quinta-feira, 19 de março de 2020

Paradoxos da Liberdade Senhores e Servos A Grande Emancipação Fome na Europa Thomas Malthus




A GRANDE EMANCIPAÇÃO:

Rússia: De 1826 a 1840: Foram verificadas 2 mil agitações camponesas.
Rússia: De 1857 a 1861: Tropas requisitadas em 903 ocasiões diferentes para debelar revoltas camponesas.

"A primeira coisa a fazer é emancipar os servos pois este é o nó que ata todas as coisa más na Rússia." (Mikhail Gorchakov)
(página 144)

FORMAS PELAS QUAIS OS SERVOS DEMONSTRAVAM SEU DESCONTENTAMENTO:

Havia revoltas violentas. Faziam um serviço com má vontade. Havia lentidão na execução do serviço. Servos entregavam ao Senhor animais decrépitos para o trabalho na terra deste. Havia fugas constantes. Entrega de alimentos de baixa qualidade.
A Servidão obstava o desenvolvimento da agricultura. 

"O sistema de campo aberto em que grandes campos eram divididos em faixas, cada uma cultivada por uma família de servos, dificultava a economia de escala pela consolidação das terras."
(página 144)

1856: Tratado de Paris: Fim da Guerra da Crimeia (1854/55), travada entre Grã-Bretanha, França, Rússia, Império Otomano. A Grã-Bretanha aproveitou esse tratado por exigir o fim da servidão nos Principados do Danúbio (Valáquia e Moldávia)
1850: Prússia: Lei pôs fim aos últimos vestígios da servidão no reino prussiano.
Ao acabar com a servidão, o Estado negociava compensação com os senhores, que se viam, de uma hora para outra, sem as rendas e sem o trabalho gratuito de seus servos. Ao servo concedia-se liberdade. Eram declarados homens livres. 

SERVO LIVRE. CÁLCULO PARA COMPENSAR O SEU ANTIGO PROPRIETÁRIO:

Exemplo de cálculo para se chegar ao valor devido pela perda se sua propriedade (seu servo). O valor da compensação devido ao Senhor era calculado da seguinte forma: "na monarquia habsburgo o valor do trabalho servil foi definido em um terço do valor do trabalho assalariado; uma indicação do pouco esforço que se pensava que os servos dedicavam ao seu trabalho."
(página 147)

VENCEDORES E VENCIDOS:

Os senhores perderam o poder judicial (tribunais senhoriais) sobre os seus camponeses; agora esse poder foi atribuído ao conselho de aldeões ou aos tribunais locais.
De forma geral, os LATIFUNDIÁRIOS se deram bem, principalmente aqueles que produziam cereais em grande quantidade. E com a compensação que receberam em razão da emancipação dos servos, aumentaram suas propriedades, adquirindo pequenas áreas de pequenos agricultores empobrecidos. Na Áustria e na Boêmia, os latifundiários investiram no cultivo da Beterraba, pois não podiam competir com os cereais da Hungria.
No campesinato, alguns camponeses se saíram bem, porque encontravam mercado para a sua produção. Outros quebraram a cara e tiveram que pedir trabalho para seus antigos senhores. Outros camponeses conseguiram apenas subsistir em suas pequenas propriedades. Camponeses faliam em razão das dívidas contraídas na compensação de seu senhor, no pagamento de impostos, etc.
O camponês falido tinha que vender a sua terra. 

"Na Prússia, a leste do Elba, cerca de 7 mil grandes propriedades e mais de 14 mil pequenas terras foram compradas pelos latifundiários entre 1816 e 1859, estimulando a criação de um proletariado rural sem terra."
(página 152)

A agricultura integrava-se ao capitalismo. Cada vez mais, o camponês, que tinha sido emancipado e que depois tinha perdido a sua terra por dívidas ou por dela não poder tirar nem o suficiente para a sua subsistência, só tinha a sua força de trabalho para vender.
E para piorar, os trabalhadores agrícolas não gozavam dos mesmos direitos dos trabalhadores urbanos, que naquela época já eram poucos. Na Prússia havia a permissão para o uso de castigos corporais nos trabalhadores agrícolas.

REVOLTAS CAMPONESAS:

Rússia:

Camponeses russos, indignados com as compensações (quantia paga aos senhores pela libertação dos servos) devidas aos seus antigos senhores, diziam em tom de galhofa:

"somos (camponeses) deles (senhores), mas a terra é nossa"
(página 153)

Na Rússia ainda era verificado, nas zonas mais férteis, o aumento do número de famílias sem que fosse acompanhado pelo aumento da quantidade de terra.

"Nem as galinhas tinham sítio para se empoleirar."
(página 154)

E para piorar, após a emancipação, os camponeses foram proibidos de entrar nos prados e nas florestas dos senhores. Verificou-se nessa altura, por causa dessa proibição, o aumento dos casos de furtos de madeira.
1905: No Oceano Pacífico, Rússia perde guerra para o Japão. A insatisfação popular que estava reprimida, explode com a notícia da derrota. Greves, protestos, comícios. No Volga e na Ucrânia (terras férteis) os camponeses invadiam e saqueavam as casas senhoriais. A revolta durou até 1907. O governo acabou com a revolta, usando concessões e repressão. Uma das concessões foi o fim do pagamento pelas emancipações. O governo russo ainda buscou flexibilizar a compra e a venda de terras fora das comunas camponesas, onde o cultivo da terra era coletivo (método coletivo de exploração da terra). Essa medida flexibilizadora deu origem à figura do Kulak.

Romênia:

"a miséria em que vive a maioria do campesinato romeno está para além de qualquer descrição."
(página 156)

Estado romeno e latifundiários estavam conluiados contra os camponeses.

"As terras dos camponeses eram geralmente muito pequenas."
(página 156)

Em 1907 ocorreu a última grande revolta camponesa (jacquerie) justamente na Romênia (Moldávia e Valáquia). A repressão do governo foi brutal (torturas, prisões, mortes). 11 mil pessoas morreram.

HISTÓRIA DA SERVIDÃO EM OUTROS PAÍSES:

Portugal:

A servidão deixou de ser adotada na idade média, mas os senhores de Terra ainda mantinham direitos e privilégios senhoriais. Os camponeses tinham que pagar tributos aos latifundiários (pagamento em vinho, pão e fruta). Em 1846 houve reformas liberais, com a privatização das terras comuns. Os camponeses rendeiros tinham uma vida de dificuldades. Essas reformas desencadearam uma revolta camponesa. A revolta foi esmagada com a ajuda dos britânicos.
Em meados dos anos 30 do século XIX, a Igreja possuía 6.000 terras e monopólios de moinhos, lagares de azeite e celeiros.

Espanha:

O fim das obrigações feudais na década de 30 do século XIX deu mais poder aos latifundiários que trabalhavam com parceria rural. A parceria rural era um contrato por meio do qual o dono da terra deixava uma família trabalhando nela. O pagamento era feito na forma de uma parte da produção. Houve na Espanha sublevações com a participação de camponeses (1822/1823 e 1827)
Primeira Guerra Carlista (1832/1839): Carlos protestava contra seu irmão Fernando, que fez de sua filha, Isabel (Isabel II), rainha da Espanha. O descontentamento dos camponeses embarcou nesse conflito. Houve ainda mais duas revoltas carlistas, em 1847 e 1872/1876.

"O carlismo visava, acima de tudo, a revogação das reformas agrárias dos liberais."
(página 160)

No sul da Espanha, a rivalidade entre latifundiários e camponeses miseráveis deu espaço para a entrada de ideias anarquistas. O Estado só causava problemas aos camponeses. Havia o serviço militar, havia o apoio do Estado aos latifundiários, havia os impostos. O Estado tinha que ser eliminado e, com ele, todo o peso suportado pelos camponeses. Na década de 60 do século XIX havia no sul da Espanha banditismo, roubo de colheitas, incêndios. 95 rebeldes foram executados na repressão estatal.

Itália:

Também havia contratos de parceria rural entre camponeses e donos de terras. Na Toscana, as famílias camponesas conseguiam somente subsistir com seu trabalho. Os donos de Terras ainda exerciam outros controles sobre os meeiros: com quem podiam casar, por exemplo; supervisionavam a conduta moral, etc. Poderia haver quebra de contrato se o meeiro deixasse a propriedade sem autorização do dona da terra.

"Podiam ser despedidos ou expulsos apenas por desobedecerem às ordens do proprietário."
(página 161)

"A parte da colheita a que o meeiro tinha direito servia para a subsistência da sua família."
(página 161)

"Nos anos de más colheitas, os meeiros tinham de pedir empréstimos ao proprietário, o que lhes aprofundava ainda mais a dependência."
(página 161)

Os camponeses também se revoltaram porque com a emancipação a "terra comum" foi atribuída aos senhores de terras, de forma que a terra deixou de ser comum.

"os documentos legais e os seus autores, os instrumentos da sua desapropriação, eram visados na crença de que o direito natural à terra comum valia mais do que a letra da lei que a atribuíra aos antigos senhores feudais como sua propriedade privada."
(página 164)

Ilha da Sicília:

Revolta dos Fasci Sicilianos: O nome Fasci vem de Feixes. Qualquer pessoa podia quebrar um pau, mas não um feixe inteiro, composto por vários paus.
Havia 300 mil meeiros e pequenos agricultores.
Os Fasci protestavam contra o preço da comida, o aumento das rendas, os contratos leoninos de parceria rural e os impostos. O Estado italiano agiu com rigor. Vários rebeldes foram presos e mortos. Os contratos de parceria rural não resultavam numa agricultura eficiente. Os meeiros trabalhavam em troca de sua subsistência.

"Os alvos das suas reuniões e procissões de protesto eram o aumento das rendas e dos preços da comida, os impostos altos e os contratos discriminatórios de parceria rural. Os camponeses começaram a ocupar as terras e os escritórios do fisco, queimando moinhos e edifícios do governo. O governo italiano reagiu, declarando o estado de sítio e alistando 40 mil soldados. Centenas de rebeldes foram mortos ou sujeitos a execuções sumárias, mil deles foram enviados para uma colônia penal sem julgamento, e muitos outros foram presos."
(página 165)

"Os grandes proprietários de terras reagiram a estas crises mudando para culturas mais rentáveis, como a beterraba, e mecanizando a produção para reduzir os custos de mão de obra."
(página 165)

"A parceira rural passou a ser substituída por uma "mão de obra assalariada mais moderna." (página 166)
O empregado assalariado tinha incentivo para trabalhar com mais afinco. Podia ser demitido ou contratado sem burocracia e de acordo com a necessidade da produção agrícola. Mas mesmos esses trabalhadores assalariados viviam em condições ruins.

"Quase 3/4 de seus rendimentos eram gastos em comida."
(página 166)

"a pobreza e a exploração já tinham levado centenas de milhares de pessoas a emigrar para o Novo Mundo." 
(página 166)

ALIMENTAÇÃO:

"A emancipação dos servos e as suas consequências, bem como o declínio do sistema de parceria rural, tiveram uma importância enorme na Europa do século XIX, sobretudo porque, durante todo o século, a esmagadora maioria das pessoas vivia da terra e dependia desta para a sua sobrevivência. Quase por toda a parte, as cidades eram poucas e distantes entre si, como ilhas urbanas num mar rural."
(página 167)

"Durante grande parte do século, o europeu típico era um camponês que vivia na terra e da terra"
(página 167)

Em 1850, viviam nas cidades:

Itália: 20%
França 15%
Alemanha 11%
Espanha 17%
Polônia 9%

"velhos padrões de povoamento"
(página 167)

Na Grã-Bretanha, os números eram totalmente diferentes. 50% das pessoas viviam nas cidades. Era a Revolução Industrial em marcha acelerada.

REVERENDO THOMAS MALTHUS (1766-1834):

"numa sociedade agrária, a população tenderia a aumentar além da capacidade da terra para a sustentar."
(página 169)

Pelo pensamento de Thomas Malthus, o resultado seria a penúria e a morte. Mas a Grã-Bretanha desmentia Malthus com sua maior eficiência agrícola, com o fim dos direitos sobre os cereais (1846) e importando alimentos com o dinheiro das exportações de sua Revolução Industrial.
Por toda a Europa buscava-se aumentar a eficiência agrícola, aumentando a produção de alimentos.
Melhor utilização da terra e busca por lucros contribuíram para o aumento da produção agrícola. A motivação pela busca de lucros só se efetivou com a emancipação dos servos.
Algumas inovações agrícolas:
- consolidação dos terrenos: abandono do sistema de campos divididos em faixas.
- mudança de cultura agrícola numa área de um ano para o outro, evitando o esgotamento do solo, reduzindo a quantidade de terra em pousio
- uso de fertilizantes pelas grandes fazendas para recompor o solo exaurido.

PRIMEIRO FERTILIZANTE USADO PELOS EUROPEUS VINHA DO PERU:

O primeiro fertilizante usado pelos europeus era importado do Peru. Era o Guano, que eram fezes de pássaros acumuladas por milênios, formando montanhas na ilha de Chincha, no litoral peruano.

AS PREVISÕES DE MALTHUS NÃO SE CONCRETIZARAM:

As previsões sombrias de Malthus não se concretizaram.

VIDA CAMPONESA NA PEQUENA PROPRIEDADE:

Poucos produziam para o mercado. A maioria produzia para si mesmo - autossuficientes.
Raramente iam às cidades comprar ou vender algo. Aumentava o número de pessoas e diminuía o número de terras. Vida de pobreza mesmo em tempos normais.

"mesmo em tempos normais, a pobreza e a miséria nunca estavam fora do horizonte."
(página 172)

"não havia subsídios do Estado, nem segurança social, nem apoio no desemprego, nem lares para a terceira idade."
(página 173)

"A assistência aos pobres dependia tradicionalmente da Igreja."
(página 173)

Particulares abriram casas de beneficência - sociedades filantrópicas. Em alguns lugares da Europa (Baviera), o Estado tentou criar algum tipo de rede de proteção para cuidar dos miseráveis.
Alguns europeus atribuíam o crescimento da pobreza à ociosidade. Ainda achavam que a Igreja, ao ajudar os pobres, fomentava a ociosidade.

EUROPEUS TINHAM QUE LIDAR COM A POBREZA: 

Na Grã-Bretanha havia a lei dos pobres, que dava emprego aos capazes de trabalhar e prendia (ou açoitava) aqueles que, mesmo capazes para o trabalho, se recusavam a trabalhar.
Esta lei também tentava cuidar dos pobres por meio de autoridades locais. Mas o custo para manter esse programa começou a pesar no bolso de quem o pagava. Mas mesmo assim o número de pobres aumentava na Grã-Bretanha. A política de cercar pastagens para rebanhos expulsava os camponeses de seus locais de trabalho (política de encerramento).
Ao mesmo tempo, Malthus criticava a leis dos pobres, que dava subsídios na forma de pães mais baratos para famílias com filhos pequenos.

"o chamado sistema de Speenhamland encorajava a procriação irresponsável e queriam que a antiga Lei dos Pobres fosse abolida."
(página 175)

A Lei dos Pobres...

"propagava a pobreza e a improvidência, como se queixou um comentador em 1831."
(página 175)

A OCIOSIDADE DE UMA PESSOA ERA A CULPADA PELA SUA POBREZA:

Em 1834, a Grã-Bretanha aprovou uma nova lei dos pobres para obrigar os fisicamente aptos a trabalharem. O ingleses criaram as Workhouse, nas quais ficava explicita a ideia segundo a qual a ociosidade de uma pessoa era a culpada pela sua pobreza.

MENTALIDADE DA ÉPOCA:

O sujeito capaz era pobre por causa de sua ociosidade. A ideia da Workhouse se sustentava nessa certeza. O sujeito capaz querendo apoio vai à essa casa do trabalho. Nela será submetido a condições tão duras de trabalho, alimentação, higiene, acomodação e pagamento que resolvia deixar de vez a sua indolência de lado, usando todas as suas energias na busca de um trabalho de verdade, pago.

"Cada tostão dado que tenda a tornar a condição do pobre mais elegível do que a do trabalhador independente, é um prêmio atribuído ao vício e à indolência."
(página 176)

A nova lei dos pobres ia além: órfãos, doentes e velhos deveriam ser cuidados por seus parentes. No fim, até os inaptos para um trabalho pago, que não encontravam auxílio em outro lugar, eram levados para a Workhouse.
A Workhouse vem descrita no romance Oliver Twist, de Charles Dickens.

"Para a economia política e para os seus seguidores, não havia motivo para alguém morrer à fome, exceto nos casos mais extremos de doença e decrepitude: se uma pessoa fisicamente apta era pobre, isso devia-se ao fato de ser ociosa."
(página 177)

A FOME NOS ANOS 40 DO SÉCULO XIX:

Novas culturas desenvolvidas na Europa:

-Girassol
-Beterraba (refino de açúcar)
-Batata
-Milho
-Tomate
-Tabaco

Dessas culturas, a mais importante foi a batata.

A BATATA E A FOME NA IRLANDA:

A batata se revelou um alimento indispensável na ausência de abastecimento adequado de cereais. Não tinha cereal, ia batata mesmo. Na Irlanda, a batata ocupava 1/3 da área cultivável e era a base da alimentação dos camponeses.
1845-1849: Fungo atinge o cultivo de Batata na Europa, principalmente na Irlanda. De acordo com a nova Lei dos Pobres, adotada na Grã-Bretanha, a pessoa só podia ser auxiliada se trabalhasse.

"pior do que permitir que as pessoas morram à fome, é deixar que se habituem a depender da caridade pública."
(Sir Charles Trevelyan - Ministro das Finanças Britânico)
(página 181)

Essa fome foi muito problemática na Europa, mas foi pior na Irlanda. Na Grã-Bretanha havia obstáculos políticos para ajudar os esfomeados na Irlanda. Havia as Leis do Milho, que facilitavam as exportações de cereais e limitava a sua importação. Essas Leis do Milho foram feitas para proteger os Aristocratas produtores de cereais.
Durante a crise, as mortes aumentaram 330% na Irlanda. A abolição das Leis do Milho só veio em 1849, quando o estrago já estava feito na Irlanda.

"Subjacente à crise na Irlanda estava um sentimento generalizado da elite política e social britânicas de que os irlandeses tinham o que mereciam por serem preguiçosos e terem demasiados filhos (exatamente a crítica feita por Malthus em relação aos supostos efeitos da antiga lei dos pobres)."
(página 183)

Thomas Malthus (1766/1834) dizia que a antiga Lei dos Pobres, por meio de seu sistema de subsídios aos pobres, encorajava a procriação irresponsável.

"mas o aspecto das crianças era o mais doloroso de todos - atrofiadas, amareladas, enrugadas, como se fossem pequenos adultos."
(página 184)

"no total, a fome da batata irlandesa matou um milhão de pessoas, ou seja, cerca de 1/5 de toda a população da ilha."
(página 184)

Outras crises de fome registradas na Europa:

-Finlândia (que pertencia ao Império Russo) - 1856/1868
"Havia um rapaz à beira da estrada a comer estrume de cavalo."
(página 186)

O governo russo demorava a agir, preocupado que estava com seu equilíbrio orçamentário. Mas no fim foi obrigado a importar cereal do estrangeiro.
Nos finais dos anos 70 do século XIX, o melhoramento dos transportes e uma atenção maior por parte do Estado, mitigaram as consequências de más colheitas, evitando assim que as idiossincrasias do clima provocassem tantas mortes.
Mas a fome continuava a assolar a Europa, em suas áreas de difícil acesso, não atendidas por transportes eficientes. Exemplo: Província espanhola de Leão em 1897.
Jornal espanhol local noticiou:

"a agricultura é quase a única fonte de riqueza, ...e os habitantes estão à beira da fome, quase todos os seus rebanhos morreram de doença ou de falta de comida."
(página 187)

A fome ainda ajudava na proliferação de doenças. Organismos mal alimentados eram mais suscetíveis a ficarem doentes. O tifo era um exemplo disso. Aglomeração de pessoas nas cidades em busca de ajuda também ajudava na proliferação das enfermidades.

Causas da Fome na Rússia:
-más colheitas causadas pelo clima
-substituição do gado pela plantação de milho. Com isso os camponeses se viram privados do esterco de seus animais, que era usado como fertilizante.
-governo russo queria fazer de sua moeda conversível em ouro, daí teve que estimular as exportações de cereais e aumentar os impostos.
-falta de transportes para áreas afetadas pela fome
-preconceito do governo russo em relação aos seus camponeses

Ministro das Finanças russo comentou sobre os camponeses russos (Sergei Witte):

"parece totalmente incapaz de se precaver para o futuro, e basta-lhe uma má colheita para cair no abismo da miséria do qual só pode ser salvo graças à ajuda externa."
(página 189/190)

TRANSPORTES PRECÁRIOS:

Transportes precários ajudavam na piora da fome. Havendo uma má colheita numa região, a quantidade de alimentos diminuía bruscamente. Os transportes eram precários e ineficientes, de forma que não era possível você trazer alimentos de um região que teve uma boa colheita para socorrer uma outra região que teve uma péssima colheita. Então onde houve a má colheita, os preços subiam; as pessoas tinham que gastar mais para comprar a mesma quantidade de alimentos, de forma que deixavam de comprar outras coisas, como utensílios e outros bens manufaturados. Esse fato desestimulava a industrialização (proto-industria) naquela área onde a colheita foi ruim. Sem pessoas para comprarem seus produtos, a Indústria ia embora.

"Pelo menos em algumas zonas, como na Flandres, a crise aprofundou-se devido á combinação do colapso simultâneo da agricultura e da proto-industria, a velha e a nova economia: tal como acontecera periodicamente durante séculos, uma má colheita conduziu ao aumento do preço dos cereais, de maneira que as pessoas do campo e das cidades tiveram de usar grande parte dos seus rendimentos para pagar o pão e outros alimentos, reduzindo assim a procura por roupas, utensílios, e outros bens manufaturados. Isto provocou uma crise nas fábricas e oficinas urbanas, que tiveram de despedir os seus trabalhadores, atirando-os para a pobreza na altura em que mais necessitavam de dinheiro para sobreviver. Nos anos 40 do século XIX, porém, estava a surgir uma nova dimensão destas crises sob a forma da propagação da produção industrial moderna  em toda a Europa, com início na Grã-Bretanha."
(página 190)

O autor do livro estava se referindo á indústria têxtil. A revolução Téxtil.

FIM DA FOME:

"Em 1914, a fome fora banida de grande parte do continente europeu."
(página 190)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER", Europa 1815-1914, de Richard J. Evans, editora Edições 70.

Os paradoxos da Liberdade Senhores e Servos



SENHORES E SERVOS:

O Sistema da Servidão: 
Imposições e Obrigações impostas ao Camponês. 
Exemplo trazido pelo autor de um Servo russo, que vivia numa aldeia russa durante o Século XIX
Sayva Dmitrievich vivia numa aldeia na Rússia central. A aldeia pertencia a uma pequena propriedade de um tenente-coronel. A propriedade tinha terra arável, uma floresta e prado e pasto.
O proprietário não ia à aldeia. Esta ficava sob as ordens de um administrador, que pegava para si grandes partes dos rendimentos. A maioria dos camponeses da Aldeia era composta por analfabetos. Havia 1300 aldeões que pagavam uma renda anual ao senhor. O dinheiro para pagar essa renda anual vinha do cultivo do linho e de outros produtos, que depois eram vendidos no mercado. O aldeão também trabalhava para cultivar produtos que serviriam para a sua subsistência. As pessoas viviam de aveia, nabos e ervilhas. Leite, ovos, carne de vaca eram vendidos por necessidade. Também faziam artesanatos. 
Numa ocasião, o proprietário emitiu uma ordem, que foi lida na Assembleia da Aldeia. Ele queria 4 homens, jovens e altos, para ficarem de pé na traseira de sua carruagem. Queria ainda 4 belas moças de 18 anos sem especificar os fins para que se destinavam. O proprietário faleceu em 1817. Sua filha herda a propriedade e exige 200 mil rublos como adiantamento da renda dos próximos 10 anos. Os camponeses recusaram pagar essa soma. A proprietária então hipoteca a aldeia como garantia de um empréstimo por 25 anos. E os juros teriam que ser pagos pelos camponeses: 30 mil rublos ao ano mais a renda anual de 20 mil rublos. Quem não pagasse sua parte seria conscrito no exército ou levado para a Sibéria para trabalhar na propriedade de seus senhores. Os aldeões se sentiram impotentes diante dessa exigência senhorial.
Um novo administrador alemão foi contratado e se revelou mais severo que o anterior. Açoitava quem lhe desobedecia; interferia nos casamentos e obrigava os aldeões a trabalharem na fábrica têxtil dos senhores. Se os aldeões se queixavam, o administrador pedia ajuda de tropas do governo.
Entre os anos de 1800 e 1868, a Rússia contava com o maior contingente de servos na Europa. Naquela altura já havia Estados que, influenciados pela Revolução Francesa, não tinha mais servidão: Baden, Baviera, Dinamarca, França, Países Baixos, Schleswig/Holstein, Suíça e Pomerânia Sueca.
Na Prússia, a servidão durou, numa forma debilitada, até 1848. Na Rússia e na Polônia a servidão durou até 1860.

"Os servos não eram escravos (ainda que houvesse escravos na Europa, nomeadamente os ciganos da Romênia, que eram tratados como bens móveis e vendidos no mercado até à sua emancipação pela Igreja Católica em 1848; os servos tinham direitos e deveres, mas não eram agentes livres."
(página 137)

A servidão dependia dos costumes locais onde era adotada, razão pela qual havia muitos tipos de servidão. Em termos gerais, a Servidão pode ser descrita dessa forma:
-o camponês era obrigado a trabalhar, sem pagamento, em certas tarefas e por alguns dias da semana na propriedade do aristocrata local, o senhor, e a cumprir em outros deveres, como ajudar nas caças, etc.
Em alguns lugares, o Estado impunha outras obrigações aos servos, como a manutenção de estradas e pontes locais, fornecer cavalos aos mensageiros e aos mais jovens prestar serviço militar. A mulher do servo poderia trabalhar na casa do Senhor, assim como seus filhos.
Na Aldeia de Velikoe, onde trabalhava Sayva Dmitrievich, muitas das obrigações foram convertidas para o pagamento de uma renda anual. Mas eram obrigados a trabalhar na fábrica têxtil da propriedade e estavam sujeitos a castigos corporais, a terem que pedir permissão ao administrador para casar com determinada pessoa.
No leste da Europa, o camponês precisava de autorização do seu senhor para sair da aldeia e, se quisessem se mudar, teria que pagar uma taxa.
Na Europa Ocidental o serviço era geralmente pago em dinheiro. A terra passava para os filhos mas era preciso pagar taxas (dinheiro ou taxas) nas transmissões da propriedade por venda ou herança.
Alguns Senhores impunham outros deveres aos servos, que só podiam comprar certos produtos (sal, tabaco, álcool) com seus senhores. Em alguns lugares os servos só podiam moer seus grãos no moinho do Senhor, numa espécie de monopólio. 
Só o senhor poderia caçar. Isso causava prejuízos para o servo, que se via privado de carne e couro, e peles para seu vestuário.
Em alguns lugares da Europa, o senhor detinha o monopólio da pesca nos rios e ribeirões que passavam no interior da propriedade.
Se o Senhor vende a sua terra, os servos vão juntos com a Terra.
Na Rússia no ano de 1841, era possível vender o servo desacompanhado da terra. Mas havia condições: não podia ser separado de filhos não casados.

SERVIDÃO NO IMPÉRIO HABSBURGO:

Um servo retirava de seus rendimentos para pagar:
-17% ao Estado
-24% ao Senhor Local, na forma de dinheiro, produtos, trabalho ou cedendo cavalos para arar o campo do Senhor.
Uma família de camponeses na silésia austríaca funcionava da seguinte forma: Servos com 17 hectares de terra devia fornecer ao senhor local anualmente 2 animais durante 144 dias para arar o campo.

TRIBUNAIS SENHORIAIS:

Eram sancionados pelo Estado. A polícia era formada por servos do senhor. Nesses tribunais eram julgados casos envolvendo servos e senhores. 

"Como se pode esperar que o camponês obtenha justiça quando só dá ao juiz um ovo, enquanto nós (senhores aristocratas) lhe damos um rublo de prata?" (declaração de um rico aristocrata russo em 1840)
(página 140)

O SERVO TINHA DIREITOS:

Tinha o direito de ser julgado num Tribunal Senhorial, por mais pequenas que fossem a sua chance de vitória. O Senhor deveria cuidar do servo nos tempos difíceis. Trataria os doentes. Trataria os idosos e os débeis, na hipótese da família não puder cuidar deles. Alimentar animais dos servos, enquanto trabalhassem para ele, para o senhor. O servo ainda podia colher o restolho das terras do Senhor.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914, RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.




Período Pós-Napoleônico Independência Grega Revolução de Julho de 1930 na França Classe Média



IMPÉRIO OTOMANO E A INDEPENDÊNCIA GREGA

No decorrer do Século XIX o Império Otomano foi se tornando mais descentralizado. Istambul, a capital do Império, tinha cada vez mais dificuldade em impor a sua autoridade. Como consequência dessa dificuldade, Istambul nomeava líderes locais para administrar uma determinada região do Império.Um desses líderes locais, que nos interessa nessa momento, era o Paxá de Tepelene, um albanês de origem ao qual cabia administrar o que seria a Grécia atualmente, acrescida da Albânia e da Macedônia. 
O Paxá de Tepelene extrapolava as suas prerrogativas, cobrando impostos por sua conta, governando por meio de extorsão e violência. Isto levou o Sultão Mamude II a intervir  para limitar a autonomia de Tepelene. Em 1820 são enviados 20 mil soldados que cercam o quartel-general de Tepelene, que por sua vez foi buscar aliados na Sociedade de Amigos , uma organização fundada em 1814 por mercadores gregos, que visava a libertação da Grécia do domínio otomano.
O presidente dessa Sociedade de Amigos era Alexander Ypsilantis. Ypsilantis era um oficial do exército russo. Com uma soma em dinheiro arrecadada pela Sociedade de Ammigos, Ypsilantis organizou uma força armada que invadiu os principados danubianos da Valáquia (atula Romênia) e da Moldávia. O objetivo de Ypsilantis era, com essa invasão, desencadear algo maior, isto é, uma guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, na esteira da qual a Grécia obteria a sua tão sonhada independência.
A iniciativa de Ypsilantis fracassou, pois Alexandre I, o Czar da Rússia, não veio em seu apoio. Manteve-se fora dos principados danubianos, que pertenciam ao Império Otomano. Vendo-se abandonado, Ypsilantis fugiu para a Áustria, mas sua ação serviu para desencadear uma rebelião no Peloponeso (atual Grécia). A revolta acabou se espalhando entre os habitantes das ilhas no Mar Egeu. 
Abril de 1821: 15 mil dos 40 mil turcos que habitavam o Peloponeso haviam sido mortos pelos rebeldes gregos.
Janeiro de 1822: Uma declaração de uma autodenominada Assembleia Nacional grega proclamou que a Grécia tinha se libertado do Império Otomano. Gregos matavam mulheres e crianças muçulmanas. A reação do Império Otomano não foi menos cruel: o Patriarca Ortodoxo que residia em Istambul foi enforcado; gregos habitantes da ilha de Quios foram massacrados pelos Otomanos. Entre 25 a 30 mil cristãos foram mortos. 
A opinião pública ocidental ficou ao lado dos gregos. Mas isso não deteu a fúria dos Otomanos, que enviaram um forte contingente de tropas egípcias, fornecidas pelo seu vassalo nominal Muhammad Ali, que receberia como pagamento a Síria, que seria acrescentada ao Egito.
O avanço das tropas egípcias deixou atrás de si um rastro de sangue. Sangue cristão. Lembrem-se que, no início da crise, com Ypsilantis invadindo os principados danubianos, os russos, sob Alexandre I, um dos fiadores da Santa Aliança, não intervieram, pois os principados danubianos pertenciam ao Império Otomano e Alexandre I tinha se comprometido em manter o status quo europeu. Mais isso mudou após a sua morte e com a ascensão ao Trono russo de Nicolau I. Nicolau I não se via manietado pelos acordos assinados por Alexandre I.
1826: Em Istambul eclode um distúrbio entre os Janízaros e o Sultão. Ao tomar conhecimento dessa crise em Istambul, a Rússia pede que os turcos se retirem dos Principados do Danúbio. Simultaneamente a isso, Rússia, Grã-Bretanha e França se unem e resolver exigir um armísticio entre o Império Otomano e a Grécia.
1827: Batalha de Navarino. Frota comandada pelo vice-almirante inglês Sir Edward Codrington destrói a frota naval otomana. Mesmo após essa derrota, o sultão otomano continuou perseguindo os gregos e não retirou suas tropas dos principados danubianos. Em resposta à intransigência otomana, a Rússia declara guerra ao Império Otomano. Em 1829, o exército russo está nas portas de Istambul. 
1830: Realização de uma Conferência em Londres, onde ficou acertado a criação de um pequeno Estado Grego independente, que seria administrado por meio de uma Monarquia Constitucional. Em 1832, Grã-Bretanha, França e Rússia impõem o príncipe Bávaro Otto Von Wittelsbach como rei grego. Os principados danubianos passariam a ter uma ingerência vinda da Rússia. Ao mesmo tempo, a Rússia se comprometeu a respeitar a integridade territorial dos otomanos nos Balcãs.

A REVOLUÇÃO DE JULHO DE 1830 NA FRANÇA:

Uma revolução derruba o Rei Carlos X. Em seu lugar assume seu primo, Luís Filipe. 
Carlos X não entrava em acordo com os liberais franceses. Para ganhar apoio popular, Carlos X embarcou numa conquista colonial no norte da África, na Argélia. Carlos X emulava Napoleão: conquistas militares no exterior para ganhar apoio em casa. 
Quando a notícia da expedição colonial francesa chegou a Paris, Carlos X aproveitou para tornar seu regime mais reacionário, adotando a censura estrita, fechando a Assembleia e restringindo o número de pessoas que podiam votar: somente os 25% mais ricos poderiam votar. Com esse eleitorado restrito, convocou novas eleições. Mas o público reagiu. Impressores prejudicados pela nova lei de imprensa, estudantes, veteranos do exército de Napoleão e trabalhadores revoltados com 3 anos de preços altos (pão, cereais, colheiras ruins), foram às ruas protestar. Carlos X colocou tropas nas ruas, mas a revolta já não era um motim, era uma Revolução. O povo nas ruas se protegia atrás de barricadas. Soldados do regime se viam cercados nas ruas, sendo alvejados do alto dos prédios com todos os tipos de objetos numa guerra de penicos. Desmoralizados e em menor número, cercados, guardas do governo começaram a debandar para o lado dos revolucionários. Já sem sustentação militar, Carlos X foi obrigado a abdicar do Trono francês. No lugar de Carlos X, assumiu seu primo, Luís Filipe de Orleães, que havia adquirido uma reputação de liberal, por causa de seu pai, cujas simpatias pela Revolução Francesa de 1789 lhe valerá o apelido de Philippe Égalité. Com a queda de Carlos X, o velho ramo da Casa dos Bourbons deixou de reinar.  
Resultado da Revolução de 1830 em Paris:
- abolição da censura.
- o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado para ser a religião da maioria dos franceses.
- as exigências para uma pessoa ser eleitora e elegível para um cargo foram afrouxadas, mas mesmo assim só 5% da população masculina adulta podia votar
- remoção da parte do preâmbulo onde constava que a Soberania residia apenas no Monarca
- o rei não podia mais suspender ou bloquear leis.
- Luís Filipe adotou a bandeira tricolor da Revolução Francesa.
- Luís Filipe era agora o REI DOS FRANCESES e não LUÍS XIX ou Filipe VII, Rei de França. 
- a Monarquia sob Luís Filipe havia mudado, tentando emular a Monarquia Constitucional Inglesa

REVOLTAS APÓS A REVOLUÇÃO DE JULHO NA FRANÇA:

- Problemas causados pela Revolução Industrial afetavam o novo regime:

Exemplo: Em Lyon eclodiu uma revolta do tecelões contra as mudanças econômicas acarretadas pela introdução do Tear de Jacquard
O prefeito de Lyon tentou atenuar a crise, estabelecendo um preço mínimo para a produção vinda dos tecelões. Acabou demitido. Sucedeu-se uma revolta na cidade, que resultou em mortos e feridos. O governo central teve que intervir para restaurar a ordem. 
Três anos depois, outra revolta eclodiu, novamente com os tecelões não aceitando a redução de seus ganhos. O governo novamente teve que agir, ocupando a cidade e prendendo os revoltosos. 
A instabilidade marcou o reinado de Luís Filipe. Foi alvo de vários atentados contra a sua vida. Os republicanos franceses tramavam contra ele. 
Luís Napoleão Bonaparte, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, tentou dar dois golpes no regime, ambos fracassados (1835 e 1840).
A Revolução de Julho durou 17 anos. Mas os conflitos entre republicanos, orleanistas, bonapartistas e legitimistas continuavam a lutar entre si pelo direito de governar a França.

REPERCUSSÕES DA REVOLUÇÃO DE JULHO NA FRANÇA NO RESTO DA EUROPA:

As grandes potências reconheciam Luís Filipe, mesmo diante da violação do sagrado princípio da LEGITIMIDADE MONÁRQUICA, pelo qual a luta contra Napoleão Bonaparte foi empreendida (entre outros motivos). Era um fato consumado. Mas havia medo que o exemplo francês se alastrasse pelo resto da Europa, encontrando receptividade entre pessoas (liberais instruídos) que tinham sido influenciadas pelas ideias da Revolução Francesa, como o constitucionalismo e a autodeterminação nacional.

BÉLGICA:

25 de agosto de 1830: Bruxelas. Após a apresentação de uma Ópera, seu público sai à rua, entusiasmada com a música AMOUR SACRÉ DE LA PATRIE (Amor Sagrado da Pátria). Isso foi apenas o estopim que levou multidões às ruas, compostas de artesão descontentes, etc. Mais uma criação do Congresso de Viena ameaça ruim. A União do Reino dos Países Baixos com o antigo território austríaco no sul (onde ficava Bruxelas), na forma de um Estado-Tampão para conter qualquer nova aventura expansionista francesa, estava com os seus dias contados. 
Guilherme I era o Rei dos Países Baixos. Ele queria tornar o seu Estado coerente e uniforme, de forma que empreendeu discriminação contra os católicos, que eram maioria em Bruxelas e noutras partes. Obrigava-os a pagarem mais impostos. 
Em 1815, durante o Congresso de Viena, quando o mapa da Europa era redesenhado pelos Políticos, ninguém perguntou para os habitantes de Bruxelas se elas queriam ser governadas pela Holanda. Uma união imposta de cima para baixo não poderia perdurar. E não perdurou. A revolta propagou-se  para Antuérpia. Guilherme I ordenou o bombardeamento da cidade. Cidadãos de Antuérpia, alguns deles protestantes e flamengos, indignados com o bombardeamento, acabaram aderindo à causa de Bruxelas. 
4 de Outubro de 1930: Declaração de Independência Belga. As grandes potências reagem. A Rússia, que era a garantidora da ordem europeia, mobilizou tropas e fez declarações ameaçadoras endereçadas aos belgas. A França, por sua vez, seguiria a Grã-Bretanha.
Uma Conferência em novembro de 1830, em Londres, resolveu a questão belga. Foi escolhido um príncipe alemão para ser o rei da Bélgica, Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gota. Leopoldo passou parte de sua vida como oficial do exército russo. Chegou, nessa posição, a enfrentar as forças napoleônicas em 1813. Ele ainda era casado com a filha legítima e única do príncipe regente inglês, Princesa Carlota, numa aliança que lhe conferiu a cidadania britânica e o pertencimento à família real inglesa, com o título de Alteza Real. Era sem dúvida uma pessoa bem relacionada. Carlota morreu em 1817. Em 1831, Leopoldo tornou-se Rei da Bélgica. Na sequência, ele se casaria com Luísa Maria, filha do Rei Francês Luís Filipe. Foi um casamento arranjado, com o objetivo de tranquilizar os franceses, que sempre desejaram anexar a Bélgica ao seu território. 
A Holanda só resolveria suas pendências com a Bélgica somente em 1839. Nesse meio tempo, a Holanda invadiu a Bélgica, sendo obrigada a sair dali pela intervenção dos ingleses pelo mar e pelos franceses por terra.

PORTUGAL:

Havia uma disputa pelo trono português, protagonizada pelos irmãos Miguel e Pedro I, Imperador do Brasil
Com a morte do rei português D. João VI, Pedro I e Miguel deram início a uma disputa pelo trono português. Do lado de Miguel se alinhavam os conservadores britânicos e o partido português absolutista dos nobres proprietários de terras, que estavam descontentes com a Constituição Liberal de 1822 e com a conservação das leis introduzidas por Napoleão no ano de 1800. Os seguidores de Miguel foram denominados Miguelistas. Miguel conseguiu sufocar uma rebelião liberal, A isso seguiu-se um reino de Terror.
No entanto, em 1831, no rescaldo da revolução de julho na França (1830), D. Pedro I entregou ao seu filho (que se tornaria Pedro II) o trono do Brasil e, com apoio francês e inglês, capturou a cidade do Porto, em Portugal. Porto foi sitiada pelos Miguelistas por mais de um ano. A guerra que se seguiu resultou na queda de Miguel e na ascensão da filha de Pedro, Maria da Glória, ao trono português, com o título de D. Maria II.
A Constituição Liberal de 1822 foi restaurada.

ESPANHA:

Em 1833 morreu o rei Fernando VII. Sua filha, ainda criança, ascende ao trono espanhol como Isabel II. Liberais espanhóis se aproveitam do momento de debilidade do governo e forçam a introdução de uma Constituição liberal moderada em 1834. Em 1837, fruto de novas agitações, é elaborada  uma nova Constituição baseada na Soberania Popular, ainda que com restrições impostas pela reserva de amplos poderes à Coroa.

ITÁLIA:

Ainda no rescaldo da Revolução de Julho ocorrida na França, em 1830, italianos (os carbonari) ergueram-se contra o domínio austríaco no norte da Itália e contra o domínio Papal no centro da Itália. Mas a desunião reinante entre os rebeldes e a intervenção austríaca acabaram com a rebelião.

ALEMANHA:

Em Aachen, no extremo oeste da Confederação Germânica(Aix La Chapelle), onde hoje é a Alemanha, moradores locais usavam a roseta tricolor francesa em homenagem aos revolucionários franceses de Julho de 1830.
Na Alemanha havia descontentamento com os governos. Em Leipzig (Saxônia alemã) saiam às ruas mas não sabiam para onde canalizar essa energia, para exigir alguma mudança específica. Os governos alemães conseguiram conter as revoluções. Metternich convocou a Dieta (Confederação Germânica) para aprovar leis que reforçavam a censura, proibiam manifestações, baniam partidos políticos, etc. Áustria, Prússia e Rússia ainda acertaram entre si medidas para combater os movimentos subversivos.
Todavia, em alguns Estados Alemães, foram adotadas algumas melhorias por meio de reformas liberais.

SUÍÇA:

Confederação dos Cantões Autônomos. Com a invasão de Napoleão, nasceu na Suíça um sentimento de identidade comum, divorciada do Sacro Império Romano Germânico. A independência da Suíça foi acordada durante as negociações que deram origem ao Congresso de Viena.

GRÃ-BRETANHA:

Depois de Waterloo, houve agitações e motins. Posteriormente, crescimento econômico e leis repressivas pacificaram a sociedade inglesa. As Seis Leis repressivas baniram a reunião de manifestantes, censuraram a imprensa e suspenderam o Habeas Corpus.
Uma reforma adotada na Grã-Bretanha acalmou o povo e os liberais. Foi aumentado o número de pessoas que agora podiam votar.
Classe Média:

"Os debates sobre a ampliação do direito de voto deram origem a um novo conceito: as classes médias, como disse Earl Grey, o primeiro ministro, fizeram avanços maravilhosos na propriedade e na inteligência e que foram a verdadeira e eficiente massa de opinião pública, sem as quais o poder dos aristocratas não existe."
(página 126)

ARTESÃOS E SEU PAPEL NA REVOLUÇÃO DE 1830:

Os artesãos descontentes desempenharam um papel importante nas revoltas de 1830. Em Manchester operários protestavam contra a diminuição dos salários, em razão da diminuição do crescimento econômico. Agricultores eram dispensados pela adoção da máquina de debulha. Desempregados, esses agricultores destruíram máquinas e incendiaram celeiros.

A MUDANÇA DA POLÍTICA:

"O meu pensamento mais secreto é que a Velha Europa está perto do fim. Determinado a ir ao fundo com ela, saberei como cumprir com o meu dever."
(Metternich, 1829)

Governar o povo tornara-se difícil. O povo reivindicava direitos. Não aceitava mais passivamente o que lhe era imposto de cima para baixo.

"Nos anos 20 do século XIX, a Câmara de Comércio de Turim resumiu a mudança dizendo que a Revolução Francesa provocara uma confusão total entre as diferentes classes da sociedade. Toda a gente se veste da mesma maneira; os nobres não se distinguem dos plebeus; o mercador não se distingue do Magistrado; o proprietário não se distingue do artesão; o senhor não se distingue do criado, pelo menos na aparência. O princípio que criou as Revoluções continua infelizmente a existir. O gênio saíra da garrafa e era impossível voltar a pô-lo lá dentro."
(página 127)

Diante desse novo cenário, era necessário criar um novo Conservadorismo. Mesmo assim, havia radicais que pensavam que a religião, a emoção, os instintos humanos, a tradição, a moral e o sentido histórico consciente do passado deviam substituir o racionalismo iluminista como base da ordem social e política.
Nesse sentido, pensadores da época diziam que a estabilidade social só seria alcançada se as pessoas entendessem que a Monarquia era um poder absoluto obtido por meio de Deus.

"O primeiro servidor da Coroa deve ser o Carrasco."
(Joseph de Maistre - 1753/1821)
(página 127)

"A razão era a inimiga. Só se podia confiar na fé e no sentimento."
(página 128)

"Quando a Monarquia e o cristianismo são atacados, a sociedade regressa à selvageria."
(Louis de Bonald, 1754/1840)
(página 128)

A civilização, para se ver livre das revoluções, uma preocupação recorrente dos governos durante o século XIX, deveria se ver livre do pensamento.

"Para que não haja abusos da imprensa, nada deve ser publicado nos próximos anos. Ponto final. Se esse princípio fosse aplicado como regra obrigatória, em breve voltaríamos a Deus e à Verdade." (Friedrich  Gentz)
(página 128)

Fazendo frente ao novo conservadorismo, havia o Romantismo. Romantismo "é o eco do disparo do canhão de 1789." (August Jal)
(Página 128)

O Romantismo do século XIX era a manifestação da luta pela liberdade representada em quadros, poesias e música. Segundo Vitor Hugo, o romantismo seria o liberalismo na literatura.
O liberalismo era aquele da primeira fase moderada da Revolução Francesa: soberania popular, governo representativo, liberdade e governo constitucional.
Mas a partir dos anos 20 do século XIX, o liberalismo ganhou uma nova cor, representada pelo nacionalismo.
Esse nacionalismo que agora vivia unido ao liberalismo foi obra de Napoleão Bonaparte, ao difundir, simultaneamente, a ideia da Soberania Popular com a política repressiva (e governo exercido por estrangeiros) e extorsiva nos territórios ocupados pelos franceses, criou ali, nas mentes educadas, a ideia de que a liberdade, a luta contra a opressão só poderia ser alcançada por meio da autodeterminação nacional
Até 1830, o liberalismo era um movimento internacional, conectando-se por meio de Maçons e carbonários. Depois de 1830, porém, os movimentos nacionalistas começaram a percorrer rotas diferentes.
A independência Grega, as revoluções de 1830, a independência da Bélgica: eram ecos da Revolução Francesa de 1789, mas havia diferenças:

Semelhanças:
-mais direitos e liberdades: classes educadas e profissionais.
-pão e trabalho: preocupação dos artesãos e trabalhadores
Diferenças:
A relação entre essas forças estava alterada. O Terror Jacobino de 1793/1794 era um fantasma que ainda amedrontava as pessoas e ainda inspirava ações radicais na atualidade - meios da população para articularem suas reivindicações: comícios ao ar livre, motins e criação da barricadas para obstar o avanço da polícia e do exército.
O medo do Terror Jacobino afastou a classe burguesa da violência da população. Na maioria dos lugares isto enfraqueceu as revolução. O resultado foi que o princípio da Monarquia manteve-se intacto. Aquilo que foi destruído, com exceção dos Impérios da Europa Central e do Leste, foi o absolutismo.

FORÇAS POR DETRÁS DAS REVOLUÇÕES DE 1830:

Oficiais das forças armadas. Era mais um legado de Napoleão. Era mais um ator social participando da vida política. Os oficiais foram politizados pelas Guerras Napoleônicas e, por se verem colocados de escanteio pelas Restaurações Monárquicas de 1815, acabaram fomentando grupos conspiratórios e revolucionários.

FORÇAS AUSENTES:

O Campesinato não participou da revoluções de 1830, mesmo sendo em maior número.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORIA EDIÇÕES 70.

Período Pós-Napoleônico Conflito entre o Constitucionalismo Liberal e a Política de Restauração Maçonaria



PAÍSES SE UNEM PARA CONTER A ONDA REVOLUCIONÁRIA:

As grandes potências precisavam se unir para impedir que uma nova Revolução Francesa viesse a acontecer na Europa. Era preciso agir em concerto para manter o status quo criado pelo Congresso de Viena.
Num primeiro momento havia reuniões entre Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia. França ficava de fora. Só depois de um tempo a França começou a participar dessas reuniões, cujos objetivos eram:

1)A Monarquia deveria ser a base da ordem
2)Em princípio, essa Monarquia deveria ser Absoluta
3)Essa Monarquia poderia ser moderada quando isso fosse inevitável em razão da existência de legislaturas tradicionais, como os Estados Gerais ou Assembleias de Notáveis ou Assembleias Representativas com poderes ESTRITAMENTE limitados.

REAÇÃO REACIONÁRIA AOS AVANÇOS TRAZIDOS PELA REVOLUÇÃO FRANCESA:

Desejo das monarquias restauradas de atrasar o relógio da história para antes da eclosão da Revolução Francesa. Queriam retornar ao passado. Prevalência do obscurantismo e do reacionarismo. Falta de liberdade.

Exemplos:

Estados Papais:

Papa Pio VII proibiu a iluminação pública e a vacinação contra a varíola, rotulando-as como inovações modernas censuráveis.

Reino do Piemonte-Sardenha:

Judeus e Protestantes perderam direitos que haviam conquistado sob o domínio napoleônico. Privilégios da aristocracia foram reintroduzidos.

Só havia um país que não fechava com todos esses objetivos: era a Grã-Bretanha, pois sua Constituição continha uma legislatura fortemente eleita.

CONCERTO DAS GRANDES POTÊNCIAS PARA CONTER AS ONDAS REVOLUCIONÁRIAS: ERA UMA MISSÃO DESTINADA AO FRACASSO:

Apesar das maquinações conjuntas das grandes potências no sentido de fazer o relógio da história retornar para antes de 1789, as ideias do CONSTITUCIONALISMO LIBERAL (inspirada na Revolução Francesa) e da SOBERANIA POPULAR (expresso de modo prático nas revoltas generalizadas contra a ocupação francesa nos últimos anos de Napoleão) ainda estavam vivas nas mentes de muitos europeus.

CONSTITUCIONALISMO LIBERAL VERSUS POLÍTICA DE RESTAURAÇÃO:

ESPANHA:

Na Espanha o Rei Fernando VII (1784/1833) rejeitou a Constituição Liberal de 1812 e reinstalou o regime absolutista. Fernando VII ainda foi além: ele devolveu à Aristocracia e ao Clero as terras confiscadas durante a Era Napoleônica. Ainda reintroduziu a Inquisição. 
A Espanha enfrentou grave crise econômica em 1820. Vários fatores convergiram para eclodi-la. Os custos gerados pelas Guerras Napoleônicas somados com as Insurreições nas Américas (colônias espanholas querendo a independência) resultaram numa grave crise econômica. Em 1820 veio a falência. Em 1820 veio a Revolução, com o início do movimento constitucionalista liberal. Em 1823, o rei Fernando VII é deposto. A França envia um exército de 100 mil homens para acabar com a revolução espanhola. Fernando VII retoma o trono e reemerge ainda mais reacionário. Reformou o exército, de forma a ficar ali somente quem lhe fosse fiel e subserviente. 

ITÁLIA:

No Reino das Duas Sicílias, o rei Fernando I foi obrigado pelos liberais italianos a adotar a Constituição Espanhola de 1812. Em março de 1821, as agitações liberais chegaram ao reino restaurado do Piemonte-Sardenha, obrigando a renúncia do reacionário rei Vitor Emanuel.
Para acabar com a rebelião liberal na Itália, a Áustria enviou forças militares para repor a ordem na Península Itálica (1821).
Os rebeldes foram julgados com severidade. Fernando I retornou ao Reino das Duas Sicílias. 

ESTADOS PAPAIS:

Nos Estados Papais o novo Papa, Leão XII, proibiu os judeus de deterem propriedades.

REINO DO PIEMONTE-SARDENHA:

O novo rei, Carlos Felice, disse sobre os cidadãos comuns:

"todos os maus são educados, e todos os bons são ignorantes."
(página 80)

Para o rei do Piemonte-Sardenha a solução era manter o povo na ignorância, sem acesso à educação, pois dessa forma eles não iriam reivindicar  seus direitos, causando rebeliões no seu reino. Ainda para Carlo Felice, "só o exército e a Igreja eram de confiança." (página 80)

PORTUGAL:

Na esteira da luta contra Napoleão, um general britânico, Visconde Beresford, foi nomeado chefe do exército português.
Agosto de 1820: Profissionais da classe média e oficiais do exército português se pronunciaram contra a presença de oficiais britânicos no exército português.
1822: Revolucionários portugueses proclamam uma nova Constituição Liberal para os portugueses. Essa Constituição era liberal para os Portugueses, mas para o Brasil não tinha nada de liberal, pois eram retomadas as regras Mercantilistas. Isso acabou servindo como um gatilho que, acionado, resultou na separação entre Portugal e Brasil.
Os reacionários portugueses reagiram em 1823, derrubando a Constituição Liberal. Foi criada uma nova Constituição, que atribuía mais poderes a D. João VI.

RÚSSIA:

Em sua guerra contra Napoleão Bonaparte, o exército russo atravessou toda a Europa, parando somente em Paris. Nessa travessia, alguns oficiais russos foram contagiados pelos ideais de liberdade da Revolução Francesa. Esses oficias russos sonhavam com uma Constituição para o seu país. A oportunidade surgiu em 19 de novembro de 1825, quando o autocrata Alexandre I morreu sem deixar um filho legítimo. O trono russo foi passado para o irmão mais novo de Alexandre, Nicolau, que se tornou Nicolau I. Em meio a isso, os rebeldes aproveitaram e deram um golpe de estado, Ficaram conhecidos como dezembristas. Mas o golpe restou frustrado em razão da rapidez de Nicolau em assumir a posição de Czar da Rússia.

MEDO DA MAÇONARIA:

A maçonaria tinha ênfase na humanidade, na discussão livre a portas fechadas. Tinham que realizar suas reuniões de forma secreta, para não serem presos. 
Os governos temiam a Maçonaria e outras sociedades secretas, como a Carbonaria. Os governos reacionários perdiam o sono e suspeitavam que essas sociedades secretas transcendiam as fronteiras, tramando em segredo a sua derrubada.
Essas sociedades secretas atraiam pessoas que emergiam de uma sociedade civil formada por médicos, professores, advogados, comerciantes, oficiais, etc. 

MEDO DO POVO:

Os liberais que sonhavam com uma Constituição, que frequentavam a maçonaria, oriundos de uma sociedade civil emergente, temiam uma aliança com o povo. Esse medo vinha da lembrança que tinham da Revolução Francesa, do Terror resultante, quando os Jacobinos se uniram aos Sans-Culottes (povo/populacho/miseráveis).  

A GUARDA DA EUROPA:

Quem poderia defender os regimes reacionários dos movimentos revolucionários? Teria que ser um regime igualmente reacionário e poderoso para poder intervir fora de suas fronteiras. Esse país era a Rússia, agora governada por Nicolau I.

"o regime de Nicolau I conseguiu controlar a dissidência, para a qual não havia representação institucional , como uma legislatura eleita, mas apenas romances, peças de teatro e poemas, que eram facilmente silenciados."
(página 89)

Quem criticava o governo de Nicolau I corria o risco de ser exilado para a Sibéria. Nicolau I estava disposto a usar o poderio russo para sufocar rebeliões fora de suas fronteiras. Ele seria o Guardião da ordem, do status quo europeu. 

INSURREIÇÃO NO REINO DA POLÔNIA:

Data: 28/29 de novembro de 1830
Conspiradores poloneses assassinam o então governador de Varsóvia. O Vice-Rei Konstantin, irmão de Nicolau I, fugiu para a Rússia. 
Em 1831, o Poder Legislativo polonês declarou a independência da Polônia, depondo o Czar Nicolau I do trono Polonês. Nicolau I era o rei da Polônia, condição criada pelo Congresso de Viena de 1815.
Esses revolucionários poloneses eram aristocratas. Eles temiam o povo, por isso não chamaram o campesinato polonês para uma união contra a Rússia. Temiam ter que ceder numa Reforma Agrária. Temiam o empoderamento do campesinato e a perda de sua posição social. 
Sem a participação do campesinato, os poloneses foram derrotados pelos russos em 1831, em Ostroleka. A revolta polaca acabou. Os russos entraram em Varsóvia . O Czar Nicolau I então procedeu à sua retaliação. Duzentas e cinquenta e quatro pessoas foram condenadas à morte. Nicolau I aboliu a Constituição Polaca e passou a governar aquele reino por meio de decreto militar. As obras dos poetas polacos foram suprimidas. As Universidades foram encerradas. 
A opinião liberal europeia ficou indignada com a ação russa na Polônia. Na Grã-Bretanha, desde então, nasceu um sentimento anti-russo, uma russofobia.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.

Mundo Pós-Napoleônico Legados da Revolução Francesa Doutrina Monroe Equilíbrio de Poder Concerto da Europa Diplomacia de Gabinete Natureza da Soberania


DOUTRINA MONROE:

De dezembro de 1823. Essa doutrina nascida nos EUA impedia que países europeus viessem intervir em assuntos relacionados aos países americanos. Impedia, por exemplo, que a Espanha viesse restaurar as suas colônias nas Américas. 
Entre 1812 e 1814, os americanos estavam em guerra contra a Grã-Bretanha, disputando direitos de pesca e a fronteira do Canadá. 

DOMÍNIO BRITÂNICO SOBRE OS OCEANOS:

Em grande parte do século XIX, os britânicos dominavam os Oceanos. Dominavam o comércio/transporte mundial.
Durante o Mercantilismo, um determinado país buscava expulsar um país concorrente da exploração de uma atividade comercial. A Grã-Bretanha do século XIX não agia dessa forma. A Grã-Bretanha tinha vantagens competitivas insuperáveis, de forma que não precisava apelar para o Mercantilismo. A Grã-Bretanha, sabedora de seu desenvolvimento industrial, defendia o Livre Comércio internacional. Ela assim o fazia porque seu desenvolvimento econômico e industrial era tão formidável que conseguiria superar qualquer um que porventura resolvesse desafiá-la. A indústria da Grã-Bretanha não tinha concorrentes e por isso ela defendia o Livre Comércio Mundial. 

GUERRAS, UM MODO DE VIDA NA EUROPA E BUSCA PELO CONCERTO DA EUROPA:

Um breve inventários de algumas Guerras na Europa:

1)Guerra dos 30 anos (1618/1648): Entre outras desgraças, ceifou a vida de 1/3 da população alemã
2)Guerra da Sucessão Espanhola (1701/1714)
3)Guerra da Sucessão Austríaca (1740/1748)
4)Guerra dos Sete Anos (1756/1763)
5)Guerras Revolucionárias e Napoleônicas (1792/1815)
6)Guerra do Norte (1701/1721)

Em contraste, entre 1815 e 1914, houve um número menor de guerras, com duração e impacto relativamente limitados, com poucos Estados envolvidos: 
1)Guerra da Crimeia (1854/56)
2)Guerras da Unificação Alemã (Áustria/Prússia/Dinamarca: 1864; Áustria/Prússia: 1866; Prússia/França: 1871)
3)Guerra da Unificação Italiana ( França/Piemonte Sardenha/Áustria)

Por que houve menos conflitos no século XIX em comparação com os séculos anteriores?

Resposta: Abandonou-se a política do EQUILÍBRIO DE PODER, segundo o qual nenhum Estado poderia tornar-se tão poderoso a ponto de dominar todos os outros Estados. Em seu lugar adotou-se o CONCERTO DA EUROPA, segundo o qual manter-se-ia a paz por meio de instituições colaborativas. Os países europeus agora buscariam entrar em acordo apesar de seus interesses antagônicos. Subjacente a essa ideia colaborativa estava o medo da revolução. Era o medo da revolução em seu próprio país, com o seu povo saindo às ruas para lhe derrubar, que levou Soberanos da Europa a deixar de lado sentimentos antagônicos, entrando em acordo com países que antes eram seus inimigos. Esses soberanos ainda tinham pesadelos com a Revolução Francesa, com um rei e uma rainha sendo guilhotinados. 

RESQUÍCIOS DO EQUILÍBRIO DE PODER E MUDANÇA NA NATUREZA DA SOBERANIA - DAS CASAS DINÁSTICAS PARA A NAÇÃO/ESTADO:

O Equilíbrio de Poder não tinha sido totalmente abandonado. No passado, a França, país que era então o mais rico e populoso da Europa, se candidatou ao posto de liderança. Desde os tempos de Luís XIV que a França flertava com a ideia de ser a líder de uma Monarquia Universal.
Porém, as derrotas de Napoleão no século XIX foram o canto do cisne para o sonho de liderança francês. Nem por isso os outros países europeus ficaram tranquilos. Eles temiam o ressurgimento da França. Não confiavam nela. Sabiam do que a França era capaz.

"No resto do século XIX, houve mais ou menos um equilíbrio de poder entre os principais Estados continentais..."
(página 63)

No Congresso de Viena vigorou aquilo que se denomina de DIPLOMACIA DE GABINETE. Nesse tipo de diplomacia, territórios são repartidos entre países sem se levar em conta os interesses das pessoas que os habitam.

"Passei o dia cortando a Europa como se fosse um queijo" (Matternich, durante o Congresso de Viena, em 1815)
(página 63)

De fato, ninguém perguntava, por exemplo, aos habitantes da Renânia se eles queriam ser governados pela distante Prússia, e nem perguntavam aos italianos do norte se eles queriam ser governados pela ainda mais distante Áustria. Mas era dessa forma que as coisas eram feitas, mas isso iria mudar, porque a Revolução Francesa tinha mudada a natureza da Soberania na Europa.
Nos séculos XVII e XVIII as maiores causas de guerras na Europa tinham a ver com disputas dinásticas, como as guerras das sucessões austríaca e espanhola no século XVIII.
Após 1815, este já não era o caso. A base da Soberania transitou para as nações e os Estados. A Soberania mudou de mãos: das mãos de família dinásticas/indivíduos para as mãos da Nação/Estado.

"Os tratados como os de 1814-15 eram concluídos entre Estados e não entre monarcas individuais e conservavam a validade até que uma das partes o revogasse de forma deliberada. Com efeito, o príncipe ou o governante tornou-se o executor da soberania nacional ou estatal garantida por acordo internacional com a força de lei."
(página 64)

"Antes de 1815, todos os tratados internacionais eram considerados nulos após a morte de um soberano e tinham que ser imediatamente renovados com a assinatura de um novo soberano para não caducarem."
(página 64)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70.


Mundo Pós-Napoleônico França e Alemanha



MONARQUIA FRANCESA RESTAURADA. ÉPOCA PÓS-NAPOLEÔNICA:

A Revolução Francesa de 1789 causou uma mudança na natureza da relação entre governados e governantes. Isto foi mais evidente na França. 
Mas o rei francês Luís XVIII, que assumiu o poder com a queda de Napoleão Bonaparte, não via dessa maneira. Para Luís XVIII o mundo não tinha mudado. Ele ainda vivia no Ancien Régime (Antigo Regime), aquele que vigorava antes da Revolução Francesa. Tão logo assumiu o poder, Luís XVIII fez uma série de mudanças. Ele queria retroceder o relógio da história para 1788. Começou por aposentar a bandeira tricolor da revolução para ressuscitar a fleur de lys da Monarquia Francesa. 

"Quando um cortesão o informou, em 1814, da abdicação de Napoleão, dizendo-lhe: 'Senhor, sóis o Rei de França', ele (Luís XVIII), respondeu: 'Alguma vez deixei de ser o rei?' "
(página 65)

Luís XVIII também rejeitou a Constituição aprovada pelo último Senado de Napoleão, pois ela dizia que a autoridade real derivava de um contrato implícito entre o rei e o povo. O entendimento de Luís XVIII era que a autoridade real vinha de duas fontes:

1) Direito Divino
2) Declaração de Ouen, que era a base da Constituição da Monarquia Restaurada francesa. Por meio dela, Luís XVIII, pela graça de Deus, rei de França e de Navarra,  concedia os direitos ao povo francês por sua própria vontade. 
Mas Luís XVIII também fazia concessões. A seguir daremos alguns exemplos:

"...(Luís XVIII) concordou em não dar início a qualquer restauração das terras confiscadas durante a revolução francesa à Igreja, à nobreza ou à Coroa. Meio milhão de pessoas haviam comprado as suas propriedades, e era politicamente impraticável obrigá-la, ou às pessoas a quem as tinham vendido, a devolvê-la."
(página 65)

Luís XVIII ainda manteve o Código Napoleônico.
Luís XVIII criou uma Monarquia Absoluta limitada por dispositivos constitucionais, que podia ser anulada a qualquer momento. Estabeleceu uma legislatura bicameral que podia consentir ou não na promulgação de impostos. Mas Luís XVIII podia dissolver essa legislatura, convocando novas eleições em qualquer momento.
A Legislatura Bicameral era composta por uma Câmara Alta, cujos membros eram indicados pelo rei. Para a Câmara dos Deputados vinham representantes eleitos por homens com mais de 40 anos e que pagavam, por ano, 300 francos em impostos. Havia 90 mil eleitores numa população de 28 milhões de habitantes.
Em 13 de fevereiro de 1820, um sobrinho de Luís XVIII, o duque de Berry, foi assassinado por um seleiro descontente com os rumos do país. Em 16 de setembro de 1824 morreu Luís XVIII, vitimado por obesidade mórbida, sendo sucedido por seu irmão, Carlos X.

CARLOS X:

Carlos X, pai do assassinado Duque de Berry, era profundamente conservador. Queria a pena de morte para quem profanasse a hóstia. Queria compensação financeira aos nobres que haviam perdido terras durante a Revolução Francesa. Sob Carlos X, a Igreja Católica assumiu a responsabilidade pela nomeação de todos os professores primários. As atitudes reacionárias de Carlos X recrudesceu o movimento oposicionista francês. Entre esses oposicionistas, havia Benjamin Constant, um liberal moderado, escritor e jornalista. Surgiam sociedades secretas, lojas maçônicas. Elas difundiam-se não só na França, mas por toda a Europa e ainda tinham contatos na América Latina, constituindo uma espécie de Internacional Liberal que transcendia as fronteiras políticas. 

ALEMANHA NO PERÍODO PÓS-NAPOLEÔNICO:

A Alemanha pós-napoleônica organizou-se por meio de uma Confederação Germânica, composta por Estados membros que se reuniam numa Dieta (Dieta da Confederação), por meio de seus representantes.
Na prática, a Confederação Germânica era dominada pela Áustria e pela Prússia (governada por Frederico Guilherme III - 1770/1840).
Havia alemães que defendiam a unificação alemã, entre eles destacava-se Ernst Moritz Arndt (1769/1860). Moritz Arndt defendia que a Alemanha deveria ser unificada sob uma Monarquia Constitucional, com a sua capital em Berlim, eliminando assim todos os estados membros autoritários que compunham a Confederação Germânica. Os alemães que sonhavam com a unificação de seu país tinham como inspiração os alemães que se voluntariaram (movimento Burschenschaft) na guerra contra Napoleão, nos anos de 1812 e 1813. Sua bandeira era a tricolor preta, vermelha e dourado.
Durante a ocupação napoleônica da Alemanha, voluntários alemães queimavam o Código Napoleônico e folhetos que apelavam à colaboração com os franceses. Essa queima de escritos e livros foi criticada pelo poeta Heinrich Heine (1797/1856). Tratava-se realmente de um movimento radical ao ponto de estimular um jovem membro do grupo, um estudante de teologia, Karl Sand, de 25 anos, a assassinar o escritor August Von Kotzebue, por este fazer pouco caso do movimento Burschenschaft e por ser alinhado com as ideias do governante autocrata russo, Alexandre I. August Von Kotzebue defendia ideias conservadoras, mantenedoras do status quo europeu.
As paixões na Alemanha pós-Napoleão estavam afloradas. Depois de matar Kotzebue, Karl Sand gritava: "Viva a Pátria Alemã." Karl Sand foi condenado à decapitação e tornou-se herói do movimento nacionalista alemão.

METTERNICH. REAÇÃO AOS MOVIMENTOS LIBERAIS.

O Chanceler austríaco agiu para diminuir a agitação na Alemanha. Valendo-se da Confederação Germânica, usou a sua Dieta, situada em Frankfurt, para aprovar leis que visavam impedir que os movimentos subversivos da ordem ganhassem força na Alemanha. Exemplos: Jornais ficariam sujeitos à censura, caso estimulassem ideias subversivas que visassem a derrubada da ordem instituída. Membros de organizações nacionalistas eram punidos, com estudantes sendo expulsos de Universidades.
Metternich, enfim, buscava criar uma legislação que obstasse o triunfo de movimentos liberais (constitucionais e de unidade)
Em 1829, a Constituição da Confederação Germânica permitia que um Estado-membro intervisse caso houvesse perturbação da ordem estabelecida em algum outro Estado-membro. Nessa Constituição ainda foi retirada referências à emancipação dos judeus e à tolerância religiosa. Assim como acontecia na França, a Alemanha buscava retroceder o relógio da História para antes da Revolução Francesa.
Na maioria dos Estados-Membros componentes da Confederação Germânica, havia instituições representativas, mas elas estavam cerceadas e limitadas por uma série de regras, desestimulando totalmente qualquer participação mais ampla do público. Essas instituições, na verdade, não eram representativas da vontade da maioria do povo alemão.

"...os Estados alemães eram dirigidos de forma burocrática e não autocrática, e um sistema de administração baseado em regras era geralmente visto como uma limitação mais eficaz do poder arbitrário do soberano do que as assembleias representativas."
(página 73)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDITORA EDIÇÕES 70

Mundo Pós-Napoleônico Napoleão estava morto mas a Revolução Francesa tinha mudado o mundo para sempre As ideias democráticas da Revolução Francesa sobreviveram a Napoleão Santa Aliança Congresso de Viena



A REVOLUÇÃO FRANCESA TINHA MUDADO O MUNDO:

O domínio dos mares foi a base sobre a qual o poder europeu foi construído. Permitiu a colonização de outras partes do mundo e o domínio do comércio, estrangulando centros de manufaturas fora da Europa. Criou-se a crença de que as ideias europeias eram superiores às ideias da maior parte do resto do mundo.
Mas o mundo mudara. De nada adiantava restaurara Monarquias derrubadas pela Revolução. Não tinha como retroceder o relógio da história para antes de 1789. Impérios caíam (o Império Espanhol nas Américas; a França perdeu o Canadá e a Índia). Portugal perdera o Brasil. A guerra peninsular (1807-1814) tinha exaurido as forças da Espanha. Ela não teve como impedir a queda de seu Império nas Américas. 
Enquanto França, Portugal e Espanha sofriam, a Grã-Bretanha olhava com simpatia a independência de países nas Américas. A Grã-Bretanha queria que o Mercantilismo fosse quebrado e no seu lugar vigorasse o Livre Comércio, que iria favorecê-la, por ela ter vantagem competitiva. Países livres também significavam novos mercados consumidores para os produtos ingleses. Não era por bondade que a Grã-Bretanha aplaudia a independência de países nas Américas. Era por interesse comercial que a Grã-Bretanha atuou para a ajudar a Independência de alguns países nas Américas. Simon Bolívar foi apoiado. A Grã-Bretanha usou sua força naval para ajudar na independência de países nas Américas.

"Resolvi que, se França tinha Espanha, não deveria haver Espanha nas Índias. Fiz nascer o Novo Mundo para restabelecer o equilíbrio do velho" (George Canning, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha)
(página 50)

É inegável que as ideias da Revolução Francesa impactaram as independências dos países das Américas. Uma dessas ideias atacava o princípio da hereditariedade, minando dessa forma a legitimidade de instituições como a monarquia, a aristocracia. Essa ideias chegaram às Américas, colonizadas por essas Monarquias. Esse impacto fez nascer uma ligação entre os liberais europeus e os liberais latino-americanos. Na Europa pós-Napoleão havia uma disputa entre os defensores de regimes monárquicos reacionários (restaurados pelo Congresso de Viena) contra os liberais revolucionários. E esses liberais tinham conexões nas Américas. Um deles, Giuseppe Garibaldi, participou de revoluções no Brasil.

CONGRESSO DE VIENA:

A liderança das conversações coube a Klemens Von Metternich (conde e depois príncipe), um nobre da região do Reno (Alemanha) que cresceu na carreira de Estado. A Áustria, para quem Metternich trabalhava, queria restaurar o estado de coisas anteriores a 1789. O relógio da história teria que retroceder. 
O Congresso de Viena tinha como objetivo restaurar a legitimidade dos reis que tinham sido destronados por Napoleão. Queria evitar novas guerras, criando relações sólidas entre os países, inclusive amarrando a França por meio de tratados e acordos. Era preciso resolver de uma vez por todas os litígios entre os países, colocando-os no interior formada por uma rede de relações internacionais, amarrando-os uns aos outros. 
Durante as conversações em Viena, capital da Áustria, a França, com sua Monarquia restaurada na figura de Luís XVIII, foi representada por Charles Maurice de Talleyrand Périgord. 
A Rússia tinha Alexandre I, um autocrata, confiante que as instituições russas deveriam servir de modelo para outros países, pois elas se demonstraram vencedoras na guerra, marchando pela Europa, derrotando os exércitos de Napoleão e ocupando Paris. A vitória sobre Napoleão, na cabeça de Alexandre I, justificava as instituições russas, como por exemplo a autocracia (administração e legislação nas mãos do Czar), a servidão, etc.
O Congresso de Viena redesenhou o mapa da Europa. A Áustria perdeu a sua parte (atual Bélgica) nos Países Baixos para a Holanda mas recuperaram todos os seus outros territórios, restabelecendo o controle sobre a Lombardia (atual Itália), o Vêneto (atual Itália) e em boa parte da Dalmácia (atual Croácia).
Foi criada ainda uma nova Confederação Germânica, sob a presidência da Áustria. Suas fronteiras eram quase iguais ao do falecido Sacro Império Romano Germânico, mas agora com 39 Estados e não mais com os mais de um milhar do século XVIII.
A Confederação Germânica não era um Estado nacional. Tanto não era nacional que o Estado de Hanôver, pertencente à Confederação, era governado por um rei inglês. Alguns tinham territórios fora da Confederação, como por exemplo os Habsburgos, soberanos da Áustria, que presidia-a.
A Prússia ganhou terras na Renânia, incluindo o Vale do Ruhr. A entrega do Vale do Ruhr para os Prussianos tinha como objetivo criar um Estado-tampão para conter os franceses. Para contrabalançar o controle russo na Polônia, os Prussianos ganharam o norte da Saxônia, a Pomerânia sueca e a Posnânia (Posen/Poznan) e Gdansk.
A Rússia abocanhou territórios na Bessarábia, na Finlândia e na Polônia. 
A França, outrora poderosa, se viu cercada pela Renânia Prussiana, pelo Reino dos Países Baixos (Holanda + Bélgica), pela Suíça reconstituída e pelo Reino do Piemonte Sardenha.
Com o Congresso de Viena, a Grã-Bretanha consolidou seu Império. Ceilão (Sri Lanka), Cabo da Boa Esperança (África do Sul) e Malta ficaram com os ingleses.
O Congresso de Viena ainda ilegalizou, pelo menos sob o ponto de vista formal, o Tráfico de Escravos nos assuntos relacionados com a Europa. 

SANTA ALIANÇA:

Em 1815,mesmo ano em que foi encerrado o Congresso de Viena (20/11/1815)  foi criada a SANTA ALIANÇA, que reunia Rússia, Áustria e Prússia e outros Estados pequenos. Os signatários desse acordo concordavam em administrar seus países segundo os princípios do evangelho cristão, de maneira que a guerra deveria ser banida da Europa. Os ingleses não botavam fé na sinceridade dos signatários da Santa Aliança, mas mesmo assim Jorge IV a assinou, mas sem se comprometer. Os ingleses também temiam o fantasma da democracia criado pela Revolução Francesa, tanto quanto os prussianos, os russos e os austríacos. 

A SANTA ALIANÇA E A RÚSSIA COMO GUARDIÃ DA ORDEM EUROPEIA:

A Santa Aliança criava a perspectiva da intervenção russa noutras partes da Europa, Exemplo: Em 1848, a Rússia, vindo em auxílio à Áustria, interviu na Hungria, mantendo assim o Império Austro-Húngaro íntegro.

COMO AS PESSOAS VIAM A GUERRA DEPOIS DOS CEM DIAS DE NAPOLEÃO:

A guerra era vista como sendo praticada entre regimes ou entre ideologias antagônicas, não entre nações. No entanto, após os 100 dias de Napoleão no poder, os países da Europa começaram a ver a guerra sob outro prisma: eles se voltaram contra a nação francesa, contra os franceses, que agora tinham que suportar, dentre outras coisas, a presença de quase um milhão de soldados aliados em seu território.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "A LUTA PELO PODER, EUROPA 1815-1914", DE RICHARD J. EVANS, EDIÇÕES 70.