PODERES EM EXPANSÃO:
▶Século XV: Moscóvia - Expansão para o Leste
▶Século XVII: China reunificada sob a dinastia Qing
▶Entre a Moscóvia e a China, os mongóis e outras tribos nômades em busca de pastagens e disputando com vizinhos sedentários o monopólio de comércio e em meio a tudo isso ainda havia a disputa pela liderança supra-tribal.
Simultaneamente, na ponta ocidental da Eurásia, Soberanos se expandiam às custas de outros soberanos e para fora do continente. Como exemplo, Espanha e Grã-Bretanha lançaram-se ao Oceano.
RÚSSIA:
"Comparado com a China, a Rússia era um estado embrionário e improvável"
(página 246)
A Rússia embrionária era formada por florestas entre os rios Dnieper e Volga, região formada por uma população andarilha, dispersa e clã principescos, à qual nenhuma grande potência dava importância. Era uma vantagem ser deixado em paz, não ser ambicionado por nenhum outro poder. O nome Rússia provém de príncipes guerreiros que no século IX fundaram Kiev. Os rus (escandinavos) ligaram o Mar Báltico ao Rio Volga, o Mar Cáspio ao Rio Don, chegando ao Mar Negro e retornando ao norte pelo Rio Dnieper. Os rus enriqueceram e criaram um Estado às margens do Rio Dnieper, em Kiev. Os príncipes Rus eram chamados de Rurikids, os filhos de Rurik
Criou-se um mito fundador segundo o qual foram as tribos eslávicas que convidaram Rurik (Riurik) e seus irmãos para governar suas terras, promovendo a paz. Esse era o mito do grande líder de uma terra distante que chega para criar a manter a paz. Era um elemento da imaginação imperial da região.
Principais cidades das Terras Rus: Novgorod, Pskov, Kiev, Riazan, Suzdal, Vladimir.
RELIGIÃO NA RÚSSIA EMBRIONÁRIA:
No início, os Rus, assim como os eslavos ao seu redor, eram politeístas. Vladimir, o maior líder "Rus" (980-1015), voltou-se para o monoteísmo. Vladimir rejeitou o judaísmo por essa religião ser de um povo derrotado que tinha perdido o seu Estado. Rejeitou o Islã porque esta religião proibia o uso da bebida alcoólica. Sobraram o Cristianismo de Roma e o Cristianismo de Constantinopla. Qual religião seria escolhida por Vladimir? Vladimir optou pelo Cristianismo de Constantinopla e se casou com a filha de um Imperador Bizantino. Clérigos Bizantinos batizaram o povo de Kiev no Rio Dnieper em 988.
-O islã proibia o álcool.
-O cristianismo proibia a poligamia. Mas Vladimir tinha muitas mulheres.
-Vladimir optou então cristianismo de Constantinopla
"Os motivos de estado devem ter prevalecido, (...). Ou talvez o álcool tenha prevalecido em relação ao sexo."
(página 247)
Foi adotado o alfabeto cirílico para difundir o cristianismo oriental entre os súditos eslavos de Vladimir. Bizâncio havia abandonado a posição romana (catolicismo romano) segunda a qual somente o Latim era digno de expressar as palavras de Deus. O Cristianismo multi-linguístico adotado por Bizâncio se adequou à sua estratégia imperial.
Mas a religião sozinha não seria suficiente para a construção de um Império.
KIEV:
Era a joia da coroa. A sucessão era lateral, de irmão para irmão. Um irmão ficava com Kiev e os outros ficavam com outros principados de menor importância, rodeados por um séquito armado formado por seus seguidores (dependentes).
Sucessão Lateral: De irmão para irmão. Um irmão ficava com a joia da Coroa, Kiev, e os outros dividiam entre si os principados restantes. Cada um deles tinha um séquito armado formado por seus dependentes, clientes. Esse sistema de rotação gerava conflitos, com disputas sucessórias contínuas. Essas disputas enfraqueciam a terra dos Rurikids. Para piorar, em 1204, Bizâncio (Constantinopla), que era o maior parceiro comercial de Kiev, foi arrasada por uma Cruzada. Isso causou uma decadência na terra dos Rurikids. E a pá de cal foi a invasão dos mongóis, que conquistaram os principados Rus, finalizando com a maior conquista, em 1240, o Principado de Kiev. Em 1242, Batu, o líder mongol, foi obrigado a retornar à Mongólia para a eleição de um novo Khan. Na ausência dos mongóis, os príncipes rus voltaram a brigar entre si e contra outros inimigos externos. No norte, Alexandre Nevsky, líder das cidades do norte, Novgorod e Pskov, conseguiu impedir uma invasão sueca em 1240 e dos cavaleiros teutônicos em 1242.
Resolvidas as questões sucessórias, os Mongóis retornaram às terras do Rurikids. Batu assumiu o comando do Canato Quipchaco, renomeando-o depois para Horda Dourada.
HORDA DOURADA:
Capital: Sarai, no rio Volga.
Controlava as rotas comerciais. Exercia poder sobre Kiev, Vladimir e a futura Moscou.
Os príncipes rurikids sobreviventes tornaram-se vassalos dos Mongóis. Como vassalos, os príncipes rurikids recolhiam impostos para os mongóis e competiam entre si para ver quem seria o príncipe mais poderoso. Esses príncipes viviam numa parte da Horda Dourada (ocidental) coberta por florestas, que não despertava o interesse dos mongóis, que simplesmente repassavam a sua administração aos príncipes Rurikids locais, que administravam essas áreas em nome dos mongóis.
Sem querer, os mongóis davam uma segunda chance para o nascimento de um Império Rus, que poderia brotar nas terras que compunham a parte ocidental da Horda Dourada, sob o governo de algum desses príncipes Rurikids.
Para que um Príncipe Rus pudesse exercer a sua autoridade, ele tinha que ir à cidade de Sarai, a capital da Horda Dourada. Ali, jurava lealdade ao Khan, trazia presentes (escravos, prata, peles de animais). A subserviência não era uma escolha. Quem não era subserviente ao Khan, era executado.
Membros de famílias de príncipes Rurikids se casavam com membros da Corte do Khan. Quando um príncipe Rirukid recolhia impostos par ao Khan, era autorizado a reter uma parte para si. Uma outra concessão do poder mongol foi a autorização para que a Igreja Ortodoxa continuasse a funcionar.
MOSCOU/MOSCÓVIA:
Moscou localizava-se no ponto de convergência de três trajetórias imperiais:
-Dos Bizantinos receberam a religião
-A legitimidade do Príncipe de Moscou vinha de seus ancestrais Rus (Rurikids)
-Dos mongóis aprenderam a administrar e explorar uma população dispersa
A DOMINAÇÃO DE MOSCOU:
Os príncipes de Moscou (século XIII) eram servos leais dos mongóis. Um servo leal a um Khan Mongol devia exercer os devidos rituais, comprar sua boa vontade e fornecer soldados para as campanhas do Khan. Os príncipes de Moscou seguiram isso e por isso superaram seus concorrentes rus pelo domínio da Rússia.
Os príncipes de Moscou também expandiram o seu território tomando para si os territórios de outros príncipes rus (rurikids). Um território maior significava uma arrecadação de tributos maior. Moscou também usava casamentos com membros da corte do Khan e de outros príncipes Rus como forma de aumentar o seu poder.
Outra vantagem de Moscou: seus príncipes viviam muito e tinham poucos filhos, de forma que puderam romper com o hábito de dividir seus territórios entre seus filhos - um processo que havia fragmentado a elite de Kiev.
DECADÊNCIA DO DOMÍNIO MONGOL:
1395: Tamerlão destrói Sarai, a capital da Horda Dourada. A Horda Dourada então foi dividida em 4 pedaços em meados do século XV:
✔Astracã
✔Crimeia
✔Kazan
✔Canatos menores remanescentes
Em 1492, os Khan deixaram de nomear o grande príncipe de Moscou.
Com esse declínio do Império Mongol, os russos, nos séculos XV, XVI e XVII, passaram a se expandir territorialmente, criando um Império Multi-Confessional e Multi-Étnico. Nessa mesma altura, Inglaterra, Holanda, França, Portugal e Espanha participavam da expansão ultramarina.
EXPANSÃO DE MOSCOU:
Expansão de Moscou era obstruída, ao sul, pelos Otomanos, a oeste, pelos Poloneses/Lituanos. E no norte havia os livônios, os suecos e também os poloneses. Para Moscou, no início de sua expansão, o caminho mais fácil estava no leste, penetrando na Sibéria atrás do comércio de Peles. A sudeste, descendo pelo Rio Volga, em direção à Ásia Central, com o objetivo de controlar rotas comerciais lucrativas. No ano de 1552, seguindo na direção leste, Ivan, o Terrível, conquistou a cidade de Kazan, no Rio Volga. Mais terras significavam mais arrecadação de impostos e o Rio Volga era estratégico no faturamento comercial. Mas Moscou (Moscóvia) continuaria a crescer ou desmoronaria sob o peso de rixas violentas na luta pelo poder? A mesma luta pelo poder que destruiu domínios dinásticos na Eurasia.
O desafio de quem governava era como manter as elites leais à uma soberania dinástica. Com Moscou não seria diferente.
"Com o tempo, os russos desenvolveram formas muito eficazes para atrelar seus intermediários ao soberano."
(página 254)
MÉTODO PARA UNIR AS ELITES AO SOBERANO:
Inovação dos Príncipes Moscovitas: Estender a prática de alianças matrimoniais às elites que integravam seu regime. Um conselho de Boiardos (eram as elites russas) assessorava o governante moscovita. O grande Príncipe Moscovita se casava com mulheres de clãs subordinados, e não com mulheres estrangeiras.
"Essa prática enxertava famílias inteiras na dinastia, garantindo um interesse vital pelo regime."
(página 255)
Os Moscovitas também imitavam os Khans, concedendo terras às elites, em troca de lealdade absoluta regime.
O Príncipe da Moscóvia tinha a posse soberana de todos os recursos. De posse desses recursos (terras), ele os repassava, concedia-os condicionalmente.
As elites de Moscou então ficavam atreladas ao Grão-Príncipe de Moscou por meio de:
-Casamentos
-Concessões de Terras
GRÃO-PRÍNCIPE DE MOSCÓVIA E O POVO:
A ideia era que o Grão-Príncipe de Moscóvia proporcionava proteção para o povo. Ao mesmo tempo, o cristianismo oriental ligava o povo ao Grão-Príncipe ( a religião funcionava como uma ideologia do Estado).
A Igreja Ortodoxa Russa era como um poder oculto por trás do trono de Moscóvia. E com a queda de Constantinopla em 1453, Moscou poderia se candidatar como a nova sede da Ortodoxia. O prelado metropolitano de Moscou se tornou o Patriarca da própria Igreja Ortodoxa Oriental da Rússia.
NARRATIVA CRIADA POR MOSCOU PARA LEGITIMAR O SEU PODER. MOSCÓVIA, A TERCEIRA ROMA.
Para fortalecer ainda mais Moscou (Moscóvia), criou-se a narrativa segundo a qual os grãos-príncipes haviam recebido sua autoridade dos Imperadores Bizantinos e que eram descendentes de Augusto César. Moscou seria a terceira Roma. Em 1547, Ivan IV, o terrível, assumiu o título de Czar, ou César, vinculando-se ao passado glorioso romano.
A Moscóvia era uma comunidade cristã unida pela ortodoxia, conduzida por um autocrata, o Czar, e guiada pela Igreja Ortodoxa.
IMPÉRIO RUSSO:
Amalgama do Império Bizantino com o Império Mongol.
Do Império Bizantino os russos herdaram:
-a religião ortodoxa,
-o título de Czar (César)
-o título de Autocrata (palavra bizantina que designava um governante completo)
Do Império Mongol, os Russos herdaram:
-Em 1550, Ivan IV convoca um conselho da terra, uma espécie de KURULTAI Mongol, para estabelecer um novo código de leis.
-Como administrar um Império extenso com um povo disperso
Ivan, IV, o terrível, era Khan, César e um servo de Deus.
PILARES QUE SUSTENTAVAM O IMPÉRIO RUSSO:
▶Clãs políticos apoiadores do Czar
▶Concessão de terras
▶A Igreja Ortodoxa fornecia uma ideologia unificadora
A Nobreza russa era dependente do Czar. Na Europa Ocidental, de forma diversa, a nobreza tentava conter a fome de poder do rei. Essa dependência da nobreza russa em relação ao Czar incluía o envolvimento no projeto imperial do Estado Russo, com sua expansão territorial e com a concessão de terras obtidas por meio dessa expansão, de forma a ter a lealdade dessa Nobreza.
Essa expansão territorial para comprar lealdades inevitavelmente iria entrar em choque com os interesses dos países que faziam fronteira com a Rússia. Haveria choques com a Suécia, com a Polônia/Lituânia, com o Império Otomano, Canatos Mongóis e China.
FIM DA DINASTIA RURIKID:
1598: Morre Teodoro, filho de Ivan IV, Terrível (Groznyi: o admirável). Era o fim da Dinastia Rurikid.
A elite, formada pelos Boiardos, escolhe Boris Godunov para ser o novo Czar. Boris era cunhado do falecido Teodoro I (sua irmã tinha se casado com Teodoro I). Mas, apesar desse parentesco, Boris não tinha sangue Rurikid, faltando-lhe então legitimidade dinástica. Esse fato fez nascer uma disputa de poder dentro da elite russa. Essa divisão na Rússia despertou a cobiça da Suécia e da Polônia/Lituânia, que viram nessa divisão uma oportunidade para diminuir o poder da Rússia.
TEMPO DE DIFICULDADES: 1584-1613):
Nasceu com a discussão sobre a ideologia da Descendência Real.
Pessoas se apresentavam dizendo-se filhos legítimos de Ivan IV, com o objetivo de obterem o trono russo. Descobriu-se depois que essas pessoas eram farsantes. Todos os filhos de Ivan IV estavam mortos.
Depois de muitos conflitos, os Boiardos escolheram Miguel Romanov, proveniente de um clã russo relativamente menor.
DINASTIA ROMANOV:
A Dinastia Romanov duraria até 1917. De 1613 até 1917! Em 1917, a Dinastia Romanov saiu do poder em razão da Revolução
O GOVERNANTE RUSSO COMPRAVA LEALDADES COM TERRAS E COM SERVOS:
"Tanto os czares como os nobres (boiardos) sofriam com sua incapacidade de manter as pessoas trabalhando em suas terras, porque os camponeses podiam muito bem juntar suas coisas e partir para outros territórios do Império em expansão, onde outros lhe ofereceriam trabalho de bom grado."
(página 258 )
"A restrição de mobilidade dos camponeses deu aos nobres um bom motivo para apoiar o Czar. Mas e quanto aos sacerdotes de alto escalão - os outros intermediários do Império Russo? Os Czares haviam se beneficiado muito da ideologia harmonizadora da Ortodoxia, com seus rituais de acomodação e seus esforços missionários, sem precisar lidar com a autoridade institucionalizada de um Papa romano (como acontecia com os países no Ocidente). Desde a época do protetorado Mongol, contudo, a Igreja possuía suas próprias terras , seus próprios camponeses agricultores, seus próprios Tribunais e, a partir de 1589, seus patriarcas, por vezes, indivíduos de grande importância."
(página 258)
"A restrição de mobilidade dos camponeses deu aos nobres um bom motivo para apoiar o Czar. Mas e quanto aos sacerdotes de alto escalão - os outros intermediários do Império Russo? Os Czares haviam se beneficiado muito da ideologia harmonizadora da Ortodoxia, com seus rituais de acomodação e seus esforços missionários, sem precisar lidar com a autoridade institucionalizada de um Papa romano (como acontecia com os países no Ocidente). Desde a época do protetorado Mongol, contudo, a Igreja possuía suas próprias terras , seus próprios camponeses agricultores, seus próprios Tribunais e, a partir de 1589, seus patriarcas, por vezes, indivíduos de grande importância."
(página 258)
Em 1649, para conseguir a lealdade dos nobres, a dinastia Romanov criou uma lei proibindo os camponeses de saírem das terras onde viviam.
UMA PITADA DE EUROPA NA RECEITA RUSSA:
1696: Pedro torna-se Czar da Rússia.
Inovações europeias de Pedro. Alguns exemplos:
-substituição da cúpula dos Boiardos por um Senado.
-foi esse Senado que proclamou Pedro Imperador, e não a Igreja, em 1721.
-criação da academia de ciência.
-publicação do primeiro jornal da Rússia.
Pedro zombava da Igreja Russa. Queria mostrar que quem mandava era ele, que não iria dividir o seu poder com a Igreja. Substituiu o Patriarca, figura de grande poder, por um Conselho, o Santo Sínodo. A Igreja teve que se resignar ao seu inédito papel de coadjuvante na história russa.
"Os clérigos, assim como os servidores seculares, reconheceram o poder pessoal do Imperador para proteger , recompensar e punir."
(página 261)
(página 261)
Czar:
▶Proteger
▶Recompensar
▶Punir
Pedro, em vida, queria nomear seu sucessor. Mas a Nobreza russa tentava sabotar esse plano de Pedro. Era a nobreza que queria decidir quem seria o Czar ou Czarina.
1725: MORTE DE PEDRO, O GRANDE:
O patrimonialismo (da nobreza russa) triunfou:
"Os nobres recebiam terras e força de trabalho como recompensa por sua lealdade; eles não tentavam se livrar da autocracia, mas antes lutavam para continuar próximos do Imperador ou para manter conexões com os mais altos agentes do Estado."
(página 262)