a Holanda invadiu a Bélgica, sendo obrigada a sair dali pela intervenção dos ingleses pelo mar e pelos franceses por terra.

PORTUGAL:

Havia uma disputa pelo trono português, protagonizada pelos irmãos Miguel e Pedro I, Imperador do Brasil
Com a morte do rei português D. João VI, Pedro I e Miguel deram início a uma disputa pelo trono português. Do lado de Miguel se alinhavam os conservadores britânicos e o partido português absolutista dos nobres proprietários de terras, que estavam descontentes com a Constituição Liberal de 1822 e com a conservação das leis introduzidas por Napoleão no ano de 1800. Os seguidores de Miguel foram denominados Miguelistas. Miguel conseguiu sufocar uma rebelião liberal, A isso seguiu-se um reino de Terror.
No entanto, em 1831, no rescaldo da revolução de julho na França (1830), D. Pedro I entregou ao seu filho (que se tornaria Pedro II) o trono do Brasil e, com apoio francês e inglês, capturou a cidade do Porto, em Portugal. Porto foi sitiada pelos Miguelistas por mais de um ano. A guerra que se seguiu resultou na queda de Miguel e na ascensão da filha de Pedro, Maria da Glória, ao trono português, com o título de D. Maria II.
A Constituição Liberal de 1822 foi restaurada.

ESPANHA:

Em 1833 morreu o rei Fernando VII. Sua filha, ainda criança, ascende ao trono espanhol como Isabel II. Liberais espanhóis se aproveitam do momento de debilidade do governo e forçam a introdução de uma Constituição liberal moderada em 1834. Em 1837, fruto de novas agitações, é elaborada  uma nova Constituição baseada na Soberania Popular, ainda que com restrições impostas pela reserva de amplos poderes à Coroa.

ITÁLIA:

Ainda no rescaldo da Revolução de Julho ocorrida na França, em 1830, italianos (os carbonari) ergueram-se contra o domínio austríaco no norte da Itália e contra o domínio Papal no centro da Itália. Mas a desunião reinante entre os rebeldes e a intervenção austríaca acabaram com a rebelião.

ALEMANHA:

Em Aachen, no extremo oeste da Confederação Germânica(Aix La Chapelle), onde hoje é a Alemanha, moradores locais usavam a roseta tricolor francesa em homenagem aos revolucionários franceses de Julho de 1830.
Na Alemanha havia descontentamento com os governos. Em Leipzig (Saxônia alemã) saiam às ruas mas não sabiam para onde canalizar essa energia, para exigir alguma mudança específica. Os governos alemães conseguiram conter as revoluções. Metternich convocou a Dieta (Confederação Germânica) para aprovar leis que reforçavam a censura, proibiam manifestações, baniam partidos políticos, etc. Áustria, Prússia e Rússia ainda acertaram entre si medidas para combater os movimentos subversivos.
Todavia, em alguns Estados Alemães, foram adotadas algumas melhorias por meio de reformas liberais.

SUÍÇA:

Confederação dos Cantões Autônomos. Com a invasão de Napoleão, nasceu na Suíça um sentimento de identidade comum, divorciada do Sacro Império Romano Germânico. A independência da Suíça foi acordada durante as negociações que deram origem ao Congresso de Viena.

GRÃ-BRETANHA:

Depois de Waterloo, houve agitações e motins. Posteriormente, crescimento econômico e leis repressivas pacificaram a sociedade inglesa. As Seis Leis repressivas baniram a reunião de manifestantes, censuraram a imprensa e suspenderam o Habeas Corpus.
Uma reforma adotada na Grã-Bretanha acalmou o povo e os liberais. Foi aumentado o número de pessoas que agora podiam votar.
Classe Média:

"Os debates sobre a ampliação do direito de voto deram origem a um novo conceito: as classes médias, como disse Earl Grey, o primeiro ministro, fizeram avanços maravilhosos na propriedade e na inteligência e que foram a verdadeira e eficiente massa de opinião pública, sem as quais o poder dos aristocratas não existe."
(página 126)

ARTESÃOS E SEU PAPEL NA REVOLUÇÃO DE 1830:

Os artesãos descontentes desempenharam um papel importante nas revoltas de 1830. Em Manchester operários protestavam contra a diminuição dos salários, em razão da diminuição do crescimento econômico. Agricultores eram dispensados pela adoção da máquina de debulha. Desempregados, esses agricultores destruíram máquinas e incendiaram celeiros.

A MUDANÇA DA POLÍTICA:

"O meu pensamento mais secreto é que a Velha Europa está perto do fim. Determinado a ir ao fundo com ela, saberei como cumprir com o meu dever."
(Metternich, 1829)

Governar o povo tornara-se difícil. O povo reivindicava direitos. Não aceitava mais passivamente o que lhe era imposto de cima para baixo.

"Nos anos 20 do século XIX, a Câmara de Comércio de Turim resumiu a mudança dizendo que a Revolução Francesa provocara uma confusão total entre as diferentes classes da sociedade. Toda a gente se veste da mesma maneira; os nobres não se distinguem dos plebeus; o mercador não se distingue do Magistrado; o proprietário não se distingue do artesão; o senhor não se distingue do criado, pelo menos na aparência. O princípio que criou as Revoluções continua infelizmente a existir. O gênio saíra da garrafa e era impossível voltar a pô-lo lá dentro."
(página 127)

Diante desse novo cenário, era necessário criar um novo Conservadorismo. Mesmo assim, havia radicais que pensavam que a religião, a emoção, os instintos humanos, a tradição, a moral e o sentido histórico consciente do passado deviam substituir o racionalismo iluminista como base da ordem social e política.
Nesse sentido, pensadores da época diziam que a estabilidade social só seria alcançada se as pessoas entendessem que a Monarquia era um poder absoluto obtido por meio de Deus.

"O primeiro servidor da Coroa deve ser o Carrasco."
(Joseph de Maistre - 1753/1821)
(página 127)

"A razão era a inimiga. Só se podia confiar na fé e no sentimento."
(página 128)

"Quando a Monarquia e o cristianismo são atacados, a sociedade regressa à selvageria."
(Louis de Bonald, 1754/1840)
(página 128)

A civilização, para se ver livre das revoluções, uma preocupação recorrente dos governos durante o século XIX, deveria se ver livre do pensamento.

"Para que não haja abusos da imprensa, nada deve ser publicado nos próximos anos. Ponto final. Se esse princípio fosse aplicado como regra obrigatória, em breve voltaríamos a Deus e à Verdade." (Friedrich  Gentz)
(página 128)

Fazendo frente ao novo conservadorismo, havia o Romantismo. Romantismo "é o eco do disparo do canhão de 1789." (August Jal)
(Página 128)

O Romantismo do século XIX era a manifestação da luta pela liberdade representada em quadros, poesias e música. Segundo Vitor Hugo, o romantismo seria o liberalismo na literatura.
O liberalismo era aquele da primeira fase moderada da Revolução Francesa: soberania popular, governo representativo, liberdade e governo constitucional.
Mas a partir dos anos 20 do século XIX, o liberalismo ganhou uma nova cor, representada pelo nacionalismo.
Esse nacionalismo que agora vivia unido ao liberalismo foi obra de Napoleão Bonaparte, ao difundir, simultaneamente, a ideia da Soberania Popular com a política repressiva (e governo exercido por estrangeiros) e extorsiva nos territórios ocupados pelos franceses, criou ali, nas mentes educadas, a ideia de que a liberdade, a luta contra a opressão só poderia ser alcançada por meio da autodeterminação nacional
Até 1830, o liberalismo era um movimento internacional, conectando-se por meio de Maçons e carbonários. Depois de 1830, porém, os movimentos nacionalistas começaram a percorrer rotas diferentes.
A independência Grega, as revoluções de 1830, a independência da Bélgica: eram ecos da Revolução Francesa de 1789, mas havia diferenças:

Semelhanças:
-mais direitos e liberdades: classes educadas e profissionais.
-pão e trabalho: preocupação dos artesãos e trabalhadores
Diferenças:
A relação entre essas forças estava alterada. O Terror Jacobino de 1793/1794 era um fantasma que ainda amedrontava as pessoas e ainda inspirava ações radicais na atualidade - meios da população para articularem suas reivindicações: comícios ao ar livre, motins e criação da barricadas para obstar o avanço da polícia e do exército.
O medo do Terror Jacobino afastou a classe burguesa da violência da população. Na maioria dos lugares isto enfraqueceu as revolução. O resultado foi que o princípio da Monarquia manteve-se intacto. Aquilo que foi destruído, com exceção dos Impérios da Europa Central e do Leste, foi o absolutismo.

FORÇAS POR DETRÁS DAS REVOLUÇÕES DE 1830:

Oficiais das forças armadas. Era mais um legado de Napoleão. Era mais um ator social participando da vida política. Os oficiais foram politizados pelas Guerras Napoleônicas e, por se verem colocados de escanteio pelas Restaurações Monárquicas de 1815, acabaram fomentando grupos conspiratórios e revolucionários.

FORÇAS AUSENTES:

O Campesinato não participou da revoluções de 1830, mesmo sendo em maior número.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORIA EDIÇÕES 70.

Período Pós-Napoleônico Conflito entre o Constitucionalismo Liberal e a Política de Restauração Maçonaria



PAÍSES SE UNEM PARA CONTER A ONDA REVOLUCIONÁRIA:

As grandes potências precisavam se unir para impedir que uma nova Revolução Francesa viesse a acontecer na Europa. Era preciso agir em concerto para manter o status quo criado pelo Congresso de Viena.
Num primeiro momento havia reuniões entre Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia. França ficava de fora. Só depois de um tempo a França começou a participar dessas reuniões, cujos objetivos eram:

1)A Monarquia deveria ser a base da ordem
2)Em princípio, essa Monarquia deveria ser Absoluta
3)Essa Monarquia poderia ser moderada quando isso fosse inevitável em razão da existência de legislaturas tradicionais, como os Estados Gerais ou Assembleias de Notáveis ou Assembleias Representativas com poderes ESTRITAMENTE limitados.

REAÇÃO REACIONÁRIA AOS AVANÇOS TRAZIDOS PELA REVOLUÇÃO FRANCESA:

Desejo das monarquias restauradas de atrasar o relógio da história para antes da eclosão da Revolução Francesa. Queriam retornar ao passado. Prevalência do obscurantismo e do reacionarismo. Falta de liberdade.

Exemplos:

Estados Papais:

Papa Pio VII proibiu a iluminação pública e a vacinação contra a varíola, rotulando-as como inovações modernas censuráveis.

Reino do Piemonte-Sardenha:

Judeus e Protestantes perderam direitos que haviam conquistado sob o domínio napoleônico. Privilégios da aristocracia foram reintroduzidos.

Só havia um país que não fechava com todos esses objetivos: era a Grã-Bretanha, pois sua Constituição continha uma legislatura fortemente eleita.

CONCERTO DAS GRANDES POTÊNCIAS PARA CONTER AS ONDAS REVOLUCIONÁRIAS: ERA UMA MISSÃO DESTINADA AO FRACASSO:

Apesar das maquinações conjuntas das grandes potências no sentido de fazer o relógio da história retornar para antes de 1789, as ideias do CONSTITUCIONALISMO LIBERAL (inspirada na Revolução Francesa) e da SOBERANIA POPULAR (expresso de modo prático nas revoltas generalizadas contra a ocupação francesa nos últimos anos de Napoleão) ainda estavam vivas nas mentes de muitos europeus.

CONSTITUCIONALISMO LIBERAL VERSUS POLÍTICA DE RESTAURAÇÃO:

ESPANHA:

Na Espanha o Rei Fernando VII (1784/1833) rejeitou a Constituição Liberal de 1812 e reinstalou o regime absolutista. Fernando VII ainda foi além: ele devolveu à Aristocracia e ao Clero as terras confiscadas durante a Era Napoleônica. Ainda reintroduziu a Inquisição. 
A Espanha enfrentou grave crise econômica em 1820. Vários fatores convergiram para eclodi-la. Os custos gerados pelas Guerras Napoleônicas somados com as Insurreições nas Américas (colônias espanholas querendo a independência) resultaram numa grave crise econômica. Em 1820 veio a falência. Em 1820 veio a Revolução, com o início do movimento constitucionalista liberal. Em 1823, o rei Fernando VII é deposto. A França envia um exército de 100 mil homens para acabar com a revolução espanhola. Fernando VII retoma o trono e reemerge ainda mais reacionário. Reformou o exército, de forma a ficar ali somente quem lhe fosse fiel e subserviente. 

ITÁLIA:

No Reino das Duas Sicílias, o rei Fernando I foi obrigado pelos liberais italianos a adotar a Constituição Espanhola de 1812. Em março de 1821, as agitações liberais chegaram ao reino restaurado do Piemonte-Sardenha, obrigando a renúncia do reacionário rei Vitor Emanuel.
Para acabar com a rebelião liberal na Itália, a Áustria enviou forças militares para repor a ordem na Península Itálica (1821).
Os rebeldes foram julgados com severidade. Fernando I retornou ao Reino das Duas Sicílias. 

ESTADOS PAPAIS:

Nos Estados Papais o novo Papa, Leão XII, proibiu os judeus de deterem propriedades.

REINO DO PIEMONTE-SARDENHA:

O novo rei, Carlos Felice, disse sobre os cidadãos comuns:

"todos os maus são educados, e todos os bons são ignorantes."
(página 80)

Para o rei do Piemonte-Sardenha a solução era manter o povo na ignorância, sem acesso à educação, pois dessa forma eles não iriam reivindicar  seus direitos, causando rebeliões no seu reino. Ainda para Carlo Felice, "só o exército e a Igreja eram de confiança." (página 80)

PORTUGAL:

Na esteira da luta contra Napoleão, um general britânico, Visconde Beresford, foi nomeado chefe do exército português.
Agosto de 1820: Profissionais da classe média e oficiais do exército português se pronunciaram contra a presença de oficiais britânicos no exército português.
1822: Revolucionários portugueses proclamam uma nova Constituição Liberal para os portugueses. Essa Constituição era liberal para os Portugueses, mas para o Brasil não tinha nada de liberal, pois eram retomadas as regras Mercantilistas. Isso acabou servindo como um gatilho que, acionado, resultou na separação entre Portugal e Brasil.
Os reacionários portugueses reagiram em 1823, derrubando a Constituição Liberal. Foi criada uma nova Constituição, que atribuía mais poderes a D. João VI.

RÚSSIA:

Em sua guerra contra Napoleão Bonaparte, o exército russo atravessou toda a Europa, parando somente em Paris. Nessa travessia, alguns oficiais russos foram contagiados pelos ideais de liberdade da Revolução Francesa. Esses oficias russos sonhavam com uma Constituição para o seu país. A oportunidade surgiu em 19 de novembro de 1825, quando o autocrata Alexandre I morreu sem deixar um filho legítimo. O trono russo foi passado para o irmão mais novo de Alexandre, Nicolau, que se tornou Nicolau I. Em meio a isso, os rebeldes aproveitaram e deram um golpe de estado, Ficaram conhecidos como dezembristas. Mas o golpe restou frustrado em razão da rapidez de Nicolau em assumir a posição de Czar da Rússia.

MEDO DA MAÇONARIA:

A maçonaria tinha ênfase na humanidade, na discussão livre a portas fechadas. Tinham que realizar suas reuniões de forma secreta, para não serem presos. 
Os governos temiam a Maçonaria e outras sociedades secretas, como a Carbonaria. Os governos reacionários perdiam o sono e suspeitavam que essas sociedades secretas transcendiam as fronteiras, tramando em segredo a sua derrubada.
Essas sociedades secretas atraiam pessoas que emergiam de uma sociedade civil formada por médicos, professores, advogados, comerciantes, oficiais, etc. 

MEDO DO POVO:

Os liberais que sonhavam com uma Constituição, que frequentavam a maçonaria, oriundos de uma sociedade civil emergente, temiam uma aliança com o povo. Esse medo vinha da lembrança que tinham da Revolução Francesa, do Terror resultante, quando os Jacobinos se uniram aos Sans-Culottes (povo/populacho/miseráveis).  

A GUARDA DA EUROPA:

Quem poderia defender os regimes reacionários dos movimentos revolucionários? Teria que ser um regime igualmente reacionário e poderoso para poder intervir fora de suas fronteiras. Esse país era a Rússia, agora governada por Nicolau I.

"o regime de Nicolau I conseguiu controlar a dissidência, para a qual não havia representação institucional , como uma legislatura eleita, mas apenas romances, peças de teatro e poemas, que eram facilmente silenciados."
(página 89)

Quem criticava o governo de Nicolau I corria o risco de ser exilado para a Sibéria. Nicolau I estava disposto a usar o poderio russo para sufocar rebeliões fora de suas fronteiras. Ele seria o Guardião da ordem, do status quo europeu. 

INSURREIÇÃO NO REINO DA POLÔNIA:

Data: 28/29 de novembro de 1830
Conspiradores poloneses assassinam o então governador de Varsóvia. O Vice-Rei Konstantin, irmão de Nicolau I, fugiu para a Rússia. 
Em 1831, o Poder Legislativo polonês declarou a independência da Polônia, depondo o Czar Nicolau I do trono Polonês. Nicolau I era o rei da Polônia, condição criada pelo Congresso de Viena de 1815.
Esses revolucionários poloneses eram aristocratas. Eles temiam o povo, por isso não chamaram o campesinato polonês para uma união contra a Rússia. Temiam ter que ceder numa Reforma Agrária. Temiam o empoderamento do campesinato e a perda de sua posição social. 
Sem a participação do campesinato, os poloneses foram derrotados pelos russos em 1831, em Ostroleka. A revolta polaca acabou. Os russos entraram em Varsóvia . O Czar Nicolau I então procedeu à sua retaliação. Duzentas e cinquenta e quatro pessoas foram condenadas à morte. Nicolau I aboliu a Constituição Polaca e passou a governar aquele reino por meio de decreto militar. As obras dos poetas polacos foram suprimidas. As Universidades foram encerradas. 
A opinião liberal europeia ficou indignada com a ação russa na Polônia. Na Grã-Bretanha, desde então, nasceu um sentimento anti-russo, uma russofobia.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.

Mundo Pós-Napoleônico Legados da Revolução Francesa Doutrina Monroe Equilíbrio de Poder Concerto da Europa Diplomacia de Gabinete Natureza da Soberania


DOUTRINA MONROE:

De dezembro de 1823. Essa doutrina nascida nos EUA impedia que países europeus viessem intervir em assuntos relacionados aos países americanos. Impedia, por exemplo, que a Espanha viesse restaurar as suas colônias nas Américas. 
Entre 1812 e 1814, os americanos estavam em guerra contra a Grã-Bretanha, disputando direitos de pesca e a fronteira do Canadá. 

DOMÍNIO BRITÂNICO SOBRE OS OCEANOS:

Em grande parte do século XIX, os britânicos dominavam os Oceanos. Dominavam o comércio/transporte mundial.
Durante o Mercantilismo, um determinado país buscava expulsar um país concorrente da exploração de uma atividade comercial. A Grã-Bretanha do século XIX não agia dessa forma. A Grã-Bretanha tinha vantagens competitivas insuperáveis, de forma que não precisava apelar para o Mercantilismo. A Grã-Bretanha, sabedora de seu desenvolvimento industrial, defendia o Livre Comércio internacional. Ela assim o fazia porque seu desenvolvimento econômico e industrial era tão formidável que conseguiria superar qualquer um que porventura resolvesse desafiá-la. A indústria da Grã-Bretanha não tinha concorrentes e por isso ela defendia o Livre Comércio Mundial. 

GUERRAS, UM MODO DE VIDA NA EUROPA E BUSCA PELO CONCERTO DA EUROPA:

Um breve inventários de algumas Guerras na Europa:

1)Guerra dos 30 anos (1618/1648): Entre outras desgraças, ceifou a vida de 1/3 da população alemã
2)Guerra da Sucessão Espanhola (1701/1714)
3)Guerra da Sucessão Austríaca (1740/1748)
4)Guerra dos Sete Anos (1756/1763)
5)Guerras Revolucionárias e Napoleônicas (1792/1815)
6)Guerra do Norte (1701/1721)

Em contraste, entre 1815 e 1914, houve um número menor de guerras, com duração e impacto relativamente limitados, com poucos Estados envolvidos: 
1)Guerra da Crimeia (1854/56)
2)Guerras da Unificação Alemã (Áustria/Prússia/Dinamarca: 1864; Áustria/Prússia: 1866; Prússia/França: 1871)
3)Guerra da Unificação Italiana ( França/Piemonte Sardenha/Áustria)

Por que houve menos conflitos no século XIX em comparação com os séculos anteriores?

Resposta: Abandonou-se a política do EQUILÍBRIO DE PODER, segundo o qual nenhum Estado poderia tornar-se tão poderoso a ponto de dominar todos os outros Estados. Em seu lugar adotou-se o CONCERTO DA EUROPA, segundo o qual manter-se-ia a paz por meio de instituições colaborativas. Os países europeus agora buscariam entrar em acordo apesar de seus interesses antagônicos. Subjacente a essa ideia colaborativa estava o medo da revolução. Era o medo da revolução em seu próprio país, com o seu povo saindo às ruas para lhe derrubar, que levou Soberanos da Europa a deixar de lado sentimentos antagônicos, entrando em acordo com países que antes eram seus inimigos. Esses soberanos ainda tinham pesadelos com a Revolução Francesa, com um rei e uma rainha sendo guilhotinados. 

RESQUÍCIOS DO EQUILÍBRIO DE PODER E MUDANÇA NA NATUREZA DA SOBERANIA - DAS CASAS DINÁSTICAS PARA A NAÇÃO/ESTADO:

O Equilíbrio de Poder não tinha sido totalmente abandonado. No passado, a França, país que era então o mais rico e populoso da Europa, se candidatou ao posto de liderança. Desde os tempos de Luís XIV que a França flertava com a ideia de ser a líder de uma Monarquia Universal.
Porém, as derrotas de Napoleão no século XIX foram o canto do cisne para o sonho de liderança francês. Nem por isso os outros países europeus ficaram tranquilos. Eles temiam o ressurgimento da França. Não confiavam nela. Sabiam do que a França era capaz.

"No resto do século XIX, houve mais ou menos um equilíbrio de poder entre os principais Estados continentais..."
(página 63)

No Congresso de Viena vigorou aquilo que se denomina de DIPLOMACIA DE GABINETE. Nesse tipo de diplomacia, territórios são repartidos entre países sem se levar em conta os interesses das pessoas que os habitam.

"Passei o dia cortando a Europa como se fosse um queijo" (Matternich, durante o Congresso de Viena, em 1815)
(página 63)

De fato, ninguém perguntava, por exemplo, aos habitantes da Renânia se eles queriam ser governados pela distante Prússia, e nem perguntavam aos italianos do norte se eles queriam ser governados pela ainda mais distante Áustria. Mas era dessa forma que as coisas eram feitas, mas isso iria mudar, porque a Revolução Francesa tinha mudada a natureza da Soberania na Europa.
Nos séculos XVII e XVIII as maiores causas de guerras na Europa tinham a ver com disputas dinásticas, como as guerras das sucessões austríaca e espanhola no século XVIII.
Após 1815, este já não era o caso. A base da Soberania transitou para as nações e os Estados. A Soberania mudou de mãos: das mãos de família dinásticas/indivíduos para as mãos da Nação/Estado.

"Os tratados como os de 1814-15 eram concluídos entre Estados e não entre monarcas individuais e conservavam a validade até que uma das partes o revogasse de forma deliberada. Com efeito, o príncipe ou o governante tornou-se o executor da soberania nacional ou estatal garantida por acordo internacional com a força de lei."
(página 64)

"Antes de 1815, todos os tratados internacionais eram considerados nulos após a morte de um soberano e tinham que ser imediatamente renovados com a assinatura de um novo soberano para não caducarem."
(página 64)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.


Mundo Pós-Napoleônico França e Alemanha



MONARQUIA FRANCESA RESTAURADA. ÉPOCA PÓS-NAPOLEÔNICA:

A Revolução Francesa de 1789 causou uma mudança na natureza da relação entre governados e governantes. Isto foi mais evidente na França. 
Mas o rei francês Luís XVIII, que assumiu o poder com a queda de Napoleão Bonaparte, não via dessa maneira. Para Luís XVIII o mundo não tinha mudado. Ele ainda vivia no Ancien Régime (Antigo Regime), aquele que vigorava antes da Revolução Francesa. Tão logo assumiu o poder, Luís XVIII fez uma série de mudanças. Ele queria retroceder o relógio da história para 1788. Começou por aposentar a bandeira tricolor da revolução para ressuscitar a fleur de lys da Monarquia Francesa. 

"Quando um cortesão o informou, em 1814, da abdicação de Napoleão, dizendo-lhe: 'Senhor, sóis o Rei de França', ele (Luís XVIII), respondeu: 'Alguma vez deixei de ser o rei?' "
(página 65)

Luís XVIII também rejeitou a Constituição aprovada pelo último Senado de Napoleão, pois ela dizia que a autoridade real derivava de um contrato implícito entre o rei e o povo. O entendimento de Luís XVIII era que a autoridade real vinha de duas fontes:

1) Direito Divino
2) Declaração de Ouen, que era a base da Constituição da Monarquia Restaurada francesa. Por meio dela, Luís XVIII, pela graça de Deus, rei de França e de Navarra,  concedia os direitos ao povo francês por sua própria vontade. 
Mas Luís XVIII também fazia concessões. A seguir daremos alguns exemplos:

"...(Luís XVIII) concordou em não dar início a qualquer restauração das terras confiscadas durante a revolução francesa à Igreja, à nobreza ou à Coroa. Meio milhão de pessoas haviam comprado as suas propriedades, e era politicamente impraticável obrigá-la, ou às pessoas a quem as tinham vendido, a devolvê-la."
(página 65)

Luís XVIII ainda manteve o Código Napoleônico.
Luís XVIII criou uma Monarquia Absoluta limitada por dispositivos constitucionais, que podia ser anulada a qualquer momento. Estabeleceu uma legislatura bicameral que podia consentir ou não na promulgação de impostos. Mas Luís XVIII podia dissolver essa legislatura, convocando novas eleições em qualquer momento.
A Legislatura Bicameral era composta por uma Câmara Alta, cujos membros eram indicados pelo rei. Para a Câmara dos Deputados vinham representantes eleitos por homens com mais de 40 anos e que pagavam, por ano, 300 francos em impostos. Havia 90 mil eleitores numa população de 28 milhões de habitantes.
Em 13 de fevereiro de 1820, um sobrinho de Luís XVIII, o duque de Berry, foi assassinado por um seleiro descontente com os rumos do país. Em 16 de setembro de 1824 morreu Luís XVIII, vitimado por obesidade mórbida, sendo sucedido por seu irmão, Carlos X.

CARLOS X:

Carlos X, pai do assassinado Duque de Berry, era profundamente conservador. Queria a pena de morte para quem profanasse a hóstia. Queria compensação financeira aos nobres que haviam perdido terras durante a Revolução Francesa. Sob Carlos X, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade pela nomeação de todos os professores primários. As atitudes reacionárias de Carlos X recrudesceu o movimento oposicionista francês. Entre esses oposicionistas, havia Benjamin Constant, um liberal moderado, escritor e jornalista. Surgiam sociedades secretas, lojas maçônicas. Elas difundiam-se não só na França, mas por toda a Europa e ainda tinham contatos na América Latina, constituindo uma espécie de Internacional Liberal que transcendia as fronteiras políticas. 

ALEMANHA NO PERÍODO PÓS-NAPOLEÔNICO:

A Alemanha pós-napoleônica organizou-se por meio de uma Confederação Germânica, composta por Estados membros que se reuniam numa Dieta (Dieta da Confederação), por meio de seus representantes.
Na prática, a Confederação Germânica era dominada pela Áustria e pela Prússia (governada por Frederico Guilherme III - 1770/1840).
Havia alemães que defendiam a unificação alemã, entre eles destacava-se Ernst Moritz Arndt (1769/1860). Moritz Arndt defendia que a Alemanha deveria ser unificada sob uma Monarquia Constitucional, com a sua capital em Berlim, eliminando assim todos os estados membros autoritários que compunham a Confederação Germânica. Os alemães que sonhavam com a unificação de seu país tinham como inspiração os alemães que se voluntariaram (movimento Burschenschaft) na guerra contra Napoleão, nos anos de 1812 e 1813. Sua bandeira era a tricolor preta, vermelha e dourado.
Durante a ocupação napoleônica da Alemanha, voluntários alemães queimavam o Código Napoleônico e folhetos que apelavam à colaboração com os franceses. Essa queima de escritos e livros foi criticada pelo poeta Heinrich Heine (1797/1856). Tratava-se realmente de um movimento radical ao ponto de estimular um jovem membro do grupo, um estudante de teologia, Karl Sand, de 25 anos, a assassinar o escritor August Von Kotzebue, por este fazer pouco caso do movimento Burschenschaft e por ser alinhado com as ideias do governante autocrata russo, Alexandre I. August Von Kotzebue defendia ideias conservadoras, mantenedoras do status quo europeu.
As paixões na Alemanha pós-Napoleão estavam afloradas. Depois de matar Kotzebue, Karl Sand gritava: "Viva a Pátria Alemã." Karl Sand foi condenado à decapitação e tornou-se herói do movimento nacionalista alemão.

METTERNICH. REAÇÃO AOS MOVIMENTOS LIBERAIS.

O Chanceler austríaco agiu para diminuir a agitação na Alemanha. Valendo-se da Confederação Germânica, usou a sua Dieta, situada em Frankfurt, para aprovar leis que visavam impedir que os movimentos subversivos da ordem ganhassem força na Alemanha. Exemplos: Jornais ficariam sujeitos à censura, caso estimulassem ideias subversivas que visassem a derrubada da ordem instituída. Membros de organizações nacionalistas eram punidos, com estudantes sendo expulsos de Universidades.
Metternich, enfim, buscava criar uma legislação que obstasse o triunfo de movimentos liberais (constitucionais e de unidade)
Em 1829, a Constituição da Confederação Germânica permitia que um Estado-membro intervisse caso houvesse perturbação da ordem estabelecida em algum outro Estado-membro. Nessa Constituição ainda foi retirada referências à emancipação dos judeus e à tolerância religiosa. Assim como acontecia na França, a Alemanha buscava retroceder o relógio da História para antes da Revolução Francesa.
Na maioria dos Estados-Membros componentes da Confederação Germânica, havia instituições representativas, mas elas estavam cerceadas e limitadas por uma série de regras, desestimulando totalmente qualquer participação mais ampla do público. Essas instituições, na verdade, não eram representativas da vontade da maioria do povo alemão.

"...os Estados alemães eram dirigidos de forma burocrática e não autocrática, e um sistema de administração baseado em regras era geralmente visto como uma limitação mais eficaz do poder arbitrário do soberano do que as assembleias representativas."
(página 73)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70

Mundo Pós-Napoleônico Napoleão estava morto mas a Revolução Francesa tinha mudado o mundo para sempre As ideias democráticas da Revolução Francesa sobreviveram a Napoleão Santa Aliança Congresso de Viena



A REVOLUÇÃO FRANCESA TINHA MUDADO O MUNDO:

O domínio dos mares foi a base sobre a qual o poder europeu foi construído. Permitiu a colonização de outras partes do mundo e o domínio do comércio, estrangulando centros de manufaturas fora da Europa. Criou-se a crença de que as ideias europeias eram superiores às ideias da maior parte do resto do mundo.
Mas o mundo mudara. De nada adiantava restaurara Monarquias derrubadas pela Revolução. Não tinha como retroceder o relógio da história para antes de 1789. Impérios caíam (o Império Espanhol nas Américas; a França perdeu o Canadá e a Índia). Portugal perdera o Brasil. A guerra peninsular (1807-1814) tinha exaurido as forças da Espanha. Ela não teve como impedir a queda de seu Império nas Américas. 
Enquanto França, Portugal e Espanha sofriam, a Grã-Bretanha olhava com simpatia a independência de países nas Américas. A Grã-Bretanha queria que o Mercantilismo fosse quebrado e no seu lugar vigorasse o Livre Comércio, que iria favorecê-la, por ela ter vantagem competitiva. Países livres também significavam novos mercados consumidores para os produtos ingleses. Não era por bondade que a Grã-Bretanha aplaudia a independência de países nas Américas. Era por interesse comercial que a Grã-Bretanha atuou para a ajudar a Independência de alguns países nas Américas. Simon Bolívar foi apoiado. A Grã-Bretanha usou sua força naval para ajudar na independência de países nas Américas.

"Resolvi que, se França tinha Espanha, não deveria haver Espanha nas Índias. Fiz nascer o Novo Mundo para restabelecer o equilíbrio do velho" (George Canning, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha)
(página 50)

É inegável que as ideias da Revolução Francesa impactaram as independências dos países das Américas. Uma dessas ideias atacava o princípio da hereditariedade, minando dessa forma a legitimidade de instituições como a monarquia, a aristocracia. Essa ideias chegaram às Américas, colonizadas por essas Monarquias. Esse impacto fez nascer uma ligação entre os liberais europeus e os liberais latino-americanos. Na Europa pós-Napoleão havia uma disputa entre os defensores de regimes monárquicos reacionários (restaurados pelo Congresso de Viena) contra os liberais revolucionários. E esses liberais tinham conexões nas Américas. Um deles, Giuseppe Garibaldi, participou de revoluções no Brasil.

CONGRESSO DE VIENA:

A liderança das conversações coube a Klemens Von Metternich (conde e depois príncipe), um nobre da região do Reno (Alemanha) que cresceu na carreira de Estado. A Áustria, para quem Metternich trabalhava, queria restaurar o estado de coisas anteriores a 1789. O relógio da história teria que retroceder. 
O Congresso de Viena tinha como objetivo restaurar a legitimidade dos reis que tinham sido destronados por Napoleão. Queria evitar novas guerras, criando relações sólidas entre os países, inclusive amarrando a França por meio de tratados e acordos. Era preciso resolver de uma vez por todas os litígios entre os países, colocando-os no interior formada por uma rede de relações internacionais, amarrando-os uns aos outros. 
Durante as conversações em Viena, capital da Áustria, a França, com sua Monarquia restaurada na figura de Luís XVIII, foi representada por Charles Maurice de Talleyrand Périgord. 
A Rússia tinha Alexandre I, um autocrata, confiante que as instituições russas deveriam servir de modelo para outros países, pois elas se demonstraram vencedoras na guerra, marchando pela Europa, derrotando os exércitos de Napoleão e ocupando Paris. A vitória sobre Napoleão, na cabeça de Alexandre I, justificava as instituições russas, como por exemplo a autocracia (administração e legislação nas mãos do Czar), a servidão, etc.
O Congresso de Viena redesenhou o mapa da Europa. A Áustria perdeu a sua parte (atual Bélgica) nos Países Baixos para a Holanda mas recuperaram todos os seus outros territórios, restabelecendo o controle sobre a Lombardia (atual Itália), o Vêneto (atual Itália) e em boa parte da Dalmácia (atual Croácia).
Foi criada ainda uma nova Confederação Germânica, sob a presidência da Áustria. Suas fronteiras eram quase iguais ao do falecido Sacro Império Romano Germânico, mas agora com 39 Estados e não mais com os mais de um milhar do século XVIII.
A Confederação Germânica não era um Estado nacional. Tanto não era nacional que o Estado de Hanôver, pertencente à Confederação, era governado por um rei inglês. Alguns tinham territórios fora da Confederação, como por exemplo os Habsburgos, soberanos da Áustria, que presidia-a.
A Prússia ganhou terras na Renânia, incluindo o Vale do Ruhr. A entrega do Vale do Ruhr para os Prussianos tinha como objetivo criar um Estado-tampão para conter os franceses. Para contrabalançar o controle russo na Polônia, os Prussianos ganharam o norte da Saxônia, a Pomerânia sueca e a Posnânia (Posen/Poznan) e Gdansk.
A Rússia abocanhou territórios na Bessarábia, na Finlândia e na Polônia. 
A França, outrora poderosa, se viu cercada pela Renânia Prussiana, pelo Reino dos Países Baixos (Holanda + Bélgica), pela Suíça reconstituída e pelo Reino do Piemonte Sardenha.
Com o Congresso de Viena, a Grã-Bretanha consolidou seu Império. Ceilão (Sri Lanka), Cabo da Boa Esperança (África do Sul) e Malta ficaram com os ingleses.
O Congresso de Viena ainda ilegalizou, pelo menos sob o ponto de vista formal, o Tráfico de Escravos nos assuntos relacionados com a Europa. 

SANTA ALIANÇA:

Em 1815,mesmo ano em que foi encerrado o Congresso de Viena (20/11/1815)  foi criada a SANTA ALIANÇA, que reunia Rússia, Áustria e Prússia e outros Estados pequenos. Os signatários desse acordo concordavam em administrar seus países segundo os princípios do evangelho cristão, de maneira que a guerra deveria ser banida da Europa. Os ingleses não botavam fé na sinceridade dos signatários da Santa Aliança, mas mesmo assim Jorge IV a assinou, mas sem se comprometer. Os ingleses também temiam o fantasma da democracia criado pela Revolução Francesa, tanto quanto os prussianos, os russos e os austríacos. 

A SANTA ALIANÇA E A RÚSSIA COMO GUARDIÃ DA ORDEM EUROPEIA:

A Santa Aliança criava a perspectiva da intervenção russa noutras partes da Europa, Exemplo: Em 1848, a Rússia, vindo em auxílio à Áustria, interviu na Hungria, mantendo assim o Império Austro-Húngaro íntegro.

COMO AS PESSOAS VIAM A GUERRA DEPOIS DOS CEM DIAS DE NAPOLEÃO:

A guerra era vista como sendo praticada entre regimes ou entre ideologias antagônicas, não entre nações. No entanto, após os 100 dias de Napoleão no poder, os países da Europa começaram a ver a guerra sob outro prisma: eles se voltaram contra a nação francesa, contra os franceses, que agora tinham que suportar, dentre outras coisas, a presença de quase um milhão de soldados aliados em seu território.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDIÇÕES 70.

Depois de Napoleão Bonaparte Mito Bonapartismo Medidas Preventivas contra Revoluções Napoleão estava morto mas as ideias da Revolução Francesa estavam viva



DEPOIS DE NAPOLEÃO. O BONAPARTISMO:

Napoleão foi derrotado definitivamente em 18 de junho de 1815, na Batalha de Waterloo. Napoleão foi exilado na ilha de Santa Helena, onde veio a morrer em 1821.
Nos últimos cem dias (fuga da ilha de Elba até a Batalha de Waterloo) que ficou no poder, Napoleão tentou vestir a roupagem de um liberal. Nesses cem dias, Napoleão prometia paz ao mundo e valores liberais para os franceses. Tinham acabado os tempos de conquistas militares.
O mito do Napoleão Bonaparte liberal cultivado em seus 100 dias de retorno ao poder deu origem ao vocábulo BONAPARTISMO. 
O Bonapartismo se diferenciava do Republicanismo, pois o primeiro tinha ênfase na figura de uma liderança forte e na glória militar, enquanto que o Republicanismo dava ênfase ao sufrágio universal para os homens, para a burocracia estatal eficiente, para a adoção de referendos, plebiscitos e o Estado deveria tratar todas as pessoas de forma igual.

NAPOLEÃO E O USO DE UM GOLPE MILITAR PARA SE ALCANÇAR O PODER POLÍTICO:

A ideia de um golpe militar como forma de se alcançar o poder político transitava normalmente pelas mentes dos franceses. Essa ideia era inspirada pelo Golpe de Estado Militar de Napoleão de 18 de Brumário (9/11/1799), que derrubou o Diretório Revolucionário e elevou Napoleão à posição de 1º Cônsul e o levou depois a estabelecer o 1º Império Francês em 1804. As pessoas, inspiradas pelo golpe dado por Napoleão em 1799, sonhavam que os Regimes da Restauração, que eram repressivos e que queriam voltar para antes de 1789 (Antigo Regime), poderiam ser derrubados por um novo golpe, dando lugar a um regime Liberal. 
Os poloneses e os irlandeses inspiravam-se em Napoleão. Simon Bolívar, na América Latina, via em Napoleão um herói.
Enfim, Napoleão, o golpista, o Imperador, tinha se tornado um Mito, servindo de símbolo para as pessoas que queriam lutar pela derrubada de regimes opressivos, lutando contra a dominação colonial para no fim implantarem um regime liberal e constitucional.


CONSEQUÊNCIAS DAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS:

Jakob Walter, um pedreiro alemão, recrutado pelo Estado fantoche francês de Vurtemberga (Wurttemberg) para o exército francês que seguiria para Rússia, foi e conseguiu voltar vivo à sua casa. Jakob foi porque não tinha alternativa, senão obedecer. Jakob era indiferente à política, à França; não odiava os russos; era indiferente ao Estado fantoche francês de Wurttemberg. Jakob Walter também não tinha interesse pelo resultado das guerras napoleônicas.
Quase 1/4 de século de guerras (a partir de 1789) havia deixado a população cansada. Jakob Walter queria apenas sobreviver. Outro compromisso dele era com a Fé Católica, que o sustentava em meio ao sofrimento.
Seiscentos e oitenta e cinco mil soldados (italianos, franceses, alemães e poloneses) invadiram a Rússia em 1812. Menos de 70 mil regressaram. Jakob Walter foi um dos que regressou. Quatrocentos mil foram mortos e 100 mil feitos prisioneiros (número desconhecido de isolados e desertores).
Em 1814 os aliados ocuparam Paris e Napoleão Bonaparte foi exilado na Ilha de Elba.
No período compreendido entre 1789 e 1815 cinco milhões de pessoas morreram. Moscou, a capital da Rússia, foi incendiada, entre 7 mil e 9 mil casas foram destruídas pelo fogo, além de 8 mil lojas e armazéns. Não havia como compensar todas essas perdas.
A Espanha também sofreu sob a ocupação francesa. Houve pilhagens, carnificinas. A Renânia, na Alemanha, sofreu com a requisições do Exército francês. Em Aachen (oeste da Alemanha), habitantes morriam de fome. Exércitos tinham que viver da terra na qual estava estacionados ou passando por ela. Daí as requisições, quando não as pilhagens, os saques. Era preciso alimentar milhares de soldados e os animais, como por exemplo, a cavalaria que puxava as peças de artilharia.

PERÍODO IMEDIATAMENTE POSTERIOR AO ENCERRAMENTO DAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS (1815/1820):

Se não bastassem os danos causados pelas guerras napoleônicas, mudanças climáticas causadas pela erupção de vulcões causaram danos à produção agrícola europeia. Havia queda abruptas de temperatura e chuvas intensas. Os preços dos cereais dispararam. Em Paris, em 1817, o preço do pão dobrava de valor. O Bloqueio Britânico e o Contra-bloqueio napoleônico tinham arruinado o comércio, causando desemprego. Havia fome na Europa em localidades como a Renânia, a Croácia, a Hungria, a Lombardia no norte da Itália, etc)
Neste cenário de depressão econômica, os pobres mendigavam ou roubavam ou iam às cidades em busca de alguma comida.

"Tinham, como disse um observador, a palidez da morte nas faces."
(página 39)

As pessoas tentavam sair da Europa. Em 1818, duas mil pessoas de Baden (Alemanha) foram para o Rio de Janeiro. Em 1817, vinte mil alemães e 30 mil franceses foram para os EUA.
Havia um incremento na morte por tifo, varíola, etc. À falta de higiene acrescentavam-se pessoas enfraquecidas pela fome, pedintes perambulando de cidade em cidade em busca de ajuda. A peste bubônica matou 12 mil pessoas nas Ilhas Baleares em 1820.
A partir de 1816, a falta de alimentos provocava revoltas populares. As revoltas eram causadas pela crise de subsistência, pela miséria maciça e pelo desemprego. Houve revoltas na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na França, na Prússia. Os Estados agiram para reprimi-las.
Em 1819, na Grã-Bretanha, 15 ingleses morreram em Saint Peter's Field (Manchester). A polícia inglesa dispersou uma maciça concentração popular a tiros. Esse evento ficou conhecido como PETERLOO, numa alusão jocosa à Batalha de Waterloo, em 1815, quando Napoleão foi definitivamente derrotado. 
Mas só a repressão não funcionava. Os Estados tentaram agir para atenuar a miséria do povo, mas naquele tempo eles não tinham recursos. O que houve então foi uma política para prevenir revoluções, revoltas. O fantasma da Revolução Francesa era onipresente. E além da repressão interna preventiva, externamente havia o temor de que a França viesse a, mais uma vez, criar problemas na Europa.

MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA REVOLUÇÕES:

Grã-Bretanha, Prússia, Rússia e Áustria acordaram entre si que, caso houvesse um evento revolucionário em algum lugar da Europa, agiriam prontamente para debelá-lo. A primeira ação conjunta deles se deu na volta de Napoleão ao poder, durante os cem dias após a sua fuga da ilha de Elba, finalizando com a Batalha de Waterloo. Essa primeira ação conjunta foi de caráter preventivo, que estabeleceu as bases para outras ações desse gênero no futuro. A ideia era que os Estados repressivos da época (Prússia, Áustria e Rússia) tinham que agir para recolocar o gênio da revolução de volta na garrafa da história.
Na década de 90 do Século XVIII a intervenção em assuntos internos de um país soberano (a França revolucionária) ocorreu também em caráter preventivo, ocasionada pelo medo da propagação das ideias democráticas (liberdade, igualdade, fraternidade) nascidas com a Revolução Francesa pelo resto da Europa, e em proteção à Maria Antonieta, irmã do então Imperador Austríaco, e ao Rei Luís XVI. 

NAPOLEÃO ESTAVA MORTO MAS AS IDEIAS DA REVOLUÇÃO FRANCESAS ESTAVAM VIVAS:

O medo de novas revoluções vinha da constatação de que as ideias trazidas pela Revolução Francesa tinham criado raízes em vários locais, principalmente nos países ocupados por Napoleão. As transformações feitas por Napoleão foram profundas. Napoleão causou um terremoto no Antigo Regime.
Exemplos:
1)Napoleão desprezava fronteiras estabelecidas há séculos. Criou um anel em torno de si, formado por Estados-Satélites, incluindo o Grão-Ducado de Varsóvia, o Reino da Itália e o Reino de Vestfália. 
2)Napoleão pôs fim ao Sacro Império Romano Germânico, que tinha sido criado no ano 800 d.C., por Carlos Magno. Extinguindo com o Sacro Império Romano Germânico em 1806, Napoleão mostrava que as fronteiras não eram imutáveis.
3)Napoleão ainda diminuiu o poder da Igreja Católica. Introduziu direitos iguais aos não-cristãos, em particular aos judeus.
4)Tribunais eclesiásticos e senhoriais foram substituídos por um sistema centralizado de uniformidade, administrado por uma burocracia judicial.
5)Pesos e Medidas, até certo ponto, foram padronizadas. E outras restrições ao movimento livre dos trabalhadores foram eliminadas.

"Napoleão levara mudanças a toda parte e, quando partiu para o seu exílio final em Santa Helena, em 1815, era evidente que muitas delas não podiam ser revogadas."
(página 49)



ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70"



Império Persa Por que nos odeiam? Assírios Medos Ecbátana Estíages Ciro Persas Dario Zoroastro



POR QUE NOS ODEIAM?

O grego Heródoto, na cidade de Helicarnasso, atual Bodrum na Turquia, perguntava: Por que eles (aqueles que vem do leste, os persas) nos odeiam? Teria sido a destruição de Troia, cidade localizada na Ásia Menor, atual Turquia?

"Seu nome era Heródoto. Na condição de um grego natural do que é hoje o resort turco de Bodrum, então conhecido como Halicarnasso, cresceu nas bordas da Ásia. Por que, perguntou-se, as populações do Ocidente e do Oriente têm tanta dificuldade de conviver em paz?"
(página 15)

No momento em que Heródoto se indagava, uma nova ameaça começava a surgir na Ásia, nas planícies do que é o hoje o sul do Irã. Ali uma tribo iria partir para a conquista que iria do Mar Egeu à Índia. 
Em 480 a.C., Xerxes, um dos chefes dessa tribo, era o homem mais poderoso do mundo e a Grécia era apenas o nome de um local geográfico, no qual havia uma série de cidades-estados que não se davam bem umas com as outras. 
Apesar dessa rivalidade, os gregos viam-se como um único povo, compartilhando uma mesma língua, uma mesma cultura.
O Império Persa (já não era apenas uma tribo do sul do atual Irã) já tinha abocanhado cidades gregas naquilo que hoje é a Turquia Ocidental. Mas os Persas queriam mais. Queriam a própria Grécia, que ficava na Europa. Em 480 a.C., os Persas reuniram a maior força expedicionário já reunida e com ela tentaram invadir a Grécia. Mas os gregos resistiram e a repeliram. 
Quarenta anos após essa tentativa Persa de invadir a Grécia, Heródoto, o personagem citado acima, foi buscar razões para toda essa violência. Por que nos odiavam, perguntava Heródoto, a ponto de nos invadir com tantos soldados? 
Na verdade, nas guerras entre Gregos e Persas havia muita coisa em jogo. Exemplo: o desenvolvimento da democracia ateniense não teria ocorrido sob a dominação de um rei estrangeiro. E mais ainda: se a Grécia tivesse sido dominada pelo Império Persa, talvez nem o Ocidente, como o conhecemos, iria existir.
Termópilas, Maratona, Salamina ajudaram na criação do mito-fundador da Civilização Europeia.
O Império Persa, por sua vez, criou um Estado multiétnico, multicultural, que se estendia do Mar Egeu à Índia, dividindo para governar e garantindo a paz e a ordem para quem se deixasse submeter. 
Esse Império Persa foi paradigma para os próximos impérios que viriam a sucedê-lo, inclusive o Islâmico.

ESTRADA KHORASANIANA:

A estrada Khorasaniana transpunha a cadeia de Montanhas denominada ZAGROS. Essa cadeia montanhosa Zagros, por sua vez, separava duas regiões: na parte oeste, ficava a Mesopotâmia (atual Iraque). Na sua parte leste, ficava o Planalto iraniano (atual Irã).
Essa estrada, portanto, ligava a região do Crescente Fértil com o Irã e além dele (Afeganistão, etc)

ASSÍRIOS:

Era um povo guerreiro. Era um império comandado por reis guerreiros. Seus reis tinham que viver lutando, liderando seus homens na busca de novos territórios. A Civilização assíria tinha canais de irrigação, palácios e jardins. Vivia no que é hoje o norte do Iraque. Era uma civilização orgulhosa e sedenta por conquistas. Chegaram ao Egito mas queriam mais. Os assírios deslocavam populações inteiras de um lado para o outro; populações derrotadas que saíam de suas casas e eram realocadas em áreas desabitadas, de onde outras populações, também derrotadas pelos Assírios, já tinham sido realocadas em outra área. Assim, as populações derrotadas perdiam suas raízes. Suas principais cidades eram Nínive, Assur. A Assíria, regularmente, fazia expedições nas Montanhas Zagros para capturar membros de tribos locais, tornando-os escravos. Havia também incursões punitivas, para demover essas tribos que viviam nas Zagros de efetuarem ataques furtivos em cidades Assírias. Essas tribos também eram obrigadas a se submeter ao poder Assírio, pagando tributos na forma de cavalos, que iam para o exército Assírio (século VIII a.C.) Mas essas tribos começaram a se unir como forma de enfrentar os Assírios. As Montanhas Zagros ficaram mais arriscadas para as incursões dos Assírios em busca de escravos, em expedições punitivas ou para cobrar tributos.

ARYA - ARIANOS:

Povos nômades vindos das estepes do leste (Ásia Central). Da Ásia Central foram para as Montanhas Zagros.
Havia nas Montanhas Zagros tribos que se autodenominavam de ARYA (arianos). Arya significa nobre. Eram hábeis domadores de cavalos. Eram originalmente nômades. Com o tempo, tornaram-se sedentários, criando cidades.
Os Medos eram uma confederação de tribos arianas que residiam ao longo da Estrada Khorasaniana. Essa união tribal foi uma necessidade. Era necessária para fazer frente aos ataques assírios. E de uma defesa passou para o ataque. Os Medos passaram a atacar os Assírios. Nínive foi invadida e devastada (615 a.C. 612 a.C. - século VII). Os antigos algozes se tornaram vítimas. 

"um número infinito de mortos - eles avançavam pisando nos corpos."
(página 33)

Em 608 a.C., a grandiosidade da Assíria ficou para trás. No seu lugar entrou os Medos

A MÉDIA (MEDOS):

Essa nova força ficou com grande parte do espólio assírio. Seus reis eram meramente chefetes militares provisórios até alcançarem o status de terem derrotado os assírios. A Média emulou o comportamento dos assírios, passando a invadir áreas contíguas ao seu território. Daqui por diante, a Média iria invadir o norte da Síria e a Lídia (atual Turquia). Em 585 a.C., Astíages, rei dos Medos, fez um acordo com o rei da Lídia, estabelecendo a fronteira oeste de seu império no rio Hális.
A capital do reino Médio ficava em Ecbátana, que se localizava na Estrada Khorasaniana, no final da subida das Montanhas Zagros, antes do Planalto Iraniano. No controle dessa cidade, os Medos controlavam o comércio entre leste e oeste.

PERSAS: 

Os Medos superaram os Assírios. Agora os Persas iriam superar os Medos.
Medos e Persas eram arianos. Os Medos, ao olharem para os Persas, poderiam contemplar o seu próprio passado, formada por uma confederação de Clãs, um povo nômade, que eram excelentes cavaleiros.
Persas: Não se sabe se eram os mesmos, mas de toda forma, uma região que hoje situa-se no sul do Irã (costa do Golfo Pérsico), adotou o nome de Paarsa/Pérsia, a terra dos Persas. Essa nova tribo ariana, instalada na Paarsa, tinha já guerreado com os assírios no ano de 843 a.C..
O reino de Ciro, no início, era apenas um vassalo dos Medos. Na visão de Astíages, a Pérsia era um reino atrasado e que não lhe ameaçava. E foi por pensar assim que Astíages casou sua filha com o príncipe Persa. Astíages casou sua filha, Mandane, com o príncipe de um reino atrasado porque, num sonho, viu sua filha urinando sem parar, até causar a inundação do Reino da Média. O sonho foi interpretado como um alerta ao rei dos Medos, nos seguintes termos: qualquer filho de Mandane colocaria em risco o seu reino. Por esse motivo, Astíages se precaveu, da forma dele, casando sua filha com o príncipe de um reino sem importância.
Mas os sonhos não pararam por aí. Num segundo sonho, Astíages viu uma árvore crescendo por entre as pernas de sua filha. Essa árvore do sonho crescia sem parar, até cobrir toda a Ásia. Aterrorizado com essa visão, Astíages ordenou que o filho de Mandame fosse assassinado. 

"Como invariavelmente acontece nessas histórias, desobedeceram-lhe. Abandonado na encosta de uma montanha, o bebê foi encontrado e criado por um pastor; ou, talvez, dizem alguns, por um bandoleiro, ou quem sabe, até mesmo uma cadela, com as tetas, bem a propósito, transbordando de leite."
(página 34)

Enfim, esse bebê cresceria e tomaria o trono da Persa para si. E o nome desse bebê era Ciro. Independentemente de tais histórias serem verdadeiras ou não, a realidade é que os Persas derrotaram os Medos no campo de batalha.
Na Ásia era normal essa sucessão de reinos e impérios. Era uma selva onde o predador de hoje poderia ser o presa de amanhã. E a presa de ontem poderia se tornar o predador de hoje.

CIRO:

Em 559 a.C., Ciro sobe no Trono Persa. Ciro tornou-se líder dos Persas por ser o chefe da principal tribo, os AQUEMÊNIDAS (cidade de Pasárgada)
Em 550 a.C., Ciro derrota o rei dos Medos, Astíages. A vitória de Ciro contou com a ajuda de Harpago, comandante do exército de Astíages. Harpago traiu seu rei. 
O reino persa de Ciro tinha uma Corte, mas os persas não haviam se assentado completamente. Traziam ainda consigo muito daquilo que caracterizavam seus ancestrais que viveram nas estepes do Leste (cavaleiros em constante movimento em busca das melhores pastagens para os seus rebanhos).
Ciro tratou bem os derrotados Medos. Astíages passou a receber uma pensão. Ecbátana não foi destruída. Esse tipo de comportamento de Ciro trouxe os Medos para o seu lado. A partir de 550 a.C., os Persas mergulharam de cabeça na expansão de seu Império. Ao avançar para o oeste, Ciro derrotou o rei da Lídia, Creso. Ciro então entrou na capital da Lídia, Sardes, que ficava a três dias de jornada do mar Egeu (547 a.C.). Na sequência, Ciro alcançou o litoral do Mar Egeu, na Ásia Menor, atual Turquia. Cidades jônias do litoral foram conquistadas.
Com a Ásia Menor conquistada, Ciro voltou seus olhos para o Leste. Como um ariano, Ciro sabia o perigo representado pelas tribos nômades que viviam no Leste. Era necessário proteger o Planalto Iraniano e ir além, se possível. 

IMPÉRIO PERSA - EXPANSÃO PARA O LESTE:

A expansão para o leste foi exitosa. A Pérsia seria protegida pelas incursões da tribos nômades por meio de um arco que ia do Mar de Aral ao Indocuche (Indo-Kush), abrangendo a região da Sogdiana (atual Usbequistão) e a Bactriana (Gandara, Afeganistão, Paquistão). A expansão de Ciro parou no rio Jaxartes (Syr Daria). 

"Ciro, atravessando a monotonia das estepes, certamente não tinha a intenção de prosseguir até mais longe."
(página 44)

Estabelecida sua fronteira oriental, Ciro voltou seus olhos para o atual sul do Iraque. 

"as ricas terras planas do que é agora o sul do Iraque, indo da Assíria até o Golfo Pérsico, uma região de esplêndidas cidades, desde o alvorecer dos tempos."
(página 44)

O sul do Iraque foi conquistado por Ciro, sem maiores percalços. 
Ciro morreu no ano de 529 a.C..

"Nenhuma Império jamais for erguido em tais bases. Nenhum conquistador jamais praticara tanto e em tal extensão a clemência. Foi essa a genialidade de Ciro."
(página 46)

SUCESSÃO DE CIRO:

Ciro morreu. Quem iria sucedê-lo? Isso era um problema. Ele tinha 3 filhas e dois filhos. As filhas não eram o problema. Os filhos eram o problema: Cambises e Bardiya
Em vida, Ciro fez de Cambises um príncipe e de Bardiya governador da Báctria. Após a morte de Ciro, seus filhos acertaram um pacto entre si. Bardiya ficaria com a província de Báctria, enquanto Cambises seria o rei, sucedendo a seu pai. 
Com tudo acertado entre os irmãos, Cambises deu início à sua série de conquistas. A primeiras delas foi o Egito. Cambises tornou-se Faraó do Egito. Ele procurava mostrar respeito pela religião e pelos costumes egípcios. Com Cambises no Egito, a área central do Império Persa, no atual Irã, ficou acéfala. E quem dominasse a área central da Pérsia, dominaria o Império. Assim, na ausência de Cambises, nobres persas começaram a conspirar contra ele. Queriam fazer de Bardiya o novo Imperador. Esses nobres estavam cansados do jeito de governar de Cambises, que segundo eles era autoritário. Bardiya então deu início ao plano para derrubar o seu irmão (522 a.C.).

MORTE DE CAMBISES. ASCENSÃO DE DARIO:

Ao saber das tramas armadas contra ele, Cambises preparou um exército e deu início à sua marcha para o centro do seu Império, no atual Irã. Mas no caminho Cambises sofreu um acidente e morreu. Com a morte de Cambises, Bardiya tornou-se Imperador do Império Persa por direito e de fato. Mas seu reinado duraria pouco. Bardiya, para arrecadar dinheiro para o Tesouro Persa, confiscou os bens dos nobres que acompanhavam Cambises em sua marcha do Egito para o Irã. Entre os nobres expropriados em seus bens estava um sujeito que atendia pelo nome de DARIO. Dario teve o mérito de reunir em torno de si outros nobres que também tinham sido expropriados por Bardiya. 

"Dario era um primo distante do rei, (...), tinha apenas 28 anos."
(página 52)

"Dario era o carregador de lança de Cambises."
(página 52 )

"Assim, o título do jovem Dario, longe de implicar uma condição servil, era uma honra esplêndida e prestigiosa. O status na corte persa era conferido exclusivamente pela proximidade em relação à pessoa real."
(página 52)

Dario também era do clã Aquemênida, a mesma de Ciro. 
Enfim, Dario assumiria o comando do Regicídio (novembro de 522 a.C.) que acabaria por matar Bardiya e que o colocaria no trono persa.
No período de 1 anos, os dois filhos de Ciro estavam mortos.
Os Regicidas esconderam-se atrás da história dizendo que o verdadeiro Bardiya já estaria morto há muito tempo. Teria sido morto pelo próprio Cambises. O homem que agora estava no trono da Pérsia era um impostor, se fazendo passar pela figura de Bardiya, por meio da magia. Ninguém na Pérsia ousou contraditar essa história, com medo de sofrer represálias.
Com essa história, os conspiradores não seriam vistos como regicidas, mas como aqueles que livraram o trono da Pérsia de um impostor.
E isso não era pouca coisa, pois manter um impostor no Trono da Pérsia colocaria em perigo a própria existência do cosmos, do Universo.

ZOROASTRISMO E A ASCENSÃO DE DARIO AO TRONO PERSA:

Os persas acreditavam que o Deus Ahura Mazda, ao criar o Universo, tinha criado ARTA, a verdade, e Drauga, a mentira. Verdade e Mentira estavam em constante conflito. A Verdade era quem garantia a ordem no funcionamento do Universo, que por sua vez garantia a existência da vida. Já Drauga, representante da Mentira, era o caos, a desordem. 
Os conspiradores então tinham tirado um mentiroso do trono persa, um mago que se fazia passar por Bardiya. Com isso, Dario e seus amigos tinham restaurado a verdade e, por tabela, a ordem no Universo.
Por fim, Dario, como líder da conspiração e na ausência de um outro nome, assumiu o trono persa.

ZOROASTRO:

Zoroastro era o profeta do povo ariano (medos, persas, etc). Via o mundo como um palco no qual as forças do mal e do bem estavam em constante luta. A verdade (bem) e a mentira (mal) estavam em constante luta. 
Essa luta alcançaria um momento final com a vitória da verdade sobre toda a falsidade, sob o olhar do Deus Ahura Mazda, estabelecendo na Terra um reino de Paz. Ainda segundo os ensinamentos de Zoroastro, a VERDADE era representada pelas chamas do fogo, que se fazia acompanhar pela fumaça negra, que representava a mentira (drauga), representando assim a eterna briga entre a verdade e a mentira. 
Dario, buscando unir seu poder à religião (Zoroastrismo), construiu templos consagrados ao fogo. Dario, de fato, sendo um regicida e um golpista, buscou legitimar seu poder com o auxílio da religião. Dario não era filho de Ciro, por isso usava a religião para forçar a ideia de que seria pelo menos o representante na terra do Deus Ahura Mazda. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "FOGO PERSA", O primeiro Império Mundial e a Batalha pelo Ocidente. Tom Holland, Editora Record, páginas 13/63)