"É ÓBVIO QUE O TERMO 'REI', TAL COMO É USADO NAS FONTES E PELOS HISTORIADORES, DENOTA UM TÍTULO ALGO PRESUNÇOSO. ESTES GOVERNANTES NÃO ERAM MONARCAS COROADOS, MAS CHEFES DE BANDOS DE GUERRA QUE IMPUNHAM A SUA VONTADE E COBRAVAM TRIBUTOS. AS OSCILAÇÕES NA SUA POSIÇÃO ERAM DITADAS PELO NÚMERO DE POVOAÇÕES DAS QUAIS CONSEGUIAM EXTRAIR TRIBUTOS." (página 77)
O trecho acima foi retirado do livro Reinos Desaparecidos. Nesse capítulo é abordado o Reino do Rochedo ou reino Alt Clud, localizado no norte da Grã-Bretanha (a ilha que engloba as atuais Escócia e Inglaterra). O reino de Alt Clud tem seu centro no Rochedo de Dumbarton, próximo ao estuário do rio Clyde, um dos principais locais históricos da Grã-Bretanha.
Ali havia um castelo. Ali havia algo que poderia ser chamado de rei, alguém que militarmente havia se sobressaído sobre seus vizinhos, imposto sua vontade a ponto de cobrar tributos sobre eles. Enfim, era um senhor da guerra bem sucedido, não diferente de um líder do Comando Vermelho que impõe sua vontade em áreas controladas pelo crime na cidade do Rio de Janeiro.
A palavra Dumbarton é um nome inglês, a forma anglicizada do seu antecessor gaélico, Dun Breteann, que significa Forte dos Bretões. Os bretões compunham dezenas de tribos que dominavam a ilha da Grã-Bretanha na véspera da conquista romana e deram seu nome à ilha. Na época pós-romana, foram gradualmente deslocados ou absorvidos.
"Os seus descendentes mais visíveis, conhecidos em Inglaterra por Welsh, ou seja, estrangeiros, habitam apenas um canto da sua antiga pátria, um resíduo ao qual os ingleses deram o nome de Wales, a Terra Estrangeira. Mas nem sempre foi assim. Depois do desaparecimento da Britânia Romana e do influxo dos anglo-saxões, os bretões resistiram por mais tempo em três regiões." (página 70)
O reino de Alt Clud foi um dos resquícios dos bretões no norte da Grã-Bretanha, que hoje é a atual Escócia.
Enfim, o reino de Alt Clud foi apenas um dos reinos que surgiram após a queda da Britânia Romana em 410 d.C. . Com o passar do tempo, esses reinos foram desaparecendo. Um reino mais forte absorvia o reino mais fraca. Houve uma unificação por meio das armas. O senhor de guerra mais bem sucedido no campo de batalha aumentava o poder de seu reino:
"À frente de cem homens, foi o primeiro a matar, a sua sede de cadáveres, era tão grande como a de hidromel ou vinho. Com um ódio absoluto, O senhor de Dumbarton, o guerreiro risonho, matava os inimigos." (página 88)
E assim, de guerras em guerras, matanças, o poder na Grã-Bretanha consolidou-se numa única mão. No século X, o Wessex tornou-se uma entidade política poderosa no sul da Grã-Bretanha. Foi a primeira iniciativa que vislumbrou a possibilidade de unificar a Grã-Bretanha sob um único poder. Em 1066, a Grã-Bretanha foi alvo de duas invasões. A primeira veio da Noruega, e foi destruída. A segunda invasão veio da França, sob o comando de Guilherme, o duque da Normandia. Após a batalha de Hastings, Guilherme apoderou-se do trono inglês. Depois de Guilherme, outras dinastias governaram a Grã-Bretanha. Hoje, ela é governada pela dinastia Windsor. Mas o que importa é que, seja qual for a dinastia que hoje governa a Inglaterra, todas elas tiveram a mesma origem: são descendentes de chefes de bandos de guerra, que faziam valer sua vontade por meio das armas.
Fonte: Anotações extraídas da leitura do Livro Reinos Desaparecidos, Norman Davies, Editora 70