quarta-feira, 3 de setembro de 2025

É tarde demais Adeus



 "OLHA-ME NO ROSTO; MEU NOME É PODERIA-TER-SIDO. / TAMBÉM SOU CHAMADO DE NÃO-MAIS, TARDE-DEMAIS, ADEUS."

Look in my face; my name is Might-have-been./I am also called No-more, Too-late, Farewell

(D. G. Rossetti, poeta e pintor inglês, The House of life. página 636

Fonte: Dicionário das Citações, Ettore Barelli e Sergio Pennacchietti, Editora Martins Fontes.

A Origem dos Reis e dos Governantes



"É ÓBVIO QUE O TERMO 'REI', TAL COMO É USADO NAS FONTES E PELOS HISTORIADORES, DENOTA UM TÍTULO ALGO PRESUNÇOSO. ESTES GOVERNANTES NÃO ERAM MONARCAS COROADOS, MAS CHEFES DE BANDOS DE GUERRA QUE IMPUNHAM A SUA VONTADE E COBRAVAM TRIBUTOS. AS OSCILAÇÕES NA SUA POSIÇÃO ERAM DITADAS PELO NÚMERO DE POVOAÇÕES DAS QUAIS CONSEGUIAM EXTRAIR TRIBUTOS." (página 77) 

O trecho acima foi retirado do livro Reinos Desaparecidos. Nesse capítulo é abordado o Reino do Rochedo ou reino Alt Clud, localizado no norte da Grã-Bretanha (a ilha que engloba as atuais Escócia e Inglaterra). O reino de Alt Clud tem seu centro no Rochedo de Dumbarton, próximo ao estuário do rio Clyde, um dos principais locais históricos da Grã-Bretanha

Ali havia um castelo. Ali havia algo que poderia ser chamado de rei, alguém que militarmente havia se sobressaído sobre seus vizinhos, imposto sua vontade a ponto de cobrar tributos sobre eles. Enfim, era um senhor da guerra bem sucedido, não diferente de um líder do Comando Vermelho que impõe sua vontade em áreas controladas pelo crime na cidade do Rio de Janeiro. 

A palavra Dumbarton é um nome inglês, a forma anglicizada do seu antecessor gaélico, Dun Breteann, que significa Forte dos Bretões. Os bretões compunham dezenas de tribos que dominavam a ilha da Grã-Bretanha na véspera da conquista romana e deram seu nome à ilha. Na época pós-romana, foram gradualmente deslocados ou absorvidos. 

"Os seus descendentes mais visíveis, conhecidos em Inglaterra por Welsh, ou seja, estrangeiros, habitam apenas um canto da sua antiga pátria, um resíduo ao qual os ingleses deram o nome de Wales, a Terra Estrangeira. Mas nem sempre foi assim. Depois do desaparecimento da Britânia Romana e do influxo dos anglo-saxões, os bretões resistiram por mais tempo em três regiões." (página 70)

O reino de Alt Clud foi um dos resquícios dos bretões no norte da Grã-Bretanha, que hoje é a atual Escócia. 

Enfim, o reino de Alt Clud foi apenas um dos reinos que surgiram após a queda da Britânia Romana em 410 d.C. . Com o passar do tempo, esses reinos foram desaparecendo. Um reino mais forte absorvia o reino mais fraca. Houve uma unificação por meio das armas. O senhor de guerra mais bem sucedido no campo de batalha aumentava o poder de seu reino:

"À frente de cem homens, foi o primeiro a matar, a sua sede de cadáveres, era tão grande como a de hidromel ou vinho. Com um ódio absoluto, O senhor de Dumbarton, o guerreiro risonho, matava os inimigos." (página 88)

E assim, de guerras em guerras, matanças, o poder na Grã-Bretanha consolidou-se numa única mão. No século X, o Wessex tornou-se uma entidade política poderosa no sul da Grã-Bretanha. Foi a primeira iniciativa que vislumbrou a possibilidade de unificar a Grã-Bretanha sob um único poder. Em 1066, a Grã-Bretanha foi alvo de duas invasões. A primeira veio da Noruega, e foi destruída. A segunda invasão veio da França, sob o comando de Guilherme, o duque da Normandia. Após a batalha de Hastings, Guilherme apoderou-se do trono inglês. Depois de Guilherme, outras dinastias governaram a Grã-Bretanha. Hoje, ela é governada pela dinastia Windsor. Mas o que importa é que, seja qual for a dinastia que hoje governa a Inglaterra, todas elas tiveram a mesma origem: são descendentes de chefes de bandos de guerra, que faziam valer sua vontade por meio das armas.

Fonte: Anotações extraídas da leitura do Livro Reinos Desaparecidos, Norman Davies, Editora 70

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Sonhar versua Pensar



"O HOMEM, QUANDO SONHA, É UM DEUS, QUANDO REFLETE, É UM MENDIGO."

(F. HOLDERLIN, POETA ALEMÃO) 

Fonte: Dicionário das Citações, Ettore Barelli e Sergio Pennacchietti, Editora Martins Fontes.

O Cristianismo em risco



 O cristianismo esteve sob risco. Em 1453, os muçulmanos, por meio dos Turcos Otomanos, conquistaram a cidade de Constantinopla. Constantinopla era a capital do Império Romano do Oriente

"...A QUEDA DE CONSTANTINOPLA LANÇOU O PÂNICO EM TODA A CRISTANDADE." (página 41)

O conquistador otomano de 1453, Mehmed II, tão logo se apossou da cidade cristã de Constantinopla, autoproclamou-se SULTÃO I RUM, SENHOR DE ROMA. Mehmed II transferiu sua nova capital para Constantinopla, que reteve o nome da cidade com todas as suas conotações europeias e imperiais. O passo seguinte seria lançar uma invasão através do Mediterrâneo e  Balcãs e europa central adentro, materializando a reivindicação do Império Romano, alcançando o domínio do mundo mediante controle da europa, assumindo a missão de difundir o islã

Na sequência de Mehmed II, o avanço otomano recomeçou com Solimão, o Magnífico

"O SEU OBJETIVO ERA NADA MENOS DO QUE A MONARQUIA UNIVERSAL: UMA INSCRIÇÃO SOBRE A ENTRADA DA GRANDE MESQUITA DE CONSTANTINOPLA PROCLAMOU-O MAIS TARDE 'CONQUSITADOR DAS TERRAS DO ORIENTE E DO OCIDENTE COM A AJUDA DE DEUS TODO-PODEROSO E DO SEU VITORIOSO EXÉRCITO , POSSUIDOR DOS REINOS DO MUNDO' ". (página 41)

A expansão dos otomanos europa adentro foi avassaladora. Em 1521, a fortaleza de Belgrado, na atual Sérvia, foi tomada. Os otomanos derrotaram ainda o exército húngaro em na Batalha de Mohacs. Uma enorme faixa de terra, incluindo quase toda a fértil bacia do rio Danúbio, caiu sob domínio Otomano. Em 1529, os otomanos cercaram a cidade de Viena, na Áustria. Os otomanos ainda expandiram o seu poder pelo Mar Mediterrâneo, conquistando, por exemplo, a Argélia. 

Em agosto de 1516, o nono sultão otomano muçulmano, Selim I, apelidado "O Severo", em Marj Dabiq, um campo nos arredores da cidade síria de Alepo, enfrentou e derrotou os mamelucos que governavam o Egito. O Egito caiu sob domínio otomano, assim como a Síria, a Palestina, a Mesopotâmia (atual Iraque), a Tunísia, etc. 

Para sorte dos cristãos, o poder otomano foi perdendo força nos anos seguintes e, um projeto de uma  Monarquia Universal sob o islã foi abandonado.

Anotações extraídas da leitura do livro Europa, a Luta pela supremacia, de 1453 aos nossos dias, Brendan Simms, editora 70. 

O Mundo não é o bastante



 Os Habsburgos sonhavam lideram a Cristandade, criando uma Monarquia Universal. Sonharam unir os cristãos numa frente única contra a ameaça islâmica representada pela expansão do Império Otomano, que avança pelos balcãs, chegando nas porta de Viena. Na busca por esse desíginio, enfrentaram muitos inimigos. Alguns deles também sonhavam com uma Monarquia Universal. Enfrentam os Otomanos, os franceses e, por fim, os ingleses. Os Habsburgos dominaram extensas áreas: Espanha, Países Baixos (Holanda e Bélgica), Américas, Filipinas, Portugal, Sacro Império Romano Germânico, etc. 

Em 1519, o Habsburgo Carlos V foi eleito Imperador da Sacro Império Romano Germânico. Carlos V governava a Espanha, Nápoles, os Países Baixos, a Áustria e a Boêmia (atual República Tcheca). Governava ainda o Império em expansão no contimente americano, com suas riquezas (prata, ouro). Um bispo espanhol consagrou Carlos V como Rei dos Romanos (o Sacro Império Romano Germânico era visto então como sucessor do Império Romano) e Imperador do Mundo. Uma Monarquia Universal sob Carlos V, em que os Habsburgos reinavam sobre uma cristandade ocidental unida parecia uma possibilidade real. Mas Carlos V enfrentou tantos inimigos (franceses, turcos otomanos, príncipes alemães, etc), que teve que abandonar seus planos do dominar a Cristandade. 

O filho de Carlos V, Felipe II, rei da Espanha, mostrou-se também ambicioso. Derrotou os turcos na batalha de Lepanto, tomou conta de Portugal e de seu império ultramarino, colonizou as Filipinas, no Oceano Pacífico. Inchado com tanto êxito, Felipe II começou a nutrir ambições globais. 

"O VERSO DA MEDALHA QUE COMEMOROU A UNIÃO DE COROAS COM PORTUGAL FOI INSCRITO COM AS PALAVRAS 'NON SUFFICIT ORBIS', O MUNDO NÃO É BASTANTE." (página 43)

Por fim, Felipe II também acabou fracassando no seu objetivo de criar uma Monarquia Universal.

Anotações extraídas da leitura do livro Europa A Luta pela supremacia, de 1453 aos nossos dias, Brendan Simms, editora 70

Embrião da Revolução Francesa



 A Revolução Francesa eclodiu em 1789. Mas suas raízes são mais profundas. O primeiro abalo no sistema que resultou na Revolução aconteceu na derrota francesa na batalha de Rossbach, durante a guerra dos Sete Anos (1756-1763). A derrota em Rossbach foi um desastre militar para a Monarquia francesa, comparada com a derrota na batalha de Blenheim, durante a Guerra da Sucessão Espanhola

"NÃO ERA APENAS UMA DETERMINADA POLÍTICA QUE TINHA FRACASSADO EM ROSSBACH, ACHAVAM MUITOS CRÍTICOS, MAS TODO SISTEMA SOCIAL E POLÍTICO. A AUTORIDADE REAL E A DOMINAÇÃO ARISTOCRÁTICA BASEAVAM-SE AMBAS, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, NO DESEMPENHO MILITAR; FORA ESSA A BASE DO CONTRATO FEUDAL ORIGINAL E DA SUA EVOLUÇÃO DESDE A IDADE MÉDIA." (página 159)

A derrota da Monarquia Francesa (dinastia Bourbon) durante a Guerra dos Sete Anos foi um golpe para a nobreza francesa. Arguia em favor da primazia do mérito sobre o privilégio da nobreza (alguém era importante somente pelo fato de ser filho de um nobre). Foi o começo da perda da legitimidade monárquica e aristocrática que iria redundar, em 1789, na Revolução Francesa, na queda da monarquia

Fonte: Anotações extraídas da leitura do livro Europa, A Luta pela Supremacia, de 1453 aos nossos dias, Brendan Simms, editora 70

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A vitória do Rei era a vitória do povo


 Nós séculos XVI e XVII, por mais difícil que fosse a vida de uma pessoa comum, ela via as conquistas de seu país, nos campos de batalha, como se fossem uma vitória pessoal. Por isso era importante para um governante obter vitórios no estrangeiro, de forma a contentar seu povo internamente. 

"Sempre que o rei ganha uma batalha, toma uma cidade ou submete uma província, lamentava um dos críticos de Luís (Luís XIV, conhecido como rei sol, governou a França no século XVI), o povo francês 'acende fogueiras e qualquer pessoa menor se sente elevada e associa à grandeza do Rei a sua própria; isto compensa-a de todas as perdas e consola-a em toda a sua infelicidade. Tudo isto podia potencialmente ser um tiro a sair pela culatra, é claro, pois o que fosse visto como fracasso na cena europeia danificaria severamente o poder régio dentro da França."

Fonte: página 86, Europa, a Luta pela Supremacia, de 1453 aos nossos dias, Brendan Simms, editora 70.

A Expansão Ultramarina e a Cruzada contra os Muçulmanos


Quando os europeus se lançaram à conquista marítima o fizeram não apenas por questões econômicas. Eram estimulados pela luta contra os muçulmanos. Desejavam reconquistar a cidade de Jerusalém. 

"A partir de meados da década de 1480, Cristovão Colombo tentou interessar os monarcas de Portugal e Espanha na ideia de um caminho atlântico para a Índia. É certo que a sede de aventura, o enriquecimento pessoal e a glória nunca estiveram muito longe do seu espírito ou do de outros exploradores e dos seus patrocinadores. O fim último da empresa, no entanto, era lançar um ataque ao flanco desprotegido dos otomanos, que levasse à reconquista de Jerusalém, uma tarefa que Colombo descrevia em termos cada vez mais milenaristas. A conquista de novas terras além-mar não abriria apenas uma nova frente contra os otomanos; asseguraria também os recursos necessários para a recuperação da Terra Santa." (página 68)

Colombo acreditava tanto em seus mapas que levou consigo um intérprete árabe (um judeu convertido ao cristianismo). Ele obviamente não seria necessário, pois Colombo aportou nas ilhas do Caribe e não na Ásia. 

"Contudo, em vez de alcançar a Ásia e encontrar aliados contra os muçulmanos ou apossar-se de uma parte das riquezas do Oriente, Colombo deu a terra nas Caraíbas, onde prontamente foi estabelecida uma colônia espanhola. Os nativos foram descritos, como era bastante lógico, como <<índios>>, uma designação que se manteve até fins do século XX. A inicial descoberta europeia da América foi, em suma, uma consequência da luta pelo domínio sobre o islã." (página 69)

FONTE: EUROPA, A LUTA PELA SUPREMACIA, DE 1453 AOS NOSSOS DIAS, BRENDAN SIMMS, EDITORA 70

Expansão Ultramarina



 "QUEM DOMINA O MAR, DOMINA O COMÉRCIO; QUEM QUER QUE DOMINE O COMÉRCIO DO MUNDO DOMINA A RIQUEZA DO MUNDO E CONSEQUENTEMENTE O PRÓPRIO MUNDO." (Navegador e aventureiro inglês Sir Walter Raleigh).

Contexto: século XVI. Países da europa ocidental começam a se aventurar em conquistas ultramarinas. França, Inglaterra, Holanda, Espanha e Portugal saem em busca de colônias nas Américas, na África e na Ásia. No final dessa corrida, a Inglaterra sairia vencedora. E de fato, por um bom tempo, a Inglaterra, dominando os mares, dominou o mundo. 

Fonte: página 70, Europa, a Luta pela supremacia, de 1453 aos nossos dias. Brendan Simms, editora 70.