quinta-feira, 2 de abril de 2020

Henrique VIII Morte de Jane Seymour Herdeiro Eduardo Ana de Cleves Queda de Thomas Cromwell A Traição de Catarina Howard Vitória Inglesa em Solway Moss O último casamento com Catarina Parr



CONSIDERAÇÕES SOBRE UM CASAMENTO REAL:

Buscar uma mulher para contrair núpcias com o rei importava várias considerações. Era preciso ver se a mulher agradava Henrique. Havia a questão diplomática e por fim a necessidade de se conseguir um filho legítimo e saudável, para dar prosseguimento à Dinastia Tudor. 

AS PRIMEIRAS ESPOSAS DE HENRIQUE VIII:

A Primeira esposa de Henrique foi Catarina de Aragão. 

"Na década de 1530, em ataque direto à Igreja Católica, anulara a união com a primeira mulher, Catarina de Aragão, argumentando com a incerta consumação do casamento dela com o seu irmão mais velho, Artur, antes de este morrer aos 15 anos, de tuberculose, em 2 de abril de 1502, menos de cinco meses depois de casarem"
(página 19)

Depois veio Ana Bolena, que foi decapitada em 19 de maio de 1536.
O esperado herdeiro, Eduardo,  veio finalmente em outubro de 1537, por meio da terceira esposa de Henrique, Jane Seymour. 

"Jane morreu passados doze dias, pouco antes da meia-noite, de febre puerperal e septicemia provocadas por uma infecção contraída durante os dois dias e três noite de trabalho de parto..."
(página 20)

Tão logo Jane morreu, começaram as negociações para um quarto casamento para Henrique VIII. Era necessário um novo casamento para que Henrique tivesse um herdeiro sobressalente, herdeiro estepe, caso Eduardo viesse a falecer, numa das inúmeras pestes e febres que atormentavam os londrinos. Havia também a necessidade diplomática. Num primeiro momento, cogitou-se numa esposa francesa, de forma a impedir a união entre as monarquias católicas espanhola e francesa, que poderia se voltar contra a Inglaterra. Buscou-se então uma francesa para Henrique. Vários nomes foram cogitados para depois serem descartados. Nesse meio tempo, o comportamento de Henrique causou um desconforto na corte francesa, pois aquele manifestou seu desejo de viajar para Calais, possessão britânica em território francês, para pessoalmente passar em revista uma seleção de várias francesas, da quais escolheria uma para ser sua rainha. Os franceses sentiram-se ofendidos com essa proposta de Henrique.

"Henrique tinha receio de escolhas que não fossem atraentes, do ponto de vista físico. Por conseguinte, pediu para ser ele próprio a inspecionar sete ou oito princesas francesas, numa marquesa montada na fronteira entre a França e a sua possessão inglesa em Calais, antes da opção final para noiva. Embora fossem devidamente acompanhadas pela rainha francesa, o rei, Francisco I, sentiu-se ultrajado com o pedido e mandou Castillon comunicar a Henrique, em agosto de 1538: 'Não é costume da França mandar donzelas de famílias nobres e principescas para serem vistas como se fossem cavalos para venda' "
(página 21)

"Outros métodos de seleção real mais aceites, que envolviam ponderados relatos diplomáticos sobre a conformidade e aparência, foram firmemente rejeitados por Londres, insistindo Henrique: 'Por Deus! Não confio em ninguém que não em mim. A coisa toca-me de mais. Desejo vê-las e conhecê-las antes de decidir.' "
(página 21)

Mas o esperneio de Henrique VIII de nada adiantou. Ele teria que acreditar no julgamento de terceiros, em pinturas (quadros pintados com a imagem da candidata) para encontrar a sua quarta esposa.
E a ocasião surgiu quando França e Espanha estabeleceram um tratado em 18 de junho de 1538, que obrigou a Inglaterra a arranjar uma esposa numa casa principesca protestante alemã, de forma a evitar o isolamento da Inglaterra na política europeia.

"A 18 de junho de 1583, a França e a Espanha acordaram um rapprochement diplomático, assinado em Nice tréguas para dez anos. Pressionado pelo Papa, Paulo III, planejaram uma ação coordenada contra a heresia religiosa, começando com um embargo comercial. Parecia agora provável a invasão da Inglaterra pelos poderes católicos..."
(página 24)

A escolhida então foi Ana de Cleves, "de 24 anos, vinda de um lugarejo ducal do Baixo Reno." (página 24)

Era uma das duas irmãs solteiras do Duque Guilherme. As negociações chegaram ao fim e o casamento entre Ana de Cleves e Henrique VIII foi acertado à distância. Henrique VIII teve que confiar num retrato pintado de Ana, em depoimentos de enviados. Seria um voo às cegas. 
Em 11 de dezembro, Ana de Cleves, vinda de Dusseldorf, chegou a Calais, onde aguardaria o melhor momento para atravessar o Canal da Mancha. 

O RECEIO DE DIZER A VERDADE AO TODO-PODEROSO HENRIQUE VIII. NÃO ERA BOM NEGÓCIO SER O PORTADOR DE MÁS NOTÍCIAS PARA UM SOBERANO ABSOLUTISTA.O DESCONTENTAMENTO PODERIA IR ALÉM DA NOTÍCIA EM SI E ABARCAR AQUELE QUE APENAS A TRANSMITIA:

O Conde de Southampton, então Lorde Almirante-mor, fora o designado para fazer a travessia do Canal da Mancha, levando Ana de Cleves para a Inglaterra. O Conde mandou uma carta a Henrique elogiando sua recém adquirida esposa alemã. O que mais ele poderia fazer? "Mas quem poderia culpar Southampton pela ânsia de agradar ao seu real senhor, 'o Nero inglês?' Habitualmente, o portador de más notícias para o todo-poderoso pagava um preço pouco invejável e ele não via motivo razoável para por à prova o instável temperamento de Henrique."
(página 25)

Ana de Cleves desembarcou na Inglaterra em 27 de dezembro de 1539. Henrique VIII estava ansioso para conhecê-la, decidindo então fazer uma visita surpresa para ela.

"O rei voltava a ser um jovem ardente e amante; deixava para trás o velho monarca que, chegado aos 48 anos, com as pernas gravemente ulcerosas e doloridas, há muito tivera o seu auge."
(página 26)

"O primeiro vislumbre de nova rainha deixou Henrique assombrado de espanto e desconcertado (...) Parecia mais velha para a idade, faltava-lhe sem dúvida a beleza anunciada e tinha o rosto pálido desfigurado por cicatrizes de varíola."
(página 27)

Ao voltar de sua visita surpresa a Ana de Cleves, Henrique VIII lamentava a sua falta de sorte, dizendo:

"Ai de mim! Em quem deve um homem confiar? Juro-te que nada vejo nela do que me mostraram e apoquenta-me que lhe tenham elogiado como fizeram. Pois que dela não gosto."
(página 27)

Desesperado, Henrique perguntava a seu Ministro Chefe, Thomas Cromwell, se não havia um jeito de se desvencilhar daquele casamento. Cromwell não encontrava saída jurídica para atender seu chefe. Não era uma boa situação para Cromwell. Se você trabalhava para um Monarca Absolutista e não conseguia fazer valer os desejos dele, você estaria em péssima situação. Henrique ainda iria descontar sua fúria nas pessoas que, na visão dele, o tinham orientado mal sobre as negociações que desembocaram no casamento com Ana de Cleves.
Mas não havia remédio para Henrique, que se viu obrigado a casar com Ana de Cleves, em 6 de abril de 1540. 

CASAMENTO NÃO CONSUMADO:

Henrique VIII não sentia nenhuma atração por Ana, de forma que não conseguiu consumar o ato. 
Sir Thomas Heneage, o camareiro da Latrina Real, comentaria depois:

"Por todas as vezes que Sua graça (o rei) com ela se deitou, reclamou sempre e disse claramente que não confiava que fosse donzela, pelos seios descaídos e outras características. Além disso, não conseguia ter apetite por ela para fazer o que um homem deve fazer com a sua mulher, pelos ares tão desagradáveis que nela sentia."
(página 29)

HENRIQUE VIII QUERIA ACHAR UMA FORMA DE SE LIVRA DE ANA DE CLEVES:

Nessas circunstâncias, Henrique VIII teria que se livrar de Ana. As pessoas que o cercavam teriam que achar uma solução. Henrique não aceitava nada que não fosse o atendimento de seus desejos.

"Wriothesley, muito lamentando que sua majestade se mostrasse tão incomodado, pressionou o amigo Cromwell - por amor de Deus - para congeminar um estratagema no sentido de livrar o rei da mulher não desejada, pois se ele continuar com sua dor e infortúnio, todos eles um dia haveriam de sofrer com isso. Cromwell, sem qualquer esperança, só conseguiu responder: 'Sim! Como?' "
(página 30)

O primeiro a cair em desgraça foi Thomas Cromwell que, do nada, de Ministro-Chefe de Henrique VIII, tornou-se 'traidor". Cromwell foi preso em 10 de junho de 1540.
Cromwell prestou muitos serviços valiosos a Henrique VIII. Foi arquiteto da Dissolução dos Mosteiros, esteve ao lado de Henrique quando esteve brigava com o Papa. Tinha sido até agraciado com a Ordem da Jarreteira, uma grande honraria, concedida a quem tinha prestado valiosos serviços ao Estado (rei). Mas bastou um fracasso ( não achar uma saída para anular o casamento de Henrique com Ana de Cleves), para torná-lo 'traidor'. A vida na Corte de Henrique VIII era incerta, era como andar sobre areia movediça.

"Cromwell, conspirador-mor e arquiteto da Dissolução dos Mosteiros, que tão frutuosa se revelou em termos financeiros, esperara tempo de mais para se conseguir salvar. Pagaria com a vida um dos poucos fracassos de entre todos os serviços zelosos que prestou ao rei."
(página 31)

Cromwell foi condenado sem julgamento, por Ato de Proscrição, em 29 de junho. Henrique aproveitou para confiscar o patrimônio de Cromwell. Dinheiro e móveis em valores superiores a 6 milhões de libras (em valores de 2004) foram levados para o cofre do rei. Havia ainda títulos de terras e outros rendimentos. Era uma herança inesperada para o rei. 

O CASAMENTO DE HENRIQUE VIII E ANA DE CLEVES SERIA ANULADO:

"O casamento iria ser anulado pelos seus dois Arcebispos, seis bispos e cento e trinta e nove acadêmicos ilustres, com o sútil argumento legal de que Henrique não o consumara (pois sabia que estava fora da lei), devido ao esquivo pré-contrato com Francis de Lorraine."
(página 31)

Ana de Cleves, quando era criança, teriam em nome dela estabelecido um pré-contrato de casamento com Francis Lorraine. Ana tinha 12 anos e Francis tinha 10 anos. Tal acordo seria abandonado e esquecido. Mas Henrique VIII achou uma forma de desenterrá-lo para justificar a anulação de seu casamento. Os advogados de Ana dizia que o contrato não tinha validade, pois Ana era menor quando o assinou. Mas isso não importava para Henrique que queria apenas achar qualquer argumento para acabar com o seu casamento.

COMPENSAÇÕES PARA ANA DE CLEVES E PARA SEU IRMÃO, O DUQUE DE CLEVES:

Ana ficaria na Inglaterra, usufruindo de uma gorda pensão e sendo tratada como boa irmã do rei e primeira dama de toda a Inglaterra. Ana anuiu aos termos do acordo, até porque não tinha alternativa, sabedora como ela era dos métodos de Henrique, já conhecido por ter mandado cortar a cabeça de Ana Bolena. 
Em 6 de julho o casamento tinha sido desfeito. Ana ainda escreveu uma carta (provavelmente ditada pelos funcionários de Henrique) a seu irmão, Guilherme, para que aceitasse o acordo e não viesse a criar problemas com a Inglaterra. 
Henrique VIII estava mais uma vez livre.

"E quanto a Henrique, tratava-se de fim mais limpo e mais conveniente de qualquer dos seus casamentos. E resolveu-se em seis dias apenas em vez dos seis desconfortáveis anos que levou a livrar-se de Catarina de Aragão."
(página 35)

 HENRIQUE VIII E CATARINA HOWARD:

Henrique agora que se casar com Catarina Howard, prima direta de Ana Bolena e sobrinha do reacionário Thomas, terceiro duque de Norfolk. Era filha de Lorde Edmund Howard, filho do segundo duque de Norfolk. A pessoa mais importante de sua família era seu tio Thomas Howard, "que sucedeu ao pai no título em 1524, era soldado, conde-marechal e Lorde tesoureiro-mor da Inglaterra, terceiro posto mais importante do reino. Era também um dos líderes da facção dos conservadores religiosos."
(página 37)

Conservadores religiosos: Thomas Howard, aliado de Gardiner, bispo de Winchester, sonhava com o retorno da Inglaterra à religião tradicional, com uma reconciliação com Roma. 

28 DE JULHO DE 1540: CROMWELL DECAPITADO E HENRIQUE VIII CASA-SE COM CATARINA HOWARD:

A alegria de Henrique VIII duraria pouco. Mais uma sobrinha de Thomas Howard iria decepcioná-lo. A primeira fora Ana Bolena. Agora seria Catarina Howard, cujas provas sobre sua promiscuidade se avolumavam de forma estonteante.

CATARINA HOWARD, A RAINHA PROMÍSCUA:

Para imensa infelicidade de Henrique, provas e mais provas eram colhidas e todas elas apontavam que a sua atual esposa, Catarina Howard, era uma promíscua, antes e provavelmente depois do casamento. Para piorar ainda mais a situação, a rainha tinha traído Henrique com um sujeito de nome Culpeper, que tinha começado a vida na corte como pajem, ascendido à posição de criado e, finalmente, promovido a fidalgo da Câmara Privada do rei, o que lhe dava acesso privilegiado à pessoa do Soberano.
Não eram apenas Catarina, Culpeper e Henrique que estavam arrasados com toda essa história (saude célebre). Thomas Norfolk, tio de Catarina, estava arrasado. Via todos seus planos políticos se desmancharem de uma hora para outra. Ana Bolena e agora Catarina o colocavam numa situação extremamente difícil. A sua casa (de Norfolk) poderia ser alvo da fúria de Henrique.
Thomas chegou a escrever uma carta a Henrique, dizendo-se escandalizado com a conduta de Catarina e dizendo-se totalmente fiel a ele. Thomas temia o futuro de sua casa, a de Norfolk. Temia que a fúria de Henrique se voltasse para ela.
Carta de Thomas a Henrique:

"Prostrado a vossos pés reais, imploro a vossa majestade com toda a humildade que assim eu possa, caso seja de vossa agrado, ser advertido (informado) claramente de como se inclina vossa alteza em relação a mim. Dando garantias a vossa alteza que a menos que saiba que vossa majestade continua a ser o meu bom e gracioso Senhor, como éreis antes de cometidas as ofensas, não voltarei a desejar viver neste mundo."
(página 49)

Thomas estava morrendo de medo, ansioso por saber como Henrique VIII o via depois de mais uma sobrinha dele (de Thomas: Ana Bolena e agora Catarina) ter aprontado contra o rei. Enquanto não soubesse, ficaria numa ansiedade sem fim. E ainda diz que prefere morrer a perder a graciosidade de seu Senhor. Esse era poder que um Monarca Absoluto exercia sobre seus súditos, mesmo aqueles que também tinham poder, como no caso de Norfolk.
Norfolk não demoraria a perceber que a sua influência na Corte de Henrique VIII tinha acabado. 

CATARINA INCONSEQUENTE:

Catarina era inconsequente. Mandava cartas de amor para Culpeper. Uma dessas cartas (billet doux) foi encontrado em uma revista realizada no quarto de Culpeper, em Westminster. Dizia uma parte da carta:

'Entrego-me a vós de todo coração, suplicando-vos que me mandeis novas sobre o vosso estado de saúde. Soube que estivestes doente e nunca desejei não tão ardentemente como ver-nos. Morre-me o coração só de pensar que não posso estar sempre na vossa companhia."
(página 47)

Catarina ainda assinava essa carta com esses dizeres:

"Vossa, enquanto durar a vida, Catarina."
(página 48)

Coitado de Henrique VIII tendo acesso a esse material probatório. Ele tinha sido traído. 

CATARINA HOWARD PERDE O TÍTULO DE RAINHA:

Em 22 de novembro de 1541, Catarina perdeu o título de rainha da Inglaterra. Em 10 de dezembro de 1541, Culpeper foi decapitado.
Em 11 de fevereiro de 1542, Catarina Howard foi condenada à morte por traição.

"...morreu, piedosamente, com um golpe de machado que separou a outrora frívola e tonta cabeça do seu corpo jovem."
(página 51)

"Era o fim do quinto casamento de Henrique e o corpo da mulher foi enterrado na Igreja de São Pedro de Vincula, no interior da Torre de Londres, ao lado de Ana Bolena, a segunda mulher de Henrique, executada quase cinco anos antes."
(página 51)

HENRIQUE VIII, 51 ANOS, GORDO E DE SAÚDE DÉBIL. UMA PERNA ULCEROSA:

Depois do caso Catarina Howard, o Parlamento inglês estabeleceu legislação dizendo que seria ofensa de traição uma mulher casar com o rei escondendo um "eventual passado menos casto." (página 51)
Chapuys, embaixador espanhol na corte de Henrique VIII, conhecedor da flexibilidade moral sexual naquela corte, ao saber da recente lei aprovada pelo Parlamento inglês, comentou:

"Hoje, são poucas, se algumas, as damas da corte que aspiram a honra de se tornar uma das mulheres do rei ou desejar que para tal sejam escolhidas." 
(página 51)

Depois da traição de Catarina, Henrique, aos 51 anos, com uma saúde débil, com uma perna ulcerosa, afogou suas mágoas na comida. Engordou ainda mais. Mas uma notícia iria animar Henrique: a vitória inglesa sobre os escoceses, em Solway Moss, em novembro de 1542. Dias depois, o rei escocês, James V, morreu, deixando uma filha, Maria.
Rememorando: 1542/1543: Henrique VIII tinha duas filhas e um filho. As filhas eram Maria, de seu casamento com Catarina de Aragão, e Isabel, de seu casamento com Ana Bolena. E tinha um filho, Eduardo, com Jane Seymour. Eduardo tinha quase 5 anos, Maria era a mais velha, com 26 anos e Isabel tinha 8 anos e meio. 

HENRIQUE VIII SAI DA TRISTEZA E VAI ATRÁS DE SUA 6º E ÚLTIMA ESPOSA:

Em 1543, Henrique deixa a tristeza de lado e volta a festejar. Sua filha mais velha, Maria, tornou-se anfitriã nos Palácios do pai.

CATARINA PARR:

Catarina Parr seria a sexta e última mulher de Henrique VIII. Era filha de um poderoso magnata do Norte, Sir Thomas Parr, de Kendal, no Cumberland. Tinha sido casada duas vezes, enviuvando duas vezes. Não teve filhos com seus maridos. Seu último marido morreu em dezembro de 1542.
Em fevereiro de 1543, Henrique começou a cortejá-la.

"O que o rei desejava, o rei conseguia."
(página 56)

"Embora grotescamente obeso e a sofrer com as feridas dolorosas e pestilentas das pernas, o vaidoso Henrique ainda acreditava que sabia dar a volta a uma mulher."
(página 57)

Henrique ainda usou de compadrio para trazer a família de Catarina Parr para o seu lado. O irmão dela, William barão Parr de Kendal, foi feito membro do Conselho Privado, e recebeu ainda a honraria como Cavaleiro da Ordem da Jarreteira e ainda "nomeado como guarda dos marches escoceses, territórios fronteiriços onde brilhava aquando das últimas campanhas militares contra o irascível vizinho da Inglaterra."
(página 57)

JULHO DE 1543. O DERRADEIRO CASAMENTO DE HENRIQUE VIII:

Henrique VIII casa-se com Catarina Parr.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "OS ÚLTIMOS DIAS DE HENRIQUE VIII, CONSPIRAÇÕES, TRAIÇÕES E HERESIAS NA CORTE DO REI TIRANO, ROBERT HUTCHINSON, EDITORA CASA DAS LETRAS, capítulo 1, Uma Honra Perigosa, páginas 19/62.


domingo, 29 de março de 2020

1917 O Ano que Mudou o Mundo Janeiro e Fevereiro Guerra Submarina Revolução Mexicana À terceira vez é de vez Soldados condenados à Morte quando desertavam pela terceira vez


JANEIRO DE 1917:

▶Áustria passou rapidamente do delírio de guerra para o desejo de paz

▶Houve uma tentativa de encerrar o conflito. Negociações de Paz entabuladas em Neuchatel (Suíça). Em junho, são abandonadas.

▶Guerra Submarina. Em 31 de janeiro de 1917, Bethmann Hollweg, chefe de governo alemão, anuncia a guerra submarina. U-BOOTS. O "u" era de Unterwasser. Barcos submarinos. Em setembro de 1914, um desses afunda o navio britânico Pathfinder.
Em 7 de maio de 1915, barco submarino alemão afunda o navio Lusitânia. 129 americanos mortos. Os alemães perdiam a guerra da propaganda.
O exército alemão dominou a política. Hindenburg era visto como um Deus. Ludendorf era o Profeta. A Imprensa alemã era anexionista, vendo na guerra uma possibilidade da Alemanha aumentar o seu território. Havia uma soma: Direita Nacionalista + Exército + Interesses Econômicos = Defesa da Guerra.

▶1917 foi o ano do cansaço e da revolta. A guerra tinha começado em 1914. Caminhava-se para 3 anos de carnificina, sem que se visse uma saída. O entusiasmo dos voluntários desaparece.

▶Rompe-se a interdição moral de se fazer greve em tempo de guerra. Havia greves em Paris, na Itália

FEVEREIRO DE 1917:

"...alguns, culpados ou não, sejam condenados à morte" 
(página 47)
O ano de 1917 foi um ano de cansaço. Para manter a disciplina no Exército, era preciso agir com severidade, condenando-se à morte, fossem os soldados inocentes ou culpados. Assim ficariam com medo e passariam a obedecer cegamente as ordens que vinha de seus superiores.
Ao agravamento das condições do conflito no front corresponde, porém, não uma tentativa para melhorar a vida dos soldados, mas um agravamento da situação jurídica-política dos combatentes.
"à terceira vez é de vez." - mote 
(página 48)
Traduzindo o mote: Condenar à morte aqueles que desertam pela terceira vez (third strike - termo do Beisebol)
"Na realidade, a lei sobre a recidiva chamada third strike , aprovada em referendo popular, vem de uma regra do Beisebol, third strike and you are out (ao terceiro strike estás fora)."
(página 48)
O Governo Italiano, em 4 de fevereiro, criou um decreto que alargava a possibilidade de condenar à morte os soldados que desertavam pela terceira vez. À terceira vez é de vez.

▶A guerra, mãe de dor, geradora de miséria, sofrimento e luto, também produz riqueza. Havia os Tubarões da Guerra, os capitalistas que tinham aumentado seus lucros graças à Guerra.

▶Gramsci via na Grande Guerra, que depois seria denominada de 1º Guerra Mundial, uma oportunidade para "sacudir como um golpe de vento os indiferentes."
(página 51)

▶Lênin dizia que o Imperialismo era a fase superior do Capitalismo
Soviete: Forma organizadora do Estado Proletário.
Parlamento: Forma organizadora do Estado Burguês

▶Constituição Mexicana de 1917: Foi a primeira do mundo a reconhecer as garantias sociais e os direitos dos trabalhadores. 
"No sul do continente americano, encontramos o México mergulhado numa revolução que dura desde 1910, com vicissitudes alternadas e protagonistas em conflito: um processo, em suma, conturbado e moroso, que deve ter em conta também a intervenção externa por parte dos EUA, convencidos, já então, de poderem e deverem intervir - pela moral suasion, com pressões econômicas e com recursos às armas - no quintal de casas latino-americanas. A revolução mexicana, na década de 1910-1920, custará, feitas as contas, mais de um milhão de mortos. Entre 1917 e 1920, desenrola-se a sua quarta e derradeira fase, caracterizado por um programa robustamente reformador, que nas décadas seguintes será aplicado e pouco a pouco abandonado ou corrompido. Este programa tem início em fevereiro de 1917, com a aprovação de uma Constituição de enorme relevância....a primeira do mundo a reconhecer as garantias sociais e os direitos dos trabalhadores, incluindo os direitos sindicais ( a começar pela liberdade de greve),.."
(página 55)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "1917, O ANO QUE MUDOU O MUNDO", ANGELO D' ORSI, EDITORA BERTRAND EDITORA, páginas 37/59

Franconia Oriental Embrião da Alemanha atual Conrado I Henrique da Saxônia Luidolfings Otão I Igreja Imperial Nomeação régia de Bispos e abades Otão II Otão III Henrique II



FRANCONIA ORIENTAL:

Com o Tratado de Verdun, o Império Carolíngio foi dividido em três pedaços. Um desses pedaços é o que interessa para a História alemã: a Franconia Oriental, embrião da futura Alemanha, como a conhecemos hoje.
Após Verdun, a Franconia Oriental era governada por Luís, com cognome não histórico de 'o Germânico". Luís era um dos filhos de Luís, o Piedoso, último imperador Carolíngio. 
- Luís: ✝876
- Arnulfo da Caríntia: ✝899
- Luís, a Criança: ✝911 - Último representante da dinastia carolíngia

"...é necessário ter em conta o seguinte: as regiões setentrionais do reino central - a Lorena e a Alsácia - não se juntaram à Alemanha em 870 e 880 e tão-pouco foram conquistadas pela Alemanha. Tratava-se de divisões dinásticas dentro de um Império, divisões essas que prepararam, no entanto, um estabelecimento de fronteiras entre a França e a Alemanha que viria a revelar-se muito importante do ponto de vista histórico."
(página 37)

FIM DA DINASTIA CAROLÍNGIA NA FRANCONIA ORIENTAL COM A MORTE DE LUÍS, A CRIANÇA ✝911 (SÉCULO X). O NOVO REI FOI ELEITO, O QUE TORNAVA A ALEMANHA MEDIEVAL UMA MONARQUIA ELETIVA:

Em lugar de se associar à Franconia Ocidental, governada por Carlos, o Simples - como fizeram os Lorenos - a nobreza tribal dos francos, suábios, bávaros e saxões elegeu como novo rei Conrado I (911-918). Reparem que Conrado I foi eleito. Era uma Monarquia eletiva e não hereditária. O império alemão medieval era eletivo e não hereditário. Conrado pertencia à Casa Franca dos Conradinos. Mesmo chegando ao poder por meio de uma eleição, Conrado I passou seu governo tendo problemas com as autoridades tribais (jovens ducados da Baviera, Saxônia, Franconia, Suábia). Essas tribos eram ciosas de seu poder e não abririam a mão dele. Conrado procurava apoio na Igreja, para contrabalançar esse poder dos ducados. Conrado também fracassou na tentativa de reconquista a Lorena e na defesa contra os húngaros.

"Apesar disso, os primórdios dos temas centrais da história posterior do Império já podem ser reconhecidos nesta fase: os conflitos entre o poder central e a reivindicação de poder por parte dos eleitores do rei, assim como a aliança entre o rei e a igreja."
(página 39)

FRANCONIA ORIENTAL GOVERNADA PELA PRIMEIRA VEZ POR ALGUÉM QUE NÃO ERA ORIUNDO DA TRIBO DOS FRANCOS:

O sucessor de Conrado I foi Henrique, o duque da Saxônia, Casa dos Luidolfings (919-936). Alguns veem a ascensão de um Duque da Saxônia ao trono da Franconia Oriental como a última fase, de três no total, que resultou no aparecimento de um Reino Alemão. A construção do Reino Alemão teria se dado então por meio de três fases:
1-Separação da Franconia Oriental (Tratado de Verdun)
2-Fim dos Carolíngios com a morte de Luís, a Criança, em 911
3-Henrique, duque da Saxônia, primeiro rei não pertencente à tribo dos Francos
Todavia, nem todos concordam com a ideia de que o Reino Alemão teria nascido após percorrer as três fases acima elencadas. Objeções foram levantadas. Vejam:

"Estas objeções prendem-se com o significado da palavra <> (= língua do povo), a falta de uma consciência nacional alemã e as fortes linhas de continuidade com o período franco, carolíngio. E se alguém argumentar sobretudo com a preservação da designação <>, podemos perguntar o seguinte: que outro título teria sido possível, tendo em conta a mentalidade de legitimação medieval, num território que fizeram parte, até à data, do Império Carolíngio dos Francos? (...) Portanto, podemos continuar a considerar que o governo da Casa da Saxônia constitui o início da história alemã - com as devidas limitações e tomando-o como referência cronológica."
(página 39)

Em seu governo, Henrique buscou regularizar a situação com a Franconia Ocidental, além de defender as fronteiras norte e leste. Procurou ter uma boa convivência com os poderes tribais (Baviera, Suábia, etc). O território da Lorena continuava a ser um objeto de disputa entre a Franconia Oriental e a Franconia Ocidental. Em 921, Henrique desistiu da Lorena para conseguir o reconhecimento de Carlos III. Quatro anos mais tarde, todavia, conseguiu reunir outra vez a Lorena ao seu reino. 

"Este acontecimento teve consequências: a fronteira entre a Franconia Ocidental e o reino central estabelecida no Tratado de Verdun (843) passou a constituir a fronteira duradoura (ou, melhor: o espaço fronteiriço) entre a Alemanha e a França, a partir de 925."
(página 39/40)

Sucessos militares de Henrique contra dinamarqueses, húngaros e eslavos deram a ele supremacia na Europa Central e a oportunidade de indicar seu filho, Otão, como seu sucessor. 

OTÃO I, FILHO DE HENRIQUE, DUQUE DA SAXÔNIA/REI DA ALEMANHA. CASA DE LUIDOLFING: 

Otão I reinou de 936 a 973). Era filho de Henrique I. Otão queria exercer um poder Soberano sobre a Igreja, como por exemplo, nomeando os bispos em seu reino.
Após abafar uma revolta (938/939), Otão I ficou com o ducado da Franconia, "criando, assim, a tradição da proximidade com o rei das regiões à volta do rio Meno e do Reno Médio - P. Moraw."
(página 41)

Otão I incluiu a Igreja Imperial ao seu sistema de governação. Essa ação de Otão I redundaria numa crise entre o Imperador e a Igreja Católica, no último terço do século XI.
Otão I assim teve que agir porque políticas de acordo e políticas apoiadas em relações familiares tinham fracassado, de forma que era preciso recorrer ao poder da igreja:

"baseando-se, mais uma vez, nas tradições carolíngias - recorresse cada vez mais ao apoio da Igreja (bispos e abades de nomeação régia). Bruno, irmão de Otão I, arcebispo de Colônia e, simultaneamente, duque de Lorena, constitui um exemplo acabado dessa evolução. O reino otoniano começou a dispor de instrumentos de poder sem concorrência, graças ao sistema da igreja imperial, embora o potencial de perigo tenha acabado por prevalecer, a longo prazo."
(página 40)

BATALHA DE LECHFELD (955):

Otão I derrotou os húngaros na batalha de Lechfeld, no ano de 955. 

"A vitória sobre os húngaros em Lechfeld em 955 não constitui, por si só, um marco histórico, mas representa um claro sinal da mudança radical da situação política da Europa. A diminuição da ameaça externa em todas as fronteiras favoreceu o crescimento demográfico e econômico, permitindo à cristandade ocidental passar da defensiva à ofensiva."
(página 42)

Obviamente que a vitória de Otão I sobre os húngaros aumentou o seu prestígio. Com esse prestígio em alta, Otão I buscou retomar a política carolíngia em relação à Itália. 

"Otão conseguiu renovar o Império Ocidental, em Roma, no mês de fevereiro de 962, graças a uma estreita cooperação com o Papa - consagrada no Pactum Ottonianum."
(página 42)

Essa ação de Otão I em Roma iria moldar a história alemã até bem recentemente, pois a "adoção da ideia carolíngia do grande império significava a reivindicação do domínio potencial sobre toda a cristandade." (página 42)

"Este objetivo já era criticado pelos vizinhos da Alemanha na Alta Idade Média (século XII), levando  a que na Alemanha , ao contrário da Inglaterra e da França, não tenha podido surgir um reino central, um <> fechado. Isso deu origem a que muitos alemães do século XIX partilhassem a convicção de terem chegado demasiado tarde e de serem prejudicados."
(página 42)

MORTE DE OTÃO I EM 973:

Criação da Arquidiocese de Magdeburgo em 967. Rumo ao leste.
Ano de 972, casamento de Otão II com Teofânia, filha do Imperador Bizantino, em Roma.

REINADO DE OTÃO II (973-983):

Otão II sofreu uma pesada derrota para os árabes, no sul da Itália. Em 983, uma revolta eslava causou grandes danos nas obras missionárias entre os rios Elba e Oder.

REINADO DE OTÃO III (983-1002) E "RENOVATIO IMPERII ROMANORUM"

Otão III só assumiu o poder quando atingiu a maioridade, em 994. Antes disso, o reino ficou sob o comando de sua mãe, Teofânia e à sua avó, Adelaide. Já no governo, Otão III, desenvolveu a sua governação e a sua ideia de Império com a ajuda de Gerberto Aurillac, Arcebispo de Reims,  queria a renovação do antigo Império Romano com a capital em Roma e que o Imperador fosse o titular do poder terreno e espiritual.

" A criação de organizações eclesiásticas com ligação direta a Roma - já não à igreja imperial alemã! - na Polônia (ano 1000) e na Hungria (ano 1001), a construção de um Palácio imperial em Roma, a introdução do cerimonial imperial romano-bizantino provam até que ponto Otão III levava a sério os seus planos. Acabou por fracassar, sobretudo devido à resistência da população da cidade de Roma (levantamento em 1001)"
(página 43)

HENRIQUE II (1002-1004). ÚLTIMO IMPERADOR DA DINASTIA SAXÔNICA:

Henrique II chegou ao poder não como um sucessor designado (por linhagem) e aceito por todos, mas por meio de uma eleição, da qual participaram eleitores seculares e dignatários eclesiásticos. Isso era inédito, dignatários eclesiásticos e eleitores seculares elegendo um governante alemão.

"Portanto, o direito sucessório não se conseguiu impor no império, apesar de as sucessões anteriores entre pais e filhos terem ocorrido sem qualquer problema."
(página 43)

RENOVATIO IMPERII ROMANORUM VERSUS RENOVATIO REGNI FRANCORUM:

Henrique II preferia a Renovatio Regni Francorum. Apesar disso, na governação de Henrique II houve intervenções na Itália e na fronteira oriental, contra o duque polaco Boleslau, o Valente, confirmando a aposta na ideia de um grande império e de um imperador.
Henrique II apoiou a Igreja Imperial, criando dioceses, como em Bamberg. Mas se ele ajudava a Igreja Imperial, simultaneamente exigia ser ajudado por ela.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS", VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70, página 37/43, Ulf Dirlmeier.




História da Alemanha. Alta Idade Média. Antecedentes. Império Carolíngio. Tratado de Verdun. Franconia Oriental


ALTA IDADE MÉDIA SÉCULOS X A XIII:

Características da Época:

⁕maior poder da Igreja com a participação de Bispos católicos na governação dos Estados
⁕invasões normandas e islâmicas. O poder o Sacro Império Romano Germânico enfraquecia-se à medida que não conseguia defender seus súditos, dando marge para o crescimento de Poderes Regionais.
⁕O território do império franco-germânico a emergir a norte dos Alpes, era, em termos gerais, menos densamente povoado e menos desenvolvido do que a metade ocidental do império carolíngio - a futura França. Porém, esta região também registrou uma retomada do crescimento, em meados do século X, que se intensificou no final do século, fazendo a passagem para a fase de expansão da Alta Idade Média, cujo termo se situa - não sem polêmica - em finais do século XIII ou na primeira metade do século XIV. 
 ⁕o crescimento demográfico deu um salto no território franco-germânico a emergir a norte dos Alpes, no século XII. Isso permitiu um avanço para povoamento do leste e um renascimento das cidades, com ainda um aumento da área cultivada, que todavia não impediu crises de abastecimento e surtos de fome. "A produção dos cereais acabaria por ficar aquém do crescimento demográfico, muito provavelmente por causa do problema da adubação, por resolver." (página 31)
"A evolução na Alta Idade Média permitiu uma melhoria da situação jurídica e material de parte da população agrícola. À perspectiva de uma maior liberdade pessoal associou-se a participação no arroteamento das terras e no movimento de povoamento do Leste ou a migração para a ciade, sendo que a dissolução generalizada dos sistemas senhoriais permitiu a transformação das obrigações de trabalho braçal ( até mais de três dias de trabalho forçado por semana) em pagamentos fixos em dinheiro, os quais, no entanto, perderiam o seu peso, devido à desvalorização contínua da moeda de prata."
(página 30)
⁕Mais pessoas vivendo em cidades reorientava a produção agrícola para o comércio. A procura por carnes levou ao incremento na criação de Gado, que ia de lugares como o Mar do Norte até aos Alpes. O comércio de vinho era conduzido pela Alsácia e pelo Rheingau. O setor têxtil era atendido pelo cultivo de linho, por exemplo, na Alta Suábia.
⁕Houve um incremento na fundação de cidades. "No final da Idade Media, o Império contava com cerca de 4.000 cidades, a maioria das quais fundadas antes de 1350. Colônia, com cerca de 35 mila 40 mil habitantes no início do século XIV, era a cidade mais importante, mas a grande maioria das cidades tinha menos de 2.000 habitantes."
(página 32)
⁕Cidades no norte da Itália e a norte dos Alpes: "A partir de finais do século XI, desenvolveu-se um direito urbano específico. As cidades episcopais e reais, conseguiram, de fato, uma independência significativa dos senhores das cidades, sob liderança da elite (patriciado, na maioria das vezes constituído pela nobreza urbana e por comerciantes). Os conflitos associados a este processo, por vezes bastante acesos, terminaram no século XIII. As desigualdades jurídicas entre livres e não livres (ministerialis, censuales, servos) dentro do burgo também foram eliminadas, enquanto se acentuavam, simultaneamente, as diferenciações sociais. A riqueza constituía a característica decisiva do estatuto social, determinando, simultaneamente, a participação diferenciada dos habitantes das cidades na decisões políticas. A orientação para o sucesso econômico facilitava, até certo ponto, a mobilidade social, mas a participação daqueles que ascenderam na governação da cidade não foi conseguida sem conflitos internos; as lutas constitucionais multiplicaram-se a partir do início do século XIV. Em muitos casos, levaram parte dos habitantes das cidades, organizados em corporações, a conseguir aceder ao conselho."
(página 32)
⁕Havia cidades cujos habitantes viviam basicamente da agricultura. Ao lado delas, havia cidades que eram centros econômicos que irradiavam efeitos regionalmente, como, por exemplo, Lubeck, Colônia, Nuremberg (Nuremberga), Augsburgo, que eram dominados pelo negócio e pelos ofícios especializados. Os setores têxtil e metalúrgico estavam em ascensão. 
⁕Revolução Comercial entre o século XI e XIII: caracterizado pelo aumento da procura por produtos manufaturados. Na esteira disso, organizações comerciais nasceram. 
"A sociedade, ainda relativamente aberta, da Alta Idade Média, oferecia outras possibilidades de ascensão para o mundo da nobreza fora das cidades que não o comércio e a aquisição de riqueza. A prestação de vassalagem a reis e príncipes sobretudo aos ministerialis  (anteriormente servos) ascender à baixa nobreza."
(página 33)
"A intolerância em relação a minorias com motivos mutas vezes apenas aparentemente religiosos e com uma virulência desconhecida até então, constitui um dos aspectos mais tristes da sociedade na Alta Idade Média. Esta intolerância atingiu não só os hereges, mas sobretudo também os judeus, cuja situação legal e material começou a degradar-se cada vez mais após os pogroms associados às cruzadas, em finais do século XI, numa alternância permanente entre perseguição e tolerância por motivos fiscais. Porém, os grandes mutuantes judeus, ao serviço dos senhores locais - por exemplo, do arcebispo de Tréveris - ou em cidades como Estrasburgo, Augsburgo e Nuremberg, conseguiram afirmar-se até à primeira metade do século XIV."
(página 34)

SUCESSOR DE CARLOS MAGNO E PROBLEMAS DO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO:

Luís Piedoso sucedeu Carlos Magno no trono do Império Sacro Romano Germânico. Era o direito de sucedê-lo no poder em razão do direito de sangue. Ao lado desse direito de herdar o poder por direito de sangue, havia a necessidade de manter a Unidade do Império. Essa unidade iria deixar de existir justamente por causa desse direito de sangue.
O Império Sacro Romano Germânico tinha outros problemas, além dessa dicotomia entre Direito de Sangue e a manutenção da Unidade do Império. Um deles dizia respeito aos vínculos feudais que não eram suficientes para colmatar a ausência de um Poder Central organizado. 

IGREJA CATÓLICA E OS FRANCOS:

Pepino, o Breve: (anos 741/768 d.C.): Era filho de Carlos Martel. Era o Rei dos Francos. Em 751 foi ungido pela Igreja Católica. 
Carlos Magno: Feito Imperado do Sacro Império Romano Germânico pelo Papa no ano 800. Carlos Magno agora seria o líder da Cristandade Ocidental. A conduta do Papa, de alçar Carlos Magno a protetor da Cristandade Ocidental,  provocou tensões com o Império Bizantino.

LUTA FRATICIDA PELA DIVISÃO DO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO ENTRE TRÊS IRMÃOS: LOTÁRIO I, LUÍS, O GERMÂNICO E CARLOS, O CALVO:

Ano de 843: Tratado de Verdum: Divisão do Sacro Império Romano Germânico. O Direito de Sangue, segundo o qual todos os herdeiros tinham o direito de participar no poder, acabou por vencer a Preservação da Unidade do Império. O Império Sacro Romano Germânico acabou dividido, atendendo-se assim ao Direito de Sangue e jogando-se no lixo a unidade do Império. Interesses particulares dos herdeiros, que queriam seu quinhão de poder, acabaram por prevalecer sobre a manutenção da unidade do Império.
Em 843, é estabelecido o TRATADO DE VERDUN, entre os filhos de Luís, o Piedoso. O Império de Carlos Magno seria dividido em três pedaços. Em 870, é estabelecido o Tratado de Meersen, sobre a divisão da Lotaríngia, entre Carlos, o Calvo, e Luís, o Germânico.

DISTINÇÃO ENTRE GERMÂNICO, FRANCO E ALEMÃO. IMPOSSIBILIDADE DE SE FIXAR UMA DATA PARA O INÍCIO DA HISTÓRIA ALEMÃ:

"É óbvio que o Império Carolíngio constituía algo fundamentalmente diferente do império dos alemães, mas também é claro que tanto a Alemanha como a França têm origem neste Império da Idade Média Arcaica. No entanto, ainda não se conseguiu - e tal como as coisas estão, nunca se conseguira - definir uma data fixa para assinalar o início da história alemã. As tentativas vão desde a datação precoce, proposta pela investigação mais antiga (Tratado de Verdun, em 843), até à datação atual, que situa a criação do Império Alemão numa fase mais tardia, nomeadamente no século XI, senão mesmo no século XII (C. Bruhl). Só existe um consenso generalizado no que diz respeito à impossibilidade de existência, sequer, de uma data pontual de início, uma vez que a transição da parte carolíngia para o império medieval dos alemães constituiu um processo prolongado."
(página 36)

TRATADO DE VERDUN - 843. NESSA ÉPOCA, NÃO HAVIA MOTIVOS DE ORDEM NACIONAL. TRATAVA-SE APENAS UMA NECESSIDADE DE REPARTIR O IMPÉRIO CAROLÍNGIO EM TRÊS PEDAÇOS, COM CADA UM DELES SENDO ATRIBUÍDO A UM DOS FILHOS DE LUÍS, O PIEDOSO.

Colocou fim ao Império Carolíngio dos Francos.
Desse fim nasceram reinos autônomos. Percorrendo num eixo norte-sul, havia três reinos:
✅um ocidental, predominantemente romano, que viria a constituir a França atual (Franconia Ocidental - cidades: Paris).
✅um reino oriental, predominantemente germânico (Franconia Oriental - cidades: Regensburgo, Speyer, Mainz, Worms). Esse reino era o embrião da Alemanha atual.
✅um reino central, de caráter misto (Lotaríngia - cidades: Aachen/Aix La Chapelle; Verdun, Roma) Lotaríngia percorria, como os outros reinos, num eixo norte-sul, do Mar do Norte até a Itália, pegando partes das atuais Alemanha, França e Holanda/Países Baixos). Deveria ser a parte mais importante, pois nela encontrava-se Aachen, a capital do Império de Carlos Magno.

"É, contudo, necessário sublinhar que não existiam quaisquer motivos 'nacionais' decisivos neste processo: pretendia-se tão-só que os três irmãos com direito de sucessão - Carlos, Lotário e Luís (com o cognome não histórico, de 'o Germânico') - recebessem partes iguais e, o mais velho, Lotário, ficasse com as duas residências imperiais de Aachen e Roma."
(página 36)

O Reino Central, atribuído ao filho mais velho, Lotário (Lotaríngia), revelou-se o mais instável dos três. Veja abaixo como a Lotaríngia começou a ser despedaçada.

"Os outros tratados de divisão, Meersen, em 870, e Ribemont, em 880, permitiram que a parte setentrional do reino - a Alsácia e a Lorena - se juntasse à Franconia Oriental. A parte meridional deu origem ao primeiro dos regna independentes após o fim do domínio carolíngio sobre todo o império (Carlos III morreu em 888): a Alta Borgonha e a Itália."
(página 37)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDA DO LIVRO "HISTÓRIA ALEMÃ, DO SÉCULO VI AOS NOSSOS DIAS", VÁRIOS AUTORES, EDITORA EDIÇÕES 70, páginas 29/37, Alta Idade Média, Enquadramento Geral, século X a XIII, Ulf Dirlmeier)

sábado, 28 de março de 2020

Fim do Reinado de Henrique VIII Funeral Ascensão de Eduardo Corte Movediça Chance para a Igreja Católica retomar a Inglaterra



MORTE DE HENRIQUE VIII AOS 55 ANOS DE IDADE:

Henrique VIII (dinastia Tudor), filho de Henrique VII e de Isabel de York, morreu em 28 de janeiro de 1547.

"Henrique VIII - 'pela graça de Deus, Rei de Inglaterra de da França e Lorde da Irlanda, Defensor da Fé e da Igreja de Inglaterra...Supremo Chefe na terra' - deixou finalmente a sua vida longa e turbulenta, sozinho e sem amigos, por volta das duas horas da manhã de sexta-feira, 28 de janeiro de 1547."
(página 13)

Ao lado da cama de Henrique VIII, encontrava-se o Arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer. Havia ainda no quarto outros membros do Conselho Privado de Henrique: Thomas Wriothesley (Lorde Chanceler), Sir William Paget (secretário-mor do rei), Sir William Paulet (tesoureiro-mor da Casa Real). Estavam ali também Sir William Herbert e Sir Anthony Denny (fidalgos-mor da Câmara Privada).

"Estes dignatários pomposos tinham todos sobrevivido a uma existência precária na corte de Henrique, sempre sob a ameaça de seu temperamento errático e do seu ego hipertrofiado. O receio de cair subitamente em desgraça junto ao rei impregnava cada canto dos muitos magníficos palácios e casas reais como uma doença contagiosa invisível. Num dado momento, podiam talvez estar a subir nas graças do rei; no instante seguinte, ser presos pelo capitão da guarda, acompanhados por uma coluna de alabardeiros, falsamente acusados de traição ou heresia. A vida ou a morte, a pobreza ou a riqueza, podiam estar suspensas pelos caprichos irascíveis de um rei simultaneamente agastado pela dor e frustrado com a imobilidade e limitações impostas pela velhice e pelas diversas maleitas, ou pelos resultados das conspirações tortuosas, congeminadas pelas facções político-religiosas da sua corte, no meio das suas próprias lutas por poder e influência"
(página 14)

A Corte era um lugar movediço. Por mais que eventualmente você fizesse um grande serviço ao rei, isso não iria lhe conferir segurança total. Você poderia encontrar ingratidão e pessoas que lhe desejavam o pior, sem que você tenha desejado o mesmo para elas.
Ao saber da morte de Henrique VIII, assim o Papa (Bispo de Roma, líder da Igreja Católica) teria se pronunciado:

"O Papa tem notícias de França que confirmam a morte do rei de Inglaterra e dá-lhes grande importância, considerando que não se pode deixar escapar esta oportunidade de voltar a dominar o país" (Juan de Vega, embaixador espanhol em Roma, numa carta diplomática confidencial para o Imperador Carlos V, em 19/02/1547)
(página 13)

Nos seus últimos meses de vida, Henrique VIII foi poucas vezes visto em público. Estava obeso e inchado.
Henrique VIII governou de forma Absoluta por 37 anos, nove meses e cinco dias.

28/29/01/1547: HERDEIRO EDUARDO, de 9 anos, FILHO DE HENRIQUE VIII COM JANE SEYMOUR:

O tio de Eduardo, Edward Seymour, era o Conde de Hertford. Ao saber da morte de Henrique, ele foi se encontrar com Eduardo, para lhe dar a notícia da Morte de seu pai Henrique VIII.
Por segurança, as estradas para Londres passaram a ser vigiadas por soldados e os portos ingleses foram fechados, para isolar a Inglaterra do resto da Europa.

A MORTE DE HENRIQUE VIII FOI MANTIDA EM SEGREDO POR TRÊS DIAS:

A Corte nada dizia. Era preciso manter a aparência de normalidade. Depois disso, Eduardo foi finalmente proclamado rei, entre uma saraivada de tiros de canhão disparados de navios ancorados no Rio Tâmisa. Só nesse dia a morte de Henrique foi divulgada. Proclama-se um novo rei e divulga-se a morte do rei anterior. O testamento de Henrique foi lido no Parlamento, que depois foi dissolvido.

FUNERAL DE HENRIQUE VIII:

"A primeira prioridade foi estabilizar o corpo de Henrique, entretanto apodrecido pelo sangue e pus das pernas ulceradas, o que foi feito purificando, lavando, desentranhando, cauterizando, embalsamando, adornando e tratando com espécies. Paulet pediu ao fidalgo boticário da Casa Real, Thomas Alsop, que fornecesse unguentos - entre os quais, cravinho, óleo de bálsamo, estopa, mirra e nigela e almíscar de cheiro adocicado -, em pó e divididos em sete lotes para os cirurgiões usarem no embalsamento, ou guardados em dez sacos para por no caixão."
(página 17)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDA DO LIVRO "OS ÚLTIMOS DIAS DE HENRIQUE VIII, CONSPIRAÇÕES, TRAIÇÕES E HERESIAS NA CORTE DO REI TIRANO", ROBERT HUTCHINSON, EDITORA CASA DAS LETRAS, Prólogo, páginas 13/18

quinta-feira, 26 de março de 2020

Questões Orientais Tsargrad Millet Fraqueza Otomana Independência Grega Imperialismo Comercial Expansão Russa para a Índia.


RUSSOS ESCOLHEM O CRISTIANISMO ORTODOXO DE CONSTANTINOPLA:

No século IX, emissários do Príncipe Vladimir da Rus foram ver qual era a verdadeira fé. Quando entraram na Igreja de Hagia Sophia, não sabiam se estavam no céu ou na terra, pois na terra não há tal esplendor; disseram ainda que a sua cerimônia era mais bela. Deus vivia ali. A religião escolhida pelo Príncipe Vladimir foi justamente aquela que era celebrada na Igreja Hagia Sophia, a cristã ortodoxa.

SONHO DOS RELIGIOSOS RUSSOS: VER CONSTANTINOPLA CAPITAL DA RÚSSIA:

Religiosos russos sonhavam com a conquista de Constantinopla, que iria se tornar a capital da Rússia - TSARGRAD. Seria a capital de um império ortodoxo que iria se estender da Sibéria à Terra Santa.

CERNE DA GUERRA DA CRIMEIA:

Proteger os cristãos ortodoxos e fazer de Constantinopla capital russa e caminho para Jerusalém.

IMPÉRIO OTOMANO:

No início do século XIX, havia 35 milhões de habitantes: 60% de muçulmanos e 10 milhões de turcos. Nos territórios europeus do Império Otomano havia uma maioria de cristãos ortodoxos.O Império Otomano era multinacional, com presença nos Balcãs (Europa), África, Aden e Golfo Pérsico. As origens do Império Otomano estão na Dinastia de Osman, no século XIV e ele extraía a sua legitimidade na expansão do islã.

TRATAMENTO DADO AOS CRISTÃOS ORTODOXOS PELO IMPÉRIO OTOMANO:

"Cobravam impostos extras dos não muçulmanos, os desprezavam como animais inferiores (rayah) e os tratavam desigualmente de muitas formas humilhantes (em Damasco, por exemplo, os cristãos eram proibidos de montar em animais de qualquer tipo). Mas permitiam que mantivessem sua religião, em geral não os perseguiam nem tentavam convertê-los, e por intermédio do sistema de segregação religiosa conhecido como MILLET, que dava poder aos líderes da Igreja em suas 'nações' ou millets distintas baseadas na fé, até mesmo permitiam aos não muçulmanos algum grau de autonomia."
(página 52)

"O sistema de millet havia sido desenvolvido como um meio de a dinastia Osman usar as elites religiosas como intermediárias nos territórios recém-conquistados. Desde que se submetessem à autoridade otomana, líderes eclesiásticos podiam exercer um controle limitado de educação, ordem pública e justiça, recolhimento de impostos, caridade e questões da Igreja, condicionados à aprovação dos funcionários muçulmanos do sultão (mesmo para questões, como, por exemplo, o conserto de um teto de igreja). Nesse sentido, o sistema de millet servia não apenas para reforçar a hierarquia étnica e religiosa de império otomano - com muçulmanos no alto e todas as outras millets (ortodoxos, gregorianos, armênios, católicos e judeus) abaixo - que estimulava o preconceito muçulmano contra cristãos e judeus; também estimulava essas minorias a expressar suas queixas e a organizar sua luta contra o governo muçulmano por intermédio de suas Igrejas nacionais, o que era uma grande fonte de instabilidade no império."
(páginas 52/53)

A maior Millet era a dos cristãos ortodoxos, com 10 milhões de membros. O Patriarca de Constantinopla era a maior autoridade desse Millet, falando pelos outros patriarcas localizados em Antioquia, Jerusalém e Alexandria.

"Em um grande leque de questões seculares ele (Patriarca de Constantinopla) era o verdadeiro governante dos 'gregos' (significando todos aqueles que seguiam o rito ortodoxo, incluindo eslavos, albaneses, moldavos e valáquios), e representava seus interesses contra muçulmanos e católicos."
(página 53)

O Patriarcado de Constantinopla era controlado por famílias de mercadores gregos. Eram os fanariotas. Os fanariotas se viam como herdeiros do Império Bizantino e sonhavam recriá-lo com ajuda russa , todavia eram hostis à influência da Igreja Russa.
Esse domínio grego nas questões ortodoxas era inaceitável para muitos eslavos que procuravam cada vez mais suas igrejas nacionais. O nacionalismo era uma força poderosa entre os cristãos dos balcãs (sérvios, montenegrinos, búlgaros, moldavos, valáquios, gregos), que se uniram com base na religião, cultura e língua comuns contra o domínio Otomano.
A primeira conquista nesse sentido surgiu com a Sérvia, que conseguiu fazer com que os Otomanos aceitaram um Principado da Sérvia, sob o comando da dinastia Obrenovic (1804-1817)

FRAQUEZA DO IMPÉRIO OTOMANO:

"A Turquia não se sustenta, está se desfazendo.", disse um príncipe Sérvio ao cônsul britânico
(página 54)

O domínio do clero muçulmano (mufti, ulema) era um obstáculo à modernização do país.

" 'Não mexa nas coisas estabelecidas, não pegue nada emprestado dos infiéis, pois a lei proíbe', era o lema da Instituição Muçulmana, que garantia que as leis do Sultão se adequassem ao Corão."
(página 54)

A tecnologia do Ocidente não entrava no Império. O comércio era feito por cristãos e judeus.

"A estagnação da economia andava de mãos juntas com a proliferação de uma burocracia corrupta."
(página 54)

O Estado Otomano vendia cargos que davam ao seu comprador o direito de cobrar impostos. Paxás e Governantes Militares governavam regiões que lhe eram atribuídas como se fossem seus feudos pessoais, arrecadando para si a maior quantidade possível de impostos.

"Desde que repassassem uma parcela do faturamento à Porta (ao Sultão) e remunerassem seus próprios financiadores, ninguém questionava ou se importava muito com a violência arbitrária que empregavam."
(página 54)

A maior parte dos impostos recaíam sobre os cristãos, que não tinham para quem recorrer.
O poder militar do Império Otomano também estava enfraquecido. Ele era tecnicamente inferior aos exércitos da Europa Ocidental.

1821, LEVANTE GREGO:

O levante grego começou de verdade na Rússia. Havia um lobby a favor da independência grega na capital russa. O levante foi liderado por Alexander Ypsilantis, oficial da cavalaria russa e era filho de um fanariota da Moldávia. Ele esperava que, conseguindo criar um levante na Moldávia e na Valáquia, iria obter o apoio automático da Rússia. Mas ele estava errado. O levante aconteceu mas não contou com o apoio russo, que estava preso pelos termos acordados na Santa Aliança, que impedia movimentos revolucionários na Europa. Ypsilantis refugia-se na Áustria. Otomanos agem com extrema severidade. Patriarca de Constantinopla é enforcado. Há represálias às populações cristãs da Moldávia e da Valáquia.
De qualquer forma, o plano de Ypsilantes funcionou, pois os gregos se levantaram no Peloponeso.
Os russos, como protetores dos cristãos ortodoxos, em razão do acordo de paz de Kuchok Kainarji, pediram moderação aos Otomanos, que não ouviram, e seguiram na repressão à rebelião. O tratado de Kuchok Kainarji estabelecia que os russos tinham o direito de intervir em assuntos relacionados aos cristãos ortodoxos que residiam no Império Otomano.

MASSACRE NA ILHA DE QUIOS - 1822. INTERVENÇÃO MILITAR RUSSA POR MOTIVO RELIGIOSO, PARA DRIBLAR AS REGRAS DA SANTA ALIANÇA:

Cristãos são massacrados pelos Otomanos. Vinte mil ilhéus enforcados e quase setenta mil deportados como escravos. O massacre vira tema até de um quadro, 'O Massacre de Quios', pintado pelo francês Eugène Delacroix. Essa sequência de violências dos Otomanos contra os cristãos ortodoxos forçava a Rússia a intervir, pois era uma questão religiosa que deveria estar acima de questões sobre a soberania otomana. 

"No Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Kapodistrias e Sturdza defenderam a intervenção militar por justificativa religiosa. Em um ensaio dos argumentos que seriam usados em 1853 para a invasão dos principados (Moldávia e Valáquia) pela Rússia, eles justificaram que a defesa dos cristãos contra a violência muçulmana deveria superar qualquer consideração sobre a soberania do Império otomano. Apoiar revoltas, digamos, em Espanha ou Áustria, sustentaram, seria trair os princípios da Sacra Aliança, pois esses dois países eram governados por legítimos soberanos cristãos, mas nenhum poder muçulmano podia ser reconhecido como legal ou legítimo, de modo que os mesmos princípios não se aplicavam ao levante grego contra os otomanos."
(página 59)

Essa ideia, defender os cristãos contra os muçulmanos, seria também usada em 1853, véspera a Guerra da Crimeia. Mas Alexandre, o Czar da Rússia, estava vinculado demais à Santa Aliança para agir unilateralmente contra o Império Otomano. Assim, nenhuma potência apoiava os gregos. A Áustria temia que o exemplo grego se espalhasse; britânicos temiam que a Rússia, sob o pretexto de ajudar os cristãos ortodoxos, expandisse ainda mais seu poder. Os russos não queriam antagonizar os Austríacos e o czar Alexandre estava preso ao Pacto da Santa Aliança. Se essa revolução estivesse acontecendo num país cristão, com uma tentativa de derrubada de um regime monárquico, daí a intervenção seria aceitável segundo as previsões do pacto da Santa Aliança.

"Alexandre (Czar da Rússia) estava comprometido demais com o Concerto da Europa para considerar seriamente a ideia de uma intervenção russa unilateral para libertar os gregos. Ele defendia com firmeza o Sistema de Congresso criado em Viena, pelo qual as grandes potências haviam concordado em solucionar grandes crises por intermédio de negociação internacional, e tinha noção de que provavelmente haveria oposição a qualquer ação na crise grega."
(páginas 59/60)

NENHUMA POTÊNCIA SOCORRIA A GRÉCIA. MAIS DOIS ACONTECIMENTOS MUDARIAM TUDO:

Em primeiro lugar, em 1825, Sultão Otomano pede que seu vassalo no Egito, Mehmet Ali, esmagasse de vez os gregos. Mehmet Ali o fez com com atrocidade, criando ainda mais uma onda favorável aos gregos.
Em segundo lugar, Alexandre, czar da Rússia, morreu nesse mesmo ano. 

"O novo Tsar (Czar) - o homem que mais que qualquer outro foi responsável pela Guerra da Crimeia - tinha 29 anos de idade quando sucedeu seu irmão no trono russo."
(página 60)

"Nicolau I era em todos sentidos um homem militar. Desde jovem ele desenvolvera um interesse obsessivo por assuntos militares"
(página 60)

"Mais que Alexandre, Nicolau colocou a defesa da Ortodoxia no centro da política externa. Durante todo seu reinado, ele foi governado por uma convicção absoluta em sua missão divina de salvar a Europa ortodoxa das heresias ocidentais do liberalismo, do racionalismo e da revolução. Em seus últimos anos esse impulso o levou a sonhos fantásticos de uma guerra religiosa contra os turcos para libertar os cristãos balcânicos e uni-los à Rússia em um Império Ortodoxo cujos centros espirituais seriam Constantinopla e Jerusalém."
(página 61)

MEHMET ALI E O EGITO:

▶1825: Sultão Otomano convoca seu poderoso vassalo egípcio, Mehmet Ali, para esmagar de vez a revolta grega.
▶1827: Batalha de Navarino: A Força Naval conjunta de França, Grã-Bretanha e Rússia esmaga a força naval conjunta de Otomanos e Egípcios.
▶1833: Mehmet Ali volta à carga. Agora ele desafiou o poder do Sultão Otomano. Mehmet Ali queria o título hereditário no Egito e na Síria. Soldados egípcios marcham para Palestina, Sírio e Líbano. Essa expansão egípcia era resultado do renascimento religioso e da necessidade de conseguir mais terras para cultivar e exportar produtos agrícolas.
▶Otomanos pedem ajuda: Com a proximidade das forças Mehmet Ali, os Otomanos pediram ajuda aos ingleses e aos franceses. Sem sucesso. Então os Otomanos pediram ajuda aos russos, que prontamente vieram em seu socorro.
▶Franceses e Ingleses preocupados com a ajuda russa: Ao saberem da intervenção russa, ingleses e franceses mandam navios para a Turquia.
▶1833: Acordo de Paz: Egípcios abandonam a Anatólia, mas ganham a ilha de Creta  e o Hijaz. Mehmet não se torna líder hereditário do Egito, mas seu filho torna-se líder hereditário da Síria. Os russos recuaram também, mas antes conseguiram tirar outras vantagens do sultão otomano: os russos protegeriam os otomanos, e em troca os estreitos seriam fechados para os navios de guerra de outros países. Os estreitos eram a chave da Casa da Rússia.
▶1839: Franceses instigaram os egípcios a empreendem um novo ataque ao Império Otomano. Mais uma vez os egípcios estavam a caminho de Constantinopla (Istambul). O sultão otomano Abdulmecid era fraco e não resistiria a essa investida egípcia. Russos e Ingleses vieram a seu auxílio.
▶1840 - Convenção de Londres: Mehmet Ali ganha a sua dinastia hereditária no Egito.
▶França (I): Franceses instigaram Mehmet mas não o ajudaram na guerra, que teve que sair da Síria, acatando a Convenção de Londres. Mehmet teve que aceitar a soberania do Sultão no resto do Império.
▶França (II): A França tinha interesses no Egito. Tinha investido ali. O Egito era um exportador de algodão. A França tinha ajudado a treinar os exércitos de Mehmet Ali. A Grã-Bretanha não via com bons olhos essa aproximação entre o Egito e a França.


IMPÉRIO OTOMANO TERÁ QUE SER DETIDO EM SUA AÇÃO NA GRÉCIA:

Rússia, França e Grã-Bretanha criam uma mediação para resolver a guerra na Grécia. Haveria uma Grécia autônoma sob a soberania otomana. Uma solução que poderia agradar a todos. Mas os Otomanos não queriam conversa. O resultado foi o envio de uma força naval britânica, que na Batalha de Navarino, em outubro de 1827, destruiu as frotas turca e egípcia. 

"Enfurecido com esse ato, o sultão recusou qualquer mediação, declarou um jihad e rejeitou o ultimato russo de retirar suas tropas dos principados do Danúbio."
(página 62)

Com a falta de diálogo por parte dos Otomanos, Nicolau I, Tsar da Rússia, resolve agir sozinho em abril de 1828, enviando um exército composto por 65 mil homens, que cruzaram o Danúbio em direção ao coração do Império Otomano nos Balcãs. Os russos, no início, avançaram rápido, mas depois ficaram atolados em Varna, no delta do Danúbio, uma região pestilenta, causando a morte de vários soldados russos, com metade dos soldados russos morrendo entre 1828/29. 

"Essas enormes baixas não eram incomuns no exército do Tsar, onde havia pouca preocupação com o bem-estar dos soldados servos."
(página 63)

Na primavera de 1829 os russos retomaram a iniciativa, avançando na direção de Istambul (Constantinopla/Bizâncio). Capturaram pelo caminho as cidades de Edirne (Adrianópolis). O colapso do Império Otomano estava próximo. Mas Nicolau teve que parar a ofensiva. Uma Turquia doente era melhor do que uma Turquia morta. A Rússia poderia promover seus interesses ali, havendo uma Turquia doente. Seguir agora com a guerra poderia trazer contra si uma aliança europeia e o desmantelamento turco ainda poderia trazer outros países, com cada um deles querendo para si um pedaço do Império Otomano. Então era melhor manter o Império Otomano doente do que matá-lo de vez. Assim, as hostilidades foram encerradas com o Tratado de Adrianópolis.

TRATADO DE ADRIANÓPOLIS - SETEMBRO DE 1829. POSIÇÃO DE FORÇA DA RÚSSIA EM RELAÇÃO AO IMPÉRIO OTOMANO. A GRÃ-BRETANHA TERIA QUE AGIR PARA IMPEDIR QUE O IMPÉRIO OTOMANO FOSSE ENGOLIDO DE VEZ PELOS RUSSOS:

Ficou acordado que:
Os principados danubianos, Valáquia e Moldávia, teriam autonomia e ficariam sob a proteção russa. A Rússia obteve ganhos no Cáucaso, com Erivan e no resto da Geórgia. Turcos reconheciam a autonomia grega e abriam os estreitos a todos os navios mercantes. Perto do que a Rússia poderia ter ganho se levasse a guerra até o fim, aquilo que ela recebeu era pouco. Os ocidentais desconfiavam que havia uma cláusula secreta entre a Rússia e o Império Otomano, que abria para aquela a navegação de navios militares pelos estreitos. 

"Wellington (que derrotou Napoleão em Waterloo), à época primeiro-ministro, achava que o tratado transformara o Império Otomano em um protetorado russo - um resultado pior que sua divisão (que pelo menos teria sido feita pro um acordo de potências."
(página 64/65)

"Lorde Heytesbury, o embaixador britânico em São Petersburgo, declarou (sem qualquer ironia intencional) que o sultão logo se tornaria tão submisso às ordens do Tsar quanto qualquer dos príncipes da Índia à da Companhia das Índias Orientais. Os britânicos podiam ter suplantado inteiramento o império mongol na Índia, mas estavam determinados a impedir os russos de fazer o mesmo com os otomanos, se apresentando como os defensores honestos do status quo no Oriente Próximo."
(página 65)

"Temendo a percebida ameaça russa, os britânicos começaram a definir uma política para a Questão Oriental. De modo a impedir a Rússia de ter a iniciativa na Grécia, eles deram seu apoio à independência do novo Estado Grego, em oposição à mera autonomia sob soberania turca (que eles temiam a tornaria dependente da Rússia)"
(página 65)

ESTADO GREGO INDEPENDENTE - 1832:

Na Convenção de Londres de 1832 ficou acertado que a Grécia seria um Estado independente. A Grã-Bretanha ainda escolheu um rei para a Grécia: Otão da Baviera.

POLÍTICA DO VIZINHO FRACO:

O vizinho fraco era o Império Otomano. Quem guiava essa política era o vizinho forte, a Rússia. Essa política evitava um conflito com o resto da Europa. E usava a moeda da religião para ameaçar os Otomanos, aumentando assim a influência dos russos nos territórios cristãos do Sultão.

O ÔNUS DE MANTER O SEU VIZINHO FRACO:

A Rússia teria um ônus por manter o Império Otomano fraco. O desafio veio em 1833, quando Mehmet Ali, líder do Egito, desafia o Império Otomano. Todos queriam se aproveitar da fraqueza do Império Otomano, até os muçulmanos do Egito. Mehmet Ali queria os títulos hereditários do Egito e da Síria. O exército egípcio tinha sido treinado pelos franceses. Seu exército era chamado de Jihadistas. Os egípcios queriam mais terra e uma alternativa muçulmana que fizesse frente ao decadente Império Otomano. A economia egípcia passava por um bom momento, exportando algodão cru para as tecelagens da Grã-Bretanha. O exército de Mehmet ali avançou rapidamente, alcançando Palestina, Síria e Líbano. Istambul estava prestes a cair nas mãos dos Egípcios, uma nova força vinda da África que poderia reenergizar o mundo muçulmano, fortalecendo-o sob um novo comando. A Rússia, obviamente, não iria querer um vizinho reenergizado, aliado da França, na sua fronteira sul. 
A Rússia é obrigada a agir para deter o avanço dos egípcios. Ao mesmo tempo, França e Grã-Bretanha, preocupados com a Rússia, mandam uma frota naval para Dardanelos. No fim, um acorod foi assinado, colocando fim ao conflito.
Por fim, os Egípcios saem com poucos ganhos (Creta, Hijaz - oeste da península arábica, etc). Os russos ganharam algo especial: se os russos pedissem, os otomanos teriam que fechar os estreitos para os ingleses. Esse pedido fazia parte de uma cláusula secreta. 
Posteriormente, ingleses e franceses ficaram sabendo dessa cláusula. Descobertos, os russos deram a desculpa dizendo que essa cláusula era para manter a sua segurança contra um ataque inglês ou francês.
A descoberta dessa cláusula reforçou a desconfiança de França e Grã-Bretanha em relação à Rússia. Crescia um sentimento, principalmente na Grã-Bretanha, de Russofobia. 

MAR NEGRO, UM LAGO RUSSO PROTEGIDO PELA TURQUIA:

Na França, quando a cláusula secreta foi revelado, diziam que o Mar Negro tinha se transformado num lado russo protegido pelo Império Otomano.

ERA PRECISO FORTALECER OS OTOMANOS. O VIZINHO FRACO DOS RUSSOS TINHA QUE FICAR FORTE, PARA PODER CONTÊ-LOS:

Depois de 1833, os britânicos passaram a ter um interesse ativo no Império Otomano. Era preciso fortalecê-lo para contrapô-lo aos russos. 

MUDANÇA POLÍTICA NA GRÃ-BRETANHA:

Antes, a política externa da Grã-Bretanha agia para manter o status quo no Império Otomano, para evitar que, na esteira da sua desintegração/dissolução, houvesse uma guerra na Europa, rompendo o equilíbrio europeu, do qual a Grã-Bretanha era a fiadora. Depois de 1833, a Grã-Bretanha foi além, tentando ressuscitar o Império Otomano, por temer que ele caísse de vez como um protetorado russo, ou que viesse a cair nas mãos de Mehmet Ali do Egito. 

O COMÉRCIO OPUNHA GRÃ-BRETANHA E RÚSSIA. IMPERIALISMO COMERCIAL. BUSCA DA HEGEMONIA COMERCIAL:

O Império Otomano era fonte de matéria-prima para a Grã-Bretanha e era também um mercado consumidor para os produtos britânicos. A Grã-Bretanha era praticante do Imperialismo Comercial, segundo o qual era preciso abrir o comércio global, criando livres mercados, nem que fosse necessário o uso da força militar. Para a Grã-Bretanha, que tinha liderado a Revolução Industrial, o livre mercado era uma vantagem, pois seus produtos eram os mais competitivos. Na esteira dessa política de hegemonia comercial, a Grã-Bretanha conseguiu arrancar um acordo comercial aos Otomanos. Para conseguir esse acordo, a Grã-Bretanha misturava ameaças militares com promessas de ajuda. Esse acordo praticamente inviabilizada a construção de uma indústria no Império Otomano. Enquanto a Grã-Bretanha exportava produtos manufaturados para a Turquia, esta exportava milho para aquela. 
Com o passar do tempo, começaram a surgir rivalidades entre comerciantes ingleses e comerciantes russos. Comerciantes britânicos sempre traziam manufaturas e traziam cereais por meio do Rio Danúbio. Ao mesmo tempo, mercadores russos exportavam o cereal produzido na Ucrânia por portos do Mar Negro. 

"A partir desse momento, a exportação de bens manufaturados britânicos para a Turquia aumentou enormemente. Em 1850, o aumento já era de onze vezes, fazendo dela um dos mais valiosos mercados de exportação da Grã-Bretanha (superado apenas pelas cidades da Liga Hanseática e pela Holanda). Após a revogação das Leis Protecionistas do Milho, em 1848, as importações britânicas de cereais da Turquia, principalmente de Moldávia e Valáquia , também aumentaram. O advento dos vapores oceânicos, de barcos fluviais a vapor e de ferrovias pela primeira vez transformou o Danúbio, em uma movimentada via comercial. O comércio no rio era dominado por navios mercantes britânicos exportando grãos para a Europa Ocidental e importando manufaturados da Grã-Bretanha. Os britânicos concorriam diretamente com os comerciantes de Odessa, Taganrog e outros portos do Mar Negro, de onde os grãos das regiões produtoras da Rússia em Ucrânia e sul da Rússia eram exportados para o Ocidente. O mercado de exportação de cereais se tornou cada vez mais importante para a Rússia na medida que o valor do comércio de madeira diminuiu na era do vapor. No final do século XIX, os portos do Mar Negro processavam um terço de todas as exportações russas. Os russos tentaram dar a seus mercadores uma vantagem em relação aos concorrentes britânicos pelo controle do delta do Rio Danúbio após 1829, sujeitando barcos estrangeiros a demorados controles de quarentena e até mesmo permitindo o assoreamento do Danúbio para que ele deixasse de ser navegável."
(página 71)

PORTO OTOMANO DE TREBIZONDA:

"No lado leste do Mar Negro, os interesses comerciais da Grã-Bretanha eram cada vez mais ligados ao porto de Trebizonda, no nordeste da Turquia, de onde mercadores gregos e armênios importavam grandes quantidades de bens manufaturados britânicos para venda no interior da Ásia."
(página 71)

Os Russos, desde 1840, tinham uma presença forte no mercado da Ásia, com suas cordas, têxteis, etc, sendo vendidos em lojas em Bagdá, Basra, etc. E os russos poderiam ir além, para a Índia, pois com os navios a vapor e com a ferrovias, poder-se-ia chegar à Índia de várias formas:

-Pelo Mediterrâneo > Cairo > Suez > Mar Vermelho
-Pelo Mar Negro > Trebizonda > Rio Eufrates > Golfo Pérsico

Os britânicos preferiam a rota pelo Rio Eufrates, que passava pelos domínios do Império Otomano. Para os britânicos, era importante fincar a bandeira nessa região, pois eles temiam que a presença da Rússia nessa área (Iraque, depois Irã e Afeganistão) fosse uma espécie de trampolim para alcançar a Índia britânica. 

META SUBJACENTE À GUERRA DA CRIMEIA: DETER O AVANÇO RUSSO À ÍNDIA:

"O perigo que a Rússia representava para a Índia era a bête noire dos russófobos britânicos. Para alguns, isso se tornaria a meta subjacente à Guerra da Crimeia: deter uma potência que pretendia não apenas a conquista da Turquia, mas o domínio de toda Ásia Menor até Afeganistão e Índia. Em sua imaginação alarmada, não havia limites aos desígnios da Rússia, o império de maior crescimento do mundo."
(página 72) 

"Na verdade nunca houve qualquer perigo real de os russos alcançarem a Índia nos anos anteriores à Guerra da Crimeia. Ela era longe demais, e seria difícil marchar com um exército até lá - embora o Imperador Russo Paulo I tivesse certa vez acalentado um projeto impetuoso de enviar uma força combinada francesa e russa para lá. A ideia havia sido retomada por Napoleão em suas conversas com o Tsar Alexandre, em 1807. 'Quanto mais irreal é a expedição, mais ela pode ser usada para aterrorizar os ingleses', explicou Napoleão. O governo britânico sempre soube que tal expedição não era factível. (...) Mas embora poucos nos círculos oficiais britânicos pensassem que a Rússia era uma verdadeira ameaça à Índia, isso não impediu a imprensa britânica russofóbica de provocar esse medo, enfatizando o perigo potencial representado pela conquista do Cáucaso pela Rússia e suas atividades enganosas na Pérsia e no Afeganistão."
(páginas 72/73)

Os russos, de fato, tentavam ter influência em lugares como a Pérsia. Agentes russos criavam canais de comunicação com o Xá da Pérsia. 

"Em 1837, quando os persas tomaram a cidade afegã de Herat, muitos políticos britânicos não tiveram dúvida de que isso era parte da preparação da Rússia para uma invasão na Índia. Um ex-embaixador britânico em Teerã escreveu: Herat nas mãos da Pérsia nunca poderá ser considerada de outra forma que não um point d'appui (ponto de apoio) avançado para os russos rumo à Índia. A imprensa britânica russofóbica criticou a inatividade dos governos britânicos que não haviam percebido as atividades solertes e nefandas dos russos na Pérsia."
(página 73)

DIANTE DA AMEAÇA (REAL OU IMAGINÁRIA) DE UMA INVASÃO RUSSA À ÍNDIA, A GRÃ-BRETANHA COMEÇOU A AGIR:

A Grã-Bretanha tinha que agir, criando zonas de amortecimento. Em 1838, os ingleses ocuparam o Afeganistão. Criaram ali um governo marionete sob o Emir Shah Shuja. Os britânicos ficaram ali para apoiar seus marionete, mas em 1842 foram expulsos após várias rebeliões tribais. Os britânicos também exerceram pressão sobre a Pérsia, que saiu de Herat e assinou um acordo comercial com a Grã-Bretanha em 1841.
Mas foi na Turquia onde os ingleses tentaram criar seu principal amortecedor para conter o avanço russo. A ideia era curar o homem doente (Império Otomano) para acabar com os problemas no oriente. Os ingleses tentaram plantar na Turquia seus princípios liberais, tolerância religiosa e práticas administrativas britânicas.
1839-1861: Sultão Abdulmecid: novo sultão de 16 anos deu início às reformas:
Mas a oposição às reformas eram grandes
1876: Primeiro Parlamento Otomano

"O grande problema desse país é a religião dominante, fonte de injustiça e de fraqueza."
(página 83)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CRIMEIA, A HISTÓRIA DA GUERRA QUE REDESENHOU O MAPA DA EUROPA NO SÉCULO XIX", ORLANDO FIGES, EDITORA RECORD.

Guerra da Crimeia Guerras Religiosas Católicos versus Cristãos Ortodoxos Moscou Terceira Roma Disputa pela Terra Santa


PÁSCOA DO ANO DE 1846 NA PALESTINA:

- CRISTÃOS, MAS RIVAIS:

Páscoa do ano de 1846, a Palestina pertencia ao Império Otomano. Jerusalém era governada por Mehmet Pasha.
Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos disputavam para ver quem teria precedência nos rituais dentro da Igreja do Santo Sepulcro.  
O clima era tenso. Na Sexta-Feira de 1846 houve briga dentro da Igreja do Santo Sepulcro. Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos não se bicavam. Houve mais de 40 mortos. Cristãos católicos (latinos) e Cristãos Ortodoxos brigavam para ver quem iria ter o controle do lugares santos localizados na Terra Santa.
Um exemplo de disputa dizia respeito ao conserto do teto da Igreja do Santo Sepulcro. Católicos e Ortodoxos disputavam entre si para ver quem iria ter a honra de consertar o teto. No Império Otomano, o dono do teto era o dono da casa. Os Otomanos contemporizavam a situação acenando para os dois lados. 

FLUXO DE PEREGRINOS AUMENTA PARA JERUSALÉM;

O fluxo de peregrinos para Jerusalém aumentou por causa das ferrovias e dos navios a vapor. A revolução industriam encurtou os caminhos. Com isso, as Igrejas (Ortodoxa e Católica) e os países de onde vinham esses peregrinos (Rússia, França, etc) passaram a olhar para Jerusalém com mais atenção. Rússia criou um complexo com albergue, hospital, capela e mercado para dar suporte aos peregrinos russos. ATÉ 15 MIL RUSSOS IAM À PALESTINA POR ANO. Era a expressão maior de sua fé. 

SANTA RÚSSIA:

Para os russos a ideia da Santa Rússia englobava o território da Palestina. Os turistas da Europa ocidental sentiam repulsa pelo comportamento dos cristãos ortodoxos (russos), rotulando-os de bárbaros, por causa de suas superstições degradantes. Os cristãos católicos e os protestantes não agiam com a mesma paixão demonstrada pelos cristãos ortodoxos (russos, gregos, búlgaros, sérvios e moldavos).
Os europeus que sentiam repulsa pelos ortodoxos sentiam-se mais próximos dos islâmicos, que eram mais contidos/comedidos na expressão de sua fé. Essa visão preconceituosa iria influenciar a postura europeia quando da disputa travada entre o Império Russo e o Império Otomano pela posse da Terra Santa.
Os russos viam-se no direito de cuidar dos interesses dos cristãos ortodoxos no interior do Império Otomano. Esse direito russo estaria escrito no Tratado de Kuchuk Kainarji, celebrado após a vitória russa sobre os Otomanos (1768-1774).

TRATADO DE KUCHUK KAINARJI:

Guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, vencida pelo Império Russo. O Império Otomano teve que aceitar as condições impostas pelos russos: 
▶independência dos tártaros da Crimeia
▶livre passagem pelo Dardanelos
▶porto de Kherson e Kerch
▶principados da Moldávia e da Valáquia retornariam para os Otomanos, mas os Russos assumiriam o direito de proteger a população ortodoxa
▶pequeno trecho do Mar Negro, entre os rios Dnieper e Bug
▶construir uma Igreja Ortodoxa em Constantinopla

PLANO RUSSO PARA INVADIR ISTAMBUL (antiga Constantinopla):

Os generais russos, quando pensavam em invadir Istambul, imaginavam dois caminhos que correriam em paralelo, um percorrido por terra e outro pelo Mar Negro. No caminho por terra, os russos marchariam até o Delta do Danúbio. Antes de seguir para Istambul, esperariam suprimentos que viriam pelo Mar Negros, de navios saídos da Crimeia. Com a tropa alimentada e suprida, seguiria caminho até Istambul.

O Império Russo foi concebido como uma cruzada ortodoxa. Era uma missão divina da Rússia libertar os cristãos ortodoxos dos Otomanos e fazer de Constantinopla a capital da Igreja Oriental. As guerras entre russos e otomanos eram religiosas (linha de fratura entre os cristãos ortodoxos e o islã).
A religião estava no cerne do sistema russo. A ideia fundadora do Império Czarista dizia que Moscou era a capital remanescente da Ortodoxia. Era a Terceira Roma

PREOCUPAÇÃO FRANCESA: 

Católicos franceses se preocupavam com a presença russa na Terra Santa. A França tinha participado das Cruzadas e por esse motivo via-se como a primeira nação católica da Europa e protetora da fé na Terra Santa. A França, para marcar sua presença na Terra Santa, abriu um consulado em Jerusalém. A Grã-Bretanha,, por sua vez, em 1845, construiu um Igreja Anglicana em Jerusalém.
Os Católicos franceses exigiam que seu governo adotasse medidas fortes para proteger a Terra Santa da influência dos ortodoxos. Em 1851, Luís Bonaparte nomeou de Valette como embaixador em Constantinopla

CHARLES DE LA VALETTE:

Era um membro importante do disfarçado partido clerical, que secretamente puxava as cordas da política externa francesa. Luís Napoleão, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, não ligava para religião mas via na Terra Santa uma forma de tirar a França da situação que o Congresso de Viena (1815) lhe impôs. Um novo sistema de alianças poderia emergir. A Áustria católica poderia ficar contra a Rússia ortodoxa. E a Grã-Bretanha tinha seus próprios interesses imperiais a defender no Oriente Próximo contra os Russos. 
La Valette proclamou que o direito dos católicos estava claramente estabelecido e, se preciso fosse, a França usaria de sua força naval para defendê-lo. A conduta beligerante de La Valette enfureceu o Czar da Rússia, Nico.lau I

CRIMEIA:

Crimeia = Krym - Nome tártaro. / Tauride: nome grego
A Crimeia era governada originalmente pela Dinastia Giray, que remontava a Gengis Khan, sobrevivente da Horda Dourada. Ali viviam tribos tártaras de língua turca. Acabaram virando vassalos dos Otomanos. Viviam principalmente de pilhagens na Polônia e na Rússia. 
A Crimeia era sagrada para os russos. Foi ali, em Quersoneso, que Vladimir de Kiev foi batizado em 988, levando o cristianismo ortodoxo para o Rus (Rússia). Quersoneso fica na periferia da atual Sebastopol. A Crimeia já foi o lar de genoveses, gregos, citas, godos, romanos, judeus, armênios, mongóis e tártaros. Em 1783 a Rússia anexa a Crimeia e ganha 300 mil súditos, a maioria composta por muçulmanos. A partir de 1800 esses muçulmanos começavam a sair, em direção ao Império Otomano. Em seu lugar vieram cristãos russos, gregos, búlgaros e armênios.

EXPANSÃO RUSSA PARA O SUL:

Catarina, a Grande, czarina da Rússia, queria expulsar os Otomanos da Europa. Em 1781, conversava com o Imperador Austríaco, José II, termos de como isso poderia ser feito. Com os Otomanos expulsos da Europa, o que restasse seria dividido entre a Rússia e a Áustria. Haveria ainda um Império Grego com capital em Constantinopla (Istambul), que contaria com a proteção russa. Catarina deu ao seu 2º neto o nome de Constantino, último imperador de Bizâncio. Ele ainda teve que aprender grego. A necessidade de se expandir para o sul fazia com que os russos misturassem religião com política. Num momento, a expansão para o Sul era vendida como uma espécie de Cruzada, purificando o Rio Jordão, devolvendo Constantinopla aos cristãos ortodoxos, libertando a Igreja do Santo Sepulcro. Essa expansão também abriria de vez o Mar Negro para os russos, por onde poderiam exportar seus grãos através do Mediterrâneo. Se a Rússia tivesse acesso total ao Mar Negro, não ficaria mais dependente do Mar Báltico, suscetível de ser bloqueado em caso de alguma guerra.
Uma nova Rússia foi criada no Sul (Novorossiya), sob a supervisão de Potemkin, que também era amante de Catarina. Novas cidades foram criadas, como Odessa. 

CRIMEIA DEPOIS DO TRATADO KUCHUK KAINARJI:

Era governado por um Cã (Khan)Sagin Giray, apoiado pela Rússia. Mas os cristãos que moravam na Crimeia reclamavam de perseguição (comerciantes gregos, armênios, etc). 
Em 1783 a Crimeia foi anexada pela Rússia de forma definitiva. Foi uma grande humilhação para os Otomanos.

NOVA GUERRA ENTRE A RÚSSIA E O IMPÉRIO OTOMANO:

1787: A Guerra Terminou com a Paz de Iasi. Rússia passa a controlar todo o Rio Dniester (era a nova fronteira entre a Rússia e o Império Otomano). O Império Otomano aceita a anexação da Crimeia pela Rússia. O Império Otomano ainda conseguiu manter os Principados da Valáquia e da Moldávia. 

NOVAS TERRAS RUSSAS COM SÚDITOS MUÇULMANOS:

Os russos temiam que seus súditos muçulmanos viesse no futuro a trair a Rússia, para favorecer o Império Otomano. Era preciso substituir esses muçulmanos por colonos cristãos. Não seria a primeira vez que os Russos fariam isso. No início do século XIX, houve uma cruzada no Cáucaso, com a expulsão dos muçulmanos chechenos, inguches, daguestaneses, etc

TRATADO DE BUCARESTE: 1812:

Rússia e Império Otomano concordam no exercício conjunto da soberania sobre a Moldávia e a Valáquia. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CRIMEIA, A HISTÓRIA DA GUERRA QUE REDESENHOU O MAPA DA EUROPA NO SÉCULO XIX", ORLANDO FIGES, EDITORA RECORD, páginas 27/47